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Relato de caso

Microagulhamento para tratamento de alopecia de padrão feminino: relato de caso e alterações histopatológicas

Flávia Machado Alves Basilio1; Fabiane Mulinari Brenner1; Betina Werner2

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2022140074

Data de submissão: 15/06/2021
Decisão final: 05/08/2021


Fonte de financiamento: Nenhuma
Conflito de interesse: Nenhuma
Como citar este artigo: Basilio FMA, Brenner FM, Werner B. Microagulhamento para tratamento de alopecia de padrão feminino: relato de caso e alterações histopatológicas. Surg Cosmet Dermatol. 2022;14:e20220074


Abstract

O microagulhamento tem sido tradicionalmente usado para induzir a formação de colágeno. No couro cabeludo, foi observado que estimula a fase anágena e o ciclo capilar, mas faltam estudos que demonstrem as alterações histopatológicas após o procedimento. Relatamos o caso de uma mulher de 37 anos com história de alopecia de padrão feminino há 15 anos, com rarefação difusa proeminente na região fronto-parietal e miniaturização capilar observada à dermatoscopia. A condição permaneceu estável por 7 anos com uso de espironolactona e minoxidil tópico. A paciente foi submetida a três sessões de microagulhamento no couro cabeludo em intervalos mensais. A análise histopatológica foi realizada antes das sessões e um mês após a última sessão. O padrão de alopecia permaneceu o mesmo, sem alterações significativas na contagem de folículos após as intervenções, apesar de discreta melhora clínica e dermatoscópica. Não foram observados tratos fibrosos ou inflamação após o procedimento. A análise histopatológica é importante para avaliar a segurança do microagulhamento do couro cabeludo em curto e longo prazo, para investigar sinais como inflamação e fibrose, bem como para determinar a eficácia deste procedimento no tratamento da alopecia, e estudos com maior número de casos são necessários.


Keywords: Alopecia; Patologia; Terapêutica


INDRODUÇÃO

O microagulhamento tem sido usado tradicionalmente para indução de colágeno em cicatrizes faciais e para o rejuvenescimento da pele. As microferidas induzem o processo de cicatrização e criam microcanais transdérmicos através do estrato córneo, aumentando a permeabilidade para medicamentos de moléculas pequenas. Recentemente, a regeneração dos folículos capilares e a retomada da fase anágena também foram observadas após esta terapia.1,2

A regeneração do cabelo é essencial não apenas para o tratamento da alopecia, mas também na cicatrização de feridas e na regeneração da pele. As células-tronco epidérmicas dos folículos capilares são os principais fornecedores de proliferação de queratinócitos na pele ferida.3 A regeneração da lesão é retardada quando os folículos capilares estão ausentes e é mais rápida na pele com fios anágenos em comparação com a pele com fios telógenos.3

Esses achados levaram ao uso do microagulhamento para estimular o crescimento do folículo capilar na alopecia androgenética (AAG) e, possivelmente, modular o ciclo capilar. Mas até agora, nenhum estudo documentou alterações histopatológicas após o microagulhamento do couro cabeludo para a AAG.

 

RELATO DE CASO

Paciente de 37 anos de idade com história de 15 anos de queda progressiva do cabelo. Ela também tinha anemia perniciosa e hipotireoidismo, e estava sendo tratada com vitamina B12 e levotiroxina. O afinamento difuso do cabelo era proeminente nas áreas frontal e parietal. A tricoscopia demonstrou miniaturização, aumento das unidades foliculares de cabelo único e pontos amarelos na área frontal (em comparação com a área occipital). O teste de tração foi negativo. A queda de cabelo ficou estável após o tratamento com 150 mg/dia de espironolactona e minoxidil tópico 5% por sete anos. Porém, a paciente estava insatisfeita com a densidade do cabelo. Desta forma, realizou-se microagulhamento do couro cabeludo com um dispositivo de rolo de 2,0 mm em intervalos mensais.

Observou-se leve melhora clínica e dermatoscópica após três sessões, conforme mostrado nas Figuras 1A e 1B. Duas biópsias com punch de 4 mm foram realizadas antes do tratamento do couro cabeludo central e parietal, e outra biópsia foi realizada próximo ao primeiro local um mês após a terceira sessão. O exame histopatológico de todas as amostras usando cortes transversais não demonstrou mudanças significativas na contagem folicular antes e depois da intervenção, com persistência do padrão visto na alopecia androgenética feminina (baixa relação terminal:fio velus). Leve infiltrado linfocítico inflamatório foi observado na derme superficial ao redor dos folículos após os procedimentos de microagulhamento; nenhuma fibrose significativa foi observada. (Figuras 2A, 2B, 2C, 2D).

 

DISCUSSÃO

Acredita-se que o microagulhamento aumente o crescimento do cabelo na alopecia, ampliando o fator de crescimento derivado das plaquetas, fatores de crescimento epidérmico e ativação do bulge.1 Também observou-se superexpressão de proteínas Wnt após o microagulhamento.4 A ativação da via de sinalização Wnt⁄b-catenina é importante para iniciar e manter a morfogênese do cabelo.5 Wnt10b é responsável pela proliferação e manutenção da capacidade de promoção da tricogênese, enquanto Wnt3a está envolvido no crescimento do folículo piloso e na homeostase dos melanócitos. Na AAG, os andrógenos regulam negativamente os fatores secretados envolvidos na diferenciação das células-tronco do folículo capilar normal, inibindo a via de sinalização Wnt.5

O microagulhamento tem sido considerado um fator de aumento dos resultados clínicos de longo prazo na AAG. O microagulhamento semanal associado à aplicação diária de minoxidil tópico 5% demonstrou aumentar o crescimento do cabelo após 12 semanas e, quando o procedimento foi associado a 1 mg de finasterida e minoxidil tópico 5%, ele demonstrou resultados persistentes após 18 meses de acompanhamento.4,6 No entanto, ainda é desconhecido se o microagulhamento por si só é capaz de induzir a resposta terapêutica desejada na AAG.

Um efeito adverso preocupante no couro cabeludo é a fibrose perifolicular, que pode prejudicar o crescimento do cabelo.2 No caso aqui relatado, o microagulhamento não resultou em melhora clínica ou dermatoscópica inequívoca. A ligeira melhora clínica não foi correlacionada com o diâmetro médio do cabelo e a contagem de cabelos na avaliação histopatológica. No entanto, nenhuma inflamação significativa nem cicatrizes foram detectadas após o procedimento, neste caso refutando a hipótese de que a fibrose poderia ser induzida pelo microagulhamento.

Novos estudos com maior número de casos são necessários para demonstrar o efeito terapêutico do microagulhamento na AAG. Avaliações histopatológicas como parte desses estudos podem ajudar a determinar a segurança e eficácia deste procedimento no couro cabeludo em curto e longo prazo.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Flávia Machado Alves Basilio 0000-0001-7426-9879
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; coleta, análise e interpretação de dados; participação efetiva na orientação de pesquisa; participação intelectual na conduta propedêutica e/ou terapêutica dos casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Fabiane Mulinari Brenner 0000-0001-7970-522X
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; coleta, análise e interpretação de dados; participação efetiva na orientação de pesquisa; participação intelectual na conduta propedêutica e/ou terapêutica dos casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Betina Werner 0000-0002-9671-5603
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação de pesquisa; participação intelectual na conduta propedêutica e/ou terapêutica dos casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

 

REFERÊNCIAS:

1. Fertig RM, Gamret AC, Cervantes J, Tosti A. Microneedling for the treatment of hair loss? J Eur Acad Dermatol Venereol. 2018;32(4):564-9.

2. Kim YS, Jeong KH, Kim JE, Woo YJ, Kim BJ, Kang H. Repeated microneedle stimulation induces enhanced hair growth in a murine model. Ann Dermatol. 2016;28(5):586-92.

3. Ansell DM, Kloepper JE, Thomason HA, Paus R, Hardman MJ. Exploring the "hair growth-wound healing connection": anagen phase promotes wound re-epithelialization. J Invest Dermatol. 2011;131(2):518-28.

4. Dhurat R, Sukesh M, Avhad G, Dandale A, Pal A, Pund P. A randomized evaluator blinded study of effect of microneedling in androgenetic alopecia: a pilot study. Int J Trichology. 2013;5(1):6-11.

5. Leirós GJ, Attorresi AI, Balañá ME. Hair follicle stem cell differentiation is inhibited through cross-talk between Wnt/β-catenin and androgen signalling in dermal papilla cells from patients with androgenetic alopecia. Br J Dermatol. 2012;166(5):1035-42.

6. Dhurat R, Mathapati S. Response to microneedling treatment in men with androgenetic alopecia who failed to respond to conventional therapy. Indian J Dermatol. 2015;60(3):260-3.


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