Eduardo de Oliveira Vieira1,2; Carlos Baptista Barcaui1,2; Elisa de Oliveira Barcaui1,2
Fonte de financiamento: Nenhuma
Conflito de interesses: Nenhum
Data de submissão: 28/04/2021
Decisão final: 20/05/2021
Como citar este artigo: Vieira EO, Barcaui CB, Barcaui EO. Nevo dividido na região genital: relato de seis casos. Surg Cosmet Dermatol. 2021;13:20210038
Os nevos divididos ocorrem em áreas contíguas da pele e, em sua grande maioria, são lesões benignas. Relatamos seis casos de nevo dividido no pênis e seus respectivos padrões dermatoscópicos. Levando em consideração a localização dessas lesões, o acompanhamento clínico foi a melhor opção terapêutica para este grupo de pacientes.
Keywords: Dermoscopia; Nevo; Nevo intradérmico; Nevo pigmentado; Pênis
Os nevos divididos, também conhecidos como nevos em beijo, são resultado de migrações contrárias de áreas contíguas no momento do desenvolvimento embriológico, podendo ocorrer no pênis, grandes e pequenos lábios e pálpebras, sendo essa última a localização mais comum.1,2,3 Apesar de se apresentar com diferentes padrões dermatoscópicos, normalmente são nevos de evolução benigna, sendo o acompanhamento clínico uma das suas possibilidades de seguimento.4,5
Reportamos seis casos de nevo dividido ou nevo em beijo, localizados na glande e prepúcio em pacientes masculinos, com idade entre 5 e 26 anos, assintomáticos e sem tratamento prévio. Para o diagnóstico, utilizamos o exame clínico e a dermatoscopia com dermatoscópio DL3 3GEN com luz polarizada, gel de ultrassonografia como líquido de interface, e as imagens foram obtidas com câmera Coolpix P6000 da Nikon.
Foram observados os seguintes padrões dermatoscópicos: reticular homogêneo (Figuras 1 e 2), globular homogêneo (Figuras 3 e 4), composto globular e reticular (rede pigmentar na periferia e glóbulos no centro), alguns apresentando granulosidades (Figuras 5 e 6). Orientados pela clínica e dermatoscopia, optamos por não biopsiar nenhum paciente e realizamos o seguimento a cada três meses no primeiro semestre, a cada seis meses no segundo semestre e a cada ano a partir de então.
A migração dos nevos divididos ocorre em momentos distintos da embriogênese, a depender do local de origem. No caso do pênis, a divisão ocorre entre a 11ª e 14ª semana gestacional, período de maturação da genitália externa, e no caso da pálpebra, em torno da 24ª semana.4,6 Alguns padrões dermatoscópicos já foram relatados tanto em pacientes pediátricos quanto em adultos. Dentre eles, estão o padrão globular, o composto globular e reticular que apresenta rede pigmentar na periferia e glóbulos no centro, além do homogêneo com alguns glóbulos no centro, todos sugestivos de benignidade.4,5
É conhecido o baixo risco de evolução maligna. Até onde temos conhecimento na presente data, foram relatados apenas três casos envolvendo pálpebra e pênis.6,7,8
Levando em consideração que encontramos nevo em beijo em área de pele glabra, não glabra, mucosa e semimucosa, buscam-se sinais que direcionem a suspeita clínica para malignidade, algumas vezes difíceis de serem avaliados nessas duas últimas áreas, como, por exemplo, padrão de multicomponentes, contendo diversas cores e estruturas, a ausência de estruturas e véu cinza-azulado.4,5 Nenhum dos pacientes apresentava sinais sugestivos de melanoma.
Dentre as opções terapêuticas existentes na literatura, a mais indicada diante de lesões benignas é a conduta expectante, com acompanhamento clínico e dermatoscópico. A exérese cirúrgica com enxertia de mucosa e/ou retalhos, postectomia, bem como laserterapia (Nd:YAg, alexandrita, CO2), devem ser escolhidas em conjunto com o paciente levando-se em consideração os aspectos funcionais e psicológicos.4,5,9,10 Todos os pacientes seguem em acompanhamento clínico.
O seguimento dessas lesões varia na literatura. Há relato de acompanhamento a cada três, seis e 12 meses; alguns sugerem acompanhamento semelhante ao que é feito com os nevos congênitos, sempre levando-se em consideração o padrão dermatoscópico da lesão.4,5
O conhecimento dos padrões dermatoscópicos do nevo dividido é importante para o correto seguimento do paciente e para indicação de biópsia, pois os locais de aparecimento dessa lesão não são de abordagem tão simples e podem levar a comprometimento estético, funcional e, principalmente, psicológico.
Eduardo de Oliveira Vieira 0000-0001-6765-2474
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Carlos Baptista Barcaui 0000-0002-3303-3656
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Elisa de Oliveira Barcaui 0000-0002-9487-7860
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
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