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Relato de casos

Tratamento eficaz de xantelasma palpebrarum com laser Er:YAG

Cleide Garbelini-Lima; Gabriela Evangelista de Almeida; Talita Fernandes Picanço e Souza; Alcidarta dos Reis Gadelha; Ilner de Souza e Souza

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20201243731

Data de recebimento: 04/10/2020
Data de aprovação: 09/02/2021
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum
Trabalho realizado na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Manaus (AM), Brasil


Abstract

Este estudo demonstrou o excelente resultado do tratamento de xantelasma palpebrarum recidivado com laser ablativo. A paciente foi submetida a uma única sessão de laser Érbio: ítrio-alumínio-granada (Fotona®) 2940nm, e registros fotográficos foram realizados com Vectra® H2 2019 antes e após o procedimento. O tratamento com laser mostrou resultados clínicos satisfatórios, boa tolerabilidade álgica, recuperação precoce, quando comparado a procedimentos cirúrgicos, e menor tempo de afastamento das atividades laborais.


Keywords: Lasers; Lasers de Estado Sólido; Recidiva; Xantelasma palpebraum


INTRODUÇÃO

O xantelasma palpebrarum (XP) é uma doença benigna da pálpebra e região periorbital.1 É caracterizado por pápulas e placas poligonais amareladas e finas, que ocorrem mais comumente na área próxima ao canto medial da pálpebra superior. As lesões podem ser únicas ou múltiplas e, neste último caso, tendem a ser simétricas.2,3

Pertence ao grupo dos xantomas e é a apresentação cutânea mais comum. Outros locais que podem ser afetados incluem pescoço, tronco, ombros e axilas.3 Acomete mais comumente idosos, com predileção pelo sexo feminino.4

O mecanismo patogênico exato não é totalmente compreendido, porém sabe-se que o xantelasma cutâneo representa a deposição de tecido conjuntivo fibroproliferativo associado a histiócitos lipídicos, também conhecidos como células espumosas. Histologicamente, as células espumosas são tipicamente encontradas na derme média, superficial e perianexial, associadas a fibrose e inflamação. Não há associação entre xantelasmas e níveis de lipoproteína ou triglicerídeos de alta densidade. 3

O XP é tipicamente assintomático, sem relatos de complicações cutâneas, mas devido à insatisfação estética e ao prejuízo psicológico deve ser tratado de maneira eficaz.

Os tratamentos mais comumente citados na literatura são a aplicação de ácido tricloroacético (TCA) tópico a 50 e 70%, excisão cirúrgica e ablação a laser, sendo que as evidências científicas são limitadas quanto ao tratamento mais eficaz.3 Efeitos colaterais, como ectrópio, hipo ou hiperpigmentação pós-inflamatórias, infecção e defeitos na cicatrização, são possíveis, dependendo da técnica escolhida, além de elevada taxa de recidiva.

O laser ablativo é uma terapia direcionada para XP. O mecanismo de ação proposto é a destruição de células espumosas perivasculares ​​por dano térmico e coagulação dos vasos dérmicos, bloqueando o vazamento de lipídios para o tecido, impedindo assim a recorrência. Diferentes tipos de laser foram descritos na literatura, incluindo os de dióxido de carbono (CO2), argônio, érbio (Er) e de corantes pulsados (Dye laser).3

O laser Érbio: ítrio-alumínio-granada (Er: YAG) é puramente ablativo,3 com comprimento de onda de 2940nm, possuindo alta afinidade com água tecidual e sendo capaz de remover camadas finas de pele com garantia de mínimo dano térmico. Permite ablação precisa do tecido em locais delicados, com excelente controle de profundidade. Por ser pouco invasivo, os efeitos colaterais do tratamento são minimizados.

Neste trabalho, relatamos um caso de XP recidivado pós-excisão cirúrgica que, com apenas uma sessão de laser Er:YAG, apresentou resultado satisfatório com mínimo desconforto per e pós-operatório, rápida cicatrização, menor tempo de afastamento das atividades cotidianas e melhores resultados estéticos do que os apresentados no tratamento prévio.

 

RELATO DO CASO

Paciente do sexo feminino, 51 anos, casada, fototipo IV de Fitzpatrick, referia placas amareladas, de localização bipalpebral há aproximadamente 14 anos. Negava comorbidades e doenças prévias ou quadros familiares semelhantes. Ao exame físico, apresentava placa xantomatosa de aproximadamente 2cm em seu maior diâmetro na pálpebra superior e de aproximadamente 1,2cm em seu maior diâmetro na pálpebra inferior, ambas no olho esquerdo, além de pápulas xantomatosas com tendência à confluência na pálpebra inferior do olho direito (Figura 1). A paciente referia ter se submetido a duas correções cirúrgicas prévias. Aos exames laboratoriais, apresentava elevação discreta nos níveis de colesterol total (232gm/dL). Após obtenção do consentimento informado, a paciente foi submetida ao tratamento das lesões com o laser Er: YAG 555 (Fotona® Dallas, Texas) em modo lesões benignas, com comprimento de onda de 2940nm, 5J de energia, velocidade de entrega de 7Hz e ponteira de 3mm. A paciente foi submetida a uma única sessão com tolerância álgica excelente a partir do uso de anestésico tópico de tetracaína 3,5% associada à lidocaína 10%, veiculado em base transdérmica com tempo de ação pré-procedimento de 30 minutos. Foram realizadas fotografias seriadas: imagens prévias (Figura 2), sete dias após o procedimento (Figura 3) e dois meses após o procedimento (Figura 4). Os registros foram realizados com o equipamento Vectra® H2 2019. Houve regressão completa das lesões e cicatrização em 20 dias, com hipocromia discreta, intervalo de tempo inferior e melhor recuperação quando comparados aos procedimentos cirúrgicos prévios, assim como menor risco de sangramentos peri e pós-operatórios. Houve melhora significativa da qualidade de vida avaliada pelo questionário de qualidade de vida, o DLQI (Dermatology Life Quality Index).

 

DISCUSSÃO

O XP, do ponto de vista cutâneo, é, na maioria das vezes, um problema puramente estético, portanto as terapias empregadas para o seu tratamento devem causar os mínimos efeitos colaterais.

A excisão cirúrgica deixa sempre uma cicatriz, ainda que, muitas vezes, discreta, mas podem ocorrer complicações pós-operatórias como infecções, hemorragia e cicatrizes inestéticas. O laser de CO2 remove xantelasmas de forma cosmeticamente aceitável, no entanto cria uma zona comparativamente mais profunda de temperatura e dano associado ao eritema pós-operatório persistindo por meses.4

O Er:YAG de 2940nm tem uma absorção extremamente alta pela água contida no tecido e é capaz de fazer ablação de finas camadas de pele no intervalo de alguns nanômetros com garantia de mínimo dano térmico.4 Permite a ablação precisa e extrusão dérmica do colesterol esterificado agregado, remodelação dérmica e excelente controle de profundidade.5 Além disso, possui uma zona de coagulação térmica menor em comparação ao laser de CO2. O Er: YAG também possui a vantagem adicional de uma cicatrização mais rápida, menor eritema e menos discromias pós-inflamatórias.3

Borelli e Kaudewitz4 concluíram, em ensaio clínico com 15 pacientes, que o Er:YAG 2940nm é eficaz no tratamento do xantelasma, ocasionando efeitos colaterais mínimos e ausência de recidivas no período de seguimento que variou de sete a 12 meses.

Abdelkader e Alashry5 demonstraram que o Er: YAG é mais eficaz do que o neodímio q-switched: ítrio granada de alumínio (QSNd: YAG) no tratamento das lesões de XP, além de apresentar menos efeitos colaterais inestéticos.

O Er: YAG representa um método eficaz para o tratamento do XP, além de causar menos desconforto álgico permitindo uso apenas de anestésico tópico, ausência de sutura e, portanto, melhor cicatrização com menor tempo de afastamento das atividades laborais.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Cleide Garbelini-Lima | 0000-0002-8840-7635
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Gabriela Evangelista de Almeida | 0000-0002-8437-2842
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Talita Fernandes Picanço e Souza | 0000-0001-7423-5820
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Alcidarta dos Reis Gadelha | 0000-0002-1194-7545
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Ilner de Souza e Souza | 0000-0001-6125-2832
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

 

REFERÊNCIAS

1. Al Aboud AM, Al Aboud DM. Xanthelasma palpebrarum. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020.

2. Nguyen AH, Vaudreuil AM, Huerter CJ. Systematic review of laser therapy in xanthelasma palpebrarum. Int J Dermatol. 2017;56(3):e47-e55.

3. Laftah Z, Al-Niaimi F. Xanthelasma: an update on treatment modalities. J Cutan Aesthet Surg 2018;11:1-6.

4. Borelli C, Kaudewitz P. Xanthelasma palpebrarum: treatment with the erbium:YAG laser. Lasers Surg Med. 2001;29(3):260-64.

5. Abdelkader M, Alashry SE. Argon laser versus erbium:YAG laser in the treatment of xanthelasma palpebrarum. Saudi J Ophthalmol. 2015;29(2):116-20.


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