Carlos Roberto Antonio1; Guilherme Bueno de Oliveira2; Maria Gabriela Gonçalves Coura3; Lívia Arroyo Trídico4; Luana Rocco Pereira4; Solange Corrêa Garcia Pires D'Ávila5
Introdução: A hidrosadenite é doença inflamatória crônica que tem impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes e poucas opções terapêuticas eficazes. Atualmente, o uso de tecnologias a laser tem-se destacado para seu tratamento. Objetivo: Avaliar o uso do laser ND:YAP (Neodimiun: Ytrium Aluminum Peroviskita) 1340nm no tratamento de hidrosadenite. Métodos: Realização de quatro sessões de laser ND:YAP 1340nm em três pacientes portadoras de hidrosadenite. Resultados: Todas as pacientes apresentaram redução das lesões inflamatórias evidenciadas clínica e histopatologicamente. Conclusões: O laser ND-YAP 1340nm mostrou-se eficaz no tratamento de hidrosadenite neste trabalho, podendo representar nova opção terapêutica à hidrosadenite.
Keywords: HIDRADENITE; LASERS; TERAPIA A LASER
Hidrosadenite é doença inflamatória crônica e recorrente que afeta áreas flexurais da pele, tais como axila, região inframamária e inguinal.1 Trata-se de condição dolorosa e muitas vezes desfigurante, que se manifesta após a puberdade, caracterizando-se por lesões inflamatórias profundas em região de glândulas apócrinas.2 A prevalência de hidrosadenite na população em geral é cerca de 1%, acometendo mais mulheres em relação a homens (4:1), e associando-se à predisposição genética e hormonal (excesso de andrógenos).2,3,4
Inicialmente, a hidrosadenite se manifesta por inflamação ao redor do folículo piloso que, seguida por uma série de eventos destrutivos, leva à ruptura do infundíbulo folicular formando nódulos profundos dolorosos e abcessos que geram fístulas e cicatrizes. Essa sequência de eventos tende a ser recorrente na maioria dos pacientes.3,5 Dessa forma, a hidrosadenite pode manifestar-se sob a forma de abcessos, foliculites, granuloma piogênico, comedões, fístulas, cicatrizes e queloides.6
Diante da variedade de manifestações dessa doença, utiliza-se o sistema de estadiamento de Hurley a fim de classificar o quadro em três estádios. No 1 há um ou mais abcessos separados, mas não há fístula ou cicatriz; no 2 há um ou mais abcessos separados com formação de fístulas e cicatrizes; e no 3 há confluência das lesões com fístulas e abcessos interligados.1,3 A fisiopatologia das lesões envolve tanto defeito da imunidade inata folicular como hiper-reatividade à Sthaphylococcus coagulase negativa.6
A hidrosadenite pode trazer consequências clínicas significantes, mas sobretudo afetar negativamente a qualidade de vida dos pacientes.1,7 O quadro álgido, o mau odor e as cicatrizes são fatores impactantes para os pacientes.8 Apesar da importância de tratamento resolutivo para essa patologia, as opções atuais são limitadas, faltando estudos que envolvam terapêutica segura e eficaz.2
O tratamento farmacológico engloba antibióticos tópicos e orais, corticoide intralesional, terapia hormonal, retinoides, imunossupressores e agentes biológicos. O tratamento cirúrgico varia desde procedimentos de drenagem e incisão até debridamento e ampla excisão cirúrgica de fístulas e abcessos. Recentemente, tem-se relatado o uso de tecnologias como laser diodo, laser de CO2, ND:YAG (Neodimiun: Ytrium Aluminum Garnet) e terapia fotodinâmica com bons resultados no tratamento de hidrosadenite.1,3,8,9
Diante do sucesso de alguns tipos de laser na hidrosadenite, buscamos avaliar o uso de uma nova tecnologia, o Nd:YAP (Neodimiun: Ytrium Aluminum Peroviskita) 1340nm. Esse laser mostrou-se eficaz no tratamento da acne inflamatória através da organização das fibras colágenas e redução do infiltrado inflamatório.10 Dessa forma, tratando-se também de doença inflamatória crônica, procuramos obter resultados positivos ao tratar hidrosadenite com ND:YAP 1340nm.
Foram selecionadas três pacientes do sexo feminino, portadoras de hidrosadenite grau 1 ou 2 de Hurley, atendidas no Ambulatório de Dermatologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). As pacientes já haviam sido submetidas a tratamentos medicamentosos sem sucesso. Estavam há três semanas sem uso de terapia sistêmica ou tópica e não haviam realizado tratamento cirúrgico prévio. O diagnóstico de gravidez foi excluído para as três pacientes. A realização do trabalho foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.
Em estudo prospectivo, as pacientes foram submetidas a quatro sessões de laser ND:YAP 1340nm (Etherea®, Industra Technologies Indústria e Comércio Ltda, São Carlos, São Paulo, Brasil), com os seguintes parâmetros: 100mJ, 100mtz e ponteira de 8mm. O intervalo entre as sessões foi mensal. A resposta ao tratamento foi avaliada através da comparação de fotografias prévias à laserterapia e feitas um mês após a quarta sessão.
Dois dermatologistas não vinculados ao projeto compararam as fotografias e classificaram da seguinte forma: 0 - piora, 1 - ausência de melhora, 2 - melhora moderada e 3 - melhora significativa. O grau de satisfação do paciente foi avaliado com base em escala de pontos: 0 - insatisfeito; 1 - pouco satisfeito; 2 - satisfeito; e 3 - muito satisfeito.
A análise objetiva das fotografias realizada por dermatologistas não vinculados ao estudo foi classificada como melhora significativa da inflamação em todos os casos (Figuras 1 e 2). As três pacientes ficaram muito satisfeitas com o resultado e, como efeito adverso ao tratamento, só apresentaram eritema e dor leve. Durantes os seis meses seguintes ao tratamento, nenhuma paciente apresentou recidiva.
Em exame anatomopatológico anterior ao tratamento foi visualizado processo inflamatório crônico com importante infiltrado inflamatório linfocitário e desorganização de fibras colágenas (Figuras 3 e 4). Após o tratamento, porém, ficou evidente importante diminuição do infiltrado inflamatório e organização das fibras colágenas (Figuras 5 e 6).
A hidrosadenite é doença inflamatória crônica que afeta negativamente a qualidade de vida dos pacientes e está associada à morbidade clínica. Apesar disso, faltam tratamentos eficazes e definitivos para essa doença, pois recorrências são frequentes1,11 O tratamento a laser tem a vantagem de ser restrito ao local afetado e não estar associado a efeitos colaterais sistêmicos.3
Recentemente, o laser ND:YAG (Neodymium: Yyttrium Aluminum Garnet) 1064nm demonstrou bons resultados no tratamento de hidrosadenite.1,3,12,13 De acordo com Mahmoud et al. 2010,3 é provável que o mecanismo de ação responsável pelo sucesso terapêutico seria a ablação folicular e destruição das lesões inflamatórias através da fotodermólise seletiva.
Neste trabalho relatamos, de forma inédita, o sucesso do laser Nd:YAP 1340nm no tratamento de hidrosadenite. Essa tecnologia já se mostrou eficaz no tratamento da acne inflamatória e possivelmente teria ação semelhante na fibrose e inflamação que também caracterizam a hidrosadenite.10 Dessa forma, foi possível garantir satisfação às pacientes e aprovação do ponto de vista médico, comprovando a eficácia dessa terapia através do exame histopatológico.
A ação do laser Nd:YAP 1340nm nas lesões de hidrosadenite (Graus 1 e 2) mostrou-se duradoura, sem relatos de recidiva em até seis meses após o tratamento. Os efeitos colaterais foram mínimos e locais. Buscamos, assim, alternativa terapêutica segura e eficaz diante de afecção impactante para o paciente.
Em se tratando de patologia que está associada a prejuízo funcional, estético e psicológico, a hidrosadenite necessita de métodos terapêuticos eficazes. Neste trabalho, concluímos que o laser Nd-YAP 1340nm foi eficaz e seguro em três pacientes portadoras de hidrosadenite. Este estudo apresenta nova modalidade terapêutica para hidrosadenite. Mais estudos nos diversos graus de hidrosadenite e maior tempo de acompanhamento são necessários.
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Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), São José do Rio Preto (SP), Brasil.