Márcio Rocha Crisóstomo1, Marília Gabriela R. Crisóstomo1, Denize Campos Cavalcanti Tomaz1, Manoela C. C. Crisóstomo1
Keywords: CABELO, TRANSPLANTE, ALOPECIA
O transplante capilar moderno oferece resultados excelen- tes em relação à naturalidade e baseia-se no princípio de que os fios da região posterior e lateral da cabeça (área doadora) são mais resistentes e mantêm essa característica quando transplanta- dos para outra região. 1 Na técnica clássica (TC), é retirada uma faixa de couro cabeludo da área doadora que será subdividida em unidades foliculares (UFs) contendo de um a quatro fios. 1 A fim de evitar cicatriz linear na área doadora, a técnica de extra- ção de unidades foliculares (EUF) é alternativa à TC2 . Na EUF, elas são retiradas uma a uma através de punchs com diâmetro em torno de um milímetro. 2 Como a EUF é muito mais artesanal e laboriosa do que a TC, em igual tempo cirúrgico obtém-se número menor de UFs. 3
Nos casos mais avançados de calvície, como em Norwood classes V –VII, geralmente um segundo ou mesmo um terceiro tempo cirúrgico são necessários para atingir boa densidade em área maior (Figura 1). Mesmo em cirurgias com grande núme- ro de UFs, como as mega e gigassessões, os pacientes geralmente necessitam de mais densidade capilar. 4,5
Com a finalidade de aumentar o número de UFs transplan- tadas, especialmente em grandes áreas calvas ou em casos de área doadora desfavorável, pode ser realizada a combinação das duas técnicas (TC e EUF), em único procedimento cirúrgico. 6 Nesses casos, a área em que a EUF é realizada permanece com densi- dade folicular 20 a 40% menor e com pequenas cicatrizes pun- tiformes, que adicionam fibrose local e podem mudar a anato- mia natural do crescimento capilar (Figura 2). Esses fatores difi- cultam o preparo das unidades, nessa área, em um futuro trans- plante tanto pela TC como por EUF. 7
O objetivo deste trabalho é descrever nova padronização de associação de TC e EUF, com a finalidade de obtenção de mais unidades foliculares em um só procedimento, preservando-se uma faixa intocada na área doadora para um possível segundo transplante, mantendo suas características naturais.
TÉCNICA CIRÚRGICA: untouched strip (faixa intocada) A área doadora segura, cujo cabelo não cairá com a evolu- ção da calvície, 8 é demarcada ainda com o cabelo em tamanho natural. Essa é a zona doadora potencial do paciente (Figura 3). Após essa determinação, os fios da área doadora são tricotomi- zados para permitir a realização da EUF. Na área doadora segu- ra são marcadas faixa referente à TC e, logo abaixo, área de um a 1,5cm, em que a EUF não será realizada. Essa área é chamada de untouched strip ou faixa intocada (Figura 4). Os autores reali- zam o procedimento com sedação venosa e infiltração local (áreas doadora e receptora) de solução de lidocaína 0,2% com ropivacaína 0,1% e adrenalina a 1:200.000.
A seguir, a faixa demarcada para a TC é excisada no plano supragaleal e suturada em dois níveis, um profundo, com pontos absorvíveis e separados de Monocryl ® 3.0, e outro superficial, com sutura contínua na pele com Mononylon® 5.0. É impor- tante avaliar a elasticidade local para que esse fechamento seja feito sem tensão e sem a necessidade de descolamentos.
Logo depois, o EUF é realizada com punchs de 0,9 ou 1mm, dentro da área doadora segura, acima da sutura da TC e abaixo da faixa intocada, evitando esta última, com o objetivo de preservar suas características anatômicas 9 (Figura 5). A implantação das UFs na área calva é feita de acordo com a preferência do cirurgião.
O princípio da faixa intocada é não prejudicar uma área importante a ser usada em possível futuro procedimento. Essa conduta manterá a densidade folicular normal dessa área e evi- tará a fibrose causada pelas cicatrizes oriundas da EUF7,9 (Figura 6). Os autores usam a combinação de EUF e TC em pacientes com graus avançados de calvície (graus V – VII de Norwood) e/ou em pacientes com área doadora de baixa densidade ou pouca elasticidade. 6 É muito importante o cuidado de realizar a EUF apenas na área doadora segura descrita por Unger, 8 a fim de evitar que as UFs extraídas e transplantadas possam ser per- didas ao longo da vida do paciente. Para prevenir esse inconve- niente de longo prazo, o autor tem três critérios para a indica- ção do procedimento combinado: (1) análise cuidadosa da his- tória familiar sondando a probabilidade de evolução para um Norwood grau VII; (2) preferência aos pacientes acima de 40 anos. Ainda que a calvície evolua, apenas 16% dos pacientes do sexo masculino apresentarão calvície Norwood grau VII aos 80 anos; 8 e, mais importante, (3) grau de calvície bem estabelecido, especialmente na área do vértex, normalmente Norwood classe V, VI e alguns casos de classe VII. Indicações de exceção são estu- dadas com bastante cautela. Deve-se tomar o cuidado de deter- minar a área doadora segura sem subestimar o real potencial da área doadora do paciente.
Em calvícies mais avançadas, mesmo com a técnica combi- nada, um segundo procedimento é necessário. Nesses casos, a faixa não tocada é feita para evitar a diminuição da densidade de UFs na área doadora e a fibrose, que pode de alguma forma comprometer o segundo procedimento. 7 A faixa intocada pode ser marcada abaixo ou acima da sutura, porém os autores suge- rem deixá-la abaixo da sutura (Figura 7), pois a área superior geralmente apresenta melhor produtividade para a EUF.
Na segunda cirurgia, 10 a 12 meses depois, tempo necessá- rio para a área doadora recuperar sua elasticidade, o cirurgião realizará outra sessão de EUF ou, mais comumente, TC, com ou sem a excisão da cicatriz anterior. Esse segundo procedimento é preferência pessoal do cirurgião, discutida com o paciente. Na faixa intocada o ponto-chave é preservar suas características naturais para o próximo procedimento, na preferência dos auto- res outra retirada pela TC similar à obtida na primeira cirurgia9 (Figuras 5, 6 e 7).
Os autores preferem realizar a EUF após a retirada e o fechamento da faixa da TC e após o implante das UFs obtidas nessa etapa, pois, como as UFs obtidas com EUF são geralmen- te mais finas e, assim, mais suscetíveis à isquemia e reperfusão, 10 realizando-se a EUF ao final do procedimento há redução no tempo de permanência dessas UFs fora do corpo. 9
Uma das vantagens do procedimento combinado é a pos- sibilidade de diminuição da tensão sobre o fechamento da feri- da após a realização do EUF, 6 levando a melhor qualidade da cicatriz, porém a principal delas é o aumento do número de UFs transplantadas em único tempo cirúrgico. Tsilosani relatou aumento de 14 a 42% com a cirurgia combinada, com a média de 29,5%. 6 Com a untouched strip, esse aumento é ligeiramente inferior, pois na área preservada não é realizada a EUF, mas o benefício de não ter tecido cicatricial, ter densidade folicular normal ou quase normal e a ausência de distorção na anatomia dos folículos nessa área são compensadores para eventual futuro procedimento. 9
O uso combinado da EUF e TC pode expandir o número de UFs em sessão única, proporcionando assim melhor densida- de e cobertura na primeira cirurgia de pacientes com grau avan- çado de calvície e/ou com área doadora desfavorável. A padro- nização técnica da faixa intocada protege a área doadora, que não será danificada pelas cicatrizes da EUF ou pela diminuição da densidade folicular nessa região, para futuro procedimento.
1 . Uebel CO. Micrografts and minigrafts: a new approach for baldness surgery. Ann Plast Surg. 1991; 27(5):476-87.
2 . Rassman WR, Bernstein RM, McClellan R, Jones R, Worton E, Uyttendaele H. Follicular unit extraction: minimally invasive surgery for hair transplantation. Dermatol Surg. 2002; 28(8):720-28.
3 . Dua A, Dua K. Follicular Unit Extraction Hair Transplant. J Cutan Aesth Surg. 2010; 3(2):76-81.
4 . Crisóstomo MR. Gigasessions - Larger Sessions for Baldness Grades IV to VI. Presented at the XIII International Congress of Italian Society for Hair Restoration; 2010 May 20-22; Capri, Italy.
5 . Wong J. Preoperative Care for Super Mega-Sessions. In: Pathomvanich D, Imagawa K. Hair Restoration Surgery in Asians. Springer; 2010. p.81-2.
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7 . Bernstein RM, Rassman WR, Anderson KW. FUE Megasessions - Evolution of a Technique. Hair Transplant Forum Int´l. 2004; 14(3):97-99.
8 . Unger WP, Cole J. Donor Harvesting. In: Unger WP, Shapiro R. Hair Transplantation. 4th Ed. New York: Marcel Dekker; 2004.p. 301-48.
9 . Crisóstomo, MR. Untouched Strip: Técnica para aumentar a área doadora potencial em um transplante capilar. Apresentado no XVII Encontro da Associação dos Ex-Alunos do Prof. Pitanguy; 2011 Outubro 24-26; Rio de Janeiro, Brasil.
10 . Crisóstomo MR, Guimarães SB, de Vasconcelos PR, Crisóstomo MG, Benevides AN. Oxidative stress in follicular units during hair transplantation surgery. Aesthetic Plast Surg. 2011; 35(1):19-23.