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Diagnóstico por Imagem

Lâmpada de Wood na dermatologia: aplicações na prática diária

John Verrinder Veasey1; Bárbara Arruda Fraletti Miguel2; Roberta Buense Bedrikow2

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201794964

Data de recebimento: 05/01/2017
Data de aprovação: 14/12/2017
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

A prática clínica do dermatologista baseia-se na análise das lesões cutâneas. Essa análise é feita essencialmente pela observação clínica, e atualmente complementada com exames como a dermatoscopia e a microscopia confocal. Apesar de seu baixo custo, a lâmpada de Wood tem sido cada vez menos utilizada como método diagnóstico auxiliar. Apresentamos diversos casos de utilização da lâmpada de Wood sendo de grande auxílio ao dermatologista. Esperamos assim incentivar o uso desse aparelho na prática diária.


Keywords: fluorescência; diagnóstico; malassézia; propionibacterium acnes; porfirias; vitiligo; melanose; eritrasma; corynebacterium; tinha do couro cabeludo


A dermatologia é especialidade médica em que a observação das lesões clínicas é fundamental para o diagnóstico das doenças. Com o passar dos anos novos aparelhos foram desenvolvidos para auxiliar a análise das lesões durante a consulta médica, tais como o dermatoscópio e o microscópio confocal. Com o uso dessas novas tecnologias os aparelhos centenários como a lâmpada de Wood (LW) têm entrado em desuso.

A LW foi descrita em 1903 pelo físico Robert W. Wood e se baseia no princípio de fluorescência emitida pela pele quando iluminada por comprimento de onda baixo, entre 340-400nm. O olho humano recebe os fótons emitidos pela pele, tanto os refletidos pela luz visível (comprimento de onda entre 400 e 700nm) quanto os emitidos por fluorescência. Entretanto a quantidade dos emitidos pela reflexão é muito maior do que aquela por fluorescência, o que nos impede de evidenciar a olho nu essa pequena quantidade. Sendo assim, para identificar a fluorescência da pele deve-se submeter o paciente, em ambiente escuro e sem luz visível, à irradiação com a LW, que emite luz com comprimento de onda entre 320-400nm.1,2

Seu uso é abrangente, e cada dermatose pode apresentar coloração específica na fluorescência (Tabela 1). Pode ser aplicada em distúrbios da pigmentação (hipo/hiperpigmentação) tanto para avaliação precisa dos limites e características das lesões quanto para análise de possíveis lesões subclínicas não evidenciadas pela reflexão da pele, apenas por sua fluorescência. Esse é o caso, por exemplo, do vitiligo3 (Figura 1) e do melasma.1 Em doenças neoplásicas também tem sido descrito seu uso para análise das lesões e, mais recentemente, para a programação cirúrgica das lesões, determinando as margens com mais exatidão4.

O diagnóstico de dermatoses infecciosas também se beneficia com o uso da LW. Nesses casos, geralmente, a fluorescência destacada não é a emitida pela pele, mas sim pelo agente infeccioso e/ou seus metabólitos.1,2,5

A tinea capitis provocada por algumas espécies fúngicas pode emitir fluorescência, como no caso do parasitismo pelo gênero Microsporum sp emitindo uma coloração azul-esverdeada (Figura 2), e pelo Trychophyton schoenleinii emitindo uma coloração azul-clara.1,2 Nas infecções provocadas pela malassézia, entre elas a pitiríase versicolor (Figura 3), pode-se evidenciar a fluorescência das lesões; isso só acontece, entretanto, nas lesões provocadas pela espécie Malassezia furfur, que tem essa característica por produzir os metabólitos fluorescentes como o pityrialactone.1,2

O eritrasma e a tricomicose (Figura 4), doenças provocadas pela infestação do Corynebacterium minutissimum e C. tenuis, respectivamente, apresentam fluorescência vermelho-coral.1,2 Dermatoses que apresentam o parasitismo da bactéria Propionibacterium acnes, como o caso da acne e da hipomelanose macular progressiva (Figura 5), também podem apresentar fluorescência.5

Assim como a LW pode evidenciar o metabólito dos agentes infecciosos que parasitam o ser humano provocando dermatoses, é possível também avaliar os metabólitos produzidos pelo próprio ser humano. Um exemplo é a presença de porfirina na urina de pacientes com algumas porfirias (Figura 6), sendo a cutânea tarda a mais conhecida.1,2

A lâmpada de Wood é um instrumento pequeno, durável, barato, seguro e de uso muito fácil. Fornece resultados rápidos, que podem ser bastante úteis tanto no diagnóstico de doenças quanto no seguimento - de distúrbios de pigmentação a infecções da pele e anexos cutâneos. Acreditamos que a iconografia aqui apresentada possa estimular os dermatologistas a empregar o instrumento na prática diária e facilitar seu dia a dia.

 

PARTICIPAÇÃO DOS AUTORES:

John Verrinder Veasey

Concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do manuscrito. Obtenção, análise e interpretação dos dados. Participação efetiva na orientação da pesquisa, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados. Aprovação da versão final do manuscrito.

Bárbara Arruda Fraletti Miguel

Obtenção, análise e interpretação dos dados, elaboração e redação do manuscrito. Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Roberta Buense Bedrikow

Obtenção, análise e interpretação dos dados.

 

REFERÊNCIAS

1. Klatte JL, van der Beek N, Kemperman PM. 100 years of Wood's lamp revised. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2015;29(5):842-7

2. Asawanonda P, Taylor CR. Wood's light in dermatology. Int J Dermatol. 1999;38(11):801-7.

3. Alghamdi KM, Kumar A, Taïeb A, Ezzedine K. Assessment methods for the evaluation of vitiligo. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2012; 26(12):1463-71.

4. Walsh SB, Varma R, Raimer D, Keane JC, Cantor A, Theos A, et al. Utility of Wood's light in margin determination of melanoma in situ after excisional biopsy. Dermatol Surg. 2015; 41(5):572-8

5. Relyveld GN, Menke HE, Westerhof W. Progressive macular hypomelanosis: an overview. Am J Clin Dermatol. 2007;8(1):13-9.

 

 

Trabalho realizado na Instituição Clínica de Dermatologia do Hospital da Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil.


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