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Diagnóstico por Imagem

Carcinoma basocelular, estruturas crisálides, oncogenes e nevo sebáceo: algumas considerações

Francisco Burnier Pereira1

Recebido em: 10/03/2012
Aprovado em: 16/03/2012

Trabalho realizado na clínica privada do autor
– Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Conflito de interesses: Nenhum.
Suporte financeiro: Nenhum.

Abstract

A dermatoscopia é ferramenta diagnóstica cada vez mais utilizada no diagnóstico dos tumores cutâneos não melanocíticos. O carcinoma basocelular apresenta algumas estruturas bastante sugestivas de seu diagnóstico. O achado de estruturas crisálides é também frequente em outros tumores benignos e malignos da pele. Seu significado no carcinoma basocelular ainda está por ser determinado. O HPV é vírus de potencial oncogênico. Sua participação na fisiopatogenia do carcinoma basocelular ainda não foi claramente entendida.

Keywords: CARCINOMA BASOCELULAR, DERMOSCOPIA, ONCOGENES


INTRODUÇÃO

O carcinoma basocelular (CBC) é a mais frequente das neoplasias malignas. Apesar de seu comportamento pouco agressivo na maioria das vezes, alguns pacientes sofrem mutilações de nariz, orelhas, lábios e face de um modo geral, e até a enucleação do globo ocular pode ser necessária. A dermatoscopia é ferramenta na detecção precoce desses tumores. Os achados dermatoscópicos mais frequentes no CBC são glóbulos, pontos, áreas brancas ou cinza-acastanhadas amorfas e ulcerações. O padrão vascular mais comum é o de vasos arboriformes, além de telangiectasias finas e eritema difuso. 1

O nevo sebáceo (NS) é hamartoma congênito que afeta mais frequentemente o couro cabeludo ou face, sendo representado clinicamente por placa amarelada de superfície verrucosa. Algumas neoplasias secundárias podem surgir sobre o NS. 2 Enquanto a participação do HPV na fisiopatogneia do carcinoma escamoso está bem definida, sabe-se pouco sobre seu papel no CBC. 3

São apresentados dois casos que ilustram essas considerações e posterior discussão.

CASO 1

Paciente de 56 anos, do sexo masculino, branco, apresentando lesão papulosa de aproximadamente 1cm no maior diâmetro, localizada na região escapular direita, referindo dor e crescimento lento.

Clinicamente, observou-se pápula perolada, com eritema e áreas de pigmentação. Na dermatoscopia com luz polarizada evidenciaram-se os achados na figura 1.

Foi realizada biópsia por punch, com o exame histopatológico conforme demonstrado na figura 2.

CASO 2

Paciente de 20 anos, do sexo masculino, branco, com lesão congênita em couro cabeludo apresentando crescimento e sangramento recentes. Clinicamente, evidenciou-se placa amareloeritematosa de 2cm de diâmetro, ulcerada, com lesão vegetante e de aspecto papilomatoso. A dermatoscopia denotou os achados visualizados nas Figuras 3 e 4.

O exame histopatológico evidenciou epiderme com hiperceratose, paraceratose focal, papilomatose e acantose irregular. Na derme, representada em suas porções mais altas, basicamente desprovida de folículos pilosos, com alguns brotos foliculares e poucas glândulas sebáceas, observou-se estrutura glandular anexial dilatada com diferenciação apócrina focal (hidrocistoma-símile). Em outros segmentos epiteliais, notou-se hiperplasia de queratinócitos basaloides cujos agrupamentos apresentavam paliçada nuclear periférica e retração estromal, projetando-se para a derme subjacente (Figura 5).

DISCUSSÃO

A descrição das estruturas crisálides veio com o advento da dermatoscopia de luz polarizada. Tais estruturas têm sido muito úteis no diagnóstico dos melanomas e relacionadas à regressão e invasão dérmica. As crisálides têm distribuição ortogonal no melanoma, enquanto a formação de rosetas é mais observada nas lesões actínicas. No CBC, essas estruturas estão desorganizadas, formando linhas ou áreas brancas brilhantes, que foram observadas no exame do primeiro paciente. 4

Ainda não se sabe o significado das estruturas crisálides no CBC, entretanto, elas têm sido encontradas em até 50% dos casos e parecem configurar mais um elemento dermatoscópico dessas lesões. Enquanto alguns autores associam a presença das crisálides à espessura do tumor, outros preferem relacioná-las a presença de fibroplasia estromal, principalmente nos subtipos morfeaformes e infiltrativos. 4 É possível que as crisálides tenham participação no clássico brilho perolado visto ao olho nu.

O surgimento de neoplasias secundárias no NS é raro antes da puberdade. Sabe-se atualmente que o CBC surge em aproximadamente 0,8% dos pacientes portadores desse tipo de lesão. A maioria dos casos citados tratava-se na verdade de tricoblastomas. 2

No paciente 2, as estruturas lobulares amareladas são compatíveis com o diagnóstico de NS, enquanto as múltiplas projeções brancacentas contendo vasos sanguíneos são muito sugestivas de verruga viral. Neste caso, o diagnóstico do CBC foi feito pela histopatologia, embora, na reavaliação da dermatoscopia, o eritema difuso e as telangiectasias finas sejam compatíveis com o diagnóstico. O quadro foi interpretado como NS associado com CBC superficial. 1,2

A oncogenicidade do HPV no CBC ainda está por ser determinada. Sabe-se que o vírus interage com proteínas celulares, alterando suas funções ou seus níveis de expressão. 3 Paolini e cols., em 2011, demonstraram que certas proteínas estão superexpressadas no CBC, e que essa alta expressão da p16INK4a e da pAkt2 está frequentemente associada à presença das espécies beta do HPV, por exemplo o HPV15. A ativação da via p16INK4a e Akt/P13k na presença desses vírus sugere que em alguns subtipos de CBC a infecção pelo HPV possa participar da carcinogênese. 1,7 O reflexo disso no comportamento biológico desses CBCs ainda está por ser determinado. Em nosso paciente, o achado da verruga sobre um nevo sebáceo com o desenvolvimento de um CBC superficial vai de encontro ao encontro das propostas desses autores. 3

CONCLUSÃO

As estruturas crisálides são encontradas com frequência no CBC. Sua distribuição desorganizada ajuda no diagnóstico desses tumores, mas seu significado clínico permanece indeterminado. 1,2 O papel oncogênico do HPV parece estar associado à hiperexpressão das proteínas celulares e pode ser relevante em alguns tipos de CBC. 3

Referências

1 . Liebman TN, Jaimes-Lopez N, Balagula Y, Rabinovitz HS, Wang SQ, Dusza SW, et al. Dermoscopic features of Basal cell carcinomas: differences in appearance under non-polarized and polarized light. Dermatol Surg.2012;38(3):392-9.

2 . Kim JH, Park HY, Ahn SK. Nevus sebaceous accompanying secondary neoplasms and unique histopathologic findings. Ann Dermatol.2011;23(Suppl 2):S231-4.

3 . Paolini F, Carbone A, Benevolo M, Silipo V, Rollo F, Covello R, et al. Human Papillomaviruses, p16INK4a and Akt expression in basal cell carcinoma. J Exp Clin Cancer Res. 2011;30:108.

4 . Yevgeniy Balagula, Ralph P. Braun, Harold S. Rabinovitz, Stephen W. Dusza, Alon Scope, Tracey N. Liebman, BA. et al. The significance of crystalline/chrysalis structures in the diagnosis of melanocytic and nonmelanocytic lesions. J Am Acad Dermatol. 2011 Oct 24. [Epub ahead of print]


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