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Relato de casos

Carcinoma basocelular desenvolvido sobre nevo sebáceo: tratamento com terapia fotodinâmica abordando campo de cancerização

Tábata Natasha Almeida Rodrigues1; Luiz Eduardo Garcia Galvão1; Heitor de Sá Golçalves1; Maria Araci de Andrade Pontes2

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201791880

Data de recebimento: 06/08/2016
Data de aprovação: 15/03/2017
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Abstract

Nevo sebáceo de Jadassohn é hamartoma congênito que pode apresentar evolução para neoplasia cutânea maligna. A terapia fotodinâmica é utilizada para tratamento de ceratoses actínicas e carcinomas basocelulares superficiais ou nodulares, podendo-se observar o campo de cancerização cutâneo através da lâmpada de Wood, durante a realização da técnica. Relata-se um caso do uso da terapia fotodinâmica para o tratamento de um carcinoma basocelular, que se desenvolveu sobre nevo sebáceo, demonstrando-se o campo cancerizável através do uso da lâmpada de Wood. O procedimento consistiu em alternativa de tratamento não cirúrgico para o carcinoma basocelular, com excelente resultado estético. A paciente encontra-se em seguimento clínico, não apresentando recidiva da neoplasia 18 meses após o tratamento.


Keywords: CARCINOMA BASOCELULAR; NEVO SEBÁCEO DE JADASSOHN; FOTOQUIMIOTERAPIA


INTRODUÇÃO

O nevo sebáceo de Jadassohn é hamartoma congênito,1 detectado em percentual da população que varia de 0,5 a 1%, comumente localizado no couro cabeludo e na face. A etiologia é desconhecida, mas estudos recentes apontam para uma possível relação com o vírus do papiloma humano ou mutações no gene patched (PTCH).2 O desenvolvimento de neoplasias malignas nessa lesão é raro, e geralmente envolve carcinomas de células basais e escamosas.3

A terapia fotodinâmica (TFD) é utilizada atualmente para o tratamento de ceratoses actínicas na face e no couro cabeludo, e como alternativa à cirurgia para carcinomas basocelulares (CBCs) superficiais ou nodulares.4 A visualização do campo de cancerização na TFD pode ser realizada através da lâmpada de Wood, três horas após o uso do creme fotossensibilizante metilaminolevulinato (MAL), seguido de oclusão com filme plástico transparente e papel de alumínio.

Ao exame, observa-se fluorescência avermelhada nas áreas correspondentes às ceratoses actínicas visíveis ao exame dermatológico ou em lesões subclínicas5 (Figura 1). Nas lesões de CBC, é possível delimitar as margens de lesões mal definidas, fato que auxilia em futuros procedimentos cirúrgicos.6 Apresenta-se um caso clínico de paciente que realizou TFD para visualização de campo cancerizável e tratamento de CBC nodular que se desenvolveu sobre um nevo sebáceo.

 

RELATO DE CASO

Apresentou-se à consulta paciente do sexo feminino, 28 anos, fototipo IV, com história de lesão congênita na região temporal direita. Há seis meses, começou a apresentar irritação e prurido no local, tendo sido realizadas biópsias em dois pontos, sendo um na borda superior da lesão, cujo estudo anatomopatológico confirmou nevo sebáceo, e o outro no terço inferior da mesma lesão, que demonstrou CBC nodular com margens comprometidas (Figura 2). Propôs-se a realização de duas sessões de TFD utilizando creme de MAL, com intervalo de uma semana. No dia do primeiro procedimento, realizou-se a curetagem das áreas crostosas e ásperas do nevo, seguida da aplicação de creme de MAL e oclusão com filme plástico e papel de alumínio durante três horas. Após esse período, retiraram-se o curativo e o produto, realizando-se a visualização do campo de cancerização através da fluorescência com lâmpada de Wood (Figura 3), seguida de irradiação com luz vermelha durante oito minutos, com equipamento emissor de luz de diodo - comprimento de onda entre 631 e 637nm e fluência 37J/cm². Após o intervalo de uma semana, repetiu-se o procedimento. Ao exame com a lâmpada de Wood, houve ausência de fluorescência, evidenciando-se o efeito terapêutico do agente fotossensibilizante nas áreas neoplásicas ou com risco de malignização (Figura 4). Posteriormente, realizou-se nova biópsia em dois pontos no terço inferior do nevo sebáceo, onde havia sido identificada lesão de CBC. Ambos evidenciaram ausência de sinais de neoplasia (Figura 5). As imagens histopatológicas da lesão cutânea antes e depois da terapêutica estão demonstradas na figura 6.

A paciente encontra-se em seguimento clínico, não apresentando, 18 meses após o tratamento, recidiva da neoplasia.

 

DISCUSSÃO

O nevo sebáceo apresenta-se clinicamente como placa amarela ou alaranjada, com superfície verrucosa, bem circunscrita.7 À dermatoscopia, observam-se estruturas arredondadas amarelo-esbranquiçadas, isoladas ou agrupadas, que correspondem às glândulas sebáceas maduras superficializadas.8 Histologicamente, apresenta uma série de anormalidades nas glândulas sebáceas e sudoríparas, e nos folículos pilosos, que não são bem diferenciados.2 O tamanho da lesão aumenta proporcionalmente à idade do paciente, apresentando na puberdade, aspecto aveludado, pequenas protuberâncias e superfície verrucosa.7 Algumas neoplasias podem surgir sobre o nevo sebáceo, principalmente após a puberdade:¹ tumores benignos (tricoblastoma e siringocistoadenoma papilífero) e malignos, sendo o CBC, que surge em aproximadamente 0,8% dos pacientes portadores desse tipo de lesão,1 o mais comum.7 Não há consenso a respeito da terapêutica ideal. Alguns autores recomendam excisão cirúrgica precoce para prevenir transformações malignas e esteticamente desfigurantes. Outros, no entanto, defendem a conduta conservadora. Estudos futuros podem identificar marcadores moleculares ou alterações genéticas que possam indicar maior risco de transformações neoplásicas, evitando-se assim intervenções cirúrgicas desnecessárias.1 Lasers e TFD estão sendo explorados atualmente para o tratamento de nevos sebáceos, com diferentes graus de resposta.2

A TFD com MAL tem sido utilizada no tratamento de CBC superficial ou nodular com taxas variáveis de eficácia e recidiva, dependendo das características da lesão: dimensões, localização periorificial e caráter recidivante. É também eficaz no mapeamento das ceratoses actínicas do campo de cancerização.9,10

Assim, no caso apresentado, foi possível evidenciar: 1- a eficácia da TFD-MAL como alternativa à cirurgia em portadores de CBC sobre nevo sebáceo, e 2- a utilidade da lâmpada de Wood como instrumento para a observação de lesões malignas subclínicas sobre o hamartoma.

 

CONCLUSÃO

A TFD constitui opção de tratamento eficaz para CBC como alternativa não cirúrgica, e no presente caso, foi útil, também, para a visualização de áreas de risco de cancerização em um nevo sebáceo.

 

Referências

1. Pereira FB, Cuzzi T. Carcinoma basocelular, estruturas crisálides, oncogenes e nevo sebáceo: algumas considerações. Surg Cosmet Dermatol. 2012;4(1):97-9.

2. Moody MN, Landau JM, Goldberg LH. Nevus sebaceous revisited. Pediatric Dermatology. 2012;29(1): 15-23.

3. Enei ML, Paschoal FM, Valdés G, Valdés R. Carcinoma basocelular aparecendo em um nevo sebáceo de Jadassohn: características dermatoscópicas. An Bras Dermatol. 2012;87(4):640-2.

4. Morton CA, McKenna KE, Rhodes LE. Guidelines for topical photodynamic therapy: update. Br J Dermatol. 2008;159(6):1245-66.

5. Torezan LAR, Festa-Neto C. Cutaneous field cancerization: clinical, histopathological and therapeutic aspects. An Bras Dermatol. 2013;88(5):775-86.

6. Foley P, Freeman M, Menter A, Siller G, El-Azhary RA, Gebauer K, et al. Photodynamic therapy with methyl aminolevulinate for primary nodular basal cell carcinoma: results of two randomized studies. Int J Dermatol. 2009;48(11):1236-45.

7. Kamyab-Hesari K, Seirafi H, Jahan S, Aghazadeh N, Hejazi P, Azizpour A, et al. Nevus sebaceus: a clinicopathological study of 168 cases and review of the literature. Int J Dermatol. 2016;55(2): 193-200.

8. Bruno CB, Cordeiro FN, Soares FES, Takano GHS, Mendes LST. Aspectos dermatoscópicos do siringocistoadenoma papilífero associado a nevo sebáceo. An Bras Dermatol. 2011;86(6):1213-6.

9. Telfer NR, Colver GB, Morton CA; British Association of Dermatologists. Guidelines for the management of basal cell carcinoma. Br J Dermatol. 2008;159(1):35-48.

10. Braathen LR, Morton CA, Basset-Seguin N, Bissonnette R, Gerritsen MJ, Gilaberte Y, et al. Photodynamic therapy for skin field cancerization: an international consensus. International Society for Photodynamic Therapy in Dermatology. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2012;26(9): 1063-6.

 

Trabalho realizado no Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, Fortaleza (CE), Brasil.


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