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Microagulhamento no vitiligo: Uma revisão sistemática

Masoumeh Roohaninasab1; Kimia Gandomkar2; Azadeh Goodarzi1

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20221400123

Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum
Como citar este artigo: Roohaninasab M, Gandomkar K, Goodarzi A. Microagulhamento no vitiligo: Uma revisão sistemática. Surg Cosmet Dermatol. 2022;14:e20220123.


Abstract

PANORAMA: Esta revisão analisa a literatura sobre técnicas, eficácia e segurança do microagulhamento, para o tratamento do vitiligo.
MÉTODOS: Relatos de casos, séries e ensaios foram pesquisados no PubMed para identificar o tratamento com microagulhamento para vitiligo.
RESULTADOS: Todos os artigos avaliados apresentaram melhora das lesões após o tratamento com microagulhamento. A combinação de microagulhamento e tacrolimo tópico, 5-FU, calcipotriol e betametasona tópicos, NB-UVB com ou sem TFD e solução de triancinolona acetonida apresentou maior eficácia do que microagulhamento em monoterapia.
CONCLUSÃO: O microagulhamento é uma técnica segura e eficiente e uma terapia adjuvante para o tratamento do vitiligo.


Keywords: Vitiligo; Eficácia; Avaliação da eficácia-efetividade das intervenções; Análise; Rejuvenescimento; Dermatologia; Despigmentação; Agulhamento


INTRODUÇÃO

O vitiligo é caracterizado pelo aparecimento de manchas despigmentadas circunscritas que afetam a pele, cabelos e membranas mucosas. A doença tem uma alta taxa de recidiva. Pacientes com vitiligo apresentam baixa autoestima, e a doença afeta negativamente a qualidade de vida.1-3 A prevalência global de vitiligo está entre 0,5% e 2%, com taxas relatadas variando geograficamente, com base em pesquisa autorrelatada realizada na Europa, Japão e Estados Unidos (EUA), que entrevistou participantes com 18 anos ou mais, em uma pesquisa global online.1 A idade média de início desse distúrbio é inferior a 20 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. Devido à ausência de melanócitos da epiderme ou à incapacidade de secretar melanina, a discromia se manifesta como máculas despigmentadas. Isso é causado pela falta da enzima tirosina nos melanócitos, que ativa o processo de formação do pigmento. O impacto psicológico e emocional que esse transtorno acarreta para os pacientes é importante, exigindo a criação de novas opções de tratamento mais adequadas.2 O vitiligo tem uma patogênese complexa e a etiologia precisa ainda não está clara. É sugerido que diferentes fatores, especialmente influências genéticas, estresse, predisposição autoimune, via bioquímica disfuncional e trauma podem atuar sinergicamente no desaparecimento de melanócitos da pele. 4-6

O vitiligo não é “apenas um distúrbio cosmético”: é desafiador pela exclusão social e estigmatização, causando um fardo psicológico esmagador em pacientes afetados.1,2 Seis modalidades terapêuticas múltiplas estão atualmente disponíveis para o tratamento do vitiligo, mas nenhuma delas pode levar à remissão a longo prazo nesta doença imprevisível. O tacrolimo (T) é um dos imunomoduladores tópicos que inibe a calcineurina e tem sido usado com sucesso no tratamento do vitiligo. O tacrolimo inibe a ativação das células T e pode ser usado como adjuvante ou alternativo aos esteroides tópicos para anular os eventos adversos associados que podem resultar de seu uso prolongado.7 O microagulhamento (Ma) possibilitou a entrega de drogas e moléculas de proteínas maiores através da epiderme. O dispositivo possui agulhas finas para criar microcanais na pele. Além disso, o Ma estimula a liberação de fatores de crescimento que são importantes para o rejuvenescimento da pele.8,9 Uma abordagem recente com agulhamento mostrou graus favoráveis de repigmentação.7 Pode ser feito com agulhas de injeção simples ou dispositivos de microagulhamento como rolo manual, dermarollers, dispositivos de canetas com agulhas e de radiofrequencia fracionada.8,9

O microagulhamento é superior a simples agulhas de injeção para controlar a profundidade de penetração e, assim, evitar a dor excessiva durante a injeção.8 Causa uma microinflamação na camada epidérmica que aumenta a migração de melanócitos e queratinócitos e estimula a repigmentação de áreas de vitiligo.10 Além disso, proporciona enxertos bem sucedidos de melanócitos bem sucedidos de áreas pigmentadas para não pigmentadas e aumenta a penetração de agentes tópicos na pele.3,11

Usá-lo como monoterapia ou combinado com injeção terapêutica pode ser um tratamento potencial para o vitiligo. O microagulhamento foi modestamente expandido nos últimos anos sem uma abordagem padronizada. Como não há uma abordagem unificada para o vitiligo, é difícil escolher a modalidade de tratamento correta e prever sua eficácia. Além disso, o microagulhamento é cada vez mais utilizado na prática clínica. Desta forma, torna-se essencial revisar todos os estudos, incluindo ensaios clínicos, para fornecer uma melhor visão aos médicos.

Este trabalho tem como objetivo fornecer um guia atual para a prática com base nas melhores evidências disponíveis de microagulhamento para o tratamento do vitiligo e comparar os diferentes métodos e sua eficácia quando acompanhados de terapias tópicas.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Critérios de elegibilidade

Buscamos estudos elegíveis, sem limitação de status de publicação, que atendessem aos seguintes critérios: (i) ensaios clínicos randomizados (ECRs) envolvendo pacientes com vitiligo; (ii) terapia NB-UVB no grupo de tratamento, combinado ou não a outros tratamentos; (iii) fototerapia (quimio) no grupo controle, independentemente da combinação com outros tratamentos ou não; (iv) medição do grau de repigmentação; e (v) artigos publicados em inglês.

Estratégia de busca

A biblioteca PubMed e Cochrane foram pesquisadas independentemente por dois investigadores usando as combinações abertas “UVB”, “NB-UVB”, “narrow band ultraviolet B”, “vitiligo”, “random”, “randomized control trial” e “RCT”. As buscas foram realizadas para cobrir o período desde a data mais antiga disponível até novembro de 2013. As listas de referências de revisões anteriores, revisões sistemáticas e ensaios também foram verificadas.

Seleção de estudos e extração de dados

Dois pesquisadores selecionaram, independentemente, estudos potencialmente relevantes e determinaram estudos elegíveis. As discordâncias foram resolvidas por consenso. Dois investigadores extraíram independentemente os dados dos estudos incluídos usando formulários padronizados, e um terceiro investigador foi designado para o processo de verificação. Os dados incluíram número e idade dos participantes, duração, tipo ou estágio do vitiligo, sessões de tratamentos, média de sessões de resposta inicial, dose cumulativa de fototerapia total, dose cumulativa de resposta inicial, intervalo de tratamento, intervenções do grupo de tratamento e grupo controle, eficácia e segurança.

Avaliação de qualidade

Os critérios recomendados pelo Cochrane Collaboration Handbook foram usados para avaliar a qualidade metodológica dos estudos incluídos. Foi concentrado principalmente na descrição da randomização (progresso da geração da sequência), ocultação de alocação, cegamento, tratamento de dados de resultados incompletos, relato de resultados seletivos e outras ameaças potenciais à validade.11 A resposta conclusiva para cada um foi “Sim”, indicando “baixo risco de viés”; “Não”, indicando “alto risco de viés”; e “Indefinido”, indicando “falta de informação ou incerteza sobre o potencial de viés”.11 As discordâncias foram resolvidas por consenso com o terceiro investigador.

Medições de desfechos

O desfecho primário foi o grau de repigmentação. Estimamos os ensaios que mencionaram o número de pacientes que atingiram 50%, 60% ou 75% de repigmentação. Os desfechos secundários incluíram: (i) eventos adversos; (ii) média de sessões de resposta inicial; e (iii) dose cumulativa de fototerapia total ou dose cumulativa de resposta inicial.

Análise de dados e métodos estatísticos

Todas as análises estatísticas foram realizadas usando o recurso de entrada de dados duplicados do RevMan 5.0 por dois investigadores. Além de intervalos de confiança (ICs) de 95%, riscos relativos (RRs) foram usados para resultados dicotômicos. A estatística I2 foi calculada para determinar a proporção de variação entre os estudos devido à heterogeneidade. O valor varia de 0 a 100% e valores altos indicam forte heterogeneidade. Se a heterogeneidade for baixa (p 40,1; I 2 550%), um modelo de efeitos fixos era utilizado para análise, caso contrário, um modelo de efeitos aleatórios ou análise de descrição foi usado. O gráfico de funil foi usado para detectar o viés de publicação. P 50,05 foi considerado estatisticamente significativo entre o grupo de tratamento e o grupo controle.

 

RESULTADOS

A busca dos autores identificou 14 artigos científicos de junho de 2016 a maio de 2020, que incluíam coletivamente 328 pacientes. A maioria dos estudos incluídos eram ensaios clínicos. O nível de evidência variou de 1B (2 estudos) e 1C (9 estudos) a 4 (3 estudos)12 (Tabela 1).

Eficácia:

Escala de classificação:

A maioria dos pacientes foi fotografada pré e pós-tratamento usando câmera padrão ou fotos com luz UV. A escala mais comum utilizada para avaliar a repigmentação foi a escala de repigmentação de 5 graus ou Avaliação Global do Médico (Physician’s Global Assessment - PGA), que vai de G0 a G4,11 sendo: G4 = excelente (>75% de repigmentação), G3 = muito bom (50% a 75% de repigmentação), G2 = bom (25% a 50% de repigmentação), G1 = satisfatório (<25% de repigmentação) e G0 = ruim (sem repigmentação).11,13-18 A escala visual analógica foi usada em três estudos.10,18-20 Outros estudos utilizaram a pontuação da Avaliação Global do Investigador (Investigator’s Global Assessment - IGA) e a medida do diâmetro de repigmentação. 21, 22

Monoterapia com microagulhamento:

O microagulhamento baseia-se no princípio de neovascularização e neocolagênese que resultam de micro lesões após a perfuração com agulha.

Usando uma escala de cinco graus para avaliar a repigmentação, dois ensaios clínicos provaram que o microagulhamento é eficaz no tratamento do vitiligo.14,16 Um total de 57 pacientes com vitiligo estável localizado por pelo menos três anos foram incluídos. Creme anestésico tópico (lidocaína) foi aplicado sobre a lesão. Uma dermapen eletrônica com espessura de agulha variando de 1 mm ou 1,5 mm a 2 mm, de acordo com a espessura da pele, foi aplicada até o aparecimento do sangramento. O paciente recebeu de 6 a 12 sessões com intervalo de duas semanas.14,16 Observou-se resposta clínica em 38,5% dos pacientes, dos quais 17,5% tiveram excelente repigmentação. A melhor resposta foi observada na face seguida do tronco.16

Microagulhamento com tacrolimo tópico:

O tacrolimo tópico tem sido utilizado com sucesso no tratamento do vitiligo. Como o microagulhamento aumenta a liberação do fármaco através da barreira cutânea,16 a pomada de tacrolimo foi aplicada após o microagulhamento sob curativo oclusivo por seis horas e os pacientes foram orientados a aplicá-lo uma vez ao dia a cada duas semanas.13,16 Todos os pacientes receberam 12 sessões (com intervalo de duas semanas) de microagulhamento, exceto em um estudo em que os pacientes receberam quatro sessões com intervalo de 15 dias. 3, 15, 16

Microagulhamento combinado com tacrolimo foi mais eficiente do que microagulhamento em monoterapia.16 Uma resposta clínica foi observada em 83,6% (n=97) dos pacientes que receberam terapia combinada.3,13,15,16,23 Os graus de resposta clínica foram: resposta clínica parcial (n=10; 11,6%), G1 (n=14; 16,3%), G2 (n=24; 31,4%), G3 (n=15; 17,4%), G4 (n=4; 4,7%), G2 (n=42; 48,8%), com >24% de repigmentação (n=12; 14%).

A maior taxa de repigmentação foi observada na face (n=12, 70% de repigmentação).3,16 No mesmo estudo, excelente repigmentação (grau G4; >75% de repigmentação) foi registrada em três pacientes com manchas de vitiligo nas pernas, mas esses resultados não foram alcançados nas regiões acrais ou proeminências ósseas.3,13,16 No entanto, Ibrahim et al. mostraram excelentes resultados no vitiligo dos cotovelos (n=3; 83,33% de repigmentação).15

Microagulhamento com calcipotriol tópico mais betametasona:

Um ensaio clínico comparou a eficácia do microagulhamento com calcipotriol (0,05 mg/g) mais betametasona (0,5 mg) versus tacrolimo no tratamento do vitiligo. Manchas simétricas nos cotovelos, joelhos, extremidades e áreas acrais foram tratadas com microagulhamento a cada duas semanas por 12 sessões, e calcipotriol mais betametasona ou tacrolimo foi aplicado imediatamente após o procedimento.15

O microagulhamento com calcipotriol tópico mais betametasona foi superior ao microagulhamento com tacrolimo no tratamento do vitiligo. A terapia demonstrou respostas clínicas mais precoces e menos sessões foram necessárias. Uma repigmentação significativamente maior foi observada nas manchas tratadas nas extremidades.15 Excelentes resultados foram observados no cotovelo (n=3; 99% repigmentação) e extremidades (n=8; 83,3% repigmentação), resultados moderados nas áreas acrais (n= 6; 50% de repigmentação) e os joelhos tiveram as menores taxas de repigmentação (n=8; 67,5% de repigmentação).15

Microagulhamento com latanoprosta e NB-UVB:

A eficácia do microagulhamento em combinação com latanoprosta e NB-UVB foi investigada em manchas de vitiligo resistentes.21 Os pacientes foram divididos em dois grupos: microagulhamento (quatro sessões com intervalo de uma semana) com latanoprosta e NB-UVB e latanoprosta com NB-UVB sem microagulhamento. A solução tópica de latanoprosta (0,005%) foi aplicada imediatamente após o microagulhamento. Em seguida, os pacientes receberam prescrição de NB-UVB no período entre as sessões de microagulhamento. 37,8% das manchas tratadas apresentaram repigmentação satisfatória a muito boa, porém não houve diferença estatisticamente significativa na repigmentação entre os dois grupos.

Outro estudo piloto confirmou a eficácia da latanoprosta combinada com NB-UVB, porém os autores não puderam concluir se o microagulhamento melhorou ainda mais o resultado terapêutico.23

Microagulhamento em combinação com 5-FU:

Dois estudos avaliaram a eficácia do microagulhamento e do 5-FU. Os pacientes receberam 6 ou 12 sessões de microagulhamento com intervalos de duas semanas.13,14,20 Após o microagulhamento, a solução de 5-FU (5%) foi aplicada topicamente sobre as áreas afetadas e coberta com curativo oclusivo por um dia.13, 14 O paciente foi aconselhado a aplicar 5-FU uma vez ao dia por duas semanas.13

Atwa et al. demonstraram que a combinação de microagulhamento com 5-FU produziu melhores resultados do que a monoterapia com microagulhamento, aumentando sua eficácia em 3,8 vezes.14

O segundo objetivo do estudo foi comparar a eficácia do microagulhamento com 5-FU versus sua eficácia com o tacrolimo. Este estudo indicou que a combinação de 5-FU com microagulhamento tem melhores resultados com excelente repigmentação e maior número de resposta clínica do que a combinação com tacrolimo.13 O 5-FU apresentou resultados excelentes a bons em 40% das áreas acrais (repigmentação >75%) e em 57,1% nas proeminências ósseas (cotovelo e joelhos).13

Relatos de casos semelhantes mostraram repigmentação completa nas áreas acral, face e costas tratadas com 5-FU e microagulhamento.19, 20

Microagulhamento com NB-UVB e TFD, ou com triancinolona acetonida:

Um ensaio clínico randomizado avaliou a eficácia adicional da terapia fotodinâmica (TFD) no microagulhamento e na terapia com NB-UVB na área acral. Como o NB-UVB é considerado padrão ouro no tratamento do vitiligo, foi aplicado duas vezes por semana durante três meses para o tratamento da doença. Além disso, os pacientes receberam três sessões de microagulhamento com intervalo de três semanas e, em seguida, um grupo desses pacientes recebeu ácido 5-aminolevulínico 10% (aplicado sob cobertura por duas horas) e foi exposto à TFD com luz vermelha (630 nm) por oito minutos (37 J/cm2).10 Este estudo não comprovou qualquer eficácia adicional da TFD à terapia com microagulhamento e 40% dos pacientes tiveram resposta clínica versus 60% no outro grupo (microagulhamento + NB-UVB).10

Outro estudo clínico comparou a eficácia do microagulhamento sozinho ou com NB-UVB versus NB-UVB sozinho. Essa pesquisa comprovou que o agulhamento e NB-UVB produziram melhores resultados quando combinados.17 A repigmentação foi observada em todos os pacientes tratados com terapia combinada e em 80% dos pacientes tratados com NB-UVB ou microagulhamento em monoterapia.17 O grau de repigmentação em cada grupo foi: monoterapia com NB-UVB: G1 (n=6), G2 (n=6) e G3 (n=4); microagulhamento e solução de triancinolona acetonida: G1 (n=3), G2 (n=4), G3 (n=6) e G4 (n=3); combinação das duas modalidades: G1 (n=1), G2 (n=5), G3 (n=8) e G4 (n=6).

Microagulhamento versus abrasão com laser de não fracionado para enxerto autólogo de suspensão de células em vitiligo não segmentar:

A comparação de microagulhamento e dermoabrasão laser de erbio não fracionado de superfície total para enxerto autólogo de suspensão de células em vitiligo não segmentar mostrou que o agulhamento sozinho foi ineficaz para preparar o leito de enxerto, e nenhum dos pacientes tratados com microagulhamento teve repigmentação.11 Melhores resultados foram alcançados com dermoabrasão assistida por laser seguido de suspensão em ácido hialurônico onde 50% dos pacientes tiveram excelente repigmentação.11

Microagulhamento com ácido tricloroacético 70% versus 5-FU:

Um estudo comparativo prospectivo avaliou a eficácia do ácido tricloroacético (TCA) com microagulhamento versus 5-FU em áreas de vitiligo não segmentar. No primeiro grupo, o TCA foi aplicado imediatamente após os pacientes serem submetidos ao microagulhamento até o aparecimento de frosting espuma uniforme branco marfim.18 No segundo grupo, uma injeção de 0,01-0,02 ml de 5-FU foi aplicada por via intradérmica em áreas de vitiligo em intervalos de 1 cm com um máximo de 250 mg por sessão. Ambos os grupos receberam tratamento a cada duas semanas por dois meses.18

Nenhuma diferença significativa foi observada entre os pacientes tratados com TCA e 5-FU. Em ambos os grupos, 43,8% dos pacientes tiveram melhora de boa a excelente (repigmentação > 50%).18

Transplante capilar e laser de CO2 ou microagulhamento seguido de NB-UVB:

Um estudo piloto comparou a eficácia do transplante capilar e do laser de CO2 ou microagulhamento seguido de NB-UVB no tratamento de vitiligo palmo-plantar estável e refratário.22 Os autores compararam duas abordagens de tratamento em lesões de vitiligo simétricas e comparáveis. Enxertos foliculares pigmentados foram colhidos do couro cabeludo e transplantados em lesões de vitiligo no dia 0. Nos dias 30±4 e 60±4, as lesões do lado esquerdo receberam receberam aplicações únicas com um laser de CO2 fracionado, MX-7000 (10.600 nm, pulso de 100 MJ de energia e 200 pontos/cm3 em modo estático) e lesões do lado direito receberam microagulhamento (1,5 mm a 2 mm) até o aparecimento do sangramento. Em ambos os lados, foi utilizada anestesia tópica com lidocaína-prilocaína antes da intervenção. Nos dias 30±4 e 60±4 após o tratamento primário) tirar o q esta entre parenteses.

A pomada de sulfadiazina de prata foi aplicada em ambos os lados, duas vezes ao dia por cinco dias e ambos os lados receberam NB-UVB no dia 4.22

Nenhuma diferença estatisticamente significativa foi observada entre ambos os lados e ambos tinham diâmetro de repigmentação de 0,25 mm.22

Satisfação do paciente:

A maioria (83,3%) dos pacientes tratados com microagulhamento e tacrolimo tópico ficou satisfeita com o resultado do tratamento.3 Uma porcentagem maior de pacientes (92%) ficou satisfeita com a terapia tópica com calcipotriol e betametasona.15

A combinação de microagulhamento com 5-FU rendeu excelentes resultados com bom índice de satisfação no estudo de Kumar et al.20

O microagulhamento com solução de triancinolona acetonida produziu uma taxa de satisfação de razoável a excelente em 55% dos pacientes, enquanto a combinação de microagulhamento e solução triancinolona acetonida com NB-UVB aumentou essa porcentagem para 75%.

Altas taxas de satisfação foram observadas em pacientes tratados com transplante capilar e laser de CO2 ou microagulhamento seguido de NB-UVB.22

Avaliação histológica:

Foi realizada biópsia de pele das lesões pré e pós-tratamento para avaliação histológica. As biópsias foram coradas por hematoxilina e eosina de rotina (H&E) e depois com HMB45 para detectar quaisquer alterações patológicas ou imunohistoquímicas. Lesões tratadas com microagulhamento e tacrolimo apresentaram maior expressão do que monoterapia com microagulhamento ou tacrolimo.16 Esses resultados foram consistentes com a evolução clínica. A comparação entre microagulhamento e tacrolimo e entre microagulhamento e 5-FU apresentou melhores resultados em pacientes tratados com microagulhamento e 5-FU.13

Além disso, lesões tratadas com microagulhamento com dermapen e calcipotriol tópico mais betametasona apresentaram maior expressão do que aquelas tratadas com microagulhamento e tacrolimo tópico.15

Eventos adversos:

Nenhum dos pacientes apresentou eventos adversos graves relacionados ao tratamento com microagulhamento. Os eventos adversos pós-procedimento foram: dor,11,14-17,22 eritema,15,16,22 hiperpigmentação,13 prurido,14,16 ulceração,13 inflamação,13 e esfoliação.15

Nenhuma complicação foi observada em 18,6% dos pacientes tratados com tacrolimo e microagulhamento (n=26).3,13 Apenas eritema leve, prurido e dor foram observados em pacientes sintomáticos.15,16,23 A maioria dos pacientes (56,2%) tratados com TCA e 5-FU não apresentaram eventos adversos. Os eventos adversos relatados com TCA foram: bolha (n=1), queimação (n=2) e hiperpigmentação perilesional (n=4). Aqueles com 5-FU foram: desconforto (n=2) e infecção (n=3).18

Nível de dor significativamente maior foi observado em pacientes tratados com dermoabrasão assistida por laser em comparação com pacientes tratados com microagulhamento.

 

DISCUSSÃO

Recentemente, tem havido um interesse crescente no uso de microagulhamento para distúrbios da pele. O tratamento consiste em um rolo com agulhas finas e curtas. Essas microagulhas criam micro lesões e ativam a cascata de cicatrização de feridas com liberação de vários fatores, incluindo fator de crescimento derivado de plaquetas (PGF), fator de crescimento transformador alfa e beta (TGF-α e TGF-β), proteína ativadora do tecido conjuntivo, fator de crescimento do tecido conjuntivo e fator de crescimento de fibroblastos (FGF).24 Esses fatores aumentam a secreção de colágeno pelos fibroblastos e estimulam a migração de melanócitos para manchas não pigmentadas.10

O vitiligo é uma doença crônica caracterizada por manchas brancas despigmentadas e causadas pela destruição de melanócitos.4,25 Essas manchas ocorrem principalmente nas extremidades e são conhecidas por serem resistentes às terapias convencionais, daí a importância de encontrar uma modalidade de tratamento eficaz para essas áreas difíceis de serem tratadas.26,27 A prevalência mundial é de 1%, ocorrendo principalmente antes dos 20 anos e afetando ambos os sexos igualmente.4, 28-31

A perda de melanócitos causada pelo vitiligo pode ser tratada com microagulhamento. Este último pode potencialmente estimular os melanócitos e a pigmentação da pele, criando micro lesões que levam à liberação de fatores de crescimento.10,32 Assim, o microagulhamento sozinho pode atuar como monoterapia para o vitiligo, aumentando a liberação transdérmica de drogas de opções de tratamento tópico e, portanto, induzindo uma melhor repigmentação quando combinado com esses tratamentos tópicos..

O microagulhamento é um tratamento relativamente novo em dermatologia e tem sido apontado para muitas doenças da pele, como vitiligo, cicatrizes de acne e rejuvenescimento da pele. Este artigo enfatizou todos os estudos publicados que avaliaram a eficácia do microagulhamento no tratamento do vitiligo. O microagulhamento mostrou-se eficiente em todos esses estudos, porém o grau de eficácia variou de acordo com os tratamentos associados. Houve inconstância na escala utilizada para avaliar a eficácia do microagulhamento em monoterapia e bioterapia, porém é evidente que a combinação de microagulhamento e tacrolimo tópico, 5-FU, calcipotriol e betametasona tópicos, NB-UVB com ou sem TFD, ou solução de triancinolona acetonida foi mais eficiente em comparação com a monoterapia com microagulhamento. Por outro lado, o microagulhamento não foi eficiente para enxertia em suspensão de células autólogas e não apresentou resposta clínica. Além disso, não mostrou benefício adicional em pacientes tratados com latanoprosta e NB-UVB.21

Nenhum evento adverso com risco de vida foi relatado. Comparado aos lasers, o microagulhamento causou significativamente menos dor.11,33

Os resultados da taxa de satisfação não foram conclusivos, pois apenas quatro estudos a descreveram. A maior taxa de satisfação foi observada no microagulhamento combinado com calcipotriol tópico e betametasona, ou NB-UVB e triancinolona.

Existem muitas limitações neste estudo. Devido à falta de uniformidade dos estudos, uma metanálise não pôde ser realizada e este estudo foi limitado a uma forma de dados agrupados. A grande variabilidade entre a escala utilizada para medir a satisfação e a taxa de repigmentação, o escasso número de pacientes acompanhados restringiu nossa comparação interestudos. Neste estudo, foram incluídos apenas os dados publicados da base de dados acima mencionada, o que também é uma limitação.

Os autores deste artigo publicaram muitos estudos sobre o vitiligo e seus tratamentos, portanto, o microagulhamento no vitiligo parece ser um tema interessante para se trabalhar.29-37

 

CONCLUSÃO

À luz do conhecimento atual, o microagulhamento parece ser uma terapia adjuvante segura aos tratamentos de rotina e é um procedimento eficiente e tolerável para o tratamento do vitiligo, podendo ser um valor agregado em manchas resistentes ou áreas de difícil tratamento, como as extremidades, especialmente quando usado em combinação com agentes tópicos.

Padronização adicional de protocolos de dosagem de tratamento e mais ensaios clínicos randomizados são necessários para estabelecer um consenso sobre o uso de microagulhamento no vitiligo. Com base no resultado, a combinação de microagulhamento e tacrolimo tópico, 5-FU, calcipotriol e betametasona tópicos, NB-UVB com ou sem TFD ou solução de triancinolona acetonida foi mais eficiente em relação à monoterapia com microagulhamento. No entanto, não houve uma escala específica entre todos os estudos para comparar os resultados e sugere-se que mais estudos com um único critério sejam feitos para medir a eficácia e satisfação dos pacientes com o tratamento.

 

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Centro de Desenvolvimento de Pesquisa Clínica do Complexo Médico Rasool Akram (RCRDC), especialmente à Sra. Farahnaz Nikkhah por sua assistência técnica e editorial.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Masoumeh Roohaninasab 0000-0002-2862-6422
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação de pesquisa; participação intelectual na conduta propedêutica e/ou terapêutica dos casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Kimia Gandomkar 0000-0002-3901-6718
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; coleta, análise e interpretação dos dados; participação intelectual na conduta propedêutica e/ou terapêutica dos casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Azadeh Goodarzi 0000-0002-1249-4429
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; coleta, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação de pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

 

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