Emerson Vasconcelos de Andrade Lima1
Áreas nobres da face são frequentemente atingidas por tumores cutâneos. A remoção seguida de reconstrução dos defeitos gerados por essas lesões deve ser criteriosamente avaliada. 1
O fechamento direto é a opção inicial, porém em muitos casos a utilização de retalhos e enxertos torna-se mandatória. Sítios periorificiais, como as regiões periorbital, perioral, periau- ricular e o dorso nasal devem ser tratados com maior atenção devido aos riscos de retração tecidual nas bordas livres e comprometimento funcional resultantes de reconstruções inadequadamente planejadas. 2
A mobilidade tecidual limitada e a presença de áreas cancerizadas nas adjacências de tumores cutâneos circunstancialmente direcionam sua reconstrução para enxertos com pele removida de regiões cujo tecido saudável é redundante. 3, 4
A pega adequada do enxerto e a qualidade de sua revascularização são fundamentais quando se opta por essa forma de reconstrução. A utilização de tecido doador delgado, que contemple epiderme e derme após descarte do tecido celular subcutâneo, facilita a nutrição e aumenta as chances de sucesso cirúrgico. 5
A região retroauricular é uma das escolhas mais frequentes como área doadora para a reconstrução de tumores removidos da face. 6 A identificação de outras áreas que apresentem sobra de pele com o processo do envelhecimento, entretanto, faz pensar que a pálpebra superior seria região a ser cogitada como área doadora para enxertos. O tecido palpebral reconhecidamente apresenta a menor espessura de derme e epiderme da face, sendo viável seu uso como enxerto, com garantia de nutrição. 7-9
A blefaroplastia superior é cirurgia de fácil execução por profissional habilitado, passível de realização ambulatorial sob anestesia local e oferece segurança ao paciente.
Neste trabalho descreve-se a utilização do enxerto de pele de pálpebra superior na reconstrução de tumores cutâneos na face.
A técnica descrita foi empregada em 15 tumores de oito pacientes do sexo feminino e quatro do sexo masculino, com idade entre 52 e 64 anos, portadoras de CBCs primários inferiores a 3cm , diagnosticados clinicamente e sitiados na ponta do nariz (quatro) pálpebras inferiores (sete) e dorso nasal (três), pálpebra superior (um). Os tumores foram removidos de forma circular, obedecendo a margens variáveis de três a 4mm. Os 12 pacientes apresentavam sobra de pele na pálpebra superior. Utilizaram-se como critérios de exclusão hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e uso de anticoagulantes ou similares.Os pacientes eram provenientes do Ambulatório de Cirurgia Dermatológica da Santa Casa de Misericórdia do Recife e da clínica privada do investigador.
A sobra de pele da pálpebra superior foi escolhida como área doadora para a reconstrução dos defeitos criados com a remoção dos carcinomas. Para tal, procedeu-se à blefaroplastia superior bilateral conforme a seguinte técnica (Figura 1):
Os tumores retirados dos 12 pacientes foram submetidos à avaliação histológica, com diagnóstico de CBC e demonstração de margens laterais e profundas livres de lesão. Onze pacientes referiram melhora da capacidade visual com a remoção da sobra de pele das pálpebras, e 10 manifestaram receio de sofrer mutilação pela remoção do tumor.Todos informaram estar satisfeitos com o ganho estético que obtiveram tanto pela melhoria das pálpebras, como pela reconstrução do tumor. Os 12 pacientes consideraram de discretas a imperceptíveis as cicatrizes que resultaram da intervenção (Figuras 2-5).Todos os pacientes consideraram pouco doloroso o procedimento e afirmaram que preferiram o método utilizado à realização do procedimento em hospital sob sedação.
Apesar de o autor priorizar a cura do tumor pela remoção cirúrgica total, é relevante o ganho estético que se oferece a esses pacientes com reconstrução menos mutilante.
A possibilidade de reconstruir o defeito gerado pela remoção de um tumor com um enxerto delicado, aderente e de fácil pega, desencadeando com sua remoção um ganho cosmético na área doadora, tem estimulado o autor a optar frequentemente por esse método.
Ele assinala como vantagens dessa opção terapêutica a satisfação do paciente e a segurança do procedimento, apresentando-a como mais uma possibilidade passível de ser utilizada pelo cirurgião dermatológico.
E sugere o tecido da pálpebra superior como boa opção para área doadora de enxerto na reconstrução de tumores da face.
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