2719
Views
Open Access Peer-Reviewed
Diagnóstico por Imagem

Microscopia confocal de reflectância como ferramenta para avaliar os efeitos causados pelo microagulhamento: uma série de cinco casos

Francisco Macedo Paschoal1,2; Andressa Sobral Soares de Deus1; Anelise Damiani da Silva Citrin1; Gisele Gargantini Rezze2

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201911202

Data de recebimento: 10/04/2019
Data de aprovação: 01/06/2019
Trabalho realizado no Centro Universitário Saúde ABC
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum


Abstract

O microagulhamento é um procedimento cirúrgico ambulatorial que pode ser utilizado para diferentes indicações com o objetivo de estimular a produção de colágeno. Foram avaliados 5 casos no transcorrer das 72 horas após o procedimento, por meio da Microscopia Confocal de Reflectância, com o objetivo de avaliar a vida útil dos orifícios.


Keywords: Colágeno; Cicatrização; Procedimentos cirúrgicos ambulatoriais


INTRODUÇÃO

O microagulhamento tem sido utilizado como tecnologia minimamente invasiva para o tratamento de diversas condições dermatológicas como cicatrizes de acne, estrias e rejuvenescimento da pele.1,2 Também tem sido aplicado para aumentar a absorção de medicamentos por via transdérmica, criando poros na epiderme e na derme papilar.3,4 No entanto, poucos estudos têm avaliado seus efeitos iniciais dentro da epiderme e da derme. Por isso, estudamos uma série de casos por meio da microscopia confocal de reflectância (MCR) que é um exame auxiliar in vivo que permite a visualização de diferentes níveis da pele em uma resolução histológica.5

 

RELATO DE CINCO CASOS

Um total de cinco pacientes com cicatrizes de acne e fotoenvelhecimento cutâneo que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido foram incluídos neste estudo. A imagem através da MCR foi adquirida por um microscópio confocal de varredura a laser, de reflexão próxima do infravermelho (Vivascope 3000®; Caliber I.D., Rochester, NY) desde o extrato córneo até à derme papilar (cortes horizontais) na têmpora direita. O microagulhamento foi realizado após 1 hora de anestesia tópica (Pliaglis®, Galderma, São Paulo, SP, Brasil) utilizando-se o instrumento (Derma Roller; Fabinject Technology, Taubaté, São Paulo, Brasil) com 540 microagulhas de 1,5mm em toda a face visando o sangramento pontilhado como desfecho.

A mesma região foi avaliada por MCR imediatamente (T0), 24 horas (T1), 48 horas (T2) e 72 horas (T3) após o procedimento. Todos os pacientes foram aconselhados a não aplicar qualquer creme tópico na pele da face entre as avaliações da MCR. A MCR logo após o procedimento (T0) revelou uma fenda linear negra do topo da epiderme até a derme papilar em todos os casos, sendo mais triangular na derme (Figura 1). Em T1 e T2, a fenda tornou-se uma estrutura circular negra na epiderme superior (estrato córneo), na epiderme e najunção dermo-epidérmica. Alguns deles continham uma substância leve e brilhante. Na derme, essas áreas negras apresentavam partículas brilhantes em T1 (Figura 1).

 

DISCUSSÃO

O microagulhamento tem sido cada vez mais utilizado na dermatologia por razões cosméticas, devido à sua fácil técnica de aplicação e raras complicações.1,2 Parece também promissor para a entrega de medicamentos, uma vez que o estrato córneo é a grande barreira para o transporte transdérmico de drogas e pode ser perfurado por microagulhas, que rompem mecânicamente as camadas da pele determinando a absorção transdérmica do fármaco.3,4

Nosso estudo propiciou a observação das perfurações na pele resultantes do microagulhamento, usando uma nova tecnologia (MCR). Notamos, imediatamente após o microagulhamento (T0), a presença dos orifícios na epiderme e derme, possivelmente aumentando a permeabilidade da pele, o que é essencial para o conceito de liberação transdérmica de medicamentos. A presença de uma substância leve e brilhante nos poros da epiderme em T1, T2 e T3 talvez corresponda à inflamação local subclínica responsável pela oclusão com microporo. Este processo fisiológico ainda não é conhecido, mas acredita-se que o microporo pode fechar em um período de horas.3,4 O achado de áreas negras com partículas brilhantes no interior da derme papilar nos permite especular se poderia corresponder à inflamação causada pela microinjuria, levando a uma neovascularização e neocolagênese envolvidas no rejuvenescimento da pele.4

 

CONCLUSÃO

Por fim, pouco se sabe sobre a vida útil dos orifícios e a injúria causada pelo tratamento com microagulhas. Portanto, acreditamos que o MCR pode ser útil para visualizar de forma inédita seus eventos mecânicos e inflamatórios.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Francisco Macedo Paschoal | ORCID 0000-0002-6264-1538

Aprovação da versão final do original, concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do original, obtenção, análise e interpretação dos dados, participação efetiva na orientação da pesquisa, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, revisão crítica da literatura, revisão crítica do original.

Andressa Sobral Soares de Deus | ORCID 0000-0002-8569-4229

Concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do original, obtenção, análise e interpretação dos dados, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, revisão crítica da literatura.

Anelise Damiani da Silva Citrin | ORCID 0000-0002-2986-6188

Elaboração e redação do original.

Gisele Gargantini Rezze | ORCID 0000-0001-9084-4634

Aprovação da versão final do original, elaboração e redação do original, obtenção, análise e interpretação dos dados, participação efetiva na orientação da pesquisa, revisão crítica da literatura, revisão crítica do original.

 

REFERÊNCIAS

1. Andrade LE. Microneedling in facial recalcitrant melasma: report of a series of 22 cases. An Bras Dermatol. 2015; 90( 6 ):919-21.

2. Singh A, Yadav S. Microneedling: Advances and widening horizons. Indian Dermatol Online J. 2016;7(4):244-54.

3. Badran MM, Kuntsche J, Fahr A. Skin penetration enhancement by a microneedle device (Dermaroller) in vitro: dependency on needle size and applied formulation. Eur J Pharm Sci. 2009;36(4-5):511-23.

4. Vandervoort J, Ludwig A. Microneedles for transdermal drug delivery: a minireview. Front Biosci. 2008;13:1711-5.

5. Langley RG, Rajadhyaksha M, Dwyer PJ, Sober AJ, Flotte TJ, Anderson RR. Confocal scanning laser microscopy of benign and malignant melanocytic skin lesions in vivo. J Am Acad Dermatol. 2001;45(3):365-76.


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773