Guilherme Augusto Gadens1, Paulo Rodrigo Pacola1, Arash Kimyai-Asadi1
Keywords: CIRURGIA DE MOHS, RECONSTRUÇÃO, NEOPLASIAS DA ORELHA, ORELHA, RETALHOS CIRÚRGICOS
A orelha possui estrutura anatômica complexa, onde cada sub-unidade tem caractarísticas específicas. Certamente não há uma única técnica cirúrgica que seja efetiva nas mais variadas situações. Dessa forma, faz-se necessário conhecer diferentes técnicas reconstrutivas, aplicadas a cada uma das sub-unidades da orelha, para que se alcancem resultados estéticos satisfatórios. O presente trabalho descreve detalhadamente o retalho de de avanço da região superior da hélice, para a reconstrução de defeitos cirúrgicos daquela região.
Descrição de caso:
Um paciente caucasiano, de 55 anos de idade, fototipo II de Fitzpatrick, apresentou-se à consulta com pápula medindo 1,0 cm X 0,7 cm, localizada na região superior da hélice da orelha esquerda. A lesão havia sido biópsiada anteriormente por solicitação do clínico geral, com exame histopatológico confirmando o diagnóstico de carcinoma basocelular (CBC). Após anestesia local com lidocaína a 0,5% e epinefrina a 1:200.000, realizou-se cirurgia micrográfica de Mohs, com exerése do CBC realizada após 2 estágios. O tamanho do defeito cirúrgico final foi de 2,0 com X 1,2 cm (Figura 1).
O retalho de avanço região superior da hélice inicia-se com uma incisão que vai da porção anterior do defeito até a borda superior do tragus. Mais precisamente, essa incisão é realizada paralelamente à margem inferior da hélice, da qual mantém distância de 1 mm e quando atinge a sua extremidade final, realiza-se um "back-cut" , permitindo que a pele da região préauricular avance livremente (Figura 2A). É importante notar que se a incisão for realizada na parte interna do sulco da hélice, a sutura será consideravelmente dificultada em estágios posteriores do procedimento.
A seguir, o retalho é totalmente descolado até o sulco retro-auricular e um triângulo de Burow é retirado da parte posterior da orelha (Figuras 2B e 2C). A sutura inicial do retalho o conduz à posição correta (Figura 2D). Em seguida, a porção restante é suturada com fio de nylon 50, iniciando-se pela hélice e seguindo-se inferiormente até alcançar a região préauricular (Figuras 3A e 3B).
As suturas foram retiradas após 7 dias, quando não foram notadas distorções anatômicas. O formato convexo e arredondado e o tamanho da orelha forma mantidos. Não houve ocorrência de cicatriz em alçapão. O paciente e os médicos ficaram satisfeitos com o resultado cosmético (Figuras 4A e 4B).
O reparo da região superior da hélice geralmente requer a utilização de retalhos ou enxertos para que o formato arredondado da orelha seja mantido. Suturas diretas geralmente resultam em distorção da anatomia local, com estreitamento e irregularidades no contôrno da hélice. A cicatrização por segunda intenção levaria a um resultado inadequado devido à convexidade da região. Consequentemente, um grande número de diferentes técnicas tem sido proposto para realizar o reparo dessa região. A ressecção em cunha da lesão, combinada com sutura primária resultaria no encurtamento e na perda do contorno da orelha, com manipulação e perdas desnecessárias de cartilagem.1 Enxertos de espessura total geralmente não são apropriados para essa região por causa de seu formato convexo e pouca espessura, o que torna difícil a aplicação dos curativos de pressão que facilitam a embebição. Esta dificuldade aumentaria a probabilidade de necrose (que já é grande, desde que o enxerto estaria Surg Cosmet Dermatol 2013;5(2):1613. posicionado diretamente sobre a cartilagem). Um retalho bilobado foi recentemente utilizado2 para reconstruir essa região, com bons resultados estéticos. Na opinião dos autores, porém, a execução do retalho descrito no presente trabalho é consideravelmente mais fácil e rápida, atingindo melhores resultados estéticos desde que a maior parte da incisão é localizada de fato muito próxima e na mesma direção de uma dobra natural da orelha. Retalhos de transposição (da região pré-auricular ou do sulco retro-auricular) são igualmente opções, porém, ao contrário do que ocorre na presente técnica, há maior risco de necrose distal do retalho e a pele preservada da hélice proximal não é aproveitada. O retalho de interpolação3 possui a desvantagem de necessitar de dois estágios operatórios – o que não vai de encontro à maioria das necessidades atuais dos pacientes – além de levar a resultados estéticos possivelmente decepcionantes. Há também a técnica tradicional de retalho de avanço da hélice4 (que pode ser também um retalho condrocutâneo, se necessário), que proporciona excelentes resultados quando utilizado para reparar a hélice lateral, porém não oferece a mesma qualidade quando aplicado a defeitos localizados no seu terço superior. Ainda há inúmeras outras técnicas5 que podem ser utilizadas de acordo com a preferência de cada cirurgião.
O mecanismo do retalho de avanço da região superior da hélice descrito no presente estudo possui inúmeras similaridades com a técnica tradicional de retalho de avanço da hélice. A diferença mais importante é que o retalho superior utiliza a pele pré-auricular disponível, avançando, dessa forma, de uma região mais próxima da parte superior do defeito, ao passo que a técnica tradicional utiliza a pele disponível no lóbulo auricular.
O retalho de avanço da hélice superior é uma técnica excelente para a reconstrução cirúrgica de defeitos de 1,0 cm a 2,5 cm na hélice superior, desde que a cartilagem seja preservada. É uma técnica simples de ser executada e a sua característica mais importante é proporcionar excelentes resultados estéticos.
1 . Radonich MA, Zaher M, Bisaccia E, Scarborough D. Auricular reconstruction of helical rim defects: wedge resection revisited. Dermatol Surg. 2002;28(1):62-5
2 . Vergilis-Kalner IJ, Goldberg LH. Bilobed flap for reconstruction of defects of the helical rim and posterior ear. Dermatol Online J. 2010; 16(10): 9
3 . Nguyen TH. Staged Cheek-to-Nose and Auricular Interpolation Flaps. Dermatol Surg. 2005; 31(8 pt 2):1034-45
4 . Krunic AL, Weitzul S, Taylor RS. Chondrocutaneous advancement flap for reconstruction of helical rim defects in dermatologic surgery. Aust J Dermatol. 2006;47(4):296-9
5 . Bastazini I Jr, Martins ALGP. Reconstrução de defeito condrocutâneo auricular usando fibra de silicone. Surg Cosmet Dermatol. 2011; 3(2):163-5