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Relato de casos

Tratamento bem-sucedido do angioma serpiginoso com luz intensa pulsada

Elisete Isabel Crocco1; Vanessa Alice Amorim2; Renata Oliveira Alves3

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2017941022

Data de recebimento: 31/05/2017
Data de aprovação: 12/12/2017
Suporte financeiro: Nenhum.
Conflito de interesse: Nenhum.

Abstract

Angioma serpiginoso é um ectasia vascular rara e benigna que se apresenta clinicamente como pontos vermelhos ou arroxeados pequenos com uma configuração serpiginosa. Luzes de pulso controladas ou luz intensa pulsada (IPL), é uma fonte de luz pulsada que emite luz de alta energia com o espectro de ondas contínuas de 500 a 1200 nm. Entre as suas características estão indicações para lesões vasculares, que é o pigmento do cromóforo oxihemoglobina. Apresentamos uma paciente de 12 anos de idade com um angioma serpinginoso no braço direito que atingiu a remissão após 6 sessões de IPL.


Keywords: Intense Pulsed Light Therapy; Hemangioma; Capillary Hemangioma,; Vascular Diseases


INTRODUÇÃO

Angioma serpiginoso é desordem vascular nevoide rara e benigna que se apresenta com lesões vermelhas e arroxeadas pontuais, que não desaparecem sob pressão, em configuração de giroscópio ou serpiginosa. Ao exame histopatológico, apresenta dilatação e ectasia dos vasos capilares na derme papilar. Na maioria dos casos é esporádico, porém também foi descrito um padrão de herança autossômica dominante.1

A luz intensa pulsada (LIP) é fonte de luz pulsada que emite luz de alta energia não coerente que vai de 500nm a 1.200nm. Os pulsos duram de 0,5ms a 20ms e podem ser aplicados em sequências de pulsos simples, duplos ou triplos. Entre as suas características estão as indicações para o tratamento de lesões vasculares, atingindo o cromóforo oxiemoglobina.2

À dermatoscopia, são detectadas numerosas pequenas lacunas vermelhas de formatos que variam de redondos a ovais, relativamente bem demarcadas.³ A dermatoscopia é indicada na diferenciação do angioma serpiginoso em relação às dermatoses purpúricas.

Uma paciente de 12 anos de idade se apresentou à consulta com um angioma serpiginoso no braço direito, que remitiu após seis sessões de LIP.

 

RELATO DE CASO

Uma menina de 12 anos apresentou manchas vermelhas no antebraço e no dorso da mão direitos. A mãe havia notado a erupção desde o nascimento. O exame físico revelou lesões punctiformes múltiplas e confluentes, de coloração variável de vermelha a violácea, dispostas em padrão serpiginoso. A lesão não desapareceu sob diascopia, e as características dermatoscópicas observadas revelaram numerosos pequenos lagos vermelhos, com formatos variáveis de redondos a ovais, relativamente bem demarcados.

O diagnóstico caracterizou o angioma serpiginoso. O tratamento escolhido para esse caso foi a LIP (Starlux®, Palomar, Burlington, MA, USA), ponteira Max G, 500-670nm e 8701200nm, Fluencia 22J/cm2, dt 10ms). A lesão foi tratada em seis sessões com intervalo de um mês entre os procedimentos.

A paciente respondeu muito bem ao tratamento, sem desenvolver cicatrizes ou efeitos adversos.

 

DISCUSSÃO

O angioma serpiginoso foi descrito pela primeira vez por Hutchinson em 1889, porém essa nomenclatura foi proposta por Radcliffe-Crocker em 1893. Clinicamente, a lesão consiste em múltiplas, minúsculas, máculas de coloração que varia de vermelha a roxa, agrupadas em padrões serpiginosos (Figura 1). Embora o ponto púrpurico não desapareça completamente após aplicação de pressão, não há evidências de hemorragia. A distinção entre as dermatoses purpúricas e o angioma serpiginoso é importante. As lacunas vermelhas demarcadas representam um dos padrões vasculares vistos na dermatoscopia (Figura 2), sendo predominantemente observadas em hemangiomas eruptivos e angioqueratomas. Essa aparência se deve a espaços vasculares aumentados e dilatados dentro da derme papilar. Se esses espaços estiverem localizados mais profundamente na pele, poderá ocorrer um padrão de coloração variável de azul-avermelhada a enegrecida.4

O exame histopatológico mostra dilatação com ectasia de capilares na derme papilar.1

A principal queixa relacionada ao angioma serpiginoso diz respeito ao aspecto estético.5 Apesar de assintomático pode ser severamente desfigurante e causar significativo estresse psicológico ao paciente.6

O sistema da LIP emite luz policromática a partir de uma fonte de alta intensidade. Seu efeito baseia-se no princípio da fototermólise seletiva. O calor gerado pela aplicação da luz causa a lesão térmica do tecido-alvo sem causar danos à epiderme ou ao tecido saudável circundante. O uso de filtros ópticos produz uma faixa de comprimento de onda bem definida, tendo sido estabelecida entre 560nm e 1.000nm para a paciente em questão. A duração e a sequência dos pulsos também podem ser variadas. Dessa forma, o sistema permite modificar consideravelmente os parâmetros para ajustá-los ao tratamento.5

A LIP tem sido utilizada no tratamento de malformações venosas, hemangioma infantil, angioma serpiginoso, angioma em tufos, granuloma piogênico, linfangioma, angioqueratoma de Fabry e angio-histiocitoma de células multinucleadas. A LIP pode ser considerada opção de tratamento que produz resultados razoáveis para as malformações venosas (com evidências de nível 3c). De fato, os desenhos dos estudos não receberam classificação de alto índice de evidência, porém os resultados foram uniformemente favoráveis, com todos os pacientes estudados tendo alcançado melhora de 70% a 100% de suas lesões.7 Tais resultados são comparáveis ao caso relatado pelos autores no presente artigo.

No presente caso, a LIP foi técnica viável não apenas pelos resultados, mas também devido ao baixo custo do tratamento.2

 

PARTICIPAÇÃO DOS AUTORES:

Elisete Isabel Crocco:

responsável direta do caso clínico e participação na elaboração do texto e revisão em inglês.

Vanessa Alice Amorim:

Elaboração do texto, aplicação das sessões de luz pulsada.

Renata Oliveira Alves:

Participação na elaboração do texto, aplicaçnao das sessões de luz pulsada.

 

REFERÊNCIAS

1. Madan V, August PJ, Ferguson JE. Pulsed-dye laser treatment of angioma serpiginosum. Clin Exp Dermatol. 2009;34(5):e186-8.

2. Crocco E, Abramavicus A, Russo C, Zaitz C, Nunes K. Treatment of port wine stain with pulsed light of the square pulse type. J Am Acad Dermatol. 2010;62(3 Suppl 1):AB147.

3. Ghanadan A, Kamyab-Hesari K, Moslehi H, Abasi A. Dermoscopy of angioma serpiginosum: a case report. Int J Dermatol. 2014;53(12):1505-7.

4. Ilknur T, Fetil E, Akarsu S, Altiner DD, Ulukus C, Günes AT. Angioma serpiginosum: dermoscopy for diagnosis, pulse dye laser for treatment. J Dermatol. 2006;33(4):252-5.

5. Poenitz N, Koenen W, Utikal J, Goerdt S. Angioma serpiginosum following the lines of Blaschko - an effective treatment with the IPL technology. J Dtsch Dermatol Ges. 2006;4(8):650-3.

6. Rho NK, Kim H, Kim HS. Successful treatment of angioma serpiginosum using a novel 532 nm potassium titanyl phosphate (KTP) laser. J Dermatol. 2014;41(11): 996-8.

7. Wat H, Wu DC, Rao J, Goldman MP. Application of intense pulsed light in the treatment of dermatologic disease: a systematic review. Dermatol Surg. 2014;40(4):359-77.

 

Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia, Hospital e Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil.


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