André Ricardo Adriano; Dâmia Leal Vendramini; Carlos Daniel Quiroz; Leonardo Pereira Quintella
Data de recebimento: 27/08/2018
Data de aprovação: 27/09/2018
Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay, Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro (IDPRDA/SCMRJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum
INTRODUÇÃO: O fotoenvelhecimento decorre da ação de agentes externos sendo o principal a radiação ultravioleta. Clinicamente se caracteriza por pele amarelada com pigmentação irregular, presença de rugas, atrofia, telangiectasias, diminuição da elasticidade, lesões pré-malignas e malignas. Representa uma das queixas dermatológicas mais comuns, exigindo ao dermatologista constante atualização.
OBJETIVO: Avaliar o efeito do imiquimode no tratamento do fotoenvelhecimento.
MÉTODOS: Estudo prospectivo, de intervenção, envolvendo 12 pacientes, do sexo feminino. A resposta foi avaliada de forma clínica pelo paciente e médico examinador, e por parâmetros histopatológicos.
RESULTADOS: Das 12 pacientes, seis apresentaram efeito colateral, tendo três abandonado o tratamento. Das nove pacientes que completaram o tratamento, oito perceberam melhora global no aspecto da pele. O médico examinador notou melhora em oito, sendo considerada discreta em seis e significativa em dois. Quanto aos aspectos histopatológicos, notaram-se diminuição da elastose solar em quatro pacientes, da quantidade de melanina em cinco e da fibrose em quatro.
CONCLUSÕES: O imiquimode pode ser uma opção para o tratamento do fotoenvelhecimento, devendo ser avaliada em estudos subsequentes, controlados e com maior amostragem.
Keywords: Envelhecimento; Pele; Resultado de tratamento
O envelhecimento compreende diversas alterações fisiológicas que conduzem à deterioração do organismo como um todo, caracterizadas pelo declínio das funções biológicas, alterações estruturais e perda da capacidade de adaptação a agentes externos. Trata-se da degradação progressiva, tempo-dependente, do organismo em resposta adaptativa às mudanças ambientais. Com o passar do tempo, ocorrem alterações moleculares que desencadeiam alterações orgânicas levando ao envelhecimento.1,2
O envelhecimento cutâneo se diferencia em intrínseco e extrínseco. O intrínseco, ou cronológico, é um evento padrão, geneticamente relacionado com o comprimento dos telômeros, localizados ao final dos cromossomos e que sofrem encurtamento a cada ciclo celular. Isso ocorre devido à incapacidade da DNA polimerase em transcrever a sequência final das bases da fita de DNA. Contribuem para esse fenômeno a etnia, as variações anatômicas e as alterações hormonais.3 Já o envelhecimento extrínseco decorre da ação de agentes externos, dos quais a radiação ultravioleta (RUV) é o fator principal. Esse é denominado fotoenvelhecimento.1-3
O fotoenvelhecimento é processo acumulativo caracterizado pela formação de fotoprodutos que levam ao dano direto do DNA e de espécies reativas de oxigênio (ROS), causando danos indiretos no DNA, alteração na matriz extracelular e aumento do infiltrado inflamatório. As ROS ativam o fator de transcrição nuclear kappa β (NF-κP), que induz a expressão de citocinas pró-inflamatórias, o fator de necrose tumoral (FNT) e o fator de crescimento endotelial (VEGF).1,2
A melanina desempenha papel protetor para a pele em relação à atuação da radiação ultravioleta, tendo importância não só sua quantidade, mas também o padrão de distribuição.1 Assim sendo, a cor de pele tem influência fundamental no processo de fotoenvelhecimento. A maneira mais utilizada para a diferenciação da cor de pele dos pacientes é a classificação de Fitzpatrick4 em seis fototipos. São eles: I. pele branca, que sempre se queima e não se bronzeia; II. pele branca, que se queima facilmente e se bronzeia com dificuldade; III. pele morena clara, que sofre queimaduras leves e bronzeamento moderado; IV pele morena, que raramente se queima e se bronzeia facilmente; V. pele morena escura, que se queima muito raramente e se bronzeia com extrema facilidade; VI. pele negra, que nunca se queima e se bronzeia muito facilmente.4,5
Clinicamente a pele fotoenvelhecida é caracterizada por tom amarelado, pigmentação irregular, rugas, atrofia, telangiectasias, com diminuição da elasticidade e lesões pré-malignas e malignas.6,7 Entendem-se por lesões pré-malignas, no contexto de fotoenvelhecimento, as queratoses actínicas (QAs).
As QAs são neoplasias intraepiteliais benignas formadas pela proliferação de queratinócitos atípicos, que acometem áreas fotoexpostas de adultos. São principalmente determinadas pela exposição à RUV e podem, ao longo da sua evolução, transformar-se em carcinomas espinocelulares.8 Áreas fotoexpostas do tegumento, com nítido dano actínico, por vezes clinicamente exibindo lesões de QA ou mesmo de lesões de câncer da pele não melanoma, são denominadas áreas de campo cancerizável.9-11
São várias as classificações propostas para a graduação do fotoenvelhecimento. Dentre elas, destaca-se a escala Glogau12 graduada em quatro estágios, com base em achados clínicos de fotoenvelhecimento e suas diferentes intensidades de apresentação (Quadro 1).
Histologicamente, a epiderme da pele fotodanificada tem perda da polaridade, atipia celular, aumento da espessura, aplainamento da junção dermoepidérmica, o que pode levar à aparência de atrofia. Na derme podemos evidenciar aumento da celularidade, principalmente de fibroblastos, infiltrado inflamatório crônico e vasos sanguíneos dilatados. A quantidade de elastina aumenta e se deposita em áreas que anteriormente eram ocupadas por colágeno. O fotodano é caracterizado por desorganização das fibras colágenas e pelo acúmulo de material basofílico anormal, amorfo, que contém elastina. Esse acúmulo de material elastótico associado à exposição solar prolongada é chamado elastose solar e caracteriza o fotoenvelhecimento. Ainda existe pequeno entendimento do processo histológico na formação das rugas. O desenvolvimento das rugas depende de alteração do colágeno especialmente na derme superior e no nível da junção dermoepidérmica. A elastose parece elemento essencial.1,7
A proteção solar ainda é a medida mais efetiva e de melhor custo/benefício ao fotoenvelhecimento1,13 São relatados como possibilidades de tratamento tópicos os retinoides e 5-fluoracil.13
Os retinoides tópicos são classicamente utilizados no tratamento farmacológico do fotoenvelhecimento e constam na literatura como primeira opção, sendo a tretinoína indicada com nível de evidência IA.1
O 5-fluoracil, por via tópica, apesar de não aprovado pelo FDA e pela Anvisa como tratamento do fotoenvelhecimento, foi abordado por Sachs e colaboradores em 2009, em estudo aberto, não randomizado, de base clínica e molecular, que, após duas aplicações diárias durante 14 dias em 21 pacientes, se demonstrou eficaz em tratar o fotoenvelhecimento. Ainda que seu mecanismo para esse efeito não seja totalmente compreendido, o medicamento induz dano à epiderme, posteriormente estimulando sua cicatrização com remodelamento dérmico e melhora global da aparência da pele.14
O imiquimode é um modificador da resposta imune, análogo a nucleosídeos pertencente à família das imidazoquinolinas. É um medicamento liberado pela FDA e pela Anvisa para o tratamento de verrugas genitais externas, QAs e carcinomas basocelulares superficiais, mas usado de maneira off-label no tratamento de outras dermatoses com resultados variáveis.15 Alguns estudos confirmam que o imiquimode é forte indutor da resposta imune por ser agonista dos Toll Like Receptors (TRL) 7 e 8, e por essa via de sinalização é ativado o fator de transcrição NF-κβ, pelo qual se inicia a transcrição de genes de citocinas pró-inflamatórias como as interleucinas (IL) IL1b, IL2, IL6, IL8, IL12; TNF, interferon alfa (INFa), fator estimulador de colônias de granulócitos (GM-CSF), indução da ativação de células natural killer (NK), linfócitos T citotóxicos CD8, e a produção de anticorpos por linfócitos B ativados. O imiquimode tem efeitos pró-apoptóticos diretos e indiretos nas células tumorais, efeitos diretos e indiretos na indução de receptor Fas na superfície celular, diminuição da proteína Bcl-2 y e aumento de Bax.16
Poucos estudos sobre o efeito do imiquimode no fotoenvelhecimento têm sido desenvolvidos, demonstrando, contudo, algum benefício. Seu mecanismo de ação nessa condição não está totalmente claro.17-19 À semelhança do 5-fluoracil, também não é aprovado pelo FDA ou pela Anvisa com esse propósito.
Com o objetivo de avaliar o desempenho do imiquimode como agente tópico de tratamento para o fotoenvelhecimento, além de ser um quimioprofilático do câncer da pele, realizamos um estudo levando em consideração alterações clínicas e histopatológicas prévias e pós-tratamento com imiquimode tópico.
Estudo longitudinal de intervenção, realizado no ambulatório de cosmiatria do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay, Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (IDPRDA — SCMRJ). O tempo para conclusão do estudo foi de 20 semanas sendo 12 semanas de tratamento com imiquimode, iniciado quatro semanas depois do primeiro contato com a paciente, acrescido de quatro semanas para consolidação dos resultados da intervenção.
Os critérios de inclusão foram pacientes que assinaram o termo de consentimento, com idade entre 30 e 60 anos; fototipos de Fitzpatrick entre I e IV; fotoenvelhecimento graduado pela escala de Glogau tipo II ou superior; e a não utilização de tratamento tópico com propósito antienvelhecimento no último mês. Já os de exclusão foram pacientes do sexo feminino gestantes ou nutrizes; aqueles que apresentavam ao exame clínico lesões malignas/pré-malignas na pele; história pessoal ou familiar de primeiro grau de doenças autoimunes. Por fim, foram também excluídos pacientes com expectativas irreais.
Foram utilizadas como variáveis dependentes a avaliação subjetiva do paciente, em termos de melhora ou piora, por meio de questionário de grau de satisfação, levando em conta mudanças de textura, brilho, viço, pigmentação, elasticidade e qualidade geral da pele; a avaliação clínica do médico pesquisador, levando em consideração os critérios acima e documentação fotográfica; além da avaliação histológica com biópsias pré e pós-tratamento, coletadas da região pré-auricular com punch de quatro milímetros. O médico patologista realizou o exame de forma cega, ou seja, sem saber se as amostras correspondiam a biópsias pré ou pós-tratamento, enfocando os seguintes aspectos: espessura epidérmica, inflamação, espessura da camada granulosa, elastose solar, fibrose, melanina, incontinência pigmentar, população melanocítica e presença de atipias nos queratinócitos.
As variáveis independentes foram: sexo, idade, escolaridade, profissão, fototipo, escala de Glogau, tipo de pele, textura, brilho e pigmentação.
Cada paciente recebeu uma caixa contendo 20 sachês de Imiquimode por mês, o qual foi aplicado pela paciente em toda a face, à noite, após limpeza facial, e retirado pela manhã com água e sabonete. O produto foi aplicado de segunda a sexta-feira, tendo sido prescrito filtro solar com FPS 30 de duas em duas horas durante o dia.
Mensalmente os pacientes foram avaliados. Possíveis efeitos adversos foram registrados e graduados: eritema, descamação, vesiculação, prurido, ardor, edema; graduados de 0 a 3, sendo 0 ausente, e 1, 2 e 3 representando intensidade leve, moderada e intensa.
O estudo iniciou com a captação das pacientes. Nesse primeiro contato foram coletados os dados demográficos, clínicos, fotográficos e realizada a biópsia. Após quatro semanas, foi entregue o medicamento para aplicação em domicílio. A cada quatro semanas, as pacientes retornaram para avaliação. Concluídas 12 semanas de tratamento, foram coletados novos dados clínicos, fotográficos, realizada nova biópsia para exame histopatológico e foi preenchido um questionário de satisfação do paciente.
Os dados obtidos dos questionários, fichas e fotos foram dispostos em planilhas do programa Microsoft Excel com posterior análise descritiva.
O estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética da instituição e conduzido de acordo com todos os princípios éticos aplicáveis à investigação clínica em conformidade com as exigências reguladoras locais.
A amostra foi constituída de 12 pacientes do sexo feminino, com média de idade de 52,1 anos (dp: 6,06). Todas as pacientes eram alfabetizadas, sendo cinco com pelo menos segundo grau completo. Apenas duas pacientes trabalhavam expostas ao sol.
A absoluta maioria das pacientes apresentava fototipo pelo menos III e, em análise pré-tratamento, utilizando a escala Glogau, nove apresentavam Glogau III, indicando fotoenvelhecimento expressivo.
Quatro parâmetros fundamentais foram avaliados mediante exame clínico pré-tratamento, evidenciando os seguintes resultados: predomínio de pele oleosa 5/12 ou mista 5/12; quanto à textura, quatro pacientes possuíam pele áspera; sete exibiam pele sem brilho, com perda do viço natural; e, por fim, hipercromias faciais, representadas por melanoses e lentigos solares, estavam presentes em nove das pacientes.
Entre as 12 pacientes participantes do estudo, seis apresentaram efeito adverso durante o tratamento, que foi manejado com interrupção momentânea do protocolo, associada a emolientes e pequenos cursos de associação tópica de corticoide com antibiótico. Apesar disso, três dessas seis optaram por não continuar o tratamento. Não houve, entretanto, nenhuma descontinuação por perda de seguimento ou mesmo por contraindicação médica de continuidade.
Das pacientes que apresentaram efeitos adversos, uma apresentava Glogau grau II, e as cinco restantes grau III.
Completaram o estudo nove pacientes. A partir da avaliação subjetiva preenchida pelas pacientes após o tratamento proposto, foram extraídos os seguintes resultados: 8/9 apresentavam pele de textura macia ou muito macia; sendo que destas, metade apresentava pele áspera anterior ao tratamento; 7/9 apresentavam pele não oleosa ao término, sendo que no início queixavam-se de pele oleosa ou mista; da mesma forma, das nove pacientes tratadas pelo período proposto, cinco exibiram retorno do brilho e viço natural da pele, sendo que estas mesmas cinco eram as pacientes que se queixavam de pele sem brilho; quanto à pigmentação, seis pacientes que possuíam hipercromias evidentes ao exame clínico no pré-tratamento evoluíram com clareamento, tornando-se a pele da face homogeneamente mais clara; ressalta-se que, nesse aspecto, uma paciente não notou diferença, e duas se queixaram de piora.
Ao final do tratamento, 8/9 pacientes perceberam melhora e ficaram satisfeitas com o tratamento. Dessas oito, todas indicariam o tratamento, entretanto uma paciente, apesar de indicar, reconhece que existem outros tratamentos, talvez com resultado superior (Figuras 1 a 3).
O exame clínico pelo médico examinador permitiu identificar melhora, ao final do tratamento, em 8/9 pacientes. Das pacientes que melhoraram, seis apresentaram melhora graduada como significativa, e duas, melhora apenas discreta.
As características histopatológicas pré e pós-tratamento das nove pacientes que completaram o estudo estão apresentadas na tabela 1.
Quanto aos resultados histopatológicos da intervenção, quatro pacientes que já apresentavam epiderme de espessura normal ou aumentada mantiveram; duas pacientes, entretanto, evoluíram com normalização da espessura. Em contrapartida, em três casos verificou-se adelgaçamento da epiderme. Apenas 2/9 pacientes possuíam camada granulosa diminuída no período pré-tratamento, enquanto as demais apresentavam esse parâmetro epidérmico em espessura normal. Porém, nesses dois casos, houve normalização da espessura da granulosa. Não houve alteração do parâmetro inflamação (Figuras 4 e 5).
Cinco pacientes apresentaram redução da elastose solar no pós-tratamento. Em contrapartida, apenas uma paciente aumentou o grau de fibrose de derme papilar e três se mantiveram no mesmo grau, havendo redução do grau de fibrose em cinco pacientes. Quatro pacientes tiveram diminuída a quantidade de melanina, e outras três se mantiveram na mesma categoria. Destaca-se que uma paciente foi graduada com aumento da melanina no pós-tratamento. Em termos de incontinência pigmentar, a maioria manteve parâmetro 7/9, enquanto duas pacientes apresentaram aumento. Já a população melanocítica se manteve, diminuiu e aumentou em proporções iguais. Por fim, duas pacientes com atipia queratinocíticas pré-tratamento não a apresentavam na segunda amostra.
Foi realizado estudo clínico e histopatológico dos resultados da aplicação do imiquimode para reversão do fotoenvelhecimento em uma série de pacientes.
A amostra foi constituída exclusivamente de pacientes do sexo feminino, com idade média que se aproximou do corte superior dos critérios de inclusão (até 60 anos), portanto com idade cronológica mais avançada. A absoluta maioria era de fototipos de Fitzpatrick III ou superior e escala Glogau graduada em III.
Em 2006, Kligman e colaboradores publicaram uma série de dez casos de pacientes do sexo feminino tratadas com imiquimode com objetivo de avaliar a eficácia terapêutica do medicamento no fotoenvelhecimento. Em comparação a esse estudo, em que a idade média foi de 45 anos e incluiu fototipos mais baixos (II), nossa amostra apresentou idade média e fototipo mais elevados.17 Esse mesmo estudo não utilizou escala Glogau; entretanto, descreveu sua amostra, de maneira generalizada, com moderados sinais de fotodano: rugas finas periorbitais; despigmentação, leve aspereza e perda da elasticidade; o que equivaleria a um grau II na escala de Glogau. Tratou-se, portanto, de uma amostra constituída de fotoenvelhecimento menos expressivo em relação ao presente estudo.
Ainda em relação à caracterização da amostra, destaca-se que a maioria das pacientes possuía pelo menos segundo grau completo, sendo que 5/12 havia completado ensino superior. A atividade laborativa não envolvia exposição solar para a maioria das pacientes. Ressaltamos com esses dois aspectos o quanto ainda se falha em termos de prevenção, uma vez que a amostra de pacientes com capacidade intelectual suficiente apresenta expressivo fotodano, provavelmente relacionado a exposição solar recreativa, sem os devidos cuidados de fotoproteção.
O presente estudo teve perda de 25% durante o protocolo de tratamento. Estudo de Metcalf e cols. avaliou o uso de imiquimode com aplicação diária durante 12 semanas, com o propósito inicial de tratar pacientes com diagnóstico clínico e histopatológico de lentigo maligno. A partir dessa amostra e resultados, avaliou-se em paralelo a ação sobre a pele fotodanificada associada a lesão lentiginosa. No total, participaram desse ensaio aberto 28 pacientes, tendo 26 deles completado o tratamento.8 Já no estudo de Kligman e cols. os dez pacientes incluídos completaram o período proposto de quatro semanas de tratamento.19
O fator determinante para o abandono de tratamento no presente estudo foi a ocorrência de efeitos colaterais em metade dos pacientes. Entre as pacientes que evoluíram com eventos adversos relacionados à intervenção, metade optou por descontinuar o tratamento. Eritema, descamação e prurido foram os efeitos adversos mais prevalentes e, também, os mais intensos, segundo a graduação proposta. Em relação aos efeitos adversos ocorridos, destacamos dois aspectos importantes: as três pacientes que abandonaram o estudo eram mais sintomáticas, tendo referido prurido ou ardor em intensidades maiores; além disso, das seis pacientes que apresentaram efeitos colaterais, cinco foram classificadas com Glogau III no pré-tratamento, portanto, maior grau de fotodano e, possivelmente, maior propensão à presença de QAs subclínicas.
Apesar de ter sido registrado no estudo de Metcalf e cols. que dois pacientes não completaram o período de tratamento do estudo, não é descrito o percentual de efeitos colaterais nem mesmo o motivo da descontinuação.19 Na série de dez casos tratados por Kligman e cols., nenhum paciente apresentou efeito adverso relacionado à aplicação do imiquimode no intervalo proposto. O artigo refere, entretanto, que três dos dez pacientes apresentaram episódio de herpes simples labial, sendo que os três apresentavam história prévia de herpes recorrente.17 Novamente ressalta-se o aspecto de menor tempo de tratamento em nosso estudo. Não houve nenhum episódio de herpes simples entre as 12 pacientes incluídas.
Kligman e cols. observaram que apesar de sua amostra ser constituída por pacientes de fototipos mais baixos, o fotoenvelhecimento não era tão expressivo e possivelmente não havia número significativo de QAs subclínicas, não tendo sido, portanto, observadas as reações inerentes ao tratamento.17 Esse aspecto é relevante, uma vez que está estabelecida a eficácia do imiquimode no tratamento das QAs, seja como tratamento focal das lesões10 ou mesmo como tratamento de campo cancerizável.11 No decurso do tratamento da QA, é esperado algum grau de reação inflamatória. O que observamos nas seis pacientes que apresentaram efeito colateral, foram áreas circunscritas de eritema, descamação, vesiculação e/ou edema, em graus variáveis, acompanhadas de sintomas subjetivos. Em nenhum dos casos essa reação se deu de maneira difusa, em toda a área de aplicação do imiquimode. Na nossa opinião, o aspecto focal da reação adversa reforça a hipótese de estarmos possivelmente diante de lesões de QAs subclínicas.
Consideramos fundamental a avaliação sob a perspectiva do paciente, mesmo com a subjetividade inerente a esse tipo de análise, uma vez que destaca a percepção do maior interessado no tratamento. Ao final das 12 semanas, a maioria das pacientes, em sua autoavaliação, identificou melhora dos sinais de envelhecimento cutâneo. Esta melhora se deu em especial no que se refere a textura e brilho da pele, clareamento, além do controle da oleosidade.
Metcalf e cols., em seu estudo, não reportaram a impressão dos pacientes como resultado terapêutico.19 Já Kligman e cols. demonstraram melhora subjetiva, também na perspectiva dos pacientes, graduada em leve melhora (1/10), melhora moderada (5/10) e grande melhora (4/10). Segundo as pacientes, a melhora foi atribuída a textura da pele, tornando-se mais macia; clareamento da hiperpigmentação, tornando a coloração da pele da face mais homogênea e redução de rugas finas.17
Já sob a perspectiva do exame clínico também foi observada melhora significativa na maioria das pacientes. A única que não percebeu melhora com o tratamento foi a que, durante exame clínico e seguimento, havia sido considerada não responsiva à terapêutica.
Novamente, o estudo de Metcalf e cols. não aborda melhora clínica.19 Já Kligman e cols. reportam, sob a perspectiva do médico examinador, melhora em nove dos dez pacientes. Entretanto, em relação ao grau de melhora, 5/10 apresentaram melhora discreta, e 4/10 moderada, de modo que nenhuma paciente apresentou vasto benefício.17
Do ponto de vista histopatológico, 4/9 evoluíram com diminuição da espessura epidérmica, tendo 3/9 passado a apresentar epiderme adelgaçada, enquanto 1/9 normalizou a espessura. Duas das nove pacientes que apresentavam camada granulosa adelgaçada evoluíram com normalização. Quatro das nove pacientes exibiram diminuição do grau de inflamação. Verificou-se diminuição da elastose solar em 4/9 pacientes. Apenas uma das nove pacientes apresentou aumento da fibrose no pós-tratamento. Houve diminuição da quantidade de melanina em 5/9 pacientes, tendo sido observada redução da população melanocítica em 3/9. Entre as seis pacientes que apresentavam atipia queratinocíticas no pré-tratamento, duas evoluíram com normalização.
Entende-se por melhora histopatológica quando se aborda o tratamento do fotoenvelhecimento o aumento tanto da espessura da epiderme quanto de colágeno na derme papilar, acompanhado da redução da elastose solar.7
Os achados de Metcalf e cols. foram mais expressivos, tendo 92,3% dos pacientes evoluído com aumento da fibroplasia em derme papilar associada a redução da elastose solar, além da restauração da espessura normal da epiderme. Todos esses achados tiveram significância estatística.19 Kligman e cols. relatam em seu estudo, de forma genérica, que em avaliação de hematoxilina e eosina, os pacientes apresentaram epiderme de espessura normal ou acantótica, com completa normalização de displasias epidérmicas e redução da população de melanócitos, sem, no entanto, esclarecer as frequências com que ocorreram tais modificações. Concluem que histopatologicamente, as modificações do imiquimode estariam restritas à epiderme, não tendo, em seu estudo, observado quaisquer efeitos sobre a derme.17
Smith e cols. publicaram os achados histopatológicos e imuno-histoquímicos pré e pós-tratamento de fotoenvelhecimento com imiquimode 5% em creme, aplicado três vezes por semana, durante período de quatro semanas. Dos 12 pacientes que foram tratados, 11 foram incluídos na análise. Verificou-se em todos os 11 a normalização da camada córnea (todos apresentavam algum grau de hiperceratose no pré-tratamento). Sete apresentavam epiderme acantótica, e todos evoluíram com normalização da espessura epidérmica. Em contrapartida, os quatro restantes que possuíam epiderme atrófica também apresentaram normalização da espessura epidérmica ao final do tratamento. Por fim, seis dos 11 pacientes apresentaram aumento de células estromais em meio às áreas de elastose solar. Destaca-se que o estudo de Smith e cols. não fez avalição clínica dos pacientes.18
Os resultados encontrados no presente estudo foram concordantes aos poucos estudos que tivemos oportunidade de consultar em revisão bibliográfica. Consideramos que apesar do não controle da intervenção e da relativa pequena amostragem, nosso estudo acrescenta no sentido de que demonstrou resultado de acordo com os parâmetros propostos, podendo ser o precursor de novas pesquisas. Concluímos este estudo de uma série de casos de fotoenvelhecimento tratados durante 12 semanas com aplicação diária de imiquimode, embasados em avaliação subjetiva dos pacientes, avaliação clínica realizada pelo dermatologista pesquisador e avaliação histopatológica, afirmando que o imiquimode pode ser uma opção para o tratamento do fotoenvelhecimento, devendo ser avaliada em estudos subsequentes, controlados e com maior amostragem.
Às Dras. Carla Tamler e Ana Carolina Amaral, o incentivo à realização do estudo. Ao Dr. Gustavo Amorim, o apoio e revisão do artigo.
André Ricardo Adriano | ORCID 0000-0002-2986-959X
Aprovação da versão final do original, Concepção e planejamento do estudo, Elaboração e redação do original, Obtenção, análise e interpretação dos dados, Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, Revisão crítica da literatura
Dâmia Leal Vendramini | ORCID 0000-0002-6841-6323
Análise estatística, Aprovação da versão final do original, Elaboração e redação do original, Obtenção, análise e interpretação dos dados, Revisão crítica da literatura
Carlos Daniel Quiroz | ORCID 0000-0002-4052-9457
Análise estatística, Concepção e planejamento do estudo, Participação efetiva na orientação da pesquisa, Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados
Leonardo Pereira Quintella | ORCID 0000-0002-2076-8776
Obtenção, análise e interpretação dos dados , Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados
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