3202
Views
Open Access Peer-Reviewed
Artigo Original

Dermoquimioabrasão: um tratamento eficaz e seguro para o rinofima

Bárbara Nader Vasconcelos1; Jaqueline Barbeito de Vasconcellos2; João Carlos Macedo Fonseca3; Carla R Fonseca4

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201681211

Data de recebimento: 28/12/2015
Data de aprovação: 20/03/2016
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

Introdução: Rinofima é o estágio final da rosácea. Leva à estigmatização do paciente. Objetivo: Estabelecer a segurança e eficácia da dermoquimioabrasão no tratamento do rinofima. Métodos: Prospectivamente o método, que consiste em exerese tangencial e dermoabrasão com lixa d'água seguida da utilização de ATA a 30% sobre a área previamente abrasada, foi aplicado em sete pacientes. O material excisado foi estudado histologicamente para detectar neoplasias ocultas. A segurança e eficácia foram avaliadas clinicamente e por registros fotográficos padronizados. Resultados: A idade dos pacientes variou de 57 a 68 anos, sendo seis homens e uma mulher. A reepitelização completa ocorreu entre sete e 14 dias. Os sete pacientes apresentaram evolução sem infecções, com reepitelização e resultado satisfatórios do ponto de vista estético, com ausência de discromias ou cicatrizes. Em um dos casos, a análise histopatológica revelou a presença de neoplasia oculta (carcinoma basocelular superficial). Conclusão: A dermoquimioabrasão é tratamento eficaz, de baixo custo, simples execução e excelente resultado cosmético, além de ter como vantagem a possibilidade de análise histopatológica, que é de extrema importância, desde que existem casos descritos de neoplasia oculta no rinofima.


Keywords: RINOFIMA; RESULTADO DE TRATAMENTO; DERMABRASÃO; ACIDO TRICLOROACÉTICO


INTRODUÇÃO

O termo rinofima se origina do grego e significa "crescimento do nariz". É considerado o estágio final da rosácea, embora apenas a minoria dos pacientes evoluam para esse estágio. Apresenta-se como inflamação crônica de evolução longa, habitualmente de anos de duração.1,2

Clinicamente caracteriza-se por nariz globoso com crescimentos exofíticos irregulares, devido ao aumento progressivo do tecido conjuntivo, hiperplasia das glândulas sebáceas e ectasias vasculares. A população mais atingida é de homens com mais de 40 anos de idade, apresentando frequência de 5:1 em relação ao sexo feminino.1,2

O quadro leva muitas vezes à estigmatização do paciente, interferindo em sua vida pessoal e profissional.

Além disso, já foi relatada na literatura a associação de neoplasia oculta nas lesões de rinofima. Estima-se a ocorrência de carcinoma basocelular oculto em percentual que varia de 3% a 10% dos casos de rinofima, enquanto outros tipos de cânceres da pele, incluindo metástases cutâneas, também já foram encontrados simulando rinofima.3,4 Otempo de evolução do rinofima parece estar diretamente associado com o maior risco de desenvolver malignidade no local.4

Dentre os diferentes tratamentos descritos na literatura destacam-se o uso de ATA 90%, a dermoabrasão, o shaving associado à dermoabrasão, a criocirurgia e o laser de CO2.5 Há relatos do uso de equipamento de alta frequência (radiofrequência) para o tratamento do rinofima com bons resultados e tempo de recuperação curto, porém, como desvantagem, esse método não permite avaliação histológica.6 Também há descrito estudo de 28 pacientes submetidos à associação de decorticação/dermoabrasão e eletrocoagulação.7

O termo quimioabrasão foi descrito por Stagnone,8 em 1977, e consiste na realização de peeling químico médio com solução de Jessner e ácido tricloroacético (ATA) de 20% a 35% aplicado em toda a face e no terço superior da região cervical seguido da realização de dermoabrasão com lixas diamantadas. O intuito desse procedimento é diminuir a resistência da pele e também minimizar as linhas de demarcação nas áreas que não serão abrasadas.9

O objetivo do presente estudo foi estabelecer a segurança e eficácia de uma nova associação de métodos para tratamento do rinofima, denominada dermoquimioabrasão, que consiste na realização de exerese tangencial e dermoabrasão com lixa d'água seguindo-se a utilização de ATA a 30% sobre a área previamente abrasada.

 

MÉTODOS

Neste estudo prospectivo e unicêntrico foram tratados, por dermoquimioabrasão, sete pacientes portadores de rinofima, que procuraram o Ambulatório de Dermatologia Corretiva do Hospital Universitário Pedro Ernesto do Rio de Janeiro no período de junho de 2010 a julho de 2014.

Os procedimentos realizados neste trabalho foram autorizados pelo Comitê de Estudos Clínicos e Investigação da Instituição em que foi realizado, cumprindo assim, os requisitos legais. Além disso, foi obtido o consentimento informado dos pacientes que se submeteram ao estudo.

No período pré-operatório recomendou-se aos pacientes que evitassem o uso de medicações como AAS, GinKobiloba e Vitamina E, e que comorbidades como hipertenão arterial sistêmica e diabetes fossem controladas.

Dermoquimioabrasão: sequência da técnica cirúrgica

Após assepsia e antissepsia, foram realizados bloqueios anestésicos dos nervos infraorbitários (nas áreas paranasais opostas às narinas), dos nervos infratrocleares (na base do nariz, abaixo da glabela e perto do canto interno dos olhos) e dos nervos nasociliares (na junção entre a cartilagem e o osso no dorso do nariz),1,2 devidamente complementados pela anestesia infiltrativa com lidocaína a 1% e adrenalina 1:100.000. O primeiro passo cirúrgico consistiu na realização da exerese tangencial (shave) com lâmina 15 em bisturi. Foram retiradas finas camadas do tecido hiperplásico até que ficassem reconstruídos a simetria e o contorno do nariz. O material excisado de todos os pacientes foi enviado para estudo histopatológico com o intuito de detectar neoplasias ocultas. Posteriormente realizou-se abrasão manual com lixa d'água número 100 para uniformização dos tecidos. O passo final foi a cauterização química de toda a área abrasada com ATA 30% para coagulação e hemostasia da ferida cirúrgica (Figura 1).

O curativo foi confeccionado na seguinte ordem: antibiótico tópico, filme plástico de PVC, gaze e esparadrapo. O filme plástico tem como função bloquear as terminações nervosas, controlando a dor do pós-operatório. Os pacientes receberam a recomendação de refazer diariamente o curativo durante uma semana. Após esse período, indicou-se o uso diário de fotobloqueadores até que o eritema desaparecesse e retornasse a cor natural da pele.

Para avaliação da segurança e eficácia dessa proposta terapêutica foram feitas avaliações clínicas e registros fotográficos padronizados antes e aos sete, 14, 30 e 120 dias depois do procedimento. Os registros do sete, 14 e 30 dias, tiveram o objetivo de avaliar a duração do período de reepitelização e a presença de infecções. Cento e vinte dias após os pacientes retornaram para controle do resultado final. Nessa visita foram avaliadas espessura da pele nas áreas tratadas, presença de poros dilatados, uniformidade do relevo cutâneo e presença de discromias e cicatrizes.

 

RESULTADOS

A idade dos pacientes variou de 57 a 68 anos, sendo seis do sexo masculino e um do sexo feminino. Os fototipos encontrados foram III e IV de Fitzpatrick. A reepitelização completa ocorreu entre sete e 14 dias. Todos os pacientes apresentaram evolução sem infecções, com reepitelização satisfatória e resolução dos tecidos exofíticos (Figuras 2 a 4). Todos, portanto, obtiveram resultado final satisfatório do ponto de vista estético, com ausência de discromias ou cicatrizes. Em seis dos casos descritos, o exame histopatológico descartou neoplasia cutânea oculta e em um caso a análise histopatológica revelou a presença de neoplasia oculta (carcinoma basocelular superficial).

 

DISCUSSÃO

O rinofima é doença estigmatizante. Diferentes tratamentos cirúrgicos já foram descritos na literatura. No entanto não há consenso quanto à melhor técnica a ser utilizada.

Existem hoje múltiplos tratamentos publicados para o tratamento do rinofima, com o objetivo de recuperar a aparência normal do nariz.

A radioeletrocirurgia tem sido bastante utilizada, incluindo o desenvolvimento de eletrodos específicos para o tratamento dessa patologia. Sua vantagem é o controle do sangramento concomitante à retirada tecidual, trazendo bastante conforto ao cirurgião.6

Em 2014, foi descrita técnica inovadora e de simples execução para o tratamento dessa condição com o uso exclusivo de ATA em altas concentrações.10

A maior vantagem dessa técnica é, entretanto, a possibilidade do exame histológico do material retirado, permitindo também o diagnóstico de tumores benignos ou malignos ocultos no tecido exofítico característico do rinofima.

Esse procedimento permite ainda o controle visual dos planos a atingir com segurança para evitar cicatrizes, cujo limite fica entre a derme reticular média e a profunda, poupando a base dos anexos cutâneos. Essa característica determina a segurança e eficácia da técnica.

 

CONCLUSÃO

A dermoquimioabrasão caracteriza-se por ser tratamento eficaz, de baixo custo, simples execução e excelente resultado cosmético, além de ter como vantagem a possibilidade de análise histopatológica. Esta última é de extrema importância, visto que existem casos descritos na literatura de neoplasia oculta no rinofima.3,4

 

Referências

1. Silva SCMC. Rinofima. In: Kede MPV, Sabatovich O. Dermatologia Estética. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2009. p. 198-201.

2. Popa D, Osman G, Parvanescu H, Ciurea R, Ciurea M. The treatment of giant rhinophyma-case report. Curr Health Sci J. 2012;38(1):41-4.

3. Rohrich RJ, Griffin JR, Adams WP. Rhinophyma: review and update. Plast Reconstr Surg.2002;110(3):860-9

4. Lutz ME, Otley CC. Rhinophyma and Coexisting Occult Skin Cancers. Dermatol. Surg. 2001;27(2):201-2.

5. Silva SCMC. Cirurgia Dermatológica Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Dilivros; 2008. p. 285-90.

6. Sperli ED, Freitas JOG, Fischler R. Rinofima:tratamento com equipamento de alta frequência Rev Bras Cir Plast. 2009; 24(4): 504-8.

7. Costa TC, Firme WAA, Brito LMR, Vieira MBG, Leite LAS. Rinofima: opções cirúrgicas utilizadas no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Agamenon Magalhães - PE. Rev. Bras. Cir. Plást.2010; 25(4): 633-6.

8. Stagnone JJ. Chemabrasion, a combined technique of chemical peeling and dremabrasion. J. Dermatol. Surg Oncol 1977;3(2):217-9.

9. Meski AP, Cucé LC. Quimioabrasão para tratamento de rugas periorais: avaliação clínica e quantificação das células de langerhans epidérmicas. Surg Cosmet Dermatol. 2009;1(2):74-9.

10. Gaspar NK, Gaspar APA, Aidê MK. Rinofima: tratamento prático e seguro com ácido triclcoroacético. Surg Cosmet Dermatol. 2014;6(4):368-72.

 

Trabalho realizado no Ambulatório de Dermatologia Corretiva do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773