2001
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Pérolas cirúrgicas

Eletrocoagulação fracionada para o rejuvenescimento da região orbital inferior

Daniel Dal’Asta Coimbra1

Data de recebimento: 14/06/2010
Data de aprovação: 01/09/2010

Trabalho realizado em clínica privada - Rio de
Janeiro (RJ), Brasil.

Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Abstract

Diferentes técnicas têm sido descritas na literatura para o rejuvenescimento da pele na região periorbital inferior, incluindo desde os peelings químicos até tecnologias mais atuais, como os Lasers. Inúmeros avanços têm sido obtidos, porém nem sempre os resultados são satisfatórios. Descrevemos nova técnica para o rejuvenescimento da região orbital inferior através da eletrocoagulação puntual das camadas superficiais da pele.

Keywords: PELE, ÓRBITA, REJUVENESCIMENTO


INTRODUÇÃO

O tratamento da região orbital inferior sempre mereceu importância em meio aos procedimentos para o rejuvenesci- mento da face.

Técnicas como peelings com fenol 88% ou ácido tricloroa- cético 35%, resurfacing com Laser (CO2, erbium), radiofrequên- cia bipolar, preenchimentos cutâneos, aplicação de toxina botu- línica, dermabrasão e micropunturas 1-15 são utilizadas isolada- mente, combinadas ou como adjuvantes de blefaroplastias, porém, nem sempre resultados satisfatórios são obtidos no trata- mento dessa região.

Ao observar que tratando lesões nas pálpebras inferiores através da eletrocoagulação ocorria retração da pele perilesional, propusemos a realização desse procedimento em toda a região orbital inferior objetivando o rejuvenescimento.

MATERIAIS E MÉTODOS

Após a avaliação da face e representação fotográfica na posição ortostática, a região a ser tratada é demarcada. Em segui- da, com o paciente reclinado em posição de 30o , procede-se à anestesia infiltrativa na área demarcada com lidocaína e vaso- constrictor. Posteriormente realiza-se pressão digital no local para diminuição do edema decorrente da solução anestésica por alguns minutos e inicia-se o procedimento.

Em uma das mãos seguramos a ponteira do eletrocautério (Hyfrecator ®) e na outra seringa de 1ml com agulha 30G1 /2.A agulha é colocada em contato com a pele, sem que ocorra per- furação, e ao encostar o eletrodo do eletrocautério na agulha é realizada a eletrocoagulação nesse ponto, utilizando a potência High 2 ou High 3 (Figura 1). Nesse momento observa-se no local a formação de pequeno orifício de aproximadamente 1mm de profundidade e diâmetro variável entre 0,05 e 1mm, com retração importante da área circular adjacente. Seguem-se novos pontos de aplicação com intervalos de 2 a 3mm.

As pequenas queimaduras se iniciam na porção inferior da área demarcada, obedecendo a linhas concêntricas em semicír- culos até a borda ciliar inferior (Figura 2).

Os pacientes são orientados pós-procedimento a evitar exercícios físicos e exposição a altas temperaturas por 72 horas. No local tratado, são utilizadas compressas geladas de soro fisio- lógico e creme de ácido fusídico (Verutex®, Lab Roche, SP, Br) durante período de sete a dez dias.Aconselhamos a utilização de filtros solares após 48 horas, porém deve-se evitar exposição direta ao sol até a completa cicatrização do local tratado.

RESULTADOS

Até o momento, 40 pacientes do sexo feminino foram tra- tadas com essa técnica.Todas apresentaram melhora na flacidez cutânea e aspecto da pele com diminuição na quantidade de rítides.

No local tratado formam-se pequenas pápulas encimadas por crostículas em todos os pontos em que a eletrocoagulação foi realizada. Pode haver edema local e eritema por alguns dias. Normalmente em até uma semana ocorre a eliminação comple- ta dos sintomas. Alguns pacientes, principalmente os de fototi- pos mais altos, permanecem com eritema e hipercromia no local, sendo aconselhados a fazer uso de substâncias clareadoras após 15 dias do procedimento. Em todos os pacientes submeti- dos a essa técnica houve regressão desses efeitos no período de dois meses (Figura 3)).

Quatro pacientes foram submetidas a uma segunda eletro- coagulação, 60 dias após a primeira, com o mesmo tipo de evo- lução (Figura 4)

DISCUSSÃO

Diferentes técnicas são descritas para a melhora estética da região orbital inferior, desde peelings até as tecnologias atuais como Laser.Ao observar que tratando lesões nas pálpebras infe- riores como xantelasmas e siringomas através da eletrocirurgia ocorria retração da pele perilesional, propusemos a realização da eletrocoagulação de toda a região como método de rejuvenes- cimento cutâneo. O resultado encontrado mostrou-se promis- sor, havendo diminuição importante da flacidez cutânea e das rítides na região, decorrentes provavelmente da retração da pele ocasionada pelo trauma tecidual.

A eletrocirurgia constitui processo do arsenal terapêutico da cirurgia dermatológica, cuja indicação é remover ou destruir tecidos a partir da utilização da energia elétrica, 16 promovendo o corte, a hemostasia e ablações superficiais ou profundas nos tecidos.Na eletrocirurgia, após a limpeza dos tecidos destruídos, a presença de coloração rósea no fundo da ferida indica que o limite profundo corresponde à derme papilar; a coloração bran- ca indica lesão na derme reticular superior, e a coloração ama- rela refere-se a derme reticular profunda e possibilidade de cica- trizes. 17 No tratamento proposto observamos após a limpeza da pele coloração variando do branco ao róseo no fundo das lesões.

A anestesia infiltrativa foi de suma importância na realiza- ção do tratamento nesse local, conferindo maior conforto ao paciente e comodidade ao médico, pois, como a agulha é posi- cionada muito próximo ao globo ocular, é fundamental que o paciente esteja tranquilo e não pisque involuntariamente duran- te o procedimento.

A escolha pela realização do procedimento em linhas orientadas em semicírculos, seguindo a direção das fibras do músculo orbicular dos olhos, resultou em menor tensão no local, favorecendo a cicatrização e a retração cutâneas.

Além disso, alternamos áreas de pele normal (2 a 3mm) com os pontos em que realizamos a eletrocoagulação, seguindo a tendência atual dos procedimentos fracionados, 14,15 para que a porção preservada da pele seja responsável por cicatrização mais rápida e diminua o risco de complicações locais, como hipercro- mias persistentes, cicatrizes e ectrópio.

Como vantagens dessa técnica podemos citar o baixo custo, a simplicidade de aplicação, a rápida recuperação e o expressivo resultado estético.

CONCLUSÃO

Descrevemos nova técnica para rejuvenescimento da região orbital inferior através da eletrocoagulação fracionada em semi- círculos na pele local.Acreditamos que essa descrição possa ser- vir de ponto inicial para a realização de estudos histológicos, para melhor conhecimento e quantificação dos resultados com ela obtidos.

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