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Como eu faço ?

Transplante capilar com técnica FUE: como eu faço?

Luciana Takata Pontes; Antonio Ruston

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20221400128

Data de submissão: 02/02/2022
Decisão Final: 21/02/2022


Fonte de financiamento: Nenhuma
Conflito de interesses: Nenhum
Como citar este artigo: Pontes LT, Ruston A. Transplante capilar com técnica FUE: como eu faço? Surg Cosmet Dermatol. 2022;14:e20220128.


Abstract

O transplante capilar moderno está em constante evolução, e nossa intenção não é apenas demonstrar nossas técnicas e metodologias, mas, principalmente, descrever a dinâmica de todo o processo cirúrgico da técnica FUE (Follicular Unit Extraction), desde a discussão da estratégia cirúrgica com o paciente e a avaliação da área doadora até extração e implantação. É de extrema importância que o dermatologista compreenda a complexidade do procedimento e a necessidade de um treinamento adequado para que um bom resultado seja alcançado.


Keywords: Alopecia; Cabelo; Folículo piloso


INTRODUÇÃO

O transplante capilar não é um procedimento simples. Independentemente da técnica, há necessidade de uma equipe treinada e de um cirurgião apto e experiente para que melhores resultados sejam alcançados.

Inicialmente, o que era realizado por meio de grandes retalhos evoluiu para os enxertos com punchs maiores para, só então, chegarmos aos refinados transplantes de unidades foliculares. A identificação da unidade folicular (UF) como estrutura particular dos folículos pilosos foi essencial para se atingir o resultado mais natural.1

Na técnica FUT (Transplante de Unidade Folicular), há retirada de uma faixa de couro cabeludo na região doadora occipital, podendo-se chegar até as regiões temporais, e as UFs são separadas no microscópio. Na FUE, as UFs são retiradas individualmente de toda a área doadora segura em que não haja risco de miniaturização. São utilizados punchs com diâmetros que variam de 0,8 a 1,0mm na maioria dos casos. Essas microincisões cicatrizam-se por segunda intenção, não havendo necessidade da realização de sutura.1

O transplante capilar moderno está em constante evolução, e nossa intenção não é apenas demonstrar nossas técnicas e metodologias, mas, principalmente, descrever a dinâmica de todo o processo cirúrgico da técnica FUE, desde a discussão da estratégia cirúrgica com o paciente e avaliação da área doadora até extração e implantação.

 

MÉTODOS

1 - Planejamento cirúrgico

Na sala pré-operatória, são feitas fotos com os cabelos compridos, secos e depois molhados para melhor avaliação da área de rarefação. Discute-se com o paciente a estratégia cirúrgica (como altura do hairline e áreas de prioridade), alinhando expectativa com o que é possível em cada caso.2 Raspam-se, então, os cabelos do paciente entre 0,5 a 1,0mm, e novas fotos são feitas (Figura 1). Nos casos de rarefação, apenas nas entradas (Norwood-Hamilton 2) pode-se optar pela raspagem estilo militar (Figura 2).

2 - Avaliação da área doadora

Para avaliação da área doadora, são retiradas amostras de cabelos das regiões occipital, parietal e temporal. Um micrômetro digital é utilizado para avaliação da espessura desses fios (Figura 3) para que se possa realizar o cálculo do Coverage Value (CV), um software que determina quantas UFs podem ser extraídas sem que haja rarefação visível da área doadora.

Esta é dividida em cinco subunidades e, com um dermatoscópio acoplado em um tablet, são feitas as documentações fotográficas (Figura 4). Tanto a medida em centímetros quanto as fotografias são enviadas para o Coverage Value Software (Asmed Hair Transplant, Istambul). É calculado o valor aproximado de UFs/cm2 e fios/cm2 em cada subunidade, e um relatório é gerado, fornecendo informações para o manejo durante a extração como, por exemplo, valor aproximado de UFs para futuras cirurgias e em quais áreas podemos ser mais agressivos sem depleção da área doadora e sem comprometimento cosmético da mesma (Figuras 4 e 5).

3 - Anestesia

A infiltração anestésica e bloqueio regional são realizados com lidocaína 2% com vasoconstritor de forma extremamente lenta e associados a um estímulo vibratório para minimizar o desconforto.3 Uma solução tumescente é utilizada tanto na área doadora quanto na receptora.

4 - Extração

O primeiro passo consiste em decidir a profundidade do punch. Iniciamos a extração com uma profundidade de 3,0 a 3,5mm. Se houver capping (a epiderme é retirada, porém o folículo se mantém preso), provavelmente é porque o punch está muito superficial (Figura 6). Já se o enxerto sofrer transecção e ficar preso dentro do punch é porque este está muito profundo.4

O próximo passo é decidir o melhor diâmetro do punch. A escolha dependerá das características do enxerto, como grau de ondulação, nível de abertura e o modo como os folículos estão distribuídos em cada unidade folicular. Realizamos uma extração-teste de aproximadamente 50 enxertos com cada um e avaliamos o coeficiente de fios/UF e a taxa de transecção.5 Para a maioria dos pacientes, utilizamos punchs de 0,8 a 0,9mm.

Iniciamos o procedimento com o paciente na posição pronada para extração da região occipital. Depois, movemos o paciente lateralmente para extração das regiões parietais e temporais.

O aparelho que usamos na nossa prática é o Trivellini Mamba FUE device (Trivellini Tech, Paraguai), pois, por meio dele, pode-se determinar, caso a caso, o tempo de rotação seguido pelo tempo de oscilação do punch durante a perfuração cutânea, diminuindo as taxas de transecção dos bulbos foliculares.6,7 Após a perfuração, os enxertos são extraídos com duas pinças delicadas. Uma mais fina e reta para segurar a epiderme e outra serrilhada para retirar o enxerto propriamente dito.8

5 - Controle de qualidade e limpeza dos enxertos

Todos os enxertos são revisados no microscópio, sendo estes separados em UFs de 1, 2, 3 ou mais fios, e são calculadas as taxas de transecção total e parcial. A equipe limpa os enxertos, retirando o excesso de epiderme, pois, assim, há menor formação de crostas no pós-operatório, além de possibilitar uma maior densidade final, já que é possível colocar esses enxertos mais próximos uns dos outros.

6 - Armazenamento

As UFs são separadas em frascos de acordo com a área extraída e a quantidade de fios presentes (1, 2, 3 ou mais fios). Os primeiros enxertos retirados são os primeiros a ser implantados, diminuindo ao máximo o tempo fora do organismo. São armazenados em uma geladeira específica (4oC) em soro fisiológico. Umidificadores de ar são utilizados durante todo o procedimento.

7 - Implantação: incisões prévias

Preferimos a realização de incisões prévias na área receptora com lâminas personalizadas de 0,65 a 0,90mm de largura. Segue-se uma ordem específica: 1) A linha frontal irregular com duas a três fileiras de UFs de um fio; 2) Zona de transição com UFs de dois fios); 3) Zona de definição com UFs de três ou mais fios; 4) Outras regiões de calvície ou afinamento.9,10 É importante medir o comprimento dos enxertos e reduzir em 1mm a profundidade da incisão. Isso permite que a epiderme fique um pouco acima da superfície cutânea, diminuindo a foliculite pós-operatória e as cicatrizes irregulares.

8 - Colocação do enxerto: uso do KEEP

Nos últimos cinco anos, temos utilizado os implantes tipo KEEP (Figura 7). Esta ferramenta possui uma ponta especial que protege o enxerto durante a colocação, evitando traumatizá-lo. Com um movimento de rotação, o enxerto é encaixado dentro da ponta do KEEP; em seguida, o enxerto é suavemente deslizado para a incisão prévia, com o auxílio de uma pinça. Implantadores KEEP vêm em tamanhos diferentes para a colocação de UFs com número diferente de fios.

 

RESULTADOS

Após o término do procedimento, toda a área cirúrgica é limpa com soro fisiológico. Não deixamos nenhum tipo de curativo. O paciente é encaminhado para a sala de repouso onde são dadas todas as orientações e medicações pós-operatórias. Avaliamos o paciente no dia seguinte para lavagem do couro cabeludo e reorientação. Obtemos o resultado intermediário em torno de seis meses e o resultado final em um ano (Figura 8).

 

DISCUSSÃO

Apesar de ser um procedimento superficial, a cirurgia de transplante capilar tipo FUE exige que o cirurgião esteja atento a todas as fases do procedimento, levando em consideração não apenas o tratamento da área calva receptora, mas também o máximo de preservação da área doadora para melhor resultado para o paciente.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Luciana Takata Pontes 0000-0002-9383-0569
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Antonio Ruston 0000-0003-0067-9255
Participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura.

 

REFERÊNCIAS:

1. Jimenez F, Alam M, Vogel JE, Avram M. Hair transplantation: basic overview. J Am Acad Dermatol. 2021;85(4):803-14.

2. Shapiro R, Shapiro P. Hairline design and frontal hairline restoration. Facial Plast Surg Clin North Am. 2013;21(3):351-62.

3. Lam SM. Hair transplant and local anesthetics. Clin Plast Surg. 2013;40(4):615-25.

4. Bernstein RM, Rassman WR, Seager D, Shapiro R, Cooley JE, Norwood OT, et al. Standardizing the classification and description of follicular unit transplantation and mini-micrografting techniques. The American Society for Dermatologic Surgery, Inc. Dermatol Surg. 1998;24(9):957-63.

5. Radwanski HN, Ruston A, Lemos RG. Cirurgia da calvície: um histórico. In: Transplante Capilar: arte e técnica. São Paulo: Roca; 2011.

6. Trivellini, R. The trivellini system and technique. Hair transplant forum international september 2018;28(5):188-90.

7. Schambach, M. Why I switched to a multiphasic device. Hair transplant forum international november 2018;28(6):224-6.

8. Unger RH, Wesley CK. Technical insights from a former hair restoration surgery technician. Dermatol Surg. 2010;36(5):679-82.

9. Shapiro R. Principles and techniques used to create a natural hairline in surgical hair restoration. Facial Plast Surg Clin North Am. 2004;12(2):201-17.

10. Nakatsui T, Wong J, Groot D. Survival of densely packed follicular unit grafts using the lateral slit technique. Dermatol Surg. 2008;34(8):1016-22.


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