Natalia Naomi Suzuki; Juliana Schinzari Palo; Renata Ferreira Magalhães; Thais Helena Buffo; Hamilton Ometto Stolf
Data de recebimento: 27/07/2020
Data de aprovação: 16/11/2020
Trabalho realizado na Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil
Suporte Financeiro: Nenhum.
Conflito de Interesses: Nenhum.
Agradecimentos: Agradeço ao Dr. Hamilton Ometto Stolf pelo domínio da técnica cirúrgica e pela brilhante capacidade de ensinar aos seus alunos e à Dra. Thais Helena Buffo pela facilidade e pelo amor com que nos ensina a cirurgia dermatológica.
Rinofima é uma doença desfigurante e progressiva do nariz, com alta prevalência. Apesar de ser considerada benigna, muitos pacientes têm procurado tratamentos curativos devido a deformidade estética e estigmatização social. Existem diversas técnicas cirúrgicas descritas para o tratamento desta doença. O objetivo deste relato é apresentar um caso que necessitou de abordagem terapêutica pouco utilizada para tratamento de rinofima devido às múltiplas comorbidades do paciente. O procedimento foi realizado sem complicações no intra e pós-operatório, e o paciente mantém seguimento ambulatorial com bom resultado estético final a longo prazo.
Keywords: Procedimentos Cirúrgicos Dermatológicos; Rinofima; Rosácea
Rinofima é uma doença do nariz caracterizada pela hipertrofia das glândulas sebáceas e proliferação dos vasos sanguíneos e do tecido conjuntivo.1 As alterações fimatosas acometem classicamente os dois terços inferiores do nariz, podendo ocorrer também no mento, na fronte ou na orelha.1 É considerada a expressão mais severa do estágio final da rosácea.1
Clinicamente, o rinofima manifesta-se com aumento do nariz com textura irregular, dilatação de poros e telangiectasias.2 Esses achados correspondem, na histopatologia, à hiperplasia sebácea, à dilatação do infundíbulo e ao infiltrado linfo-histiocitário circundante.2 Nos estágios mais avançados, os contornos nasais encontram-se distorcidos e com perda da demarcação entre as suas subunidades, podendo, inclusive, comprometer as vias aéreas respiratórias.2,3
Apesar de ser considerada uma doença benigna, muitos pacientes têm procurado tratamentos curativos, sendo os métodos cirúrgicos preferenciais em relação ao tratamento clínico, uma vez que a doença apresenta importante deformidade cosmética e estigmatização social.2 Diferentes técnicas cirúrgicas têm sido descritas para o tratamento do rinofima, incluindo o uso de bisturis frios, bisturis e alças elétricas e o laser de CO2.4
O objetivo deste relato é apresentar a técnica cirúrgica em cruz para tratamento de rinofima em paciente com múltiplas comorbidades. A cirurgia foi realizada sem complicações no intra e pós-operatório e o seguimento ambulatorial a longo prazo mostrou bom resultado estético.
Homem de 68 anos, com queixa de aumento nasal progressivo com superfície irregular, dilatação de poros e telangiectasias (Figura 1). Relatava incômodo estético e prejuízo social. Optou-se, então, por tratamento cirúrgico. Como apresentava diversas comorbidades, como transplante cardíaco em uso de imunossupressores e antiagregantes plaquetários, aneurisma de aorta abdominal e hipertensão arterial, foi necessário optar por uma abordagem cirúrgica rápida, com pouco sangramento e com menor risco de complicações. Foi realizada excisão da pele fimatosa por incisão vertical na ponta e dorso nasal e um corte horizontal no sulco alar, em cruz, para reduzir o tecido hipertrófico e o nariz (Figuras 2 a 4), seguido por fechamento primário da lesão, inicialmente com sutura interna aproximando as bordas da ferida operatória e, após, sutura externa. Não houve intercorrências imediatas ou recidiva do quadro durante o seguimento de 36 meses (Figura 5).
As primeiras descrições de tratamento cirúrgico para rinofima foram apresentadas por Friedrich Dieffenbach em 1845, que excisou a pele fimatosa realizando uma incisão vertical na ponta nasal e uma horizontal em ambos os sulcos alares nasais, procedendo, posteriormente, ao fechamento primário da lesão.4,5 Esta técnica de ressecção em cruz para redução do volume nasal é um procedimento rápido, com pouco sangramento e baixo risco de complicações, com a vantagem de retirar parte do tecido hipertrófico, proporcionar bom resultado estético para o paciente e, o mais importante, propiciar uma rápida recuperação.5
A utilização de bisturis, frios ou elétricos, e de lâmina de exérese tangencial (de barbear) para decorticação superficial do rinofima e cicatrização por segunda intenção corresponde a uma técnica rápida, de baixo custo e relativa facilidade de realização. Porém, apresenta como principais limitações o sangramento excessivo e, consequentemente, pior visualização do campo operatório e dificuldades para modelar a região acometida, além de cuidados com curativos e retornos sucessivos.6 Uma vez que o paciente relatado apresentava história prévia de antiagregação plaquetária e imunossupressão por transplante cardíaco, não sendo possível suspender a medicação, esta técnica não foi a primeira escolha de tratamento.
Já o laser de CO2 configura-se em uma boa opção terapêutica, quando disponível, com hemostasia e precisão adequadas, mas exige equipe especialmente treinada, tempo prolongado para realização do procedimento e alto custo.6,7
O risco de recidiva é variável e foi descrito em algumas séries de casos, tendo sido notados bons resultados cosméticos a curto prazo, mas com porcentagens variáveis de acordo com o tratamento realizado e o tempo de seguimento.4 Uma série de 70 pacientes, publicada em 2016, apontou para taxa de recidiva de 38% com a técnica de bisturi frio e fechamento por segunda intenção após seguimento por 54 meses.4 O reaparecimento das alterações fimatosas ocorre pela manutenção das unidades pilossebáceas, as quais fornecem a base para a reepitelização.4 No caso descrito, parte do tecido hipertrófico foi excisado em toda a sua espessura, o que poderia ser um fator colaborador para a redução de recidivas a longo prazo. Quando realizada em dois estágios, com alguns meses de intervalo, a abrasão mecânica de toda a unidade cosmética ajuda na camuflagem da cicatriz cirúrgica.5 Por ser pouco utilizada, não há estudos evidenciando a taxa de recidiva de rinofima em pacientes submetidos à técnica empregada neste relato.
A realização de excisão em cruz e fechamento primário demonstrou ser ótima opção com resultado muito satisfatório em pacientes com múltiplas comorbidades. Relata-se uma técnica cirúrgica simples, segura, eficiente e pouco relatada para o tratamento do rinofima.
Natalia Naomi Suzuki | 0000-0003-0034-8480
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Juliana Schinzari Palo | 0000-0002-7914-5370
Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Renata Ferreira Magalhães | 0000-0001-9170-932X
Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Thais Helena Buffo | 0000-0002-6833-7596
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.
Hamilton Ometto Stolf | 0000-0003-4867-0276
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
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