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Artigo Original

Tratamento da queilite actínica com terapia fotodinâmica com a luz do dia - avaliação clínica e histopatológica

Isabella Lemos Baltazar1; Flávia Regina Ferreira1; Luiz Fernando Costa Nascimento2; Samuel Henrique Mandelbaum1

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20191141462

Data de recebimento: 07/10/2019
Data de aprovação: 29/11/2019

Suporte Financeiro: Fornecimento do ácido aminolevulínico (Metvix®) pela Empresa Galderma
Conflito de interesse: Estudo patrocinado pela Galderma com fornecimento do ácido aminolevulinico (MetvixR), porém toda metodologia, execução e análise dos resultados obtidos foram realizadas pelos investigadores de pesquisa das instituições envolvidas, sem qualquer interferência da indústria farmacêutica.

Trabalho realizado no Hospital Municipal Universitário de Taubaté, Universidade de Taubaté (SP), Brasil


Abstract

INTRODUÇÃO: A queilite actínica (QA) é uma condição pré-maligna resultante da exposição crônica ao sol que afeta o vermelhão do lábio inferior. A terapia fotodinâmica com luz do dia (TFD-LD) consiste em recente alternativa à forma convencional, sendo mais simples, acessível e com melhor tolerabilidade.
OBJETIVO: avaliar a eficácia e aplicabilidade da TFD-LD no tratamento da QA e determinar efeitos adversos prevalentes.
MATERIAL E MÉTODOS: Estudo experimental, tipo ensaio clínico não controlado. Os pacientes incluídos foram selecionados com base no diagnóstico clínico e histopatológico de QA. Foi aplicado ácido aminolevulínico no lábio inferior e realizada fotoexposição (três sessões/ intervalo de duas semanas). Foram realizadas biópsias pré e pós-tratamento, fotografias para documentação e preenchimento de formulario padrão.
RESULTADOS: Incluídos 11 indivíduos (63,6% homens), com idade média de 59 anos e predomínio do fototipo II (45,4%). Houve melhora clínica estatisticamente significante (p=0,026), não confirmada histologicamente. Efeitos adversos foram mínimos (46% assintomáticos).
CONCLUSÕES: O estudo avaliou a eficácia e aplicabilidade da TFD-LD no tratamento da QA e determinou os efeitos adversos prevalentes, motivando e embasando estudo s futuros.


Keywords: Ácido hialurônico; Envelhecimento da pele; Higiene da pele


INTRODUÇÃO

A queilite actínica (QA) é uma condição pré-maligna resultante da exposição crônica ao sol que afeta o vermelhão do lábio inferior.1, 2 Clinicamente, caracteriza-se por: eritema, edema, atrofia, hiperqueratose e erosões/ulcerações. Histologicamente, os principais critérios diagnósticos incluem: atipias e perda da polaridade de queratinócitos associadas a elastose e infiltrado inflamatório.3

A terapia fotodinâmica com luz do dia (TFD-LD) consiste em recente alternativa terapêutica à terapia fotodinâmica convencional (TFD-C), com eficácia semelhante no tratamento de queratoses actínicas (graus I e II) de face e de couro cabeludo e já com relatos também de uso em QA.1,4 Trata-se de método simplificado, mais acessível e com melhor tolerabilidade pela ausência de oclusão e pelo uso da luz do dia em vez de fonte de luz artificial.4,5

Partindo do exposto, este estudo objetivou: avaliar a eficácia e aplicabilidade da TFD-LD no tratamento da QA e determinar efeitos colaterais prevalentes.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Estudo experimental, tipo ensaio clínico não controlado, realizado no Serviço de Dermatologia do Hospital Municipal Universitário de Taubaté (SP), Brasil, entre março e dezembro de 2018. Os pacientes incluídos foram provenientes de demanda espontânea e selecionados com base no diagnóstico clínico e histopatológico de QA. Antes do tratamento, a área clinicamente mais acometida foi biopsiada para confirmação diagnóstica e posterior comparação. Aplicado o ácido aminolevulínico - MAL (Metvix® creme, Galderma, São Paulo, Brasil) 160mg/g sobre o lábio inferior e em uma faixa de cerca de 5mm de pele adjacente. Crostas e escamas foram cuidadosamente removidas antes da aplicação. Realizadas três sessões com intervalo de duas semanas. O restante da face foi protegido com filtro físico. Após 30 minutos da aplicação, os pacientes permaneceram por duas horas ao ar livre (entre 8 e 10h da manhã), com um mínimo de 10 minutos de exposição direta ao sol da área a ser tratada. Após, foi realizada a remoção do produto e a observação pelo pesquisador da reação local, com questionamento ao paciente a respeito de sintomas durante o procedimento. Ao serem liberados, os pacientes foram orientados a permanecer em ambiente fechado o restante do dia e à fotoproteção rigorosa durante todo o período do tratamento. Os pacientes foram fotografados antes e após cada sessão e também antes do início do tratamento, após duas semanas e após três meses da última sessão de TFD-LD. Duas semanas após a última sessão, foi realizada nova biópsia. As biópsias pré e pós-tratamento foram avaliadas por dermatopatologista experiente. O critério histopatológico considerado foi o grau de displasia epidérmica (atipia), classificada em discreta, moderada e grave. A melhora clínica da lesão, considerando-se eritema, edema, atrofia, hiperqueratose e erosões/ulcerações, foi avaliada pelo pesquisador e graduada em porcentagens - 0% (ausência de melhora), 50% (melhora parcial) e 100% (melhora completa). A análise estatística utilizou o teste não paramétrico de Wilcoxon para amostras dependentes. Adotado α=10%. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição sob o nº 2.600.287.

 

RESULTADOS

Foram incluídos 11 pacientes, sete (63,6%) homens e quatro (36,4%) mulheres. A idade da amostra variou de 39 a 79 anos, com média de 59,3 anos (DP= 14,4), entre os homens, e 59,2 anos (DP=16,8) entre as mulheres. Não houve variação da idade média entre os sexos (p=0,99). O fototipo da amostra variou de II a IV pela classificação de Fitzpatrick, sendo predominante o fototipo II (45,4%) (Gráfico 1). A comparação entre os parâmetros da avaliação clínica inicial e final mostrou melhora estatisticamente significante (p=0,026). Além disso, a melhora do aspecto clínico também foi bastante significativa (Figuras 1a e 1b). Quanto aos efeitos adversos após o procedimento, em ordem decrescente de frequência, foram observados: assintomático (46%), prurido (27%), desconforto (18%) e dor leve (9%). Na semana após o procedimento, predominaram a descamação e o ressecamento dos lábios (42%). Apenas um paciente apresentou queimadura de primeiro grau no lábio após a primeira sessão, efeito este que não se repetiu nas sessões seguintes. Quanto à avaliação histopatológica, as 11 biópsias iniciais confirmaram queilite actínica e o grau de displasia (atipia) encontrado foi: discreto em seis lesões (54,5%), moderado em quatro (36,4%) e grave em um (9,1%). Não houve redução significativa no grau de displasia quando da comparação destas com as biópsias realizadas pós-tratamento (p=0,23) (Tabela 1).

 

DISCUSSÃO

Trata-se de estudo pioneiro no Brasil, utilizando TFD-LD no tratamento da QA. Vem corroborar a escassa literatura sobre o tema, o que dificultou a discussão dos achados. A idade média, o sexo e o fototipo foram concordes com a literatura pesquisada.2,3,6 A melhora dos parâmetros clínicos mostrou-se estatisticamente significante e concorde com os achados de Berking et al. e Ribeiro et al., que utilizaram TFD-C, e Levi et al., que utilizaram TFD-LD.1,3,7 Quanto ao parâmetro histológico, a ausência de melhora estatisticamente significante foi controversa e concordou com os achados de Berking et al em que 43% dos pacientes com cura clínica completa ainda apresentavam doença residual.1,7 Os efeitos adversos observados (prurido, desconforto e dor leve) concordaram com o descrito para esta modalidade e confirmam sua melhor tolerabilidade.1,4

 

CONCLUSÕES

Este estudo permitiu avaliar a eficácia e aplicabilidade da TFD-LD no tratamento da QA e determinar efeitos colaterais prevalentes, servindo como base e motivando estudos futuros.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Isabella Lemos Baltazar | 0000-0002 9731 4414
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Flávia Regina Ferreira |0000-0001 5679 4282
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito

Luiz Fernando Costa Nascimento |0000-0001 9793 750X
Análise estatística.

Samuel Henrique Mandelbaum |0000-0002 4631 4828
Concepção e planejamento do estudo.

 

REFERÊNCIAS

1. Levi A, Wulf HC, Enk CD. Two cases of actinic cheilitis responsive to daylight- activated photodynamic therapy (DA-PDT). Photodermatol Photoimmunol Photomed. 2013;29(5):268-71.

2. Araújo CP, Vidal MTA, Gurgel CAS, Ramos EAG, Barbosa Junior AA, Ramalho LMP, et al. Queilite actínica: um estudo de 35 casos com destaque para os aspectos morfológicos. RPG Rev Pós Grad. 2012;19(1):21-7.

3. Ribeiro CF, Souza FHM, Jordão JM, Haendchen LC, Mesquita L, Schmitt JV, et al. Photodynamic therapy in actinic cheilitis: clinical and anatomopathological evaluation of 19 patients. An Bras Dermatol. 2012; 87(3):420-5.

4. Galvão LEG. Daylight photodynamic therapy: clinical and aesthetic benefit with repeated sessions for facial actinic keratoses. Surg Cosmet Dermatol. 2016; 8(4 Supl. 1):S40-2.

5. Wiegell SR, Haedersdal M, Philipsen PA, Eriksen P, Enk CD, Wulf HC. Continuous activation of PplX by daylight is as effective as and less painful than conventional photodynamic therapy for actinic keratoses - a randomized, controlled, single-blinded study. Br J Dermatol. 2008;158(4):740-6.

6. Markopoulos A, Albanidou-Farmaki E, Kayavis I. Actinic cheilitis: clinical and pathologic characteristics in 65 cases. Oral Dis. 2004;10(4):212-6.

7. Berking C, Herzinger T, Flaig MJ, Brenner M, Borelli C, Degitz K. The efficacy of photodynamic therapy in actinic cheilitis of the lower lip: a prospective study of 15 patients. Dermatol Surg. 2007; 33(7):825-30.


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