Flávia Alvim Sant’anna Addor1; Ludmila Coelho Donato2; Thiago Silva Raposo2; Dayana da Costa Salome2
Data de Submissão: 10/01/2024
Decisão final: 29/02/2024
Fonte de financiamento: A empresa Silimed doou as amostras para o estudo e apoiou financeiramente a execução das avaliações clínicas
Conflitos de interesse: Nenhum.
É ensaio clínico? CAAE: 66692823.7.0000.5514
Número do comitê de ética: 5514
Como citar este artigo: Addor FAS, Donato LC, Raposo TH, Salome DC. Eficácia e segurança dos adesivos de silicone na melhora de sinais de envelhecimento periorbital: estudo piloto. Surg Cosmet Dermatol. 2025;17:e20250339.
INTRODUÇÃO: Múltiplos tratamentos que prometem prevenir ou tratar o envelhecimento da pele atuam nas funções celulares, reduzindo os mecanismos de agressão à pele e minimizando a perda das propriedades da barreira cutânea. Os adesivos de silicone parecem ter uma ação positiva na função barreira e na modulação da inflamação, mas seus efeitos clínicos ainda não haviam sido documentados.
OBJETIVO: Avaliar a eficácia dos adesivos de silicone na redução dos sinais do envelhecimento periorbital.
MÉTODOS: Foram selecionadas 33 pacientes, com idades entre 35 e 55 anos, com diagnóstico clínico de envelhecimento na região periorbital. Destas, 23 foram submetidas a medidas de hidratação (corneometria) e de relevo da pele (profilometria). Todas as participantes utilizaram diariamente os adesivos por um período de 30 dias.
RESULTADOS: Após 4 semanas de uso, a aplicação do adesivo de silicone proporcionou uma melhora significativa dos níveis de hidratação e do microrrelevo da pele, tornando-a mais lisa. As avaliações clínica e subjetiva corroboraram esses achados, além de haver melhora relevante em parâmetros clínicos e subjetivos como hidratação, maciez, textura e linhas de expressão.
CONCLUSÃO: O uso continuado dos adesivos de silicone demonstrou efeitos benéficos sobre alguns sinais do envelhecimento, possivelmente relacionados à melhora da hidratação e à modulação da inflamação.
Keywords: Envelhecimento da Pele; Epiderme; Elastômeros de Silicone.
O envelhecimento da pele se caracteriza por um declínio funcional celular, com repercussÇes funcionais e clínicas. Na epiderme, a redução da barreira cutânea favorece o ressecamento e a perda da função imune, enquanto na derme, a redução de síntese e organização da matriz extracelular resulta em um adelgaçamento progressivo e perda de propriedades biofísicas, como densidade, firmeza e elasticidade.1 Há múltiplos tratamentos que prometem prevenir ou tratar esses fenômenos, seja por estimulação dos queratinócitos e dos fibroblastos, seja por redução dos mecanismos de agressão à pele, como oxidação, inflamação ou até a perda das propriedades da barreira cutânea.2-4 Os adesivos de silicone são amplamente utilizados para prevenção de cicatrizes hipertróficas e queloides, assim como no tratamento complementar dessas afecções. O mecanismo de ação na modulação da resposta cicatricial ainda não está bem esclarecido, mas estudos demonstram que, além do efeito mecânico de restringir a mobilização da pele que está sob reparação, o silicone parece modular a inflamação presente na área.5,6 Foi demonstrado que a redução da perda de água transepidérmica tem um papel nessa modulação, já que colabora na restauração da barreira cutânea.7 Recentemente, o uso de adesivos de gel de silicone tem sido propagado na prevenção e melhora das rugas faciais, (periorbitais, frontais e glabelares), cervicais e na área pré-esternal ("rugas do decote") devido ao seu efeito mecânico, que reduziria a mobilização da pele nessas regiÇes. O efeito hidratante também é mencionado. Entretanto, não há evidências publicadas que comprovem o efeito dessas placas sobre as rugas cutâneas. Diante desse cenário, o objetivo desta pesquisa foi conhecer a possível contribuição desse dispositivo na melhora de sinais de envelhecimento, especificamente os periorbitais, assim como um possível impacto em outros parâmetros funcionais ligados ao envelhecimento, como os níveis de hidratação.
Trata-se de um estudo piloto, onde foram selecionados 33 pacientes recrutados em um centro de pesquisa privado, com idades entre 35 e 55 anos, do sexo feminino, com diagnóstico clínico de envelhecimento na região periorbital (presença de olheiras, linhas e bolsas infraorbitais). Todas as pacientes concordaram em participar da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido antes da avaliação dermatológica. Após a inclusão no estudo, todas as participantes receberam uma amostra do adesivo de silicone (Medgel Antiage®, Silimed Industria de Implantes Ltda.) para aplicação noturna na área infraorbital, sendo instruídas a não utilizar nenhum outro produto no local, com exceção de um higienizador. O Medgel Antiage® é uma tira adesiva de silicone grau médico e biocompatível. É composto por uma fina camada de elastômero de silicone para suporte e flexibilidade, e uma camada de gel de silicone capaz de se adaptar ao contorno da pele e aderir completamente à região para a qual se destina. A superfície em contato com a pele acompanha um filme plástico para o acondicionamento, com a finalidade de não perder a adesividade. O Medgel Antiage® possui diferentes formatos para se adequar às regiÇes anatômicas de destino: contorno dos olhos, sulco nasogeniano, frontetesta e glabela, perilabial e colo. O Quadro 01 demonstra as dimensÇes de cada adesivo:
Foi instruída a lavagem diária do adesivo, que estava adequado ao uso por 30 vezes, perfazendo o uso durante 1 mês. As pacientes foram avaliadas pelo dermatologista investigador no início e final do estudo, e o médico esteve disponível para algum caso de reação adversa. Destas pacientes, 23 foram selecionadas, de forma randômica, para realizar medidas de hidratação por corneometria (equipamento Corneometer® MPA 580 - Courage & Khazaka) e relevo cutâneo (linhas finas) por análise de imagens profilométricas (equipamento Primos lite® (GFMesstechnik GmgH), no início e ao final do estudo. Essas mesmas pacientes, no primeiro dia de avaliação, foram submetidas a um estudo de cinética de hidratação por 8 horas, para avaliar os efeitos de uma única aplicação do adesivo sobre os níveis de água na camada córnea. Um total de seis adesivos padronizados foi aplicado na face interna de antebraços com a finalidade de avaliar a curva de hidratação a partir de uma única aplicação, comparando com uma área controle (sem aplicação). Os adesivos foram removidos em 1, 2, 4, 6 e 8 horas, e medidas foram realizadas e comparadas à área controle. O estudo foi conduzido em acordo com as Diretrizes das Boas Práticas Clínicas, Resolução 466/12, sendo realizado após aprovação emitida pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco sob o número do parecer: 5.887.621 e Certificado de Apresentação de Apreciação Ética: 66692823.7.0000.5514, em 10/02/2023. O estudo ocorreu entre maio e julho do mesmo ano.
Das 33 pacientes recrutadas, duas foram excluídas por não retornarem para as avaliações finais. Com relação à segurança de uso, as reações adversas relatadas foram de leve intensidade e transitórias, não necessitando de descontinuação do produto. Prurido leve (4 participantes), calor local de leve intensidade (1 participante) e eritema com ardência leve (1 participante) foram relatados, mas a regressão espontânea permitiu a continuidade de uso. A média etária foi de 46,1 anos.
Com relação ao percentual de pacientes com melhora, o Quadro 02 apresenta os resultados obtidos a partir dos itens de avaliação clínica:
A avaliação cinética, que objetiva avaliar o efeito de uma única aplicação, revelou uma melhora estatisticamente significativa dos níveis de hidratação a partir da primeira hora (37,1%), sendo progressiva no tempo, chegando a 50,78% em 8 horas, conforme demonstra o Quadro 03:
O Gráfico 01 demonstra os efeitos no tempo dos níveis de hidratação após 28 dias, que foram estatisticamente significativos (p < 0,05) com o uso noturno diariamente:
Nesta avaliação, a diminuição das medianas significa melhora do parâmetro, já que há menos relevo (pele mais lisa). Os resultados demonstram uma redução de 14,3% na profundidade das rugas periorbitais, sendo estatisticamente significativa após 28 dias de uso, conforme o Gráfico 02:
As participantes responderam a um questionário sobre os efeitos do produto avaliado ao final do estudo e foram consideradas positivas as respostas de concordância total ou parcial para cada pergunta. Duas questÇes mais gerais foram incluídas: melhora do aspecto envelhecido e aspecto de pele mais jovem. Todos os parâmetros tiveram avaliação positiva para a maioria das participantes, conforme demonstrado no Quadro 04:
O uso de adesivos de silicone é estudado desde a década de 90 para a prevenção e tratamento de queloides e cicatrizes hipertróficas, tornando-se o tratamento de primeira linha nos guidelines mais recentes.9,10 Como demonstra maior eficácia nas cicatrizes recentes, levantou-se a hipótese de que, além de um benefício de ordem mecânica, poderia haver uma possível atividade sobre a inflamação. Há evidências de que, além de uma maior hidratação tecidual, o silicone atue sobre atividade mastocitária e expressão de interleucina1, com uma provável repercussão na modelação da matriz extracelular.11,12 Partindo-se do pressuposto de que a pele envelhecida tem maior dificuldade de manter a função barreira, com maior predisposição a irritações, e que fatores externos (radiação solar, poluição etc.) podem agir como pró-inflamatórios, imagina-se que adesivos de silicone poderiam exercer um efeito protetor, criando um microambiente propício à modulação da inflamação e restituição de barreira, mas não há ainda um estudo que demonstre esse fenômeno. O adesivo de silicone aqui estudado demonstrou, a partir da primeira aplicação, um efeito positivo e relevante sobre os níveis de hidratação, sendo o primeiro passo para manter ou até recuperar a epiderme. Seus efeitos ao longo do tempo, demonstrados tanto nas avaliações clínicas quanto nas instrumentais, evidenciaram uma redução significativa nas linhas periorbitais. Contudo, um eventual mecanismo de ação dérmico permanece indeterminado.
Uma maior hidratação é obtida a partir da recuperação da integridade de barreira. Um estudo envolvendo a aplicação tópica de silicone demonstrou a melhora significativa da perda de água transepidérmica em pacientes após procedimentos ablativos.13 O adesivo de silicone se revelou seguro para uso diário na face e área dos olhos, corroborando a segurança já observada em diversos estudos clínicos. Estes resultados encorajadores sugerem que o uso do adesivo de silicone pode ser uma medida segura e efetiva não somente para o tratamento de sinais de envelhecimento, mas possivelmente durante pós procedimentos que envolvam alteração de barreira (laser, microagulhamento, peelings etc.), desde que não haja áreas cruentas, conforme recomendado para lesÇes em cicatrização.14 Pacientes com histórico de alergias e irritações cutâneas também podem se beneficiar dessas medidas, com melhora da integridade da pele. Em suma, as evidências coletadas neste estudo apontam resultados promissores nessa nova alternativa de cuidados com a pele envelhecida.
A utilização dos adesivos de silicone demonstrou uma melhora percebida pelas pacientes significativa de parâmetros associados ao envelhecimento da pele periorbital: maciez, hidratação, textura, vitalidade e radiância. Além disso, as participantes relataram percepção de melhora da luminosidade, bolsas ao redor dos olhos e linhas de expressão. Esses resultados foram corroborados pela avaliação instrumental, com melhora significativa no tempo de medidas de hidratação (com resultados relevantes estatisticamente desde a primeira aplicação, em todos os tempos de avaliação) e de relevo cutâneo. Estes achados sinalizam que o uso dos adesivos de silicone são um recurso promissor no tratamento dos sinais de envelhecimento cutâneo a partir de seu uso continuado, constituindo o primeiro skincare não cosmético para uso doméstico com segurança e eficácia comprovadas. Seu uso deve colaborar, inclusive, para a melhora de resultados de procedimentos estéticos locais, sem riscos de irritação ou sensibilizações.
Flavia Alvim Sant'Anna Addor
ORCID: 0000-0003-1851-7342
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.
Ludmila Coelho Donato
ORCID: 0000-0003-1838-8464
Análise estatística; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.
Thiago Silva Raposo
ORCID: 0000-0001-6661-402X
Aprovação da versão final do manuscrito, Concepção e planejamento do estudo, Participação efetiva na orientação da pesquisa, Revisão crítica do manuscrito
Dayana da Costa Salome
ORCID: 0000-0001-8886-8872
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
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