Hudson Dutra Rezende1; Bruna Orquiza dos Santos1; Bruna Margatho Elias1; Sandra Lopes Mattos Dinato1; Maria Fernanda Reis Gavazzoni Dias2; Ralph Michel Trüeb3
Data de submissão: 18/04/2021
Decisão final: 20/06/2021
Fonte de financiamento: Nenhuma
Conflito de interesses: Nenhum
Como citar este artigo: Rezende HD, Santos BO, Elias BM, Dinato SLM, Dias MFRG, Trüeb RM. Como preparar um tricograma com base de esmalte incolor? Surg Cosmet Dermatol. 2021;13:20210037.
O tricograma configura-se em método semi-invasivo de fácil aplicabilidade e baixo custo, útil na avaliação dos diversos tipos de queda capilar no consultório dermatológico. Até o momento, não há padronização da técnica para coleta e realização do exame. A utilização de meios de interface entre lâmina e lamínula para a leitura do tricograma à microscopia óptica varia amplamente na literatura. Dentre as alternativas, a utilização de base de esmalte incolor configura-se em opção de baixo custo acessível e prática, além de permitir a visualização das hastes capilares com mínima formação de artefato.
Keywords: Alopecia; Dermatoses do couro cabeludo; Doenças do cabelo
A recente expansão dos conhecimentos em tricologia desafia o médico atual na busca por uma avaliação médica mais detalhada e objetiva, embora nem sempre estejam disponíveis tecnologias de ponta para a avaliação dos cabelos e do couro cabeludo. Nesse contexto, o tricograma configura-se em método semi-invasivo de fácil aplicabilidade e baixo custo, acessível a todo dermatologista dedicado ao estudo das desordens capilares.
Após a descrição do crescimento cíclico capilar por Trotter (1989-1991), grande parte dos estudos sobre a dinâmica folicular foi realizada com base na avaliação microscópica das raízes pilosas.1 A técnica para essa avaliação, posteriormente denominada tricograma, serve ainda hoje de auxílio na interpretação de diversas desordens do ciclo capilar e possui valor prático, uma vez que se configura em método semi-invasivo de fácil aplicabilidade e baixo custo.1,2,3
O exame consiste na coleta de 50 a 100 fios, usualmente de duas regiões do couro cabeludo (parietal e occipital) e subsequente ajuste das raízes capilares sobre uma lâmina de vidro.1,4 Como uma lamínula é usualmente sobreposta às hastes para facilitação da leitura no microscópio óptico, é recomendável a utilização de um meio líquido para estabilização dos fios no momento da avaliação.
Não há, até aqui, uma padronização que defina a melhor forma de fixação das hastes para leitura à microscopia. Uma revisão de 76 artigos indexados no PubMed com as chaves trichogram and technique, de 1970 a 2021, evidenciou que apenas 14 trabalhos (18,4%) mencionaram algum líquido ou outro meio de fixação na realização da técnica. Desses, um utilizou formaldeído (7,15%),5 dois utilizaram gota de bálsamo canadense (14,28%),6,7 três utilizaram apenas lamínula de vidro como cobertura (21,42%),8,9,10 dois utilizaram fita dupla face (14,28%),4,11 cinco fizeram uso de fita adesiva (37,71%),2,12,13,14,15 um utilizou líquido não especificado (7,15%)16 e 62 (81,57%) não citam ou não utilizaram qualquer forma de fixação das hastes capilares.
Uma mistura de 45% de resina acrílica com 55% de xilenos (Eukitt®) pode ser empregada para fixação e leitura do tricograma com ótimos resultados (Figura 1A), havendo pouca formação de bolhas de ar (artefato), o que facilita a interpretação do exame, especialmente para examinadores pouco experientes. Por outro lado, essa técnica configura-se em uma opção mais onerosa e mais difícil de ser encontrada em algumas partes do Brasil. Por sua vez, o emprego de líquidos que não promovam aderência das hastes pilosas à lâmina de vidro, como formaldeído, soro fisiológico 0,9% e água destilada, pode facilitar a movimentação dos fios na interface lâmina/lamínula, dificultando a análise visual das raízes capilares e sua contagem nos diversos campos ópticos.
Na experiência dos autores, a utilização de base de esmalte incolor configura-se em estratégia barata, de fácil acesso e útil no preparo das hastes para o tricograma, embora não tenha sido encontrada na literatura dentre as variadas opções. Ao optar por essa estratégia, o examinador deve posicionar as hastes capilares sobre lâmina previamente preparada com quantidade generosa de esmalte em base e, em seguida, sobrepor uma lamínula de vidro (Figuras 2A – 2D). A secagem é rápida e a fixação é adequada, com mínima formação de bolhas de ar (artefato) (Figura 1B). O material pode ainda ser conservado para análise nos dias subsequentes.
Tricogramas podem ser realizados com ou sem meios líquidos de interface e não há padronização a esse respeito até o momento. A utilização de base de esmalte incolor no preparo do exame, entretanto, configura-se em boa opção prática, uma vez que permite ótima fixação dos fios dentro da interface lâmina/lamínula, gera poucos artefatos pneumáticos, possui rápida secagem, baixo custo e ampla disponibilidade em todo o território nacional.
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Hudson Dutra Rezende 0000-0002-7039-790X
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Bruna Orquiza dos Santos 0000-0002-1983-3868
Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.
Bruna Margatho Elias 0000-0003-2615-5775
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Sandra Lopes Mattos Dinato 0000-0002-4547-0474
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Maria Fernanda Reis Gavazzoni Dias c 0000-0001-7397-7478
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Ralph Michel Trüeb 0000-0003-4970-0350
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.