Heliane Sanae Suzuki1, Mariana Hammerschmidt1, Patricia Kakizaki1, Maira Mitsue Mukai1
Keywords: PELE, PIGMENTAÇÃO DA PELE, FOTOBIOLOGIA
As consultas de pacientes de descendência asiática são fre quentes na dermatologia. O conhecimento da pele dessa raça, de sua anatomia, fisiologia e aspectos peculiares permite melhores abordagem e tratamento desses indivíduos.
A classificação de Fitzpatrick é largamente utilizada para determinar o tipo de pele dos pacientes. Habitualmente, consi- deram-se os asiáticos fototipos IV e V, porém essa afirmação tem sido discutida por alguns autores. 1,2 Por essa razão, objetivou-se comparar a avaliação subjetiva do fototipo com a classificação de Fitzpatrick em pacientes caucasianas e orientais através de um estudo piloto.
Trata-se de estudo transversal realizado por meio de coleta de dados e entrevistas. Todos os critérios metodológicos deste tra- balho cumpriram os termos das normas vigentes para pesquisas em seres humanos, a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e a última revisão da Declaração de Helsinque. A pes- quisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do hospital em que foi realizado o estudo.
Foram selecionadas mulheres caucasianas e orientais, estas últimas de forma aleatória em evento que reuniu a comunidade oriental em Curitiba, e as caucasianas no ambulatório de derma- tologia no hospital em que se realizou o estudo. Foram classifi- cadas de acordo com três métodos de avaliação (clínico, e clas- sificações de Fitzpatrick e Fitzpatrick modificada). O critério de inclusão no grupo das orientais era possuir descendência japo- nesa, chinesa ou coreana.
Todas as participantes responderam a questionário para coleta de dados que consistia em perguntas sobre: descendência materna, descendência paterna, características próprias (cor dos olhos, cor natural dos cabelos, cor da pele nas áreas não expos- tas ao sol, presença de sardas nas áreas expostas, sensibilidade da pele ao sol e grau de bronzeamento). Além disso, as pacientes foram avaliadas quanto ao fototipo por médico do serviço de dermatologia e acadêmico de medicina (classificação subjetiva) e foram enquadradas também segundo as classificações de Fitzpatrick (Quadro 1) e Fitzpatrick modificada (Quadro 2) de acordo com dados fornecidos pelos questionários, que foram respondidos sem a interferência dos pesquisadores.
Os dados coletados dos questionários foram alocados em um banco de dados no programa ExcelÒ e analisados através do teste de Friedman. O nível de significância adotado foi de 5%.
Foram analisadas 48 pacientes do sexo feminino (18 orien- tais e 30 não orientais). Das pacientes selecionadas 15 possuíam descendência japonesa tanto materna quanto paterna, e três só descendência japonesa paterna. A média de idade nesse grupo foi de 29 anos (22-38). No grupo das não orientais a descendên- cia principal variou entre italiana, alemã, portuguesa, polonesa, indígena e francesa, e a média de idade foi de 36 anos (22-63).
Na comparação entre a avaliação médica e as classificações de Fitzpatrick e Fitzpatrick modificada através do teste de Friedman não houve diferença estatisticamente significativa den- tro de cada grupo. Caucasiana cr 2 = 0,375, p = 0,93 (Tabela 1 e Gráfico 1) e orientais cr 2 = 3,5, p = 0,182 (Tabela 2 e Gráfico 2).
Poucos trabalhos na literatura indexada foram publicados sobre as diferenças raciais do ponto de vista dermatológico. A maioria tenta comparar a população caucasiana e a negroide. Excetuando-se aqueles descritos nos periódicos veiculados na Ásia, raros são os estudos com indivíduos asiáticos, embora eles constituam grande parte da população mundial.
Sendo o Brasil um dos maiores países do mundo com des- cendentes orientais, essa população acaba fazendo parte de sig- nificativo número de consultas médicas no território nacional. Além disso, com os processos de migração e miscigenação, torna-se cada vez mais frequente encontrar traços de várias raças nos indivíduos. Por esse motivo, não só para a dermatologia como também para as outras áreas médicas, o conhecimento amplo dos aspectos peculiares de cada raça se faz importante para melhor abordagem dos pacientes.
A avaliação da resposta cutânea à exposição à radiação ultravioleta tem grande importância na prática dermatológica, especialmente em fotodermatoses, fototerapia, fotoenvelheci- mento, fotocarcinogênese e fotoproteção. Também são de gran- de utilidade no planejamento certos procedimentos como cirur- gia, laser, peeling e dermoabrasão. Dos métodos, o fototipo da pele é o mais utilizado, dadas sua simplicidade e praticidade.
A classificação dos fototipos de pele desenvolvida por Fitzpatrick em 1975 avalia a sensibilidade à radiação ultravioleta considerando a capacidade individual de queimar e bronzear. É realizada de forma subjetiva através de questionário respondido de acordo com a autoavaliação do paciente. Divida em seis tipos, per- mite avaliar o risco de fotodano e câncer de pele, além de auxi- liar no tratamento com fototerapia ao estimar a dose eritematosa mínima e a definição dos parâmetros de tratamento com luz. 2-4
O fototipo pode não ser o método que melhor avalia a fotossensibilidade, mais bem determinada pela dose eritematosa mínima de radiação UV segundo Wee et al. 2 Eles também suge- rem que a genética e a influência ambiental podem ter relevância na determinação. Estudos de Satoh e Kawada mostraram diferen- tes respostas à radiação ultravioleta por parte das peles japonesa e caucasian, propondo o Japanese skin type (JST) como método de avaliação. 1,4,5 Outros autores demonstraram que a radiação UVB é mais eritemogênica do que melanogênica em mongoloides. 6
No estudo, observou-se que o fototipo das orientais variou do II ao V conforme o método de avaliação, embora sem dife- rença estatística entre os três métodos. Verificou-se também que a avaliação subjetiva do médico pode discordar dos questioná- rios sobre o comportamento da pele frente à exposição solar. Na população caucasiana, ao contrário, a avaliação médica apresen- tou maior correlação com os demais métodos.
Diante desses resultados, sugere-se que, na avaliação dos asiáticos em procedimentos estéticos e fototerapia, seja feita aná- lise individual mais detalhada das características da pele e de seu comportamento frente à exposição ultravioleta. Para confirma- ção mais abrangente desses resultados são necessários estudos com amostra populacional maior.
1 . Park SB, Suh DH, Youn JI. Reliability of self-assessment in determining skin phototype for Korean brown skin. Photodermatol Photoimmunol Photomed. 1998;14(5-6):160-3.
2 . Wee LKS, Chong TK, Koh Soo Quee D. Assessment of skin types, skin colours and cutaneous responses to ultraviolet radiation in an Asian population. Photodermatol Photoimmunol Photomed. 1997;13 (5-6):169-72.
3 . Sachdeva S. Fitzpatrick skin typing: Applications in dermatology. Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2009; 75(1):93-6.
4 . Roberts WE. Skin type classification systems old and new. Dermatol Clin. 2009; 27(4):529-33.
5 . Kawada A, Noda T, Hiruma M, Ishibashi A, Arai S. The relationship of Sun protection factor to minimal erytema dose, japanese skin type, and skin color. J Dermatol. 1993; 20(8):514-16.
6 . Kawada A. Risk and preventive factors for skin phototype. J Dermatol Sci. 2000; 23(Supll 1):27-9.