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Relato de casos

Análise clínica de 16 pacientes consecutivos tratados com LUX 1540® para rejuvenescimento

Ana Beatriz Palazzo Carpena El Ammar1, Valéria Barreto Campos1, Rodrigo Pereira Duquia1

Recebido em: 11/03/2010
Aprovado em: 15/08/2010

Trabalho realizado em clínica privada

Conflito de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum

Abstract

Introdução: O tratamento do envelhecimento cutâneo com Lasers fracionados não abla- tivos tem sido muito divulgado nos últimos anos, embora o número de publicações, com aparelhos específicos, ainda seja pequeno.
Objetivo: Descrever o grau de satisfação do paciente e de um dermatologista avaliador após o tratamento com o aparelho Lux 1540®.
Métodos: Estudo retrospectivo com 16 pacientes que realizaram a terapia para rejuve- nescimento facial com o Lux 1540®. Foi realizada análise fotográfica por dermatologista, não envolvido nos tratamentos, e os pacientes foram questionados quanto ao grau de satis- fação antes e após três sessões.As variáveis avaliadas foram manchas, flacidez, rugas, poros dilatados, telangiectasias e satisfação geral.
Resultados: Na avaliação do dermatologista ocorreu melhora considerada boa ou exce- lente na maioria dos pacientes, em todos os critérios estudados. Em relação à melhora do aspecto geral, 82% dos avaliados apresentaram melhora considerada boa ou excelente. Em relação à observação dos pacientes, 63% deles referiram satisfação geral boa a excelente.
Conclusões: A terapia com Lux 1540® para rejuvenescimento da face pode ser alterna- tiva com resultados satisfatórios, tornando-se boa opção para os pacientes que não dese- jam ou não podem submeter-se a tratamentos mais agressivos.

Keywords: LASERS, ENVELHECIMENTO DA PELE, TERAPIA A LASER


INTRODUÇÃO

A terapia fracionada foi introduzida inicialmente em 2004 por Rox Anderson MD-PHD, pela necessidade do desenvolvimento de tratamento para rejuvenescimento com Laser que fosse mais eficaz do que os não ablativos e sem as complicações dos ablativos. 1

Foi então concebido o Laser fracionado, que consiste na emissão de microfeixes de luz, as chamadas zonas microtérmicas (ZMT) que penetram profundamente a pele e aquecem a derme, poupando a epiderme. 1 Ocorre reepitelização em cerca de 24 horas, e após 14 dias os restos epiteliais necróticos de material dérmico e melanina são expelidos.Entre as ZMT há ilhas de pele sã com muitos melanócitos e células-tronco das papilas dérmicas que permitem regeneração mais rápida e com menor risco.

As ZMT medem entre 70 e 100µm de diâmetro e atingem em média de 300 a 1.200µm de profundidade, desde a derme papi- lar até a derme reticular média, dependendo da energia utilizada. 2

Atualmente, existem vários tipos de Lasers fracionados não ablativos (Tabela 1). O Lux 1540® (Palomar Medical Technologies, Inc. Burlington, Massachusetts, Estados Unidos), assim como os demais aparelhos desse grupo, tem como cromó- foro a água, com afinidade de média intensidade, causando coa- gulação e não vaporização, como o Laser de CO2, cuja afinida- de com a água é muito maior.

O resurfacing fracionado não ablativo apresenta resultados considerados bons, porém inferiores aos dos Lasers ablativos para o tratamento do fotoenvelhecimento cutâneo.Outras indicações são cicatrizes atróficas, cicatrizes de acne, cicatrizes cirúrgicas e de queimaduras. 4 Atualmente, os aparelhos fracionados não abla- tivos são os únicos aprovados pelo FDA para melasma, porém, nessa patologia, devem ser utilizados com cautela e apenas nos casos refratários à terapia convencional. 5

O tratamento consiste na realização de três a cinco sessões com intervalos de cerca de 30 dias, dependendo da energia uti- lizada. A sessão dura em média 30 minutos para toda a face. A dor é considerada tolerável e pode ser aliviada pela anestesia tópica. Logo após o procedimento ocorrem edema e eritema discretos durante período variável de um a quatro dias.6 Compressas geladas de soro fisiológico ou sistemas de resfria- mento (por exemplo, Zimmer ® ou Siberian®) são suficientes para aliviar os sintomas do pós-operatório imediato. Para redu- zir as chances de hipercromia pós-inflamatória podem ser utili- zados corticoides orais ou tópicos. É necessária a fotoproteção, e a profilaxia para herpes simples pode ser útil quando houver his- tória prévia dessa doença e o procedimento for mais agressivo.

OBJETIVO

O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do resurfacing com Lux 1540 em 16 pacientes.

MÉTODOS

Trata-se de estudo retrospectivo realizado em clínica priva- da em Jundiaí, São Paulo. Foram selecionados inicialmente 26 pacientes consecutivos que realizaram tratamentos da face com o Laser Erbium Glass 1.540nm. Desses, quatro não foram loca- lizados, três tinham idade inferior a 30 anos e três estavam rea- lizando outros tratamentos concomitantes, permanecendo, por- tanto, no estudo 16 pacientes.

Foi realizada por dermatologista alheio ao estudo a análise fotográfica prévia e posterior aos três tratamentos com o LUX 1540®.As fotografias foram padronizadas quanto à iluminação e distância através do sistema digital Visia (Canfield®, Fairfield, Iowa, Estados Unidos). Fizeram parte do estudo dois homens e 14 mulheres, com idade entre 32 e 60 anos (média de idade de 46 anos), portadores de fotoenvelhecimento leve a moderado e fototipos de II a V.

Os pacientes foram anestesiados com creme de prilocaína 6,5% e lidocaína 6,5% (formulação magistral realizada pela farmá- cia Almaderma, Jundiaí, SP, Brasil) uma hora antes do procedi- mento.Durante a sessão foram realizadas a assepsia da pele e uma passada do Laser de 1.540nm, com sobreposição aproximada de 50%.A energia utilizada variou entre 50 e 80mJ/mB, e a duração de pulso foi de 15ms.Utilizou-se resfriamento da pele com o apa- relho Siberian® (Industra, São Carlos, SP, Brasil) para conforto durante e após o procedimento e, a seguir,máscara de Vitamina C a 10% (formulação magistral realizada pela farmácia Almaderma). Os pacientes realizaram três sessões com intervalo de 30 dias e mantiveram o uso de tratamento tópico domiciliar (incluindo ácido retinoico ou ácido glicólico) antes e após as sessões.

Foram contatados seis a 12 meses após o término do trata- mento e questionados quanto à melhora dos seguintes itens: manchas, flacidez, rugas, poros dilatados, telangiectasias e satisfa- ção geral. A escala utilizada está representada na tabela 2. Algumas variáveis não presentes em determinados pacientes previamente ao tratamento foram consideradas sem opinião e retiradas da análise específica.

Os pacientes também foram avaliados quanto à dor em esca- la de 0 a 10, sendo 0 considerado dor nula, 1 a 3 dor leve, 4 a 6 dor moderada, 7 e 8 dor forte e 9 e10 dor muito forte (Tabela 3)(Tabela 3).

RESULTADOS

A análise do dermatologista avaliador está representada no gráfico 1. Percebe-se que ocorreu melhora considerada boa (7 e 8) ou excelente (9 e 10) na maioria dos pacientes em todos os critérios ava- liados.Além disso, em relação à melhora do aspecto geral, 82% dos pacientes apresentaram melhora considerada boa ou excelente (7 a 10). Os critérios rugas e vasos foram os que obtiveram melhores resultados, 70% e 86%, respectivamente, de melhora boa a excelente.

Na avaliação dos pacientes (Gráfico 2), a satisfação geral ficou em 63% sendo considerada boa a excelente. Cabe ressaltar que o questionário foi realizado no mínimo seis meses após a última sessão e todos os pacientes observaram melhora pelo menos de moderada a excelente para os critérios poros e rugas. Para a variável rugas, 73% consideraram a melhora boa ou exce- lente, e para poros dilatados esse índice foi de 78%.

Uma paciente teve piora do melasma, correspondendo aos 6% do gráfico que não notou melhora e também teve grau de satisfação 0. Foi tratada com clareadores tópicos, apresentando boa resposta.

Quanto à dor (Gráfico 3), 56 % dos pacientes consideraram a dor leve, 31% moderada e 13% forte. Nenhum paciente con- siderou a dor muito forte.

DISCUSSÃO

De acordo com a experiência dos autores, o Erbium 1.540 fra- cionado parece ser terapia menos eficiente do que o resurfacing ablativo, porém eficaz para rugas, poros,manchas e vasos,A principal indicação seria a de tratamento eficaz, sem os riscos nem o período de recuperação muito longo que correspondem aos Lasers ablativos.

Existe farta documentação atestando que o fracionamento dos Lasers ablativos diminuiu muito os efeitos adversos,1 mas, ainda assim, trata-se de terapia agressiva. Recentemente, foram publicados casos de cicatrizes com o CO2 fracionado, ressaltan- do-se que os procedimentos ablativos,mesmo quando fraciona- dos, implicam riscos. 7

Existem poucos estudos para avaliar rejuvenescimento com o aparelho utilizado no trabalho. Na pesquisa na base de dados Pubmed, referente à palavra-chave "Erbium", encontram-se 15 artigos, sendo que em apenas quatro deles o assunto era relacio- nado à dermatologia. Um está em processo de publicação, dois utilizaram o Laser Aramis ® (Quantel); um deles foi realizado por Jason R. Lupton et al. 8 em 2002, e outro por Fournier e Mordon em 2005. 9 O quarto trabalho publicado a respeito do Lux 1540® – por Farkas JP et al. em junho de 2009 – realizou até análise histopatológica, mas a amostra foi de pele da região abdominal, sabidamente com características diferentes da pele da face, tendo sido avaliada a profundidade que o procedimento atinge com esse aparelho e não a melhora clínica da pele. 3

Utilizando-se o termo "Starlux" foi encontrado um estudo piloto para cicatrizes de acne em peles orientais, e com "Lux" nenhum artigo foi encontrado.

Ao contrário do resurfacing ablativo, em que a dor é um grande problema, exigindo, em alguns casos, anestesias injetáveis, nos procedimentos com o Laser em questão esse não é aspecto importante, sendo que mais da metade dos pacientes deste estu- do consideraram a dor leve, e nenhum considerou a dor forte.

Quanto aos efeitos colaterais, apenas uma paciente (6% dos casos) apresentou piora do melasma após o tratamento.Tal fato corrobora a experiência das autoras de que o melasma pode pio- rar em até 20% dos casos após o tratamento com Lasers fracio- nados não ablativos. Apesar disso, cabe salientar que se trata de um dos poucos Lasers aprovados pelo FDA (2008) para essa patologia, e por se tratar de doença de difícil tratamento e reci- divante; ainda assim, pode-se afirmar tratar-se de boa alternativa para os casos resistentes à terapia convencional.5

Apesar de não ser o objetivo do trabalho esse tipo de avaliação, dois pacientes notaram melhora das cicatrizes de acne (boa e excelen- te). Sabe-se que o Erbium-glass 1.540nm não tem tanta afinidade com a água como os Lasers ablativos (Erbium 2.940nm e CO2) e, logo, con- segue penetrar mais profundamente a derme com menor dispersão de energia, tornando-se boa indicação para patologias que necessitem de maior remodelamento do colágeno, tais como estrias e cicatrizes.

O presente estudo apresenta algumas limitações. Trata-se de amostra pequena,mas, como utilizou pacientes consecutivos que rea- lizaram o tratamento, corresponde a uma amostra escolhida aleatoria- mente.Como o número de pacientes é pequeno,não é possível a rea- lização de testes de associação entre as variáveis, fazendo-se necessá- ria amostra maior para a obtenção de resultados significativos e com poder estatístico.Portanto,o delineamento é de estudo descritivo,que demanda outros estudos para confirmação mais precisa dos achados.

CONCLUSÃO

A terapia fracionada não ablativa com o Lux 1.540® parece ser boa opção para o tratamento do rejuvenescimento, especialmente para aqueles pacientes que solicitam tratamento efetivo, mas com reduzido tempo de recuperação, com poucas reações e com meno- res riscos do que os dos Lasers ablativos. Ainda são necessários outros estudos para avaliar corretamente a porcentagem de melho- ra, mas este trabalho sugere boa satisfação geral com os resultados obtidos pelos procedimentos realizado com esse aparelho.

Referências

1 . Manstein D, Herron GS, Sink RK, Tanner H, Anderson RR. Fractional Photothermolysis: a New Concept for Cutaneous Remodeling Using Microscopic Patterns of Thermal Injury.Lasers Surg Med.2004;34(5):426-438.

2 . Alexiades-Armenakas MR, Dover JS, Arndt KA. The spectrum of laser skin resurfacing: nonablative, fractional, and ablative laser resurfacing. J Am Acad Dermatol. 2008;58(5):719-37; quiz 738-40.

3 . Farkas JP, Richardson JA, Hoopman J, Brown SA, Kenkel JM. Micro- islanddamage with a nonablative 1540-nm Er:Glass fractional laser device in human skin. J Cosmet Dermatol. 2009;8(2):119-26.

4 . Haedersdal M, Moreau KE, Beyer DM, Nymann P, Alsbjørn B. Fractional nonablative 1540 nm laser resurfacing for thermal burn scars: a rando- mized controlled trial. Lasers Surg Med. 2009; 41(3):189-95.

5 . Taub AF.Fractionated delivery systems for difficult to treat clinical applications:acne scarring,melasma,atrophic scarring, striae distensae,and deep rhytides. J Drugs Dermatol. 2007; 6(11):1120-8.

6 . Cohen SR,Henssler C,Horton K,Broder KW,Moise-Broder PA.Clinical expe- rience with the Fraxel SR laser: 202 treatments in 59 consecutive patients. Plast Reconstr Surg. 2008;121(5):297e-304e.

7 . Fife DJ, Fitzpatrick RE, Zachary CB. Complications of fractional CO2 laser resurfacing: four cases. Lasers Surg Med.2009; 41(3):179-84.

8 . Lupton JR,Williams CM,Alster TS.Nonablative laser skin resurfacing using a 1540 nm erbium glass laser: a clinical and histologic analysis. Dermatol Surg. 2002;28(9):833-5.

9 . Fournier N, Mordon S. Nonablative remodeling with a 1,540 nm erbium: glass laser.Dermatol Surg. 2005;31(9 pt 2):1227-35; discussion 1236.


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