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Relato de casos

Retalho de interpolação na face posterior da orelha

Gabriele Harumi Seko; Eldislei Mioto; Jéssica Pagan Faria; Rogerio Nabor Kondo

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2024160304

Fonte de financiamento: Nenhuma.
Conflito de interesses: Nenhum.
Data de Submissão: 19/09/2023
Decisão Final: 22/10/2023
Como citar este artigo: Seko GH, Mioto E, Faria JP, Kondo RN. Retalho de interpolação na face posterior da orelha. Surg Cosmet Dermatol. 2023;15:e20230304.


Abstract

A região posterior da orelha é um local incomum de câncer de pele. Ela tem características anatômicas e cutâneas que dificultam a reconstrução local por meio de técnicas cirúrgicas habituais. Apresentamos um caso de reconstrução de um defeito em face posterior de orelha, secundário à exérese de um carcinoma basoescamoso, utilizando-se um retalho de interpolação.


Keywords: Carcinoma Basoescamoso; Orelha; Retalhos Cirúrgicos


INTRODUÇÃO

A pele é o órgão mais acometido por câncer, que ocorre em locais de maior exposição solar, como a face e região cervical.1 Dependendo do tamanho do tumor e de sua localização, há necessidade de confecção de enxerto ou de retalho para realizar a reconstrução do defeito resultante da excisão.2

A região posterior da orelha tem curvas e relevos, com pele de pouca mobilidade para a realização de um simples retalho, e é de difícil fixação de curativos compressivos no caso de execução de enxertos, podendo tornar desafiadora a reconstrução da região sem ocasionar distorções anatômicas.3

O retalho de interpolação (RI) consiste na utilização de tecido de uma área não imediatamente adjacente ao defeito, com a manutenção de um pedículo vascular para suprir o retalho até que uma neovascularização se estabeleça entre o retalho e o leito receptor, e somente após a integração dessas duas áreas (receptora e retalho), o pedículo é seccionado.4

Relatamos a reconstrução de um defeito em região posterior de orelha, após a excisão de um carcinoma basoescamoso, na qual utilizamos um RI, com bons resultados estético e funcional.

 

MÉTODO

Foi tratado um paciente com carcinoma basoescamoso em região posterior de orelha esquerda:

Paciente masculino, 83 anos, apresentava placa vegetante eritematosa em face posterior de orelha esquerda, medindo 37 x 23mm, cuja biópsia incisional confirmou um carcinoma basoescamoso, que foi submetido à excisão cirúrgica, com margens de 4mm, com defeito resultante de 41 x 27mm (Figura 1A). Optou-se pela reconstrução com RI.

Descrição da técnica:

• Paciente em decúbito dorsal horizontal;

• Marcação com azul de metileno ou caneta cirúrgica da lesão com margem de 4mm (Figura 1A). Marcação da área doadora que se inicia na região retroauricular, na margem inferior e paralelamente ao defeito, estendendo-se em direção caudal pela região cervical posterior até 2cm abaixo do lóbulo de orelha (Figura 1B);

• Antissepsia com polivinil-iodina 10% tópico;

Colocação de campos cirúrgicos:

• Anestesia infiltrativa com lidocaína 2% com vasoconstritor;

• Incisão com lâmina 15 da lesão e exérese em bloco da peça até o subcutâneo;

• Hemostasia;

• Incisão do retalho, conforme marcação prévia. Descolamento do retalho e seu posicionamento e sutura no local do defeito, mantendo-se o pedículo vascular (Figura 2);

• Descolamento das bordas da região doadora com tesoura Metzenbaum curva;

• Sutura primária da região doadora (Figuras 2 e 3);

• Após três semanas (Figura 4), secção e reposicionamento do pedículo (Figura 5).

 

RESULTADOS

O paciente apresentou uma boa integração entre o retalho e a área receptora no pós-operatório. A Figura 6 compara as imagens do pré-operatório e após duas semanas da segunda etapa de cirurgia.

 

DISCUSSÃO

Grandes feridas cirúrgicas resultantes de excisões de neoplasias cutâneas da região auricular tornam-se desafiadoras para o cirurgião dermatológico.3 Resultados satisfatórios dependem da técnica utilizada e do treinamento para executá-la, além das condições de saúde do paciente.4

A região posterior de orelha é um local incomum de câncer de pele, geralmente servindo mais como uma área doadora pelo fato de ser menos fotoexposta.5 Para a reconstrução desse local, um retalho ideal deve ser fino e flexível, combinar a cor da área receptora e não apresentar uma cicatriz evidente no local doador.6

Embora retalhos espessos possam ocasionar o trapdoor (retalho em alçapão), que é a elevação no local receptor, o importante é manter, no resultado final, a funcionalidade da orelha, que serve de sustentação para óculos e aparelhos auditivos.7

O RI utiliza tecido de uma área não contígua ao defeito, mantendo um pedículo vascular para suprir o retalho até que uma neovascularização ocorra entre o retalho e o leito receptor. A desvantagem é requerer uma segunda etapa, após três semanas, quando o pedículo será seccionado após a integração das duas áreas (receptora e retalho).4 Nosso paciente teve uma boa evolução, mantendo a flexibilidade da orelha, sem trap door (retalho em alçapão), preservando a anatomia e a funcionalidade locais (apoio dos óculos, do aparelho auditivo e da máscara de proteção), com a cicatriz oculta na região cervical posterior.

 

CONCLUSÃO

O RI é uma boa opção para a reconstrução de defeitos na região posterior da orelha, com bons resultados estético e funcional.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Gabriele Harumi Seko
ORCID:
0000-0001-6661-4070
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Eldislei Mioto
ORCID:
0000-0001-5376-9292
Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Jéssica Pagan Faria
ORCID:
0000-0001-8727-2348
Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Rogerio Nabor Kondo
ORCID:
0000-0003-1848-3314
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

 

REFERÊNCIAS:

1. Kondo RN, Maia GB, Bertoncini LA, Silva ST. Retalho em caracol como uma opção de reconstrução de defeito nasal: uma série de dois casos. Surg Cosmet Dermatol. 2021;13:1-5.

2. Kondo RN, Cestari AI, Soares BM, Scalone FDM, Yabar SIA. Pinwheel flap as na option to reconstruct a nasal defect: a series of two cases. Dermatol Arch. .2021;5(1):122-126.

3. Bittner GC, Kubo EM, Fantini BC, Cerci FB. Reconstrução auricular após cirurgia micrográfica de Mohs: análise de 101 casos. An Bras Dermatol. 2021;96(4):408-415.

4. Pavezzi PD, Kondo RN, Pontello Jr R, Lena CP, Kippert JP. Interpolation flap for closing a surgical defect in the cauda helicis. Surg Cosmet Dermatol. 2017;9(4):334-7.

5. Gómez Díaz OJ, Cruz Sánchez MD. Anatomical and clinical study of the posterior auricular artery angiosome: in search of a rescue tool for ear reconstruction. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2016;4(12):e1165.

6. Zhang YZ, Li YL, Yang C, Fang S, Fan H, Xing X. Reconstruction of the postauricular defects using retroauricular artery perforator-based island flaps: anatomical study and clinical report. Medicine (Baltimore). 2016;95(37):e4853.

7. McInerney NM, Piggott RP, Regan PJ. The trap door flap: a reliable, reproducible method of anterior pinna reconstruction. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2013;66:1360–1364.


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