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Acurácia da teledermatoscopia móvel na avaliação de lesões cutâneas pigmentadas

Norami de Moura Barros; Karin Milleni Araujo; Juan Piñeiro-Maceira; Carlos Baptista Barcaui

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2022140076

Data de submissão: 01/12/2021
Decisão Final: 09/12/2021


Fonte de financiamento: Nenhuma
Conflito de interesses: Nenhum
Como citar este artigo: Barros NM, Araujo KM, Piñeiro-Maceira J, Barcaui CB. Acurácia da teledermatoscopia móvel na avaliação de lesões cutâneas pigmentadas. Surg Cosmet Dermatol. 2022;14:e20220076


Abstract

Neste estudo transversal, comparamos o diagnóstico feito por meio da teledermatoscopia ao diagnóstico histopatológico. Fotos convencionais e dermatoscópicas de 31 lesões pigmentadas foram enviadas a um dermatologista experiente por meio do aplicativo WhatsApp® Messenger. Todas as lesões foram excisadas e examinadas por um dermatopatologista. A acurácia global da teledermatoscopia móvel foi de 90,32%. Em relação à capacidade de a teledermatoscopia definir malignidade da lesão pigmentada, a especificidade foi de 81,8% e a sensibilidade de 100%. Nossos resultados fornecem evidências adicionais sobre a confiabilidade da teledermatoscopia móvel, com alta sensibilidade e precisão.


Keywords: Dermoscopia; Teledermatologia; Telemedicina


INTRODUÇÃO

Devido à característica peculiar do diagnóstico visual, a Dermatologia é adequada para o incremento de novas ferramentas diagnósticas como a teledermatologia e, mais recentemente, a teledermatoscopia.1

Nesse contexto, destaca-se a teledermatoscopia móvel, na qual imagens clínicas e dermatoscópicas são capturadas e transmitidas por dispositivos móveis.2 Não obstante a importância do tema, existem aspectos técnicos, legais, éticos, regulatórios e culturais que limitam o uso rotineiro da teledermatologia.3

Considerando as dimensões continentais de países como Brasil, Índia, China, entre outros, e a dificuldade de acesso a centros especializados, a teledermatoscopia móvel pode, positivamente, impactar a definição de condutas, reduzindo os custos e o tempo de diagnóstico e evitando encaminhamentos e deslocamentos desnecessários.4,5

No entanto, trabalhos comparando a teledermatoscopia móvel ao diagnóstico histopatológico (padrão-ouro) são escassos.1,4,5

Este estudo tem por objetivo avaliar a acurácia do diagnóstico de lesões pigmentadas por meio da teledermatoscopia móvel. Trata-se de um estudo transversal com pacientes consecutivamente selecionados no Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, no período de setembro de 2018 a junho de 2019.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Pacientes com lesões pigmentadas, melanocíticas ou não, com indicação de excisão, foram incluídos após assinatura de termo de consentimento para a utilização dos seus dados e imagens. Duas imagens de cada lesão cutânea foram obtidas com câmera de celular (16 megapixels, resolução 4608 x 3456 pixel; Samsung Galaxy, modelo A8).

A imagem clínica foi padronizada da seguinte forma: a uma distância de aproximadamente 15 centímetros da pele do paciente, a imagem era obtida utilizando-se a ferramenta de autofoco, sem flash nem zoom.

O gel de interface e um dermatoscópio DermLite DL4 (3Gen, CA, USA) acoplado ao celular (adaptador universal; 3Gen) foram utilizados para a captura da imagem dermatoscópica; a posição 0 com luz polarizada. Assim foi definido o padrão da imagem dermatoscópica.

Utilizando o aplicativo WhatsApp® Messenger, as imagens clínicas e dermatoscópicas foram enviadas para um único dermatologista com experiência em dermatoscopia. Os diagnósticos teledermatoscópicos foram armazenados para posterior análise. Todas as lesões foram excisadas e examinadas por um dermatopatologista com acesso às características clínicas dos pacientes, mas sem informações relacionadas ao diagnóstico teledermatoscópico.

A acurácia e sensibilidade da teledermatoscopia móvel foram calculadas. O coeficiente kappa foi aplicado para as análises dos níveis de concordância entre os diagnósticos teledermatoscópicos e histopatológicos. O critério de Landis e Koc foi adotado para interpretação dos resultados: k=0,61–0,80 e k≥0,81 foram considerados como concordância substancial e concordância perfeita, respectivamente. O erro-padrão foi calculado para medir a precisão da estimativa kappa; quanto menor o erro-padrão, mais precisa é a estimativa.

O valor de p para o coeficiente kappa também foi calculado para medir a evidência contra a hipótese nula (a concordância entre o diagnóstico teledermatoscópico e o padrão é devido ao acaso). Um valor de p≤0,05 rejeitou a hipótese nula. Foi utilizado o software SPSS 26.0 (IBM, USA).

 

RESULTADOS

Foram analisados 26 pacientes (57,7% do sexo feminino, com 66,1±16,1 anos), com um total de 31 lesões. Na avaliação de todas as lesões pigmentadas, a acurácia global da teledermatoscopia móvel foi de 90,32% (28 lesões). A concordância entre a teledermatoscopia móvel para lesões cutâneas pigmentadas e a histopatologia foi perfeita (kappa=0,850, erro-padrão=0,080 e p<0,0001). Houve discordância diagnóstica em três lesões (Figuras 1-3).

Em relação à capacidade de a teledermatoscopia definir malignidade da lesão pigmentada, a especificidade foi de 81,8% e a sensibilidade de 100%. Duas lesões foram erroneamente diagnosticadas como lesões malignas durante a análise da teledermatoscopia. Posteriormente, a análise histopatológica demonstrou se tratar de duas lesões benignas (Figuras 2-3.), resultando em uma acurácia de 93,5%. A concordância entre a teledermatoscopia e a histopatologia também foi perfeita (kappa = 0,853, erro-padrão=0,099 e p<0,0001).

A sensibilidade para o diagnóstico de melanoma (quatro lesões na histopatologia), carcinoma basocelular (16) e lesões melanocíticas benignas (cinco) foi de 100%, e para o diagnóstico de hemangioma (três lesões na histopatologia), queratose seborreica (duas) e poroma écrino pigmentado (uma) foi de 66,7%, 50% e 0%, respectivamente.

 

DISCUSSÃO

Investigações prévias demonstraram que a teledermatoscopia é uma ferramenta eficaz, precisa e confiável para avaliar lesões pigmentadas.2,4,5

Estudos anteriores revelaram que a teledermatoscopia móvel apresentou uma concordância de 81-90% com o exame dermatológico presencial.4,5

Nossos resultados fornecem evidências adicionais sobre a confiabilidade da teledermatoscopia móvel, com alta sensibilidade e acurácia. O risco de uma lesão maligna pigmentada passar despercebida pela avaliação teledermatoscópica móvel é muito reduzido devido à altíssima sensibilidade para essa detecção (100%).

 

CONCLUSÕES

Considerando que aparelhos dermatoscópicos e celulares são amplamente utilizados por dermatologistas,2 acreditamos que a teledermatoscopia móvel pode ser adotada como uma ferramenta adicional ao arsenal diagnóstico da prática dermatológica.

Devido à presença de inconsistências nas análises interobservadores,3 investigações futuras devem averiguar a influência da experiência do examinador na acurácia da teledermatoscopia móvel.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Norami de Moura Barros 0000-0001-9765-602X
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Karin Milleni Araujo 0000-0003-2421-3978
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Juan Piñeiro-Maceira 0000-0002-8021-2374
Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Carlos Baptista Barcaui 0000-0002-3303-3656
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

 

REFERÊNCIAS:

1. Piccoli MF, Amorim BD, Wagner HM, Nunes DH. Teledermatology protocol for screening of skin cancer. An Bras Dermatol. 2015;90(2):202-10.

2. Yildiz H, Bilgili ME, Simsek HA. The diagnostic accuracy of the mobile phone teledermatoscopy. J Surg Dermatol. 2018;3:178.

3. Finnane A, Dallest K, Janda M, Soyer HP. Teledermatology for the diagnosis and management of skin cancer: a systematic review. JAMA Dermatol. 2017;153(3):319-27.

4. Barcaui CB, Lima PMO. Application of teledermoscopy in the diagnosis of pigmented lesions. Int J Telemed Appl. 2018:1624073.

5. Silveira CEG, Carcano C, Mauad EC, Faleiros H, Longatto-Filho A. Cell phone usefulness to improve the skin cancer screening: preliminary results and critical analysis of mobile app development. Rural Remote Health. 2019;19(1):4895.


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