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Relato de caso

Enxerto dermoepidérmico obtido por remoção da pápula formada pós-enxertia com punch em vitiligo: melhora do padrão em paralelepípedo

Jefferson Alfredo de Barros; Juliano Cesar de Barros; Juliana Lika Narahara; Anelise Damiani da Silva Citrin

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20201243626

Data de recebimento: 15/06/2020
Data de aprovação: 15/11/2020

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina do ABC, Santo André (SP), Brasil.
Suporte Financeiro: Nenhum.
Conflito de Interesses: Nenhum.


Abstract

O vitiligo é uma discromia adquirida que afeta 0,1-3% da população mundial e pode causar sofrimento psicossocial significativo nos pacientes. O manejo cirúrgico tornou-se importante nos últimos anos. O minienxerto é uma das abordagens mais baratas e fáceis entre todos os tratamentos cirúrgicos disponíveis. Uma limitação desta técnica é a possibilidade de repigmentação em forma de paralelepípedos. Descreve-se uma nova técnica com enxerto dermoepidérmico obtido por remoção da pápula formada pós-enxertia com punchs no vitiligo. Essa técnica pode melhorar o padrão em paralelepípedos no local doador e a repigmentação em ambas as áreas, doadora e receptora.


Keywords: Dermatologia; Hipopigmentação; Vitiligo


INTRODUÇÃO

O vitiligo é uma doença despigmentante adquirida, de herança poligênica, que afeta 0,1-3% da população mundial.1,2 Pode causar sofrimento psicossocial significativo nos pacientes. Dentre os tratamentos, a enxertia com minipunchs demonstrou ser uma das abordagens cirúrgicas mais baratas e de fácil execução. Uma limitação dessa técnica é a possibilidade de repigmentação em paralelepípedos (padrão cobblestone).2 Descrevemos uma nova técnica que pode melhorar o aspecto da repigmentação.

 

RELATO DO CASO

Paciente do sexo feminino, 69 anos de idade, fototipo Fitzpatrick V, apresentava máculas acrômicas em região frontotemporal esquerda, cervical e membros superiores há 15 anos. Foi submetida a tratamento tópico com fototerapia com ultravioleta B e com corticosteroide de média potência, com melhora apenas das lesões dos membros. A condição permaneceu estável por 12 anos, quando um enxerto de pele autólogo foi realizado, sob anestesia local, tendo como área doadora a região cervical esquerda. Um punch de 2mm foi utilizado em três pontos e o material, implantado em áreas de mesmo tamanho e profundidade na região frontotemporal esquerda em intervalos de 0,5cm. Após um ano, com a presença de pápulas (repigmentação do padrão de paralelepípedos) no local do enxerto, optou-se por realizar nova intervenção cirúrgica. As pápulas foram incisadas rente à pele e os domos, implantados em pontos na região frontotemporal esquerda (Figura 1). Houve repigmentação da área receptora em seis meses e melhora estética da área doadora (Figura 2).

 

DISCUSSÃO

O vitiligo é um distúrbio comum de despigmentação adquirido. Várias teorias sobre os mecanismos etiopatogênicos desta doença têm sido propostas, entre elas: autoimune, estresse oxidativo, teorias neurais e virais.1,2 A primeira descrição do enxerto dermoepidérmico foi em 1973 por Behl e Batia.3 O objetivo da cirurgia é introduzir melanócitos nas lesões despigmentadas do vitiligo. Dentre as técnicas cirúrgicas, o minienxerto mostrou-se o de melhor aplicabilidade devido à simplicidade da técnica, sem a necessidade de instrumentos especializados, e ao baixo custo. As taxas de repigmentação costumam ser superiores a 65% dos casos.1,2,3,4 Uma importante limitação dessa técnica é a possibilidade de repigmentação em paralelepípedos, presente em cerca de 30% dos casos.2 Para evitar esse efeito, recomenda-se usar um punch de até 1,5mm e uma área doadora pigmentada semelhante em espessura ao local da área receptora. Alguns estudos sugerem benefícios em deixar uma área receptora 1mm mais profunda e 0,5mm mais estreita que os enxertos de áreas doadoras.1,5

Como a presença do padrão de paralelepípedos após o enxerto não é incomum, uma nova técnica foi aqui proposta com o enxerto dermoepidérmico obtido pela remoção da pápula formada pós-enxertia com punch. O resultado estético e a repigmentação foram satisfatórios nas áreas doadora e receptora. Amostras maiores são necessárias para corroborar esta técnica.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Jefferson Alfredo de Barros | 0000-0002-7553-2699
Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Juliano Cesar de Barros | 0000-0003-1494-7118
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Juliana Lika Narahara | 0000-0002-6025-7823
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito.

Anelise Damiani da Silva Citrin | 0000-0002-2986-6188
Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

 

REFERÊNCIAS

1. Patel NS, Paghdal KV, Cohen GF. Advanced treatment modalities for vitiligo. Dermatol Surg. 2012;38(3):381-91.

2. Falabella R, Barona MI. Update on skin repigmentation therapies in vitiligo. Pigment Cell Melanoma Res. 2009;22(1):42-65.

3. Behl PN, Bhatia RK. Treatment of vitiligo with autologous thin Thiersch's grafts. Int J Dermatol. 1973;12(5):329-31.

4. Mulekar SV, Isedeh P. Surgical interventions for vitiligo: an evidence-based review. Br J Dermatol. 2013;169(Suppl 3):57-66.

5. Komen L, Vrijman C, Prinsen CA, van der Veen JP, Luiten RM, Wolkerstorfer A. Optimising size and depth of punch grafts in autologous transplantation of vitiligo and piebaldism: a randomised controlled trial. J Dermatolog Treat. 2017;28(1):86-91.


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