3698
Views
Open Access Peer-Reviewed
Relato de caso

Papel da dermatoscopia na distinção entre tinea nigra e nevo melanocítico acral

Betty Nguyen1; Antonella Tosti2

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20221400108

Data de submissão: 29/10/2021
Decisão Final: 17/01/2022


Fonte de financiamento: Nenhuma
Conflito de interesses: Nenhum
Como citar este artigo: Nguyen B, Tosti A. Papel da dermatoscopia na distinção entre tinea nigra e nevos melanocíticos acrais. Surg Cosmet Dermatol. 2022;14:e20220108.


Abstract

A dermatoscopia é uma ferramenta prática e não invasiva que pode ser usada para distinguir a tinea nigra de outras lesões que parecem macroscopicamente semelhantes, incluindo o nevo melanocítico acral. Sob a dermatoscopia, a tinea nigra se apresenta com um padrão de deposição de pigmento marrom-acinzentado espiculado, enquanto o nevo melanocítico acral geralmente se apresenta como deposição de pigmento marrom em um padrão de sulco paralelo.


Keywords: Dermatoscopia; Nevo; Tinea


INTRODUÇÃO

Tinea nigra é uma micose superficial incomum do estrato córneo causada por Hortaea werneckii, uma levedura ascomiceta que se acredita ser encontrada principalmente no solo, em composto e madeira em regiões (sub)tropicais. A tinea nigra é caracterizada pelo início insidioso de uma mácula marrom à preta assintomática e com bordas discretas. As lesões são geralmente unilaterais e solitárias, embora lesões múltiplas também possam estar presentes. Ela afeta preferencialmente as superfícies palmares das mãos e as superfícies plantares dos pés, embora ocasionalmente possa se estender aos dedos das mãos e dos pés. A resolução espontânea das lesões é improvável, mas tem sido relatada.1 Os agentes antifúngicos tópicos geralmente resolvem a tinea nigra dentro de 2-4 semanas.2

 

APRESENTAÇÃO DOS CASOS

O primeiro paciente era do sexo masculino de 14 anos, sem histórico familiar ou médico significativo, procurou a clínica devido a uma lesão marrom na palma da mão esquerda há anos. Reportava não sentir dor ou desconforto. O paciente nasceu em Cuba e mudou-se para os Estados Unidos aos oito anos. Negava histórico significativo de viagens. Ao exame clínico, era visível lesão macular de bordas bem definidas na palma esquerda na região hipotenar (Figura 1A), bem como uma lesão macular adjacente menor no quinto dedo esquerdo (Figura 1B). A dermatoscopia da lesão hipotenar apresentou deposição de espículas castanho-acinzentadas regulares (Figura 2A). Já a dermatoscopia da lesão adjacente do quinto dedo demonstrou deposição de pigmento marrom predominantemente nos sulcos lineares compatíveis com nevo melanocítico acral (Figura 2B). A preparação de hidróxido de potássio (KOH) a partir de raspados de pele da lesão palmar esquerda demonstrou hifas marrons ramificadas com septos marrons claros. A subsequente reação em cadeia da polimerase foi positiva para Hortaea werneckii. Na histopatologia observou-se leve acantose e hiperqueratose na coloração de hematoxilina e eosina (H&E) (Figura 3A), e hifas septadas positivas no ácido periódico de Schiff (PAS) eram visíveis no estrato córneo, sendo consistente com tinea nigra (Figura 3B).

O segundo paciente, do sexo masculino, de 43 anos, sem história familiar ou médica significativa, procurou atendimento clínico devido à uma mancha macular marrom na planta do pé esquerdo e uma mancha macular marrom menor na planta do pé direito (Figura 4A-B). Relatava não sentir dor ou desconforto. O exame físico não apresentava anormalidades. O paciente nasceu nos Estados Unidos e negou histórico relevante de viagem. A dermatoscopia da lesão do pé esquerdo demonstrou padrão de deposição espiculada de pigmento marrom-acinzentado sugestivo de tinea nigra (Figura 5A), que foi confirmada por biópsia. A dermatoscopia da lesão marrom menor do pé direito mostrou pigmento depositado predominantemente de padrão de sulco nos dermatóglifos, sugestivo de nevo melanocítico acral (Figura 5B).

 

CONCLUSÃO

Dada a aparência macroscópica e a distribuição de suas lesões, a tinea nigra pode se assemelhar a muitas outras condições, incluindo nevos melanocíticos acrais3 e melanoma acral lentiginoso.4 Seu reconhecimento imediato e preciso é necessário para minimizar os testes diagnósticos invasivos desnecessários, como a excisão cirúrgica. A dermatoscopia pode fornecer diagnóstico rápido, não invasivo e preciso. A marca dermatoscópica da tinea nigra é a presença de pigmentos espiculados marrom-acinzentados ou castanho-claros distribuídos por toda a pele, sem preferência por cristas ou sulcos.5,6 Em contraste, a dermatoscopia do nevo melanocítico acral, na maioria das vezes, revela pigmento marrom distribuído de forma desigual em padrão de sulco paralelo7. Um estudo de 50 casos constatou que o diagnóstico presuntivo de tinea nigra foi feito em 7/13 (53%) dos casos quando a dermatoscopia foi utilizada, em comparação com 0/37 (0%) dos casos sem a utilização do método (P< 0,001) 6. Relatos de casos recentes8-10 confirmaram a utilidade diagnóstica semelhante da dermatoscopia na tinea nigra. Nossos dois casos reiteram a importância da dermatoscopia na avaliação clínica dessas lesões para garantir o diagnóstico imediato e início do tratamento, minimizando a necessidade de testes invasivos.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Betty Nguyen 0000-0002-0402-3926
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito

Antonella Tosti 0000-0001-5516-4043
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

 

REFERÊNCIAS:

1. Rossetto AL, Cruz RC. Spontaneous cure in a case of Tinea nigra. An Bras Dermatol. 2012;87(1):160-2.

2. Bonifaz A, Badali H, Hoog GS, Cruz M, Araiza J, Cruz MA, et al. Tinea nigra by Hortaea werneckii, a report of 22 cases from Mexico. Stud Mycol. 2008;61:77-82.

3. Eksomtramage T, Aiempanakit K. Tinea nigra mimicking acral melanocytic nevi. IDCases. 2019;18:e00654.

4. Babel DE, Pelachyk JM, Hurley JP. Tinea nigra masquerading as acral lentiginous melanoma. J Dermatol Surg Oncol. 1986;12(5):502-4.

5. Gupta G, Burden AD, Shankland GS, Fallowfield ME, Richardson MD. Tinea nigra secondary to Exophiala werneckii responding to itraconazole. Br J Dermatol. 1997;137(3):483-4.

6. Piliouras P, Allison S, Rosendahl C, Buettner PG, Weedon D. Dermoscopy improves diagnosis of tinea nigra: a study of 50 cases. Australas J Dermatol. 2011;52(3):191-4.

7. Altamura D, Altobelli E, Micantonio T, Piccolo D, Fargnoli MC, Peris K. Dermoscopic patterns of acral melanocytic nevi and melanomas in a white population in central Italy. Arch Dermatol. 2006;142(9):1123-8.

8. Thomas CL, Samarasinghe V, Natkunarajah J, Fogo A. Entodermoscopy: a spotlight on tinea nigra. Int J Dermatol. 2016;55(2):e117-8.

9. Abinader MVM, Maron SMC, Araújo LO, Ado AS. Tinea nigra dermoscopy: a useful assessment. J Am Acad Dermatol. 2016;74(6):e121-2.

10. Nazzaro G, Ponziani A, Cavicchini S. Tinea nigra: a diagnostic pitfall. J Am Acad Dermatol. 2016;75(6):e219-e220.


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773