Mariana de Jesus Oliva Siebel1; Gabriela Horn1; Leandro Fonseca Noriega1; Nilton Di Chiacchio2; Alexandre Ozores Michalany3; Diego Leonardo Bet4
Keywords: UMBILICUS; DERMOSCOPY; NEVUS
A cicatriz umbilical é sede de afecções inflamatórias, infecciosas e tumorais, sendo a endometriose umbilical e o nódulo irmã Maria José, as mais "clássicas".1 Entretanto, outras mais raras, como o nevo epidérmico verrucoso, também deve ser lembrado ao avaliar essa região.
O nevo epidérmico verrucoso é malformação congênita a partir da hiperplasia da camada basal da epiderme, surgindo em 80% dos casos no primeiro ano de vida.2
Pode localizar-se em segmento cefálico, região cervical, tronco e membros, sendo estes dois últimos os locais mais frequentes.3,4
Relatamos caso de nevo epidérmico verrucoso, de localização atípica, e os achados dermatoscópicos.
Mulher, 27 anos, apresentando lesão hiperqueratósica com projeção cônica central e área verrucosa adjacente, em cicatriz umbilical há 10 anos. Lesão firme, áspera, indolor e não aderida a planos profundos (Figura 1). À dermatoscopia, áreas de coloração amarelo-alaranjada no centro, lesões verrucosas na parede da cicatriz umbilical e debris. Além disso, fina rede pigmentada regular nas margens da lesão (Figura 2).
O estudo histológico demonstrou hiperqueratose laminar, acantose e papilomatose, achados compatíveis com o diagnóstico de nevo epidérmico verrucoso (Figuras 3, 4, 5).
O nevo epidérmico verrucoso se apresenta como pápulas e/ou placas únicas ou múltiplas, hiperqueratósicas, ou francamente verrucosas, hiperpigmentadas e bem delimitadas, com predomínio em tronco e membros. Embora não haja sido descrito padrão dermatoscópico específico, o encontro de áreas amarelo-alaranjadas nos sugeriu a presença de queratina, indicando processo de proliferação queratinocítica. A ausência de achados dermatoscópicos típicos de outras lesões nos auxiliou a afastar alguns diagnósticos diferenciais.
Na suspeita de queratose seborreica observaríamos a presença de pseudocomedões (estruturas marrom-amareladas), pseudocistos (estruturas branco-amareladas) e área amorfa de coloração amarelada. Na verruga viral, haveria pápulas normocrômicas e vasos trombosados. Nos angioqueratomas, são descritos três padrões: lacunas escuras, vinhosas ou véu esbranquiçado, eritema periférico e crostas hemorrágicas.5
Complicação extremamente rara, porém importante, é a transformação neoplásica do nevo verrucoso em carcinoma basocelular ou carcinoma espinocelular. Sangramento, ulceração e espessamento podem ser sinais clínicos de transformação maligna.2 No caso aqui relatado não foram encontradas alterações dermatoscópicas ou histológicas sugestivas de malignidade.
Ressaltamos com este caso a singularidade da localização e a importância da dermatoscopia na elucidação diagnóstica, e no monitoramento da rara transformação maligna.
1. Kluger N. Dermatoses ombilicales et péri-ombilicales. Ann Dermatol Venereol. 2014;141:224-35.
2. Elder DE, Elenitsas R, Johnson BL Jr, Murphy GF, Xu G. Lever's Histopathology of the Skin. 10th ed. Lippincott Williams & Wilkins; 2008.
3. Noronha L, Neto JF, Nones RB, Taniguchi K. Nevo epidérmico: análise clínica e histológica de seis casos. An Bras Dermatol. 1999;74(1):259-62.
4. Kim R, Marmon S, Kaplan J, Kamino H, Pomeranz MK. Verrucous epidermal nevus [Internet]. Dermatol Online J. 2013;19(12):20707.
5. Kim JH, Kim MR, Lee SH, Lee SE. Dermoscopy: a useful tool for the diagnosis of angiokeratoma. Ann Dermatol. 2012;24(4):468-71.
Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil.