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Novas Técnicas

Laser subdérmico no tratamento da hiperidrose axilar

Sandra Tagliolatto1, Oriete Gerin Leite1, Vanessa Barcellos Duque Estrada Medeiros1

Recebido em: 30/08/2011
Aprovado em: 14/03/2012

Trabalho realizada na clinica particular das
autoras – Campinas (SP), Brasil.

Conflitos de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum

Abstract

A hiperidrose axilar é patologia comum que implica distúrbios na vida social e profissional do paciente, necessitando de terapia adequada. Os tratamentos tradicionais incluem terapias tópicas, sistêmicas, iontoforese, toxina botulínica e procedimentos cirúrgicos. Uma nova técnica utilizando laser subdémico tem apresentado ótimos resultados, poucos efeitos colaterais e alta satisfação do paciente. Relata-se caso de uso de laser subdérmico para hiperidrose axilar com excelente resposta.

Keywords: HIPERIDROSE


INTRODUÇÃO

A hiperidrose ocorre em aproximadamente 3% da população e é considerada desordem de produção de suor excessivo, permanente e simétrico. Ocorre devido à hiperatividade das glândulas sudoríparas écrinas, independente do processo de termorregulação do estímulo simpático, desencadeada principalmente por estímulos emocionais. 1,2

A hiperidrose apresenta significante impacto negativo na qualidade de vida do paciente, interferindo em seu relacionamento social e em suas atividades profissionais, não raro levando a quadros de ansiedade social. 2

A forma primária é alteração funcional idiopática que se expressa por suor excessivo, tipicamente nas axilas, palmas, plantas e face. Comumente as axilas são as regiões mais afetadas, estando envolvidas em mais de 50% dos casos. 3

Em 61,5% dos pacientes de um estudo prospectivo, a hiperidrose primária iniciou-se durante a puberdade, sendo a maioria (75%) mulheres. Nesse estudo, a hiperidrose foi classicada como palmar em 61,5% dos casos, plantar em 53,8% e axilar em 59,6%. Outras áreas foram menos comumente relatadas. 4

Entre as opções terapêuticas tradicionais da hiperidrose primária incluem-se os sais tópicos de alumínio, a iontoforese, o uso de agentes anticolinérgicos orais, as intervenções cirúrgicas locais e a simpatectomia. Esses tratamentos, entretando, apresentam-se muitas vezes limitados e/ou relacionados a efeitos colaterais. 1,2

Nos tratamentos não cirúrgicos os resultados são paliativos, porém as complicações, quando ocorrem, são transitórias, como as dermatites irritativas devido ao uso dos sais de alumínio tópicos. 3

Já os procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos (excisão local ou a curetagem das glândulas sudoríparas axilares) ou ainda a utilização da simpatectomia apresentam-se como opções efetivas, seguras e permanentes para o tratamento da hiperidrose, 1,2 porém são reservadas a casos graves, pois podem apresentar efeitos secundários não temporários, como a já bem conhecida hiperidrose compensatória, comumente observada no pós-operatório da simpatectomia e que pode afetar cerca de 48% dos pacientes operados. 5

Em revisão recente sobre o tema, Gontijo e cols. 6 referiram a técnica de lipossucção com curetagem como procedimento menos invasivo que as cirurgias abertas locais, com bons resultados e, portanto, como uma das primeiras opções de tratamento para a hiperidrose axilar.

O uso da toxina botulínica nos últimos anos tem mudado completamente o quadro do tratamento da hiperidrose axilar. Sua aplicação é fácil, rápida e eficaz na redução focal do suor e não apresenta sérios efeitos adversos, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes. 3

Além de seu uso na área axilar, também pode ser aplicada na região palmoplantar, porém nessas localizações pode requerer técnicas de anestesia regional dificultando sua utilização. Outro inconveniente é o caráter temporário do seu efeito clínico. 3

Para a hiperidrose axilar, o uso do laser subdérmico tem sido visualizado como ótima opção ao uso da toxina botulínica devido a seus longos resultados, à alta satisfação do paciente e aos poucos efeitos colaterais. 6

Ichikawa e cols. 7 demonstraram pela primeira vez a nova técnica no tratamento da osmidrose com ablação das glândulas sudoríparas através de aplicação subcutânea do laser Nd:YAG 1064nm. Relataram técnica minimamente invasiva, com alta eficácia, curto período de recuperação pós-operatória e durabilidade. No seguimento clínico do procedimento, após em média 8,8 meses, todos os 12 pacientes acompanhados pelo estudo estavam muito satisfeitos com os resultados.

Outro recente estudo utilizou o laser subdérmico no tratamento da hiperidrose axilar em 17 pacientes, com a prévia realização de testes de iodo-amido de Minor, de planimetria e anatomopatológicos subsequentes, demonstrando diminuição acentuada na sudorese excessiva. Esse método de tratamento demonstrou ter a vantagem de ser pouco invasivo e de alto grau de resolubilidade. 8

É também descrito resultado satisfatório após terapia com laser subdérmico Nd:YAG 1320 em caso de hiperidrose refratária aos tratamentos anteriores. 9

O laser de diodo de comprimento de onda de 924nm é absorvido pela gordura, e sua principal utilização é no tratamento da gordura corpórea localizada, 10 porém a atuação desse comprimento na gordura proximal às glandulas sudoríparas poderá destruí-las, devido ao aumento de calor local. 9

RELATO DE CASO

Apresenta-se caso de uso do laser de 924nm (SlimLipo, Palomar, EUA) no tratamento da hiperidrose axilar.

Paciente de gênero masculino, 29 anos, apresentando hiperidrose axilar desde a infância, submetido a diversas aplicações de toxina botulínica, com excelentes resultados clínicos, com tempo de duração de efeito de aproximadamente sete meses.

Em busca de tratamento de caráter mais definitivo, decidiu-se pela realização do procedimento com o laser de comprimento de onda de 924nm, na região axilar.

MÉTODOS

Após a realização do teste de iodo-amido de Minor, o paciente foi fotografado e encaminhado à sala de procedimento. Realizouse assepsia local com solução degermante de clorexedine a 2%, botão anestésico em local predefinido a fim de permitir boa movimentação da mão do cirurgião para a realização do procedimento e abertura de pertuito cutâneo com lâmina de bisturi número 11. Após a aplicação da anestesia tumescente de Klein na região axilar, houve a introdução da fibra óptica, que conduz o laser em questão.

Parâmetros específicos foram ajustados para a realização do procedimento: foi selecionada apenas a emissão do laser de 924nm, com potência de 10W. A fibra óptica foi movimentada de maneira lenta, em plano subdérmico, até a energia acumulada de 3,5kJ, quando o aumento da temperatura local começou a ser percebida ao toque. O mesmo procedimento foi realizado na axila contralateral. Curativo local compressivo foi realizado, e o paciente recebeu orientação de uso de antibioticoterapia profilática e restrição de exercícios vigorosos com os membros superiores nos primeiros dias, sendo liberado para as atividades rotineiras logo após o procedimento.

O tempo total de tratamento com o laser não excedeu cinco minutos por axila. O tempo total de execução do procedimento, somado ao tempo da assepsia local, da anestesia e do curativo, foi de 30 minutos.

RESULTADOS

Após uma semana, houve o primeiro retorno do paciente já com resultado observado clinicamente e alto grau de satisfação. O paciente não se queixou de dor ou desconforto após o procedimento, relatando-o como "tranquilo". Não houve efeitos colaterais como queimadura, edema significativo, seroma ou redução da pilificação.

O segundo retorno do paciente ocorreu em 30 dias, quando foi realizado novamente o teste de iodo-amido de Minor e executado registro fotográfico. O paciente, nesse momento, referiu o procedimento como 100% efetivo, e a fotografia comparativa registra a ausência da sudorese local (Figura 1).

O paciente encontra-se em acompanhamento com resultados clínicos mantidos até o momento (dois meses após a realização do procedimento).

DISCUSSÃO

O tratamento da hiperidrose axilar grave é desafio médico. Por se tratar de condição benigna de impacto negativo na qualidade de vida do paciente, terapias minimamente invasivas, resolutivas e duráveis devem ser almejadas.

Relatou-se a aplicação do laser como nova alternativa no tratamento da hiperidrose axilar, um procedimento ambulatorial, de fácil e rápida execução, extremamente eficaz e de caráter duradouro.

Os resultados aqui apresentados são semelhantes ao descritos na literatura, 7-9 tanto em relação à eficácia quanto ao mínimo desconforto pós-operatório. Estudos de longo prazo são necessários para melhor avaliação de sua durabilidade, uma vez que o maior tempo de seguimento descrito foi de 43 meses. 8

Embora ainda com pouca disponibilização devido ao alto custo do aparelho em questão, o tratamento da hiperidrose axilar com laser subdérmico tem-se mostrado terapia promissora com alto grau de satisfação pelo paciente.

Referências

1 . Pomarède N. Management of axillary hyperhidrosis. Ann Dermatol Venereol. 2009;136 (Suppl) 4:S125-8.

2 . Callejas MA; Grimalt R; Cladellas E. Hyperhydrosis update. Actas Dermosifiliogr. 2010;101(2):110-8.

3 . Grunfeld A; Murray CA; Solish N. Botulinum toxin for hyperhidrosis: a review. Am J Clin Dermatol. 2009;10(2):87-102.

4 . Marti N, Ramon D, Gamez L, Reig I, Garcia-Perez MA, Alonso V, et al. Botulinum toxin type A for the treatment of primary hyperhidrosis: a prospective study of 52 patients. Actas Dermosifiliogr. 2010;101(7):614-21.

5 . Macia I, Moya J, Ramos R, Rivas F, Urena A, Rosado G, et al. Primary hyperhidrosis. Current status of surgical treatment. Cir Esp. 2010;88(3):146-51.

6 . Gontijo GT, Gualberto GV, Madureira NAB. Atualização no tratamento de hiperidroose axilar. Surg Cosmet Dermatol. 2011;3(2):147-51.

7 . Ichikawa K, Miyasaka M, Aikawa Y. Subcutaneous laser treatment of axillary osmidrosis: a new technique. Plast Reconstr Surg. 2006;118(1):170-4.

8 . Goldman A; Wollina U. Subdermal Nd-YAG laser for axillary hyperhidrosis. Dermatol Surg. 2008;34(6):756-62.

9 . Kotlus BS. Treatment of refractory axillary hyperhidrosis with 1320 Nd:YAG laser. J Cosmet Laser Ther. 2011;13(4):193-5.

10 . Weiss RA; Beasley K. Laser - assisted liposuction using a novel blend of lipid- and water selective wavelengths. Laser Surg Med. 2009;41(10):760-6.


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