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Relato de caso

Uso do google glass na queiloplastia: a perspectiva do cirurgião

Bruno de Oliveira Barbosa; Guilherme Henrique de Castro Teixeira; Danilo Monteiro Vieira; Ana Flávia Saraceni; Guilherme Gurgel do Amaral Teles

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20201242573

Data de recebimento: 16/04/2020
Data de aprovação: 13/11/2020

Trabalho realizado no Instituto de Cirurgia Plástica Santa Cruz, Dr. José Marcos Mélega, São Paulo (SP), Brasil.
Suporte Financeiro: Nenhum.
Conflito de Interesses: Nenhum.


Abstract

Tecnologia “de vestir” chegou para mudar a forma como as pessoas veem e experimentam o mundo. Google glass é uma dessas tecnologias e foi criada pelo Google Inc. California Mountain View. Este dispositivo tem muitas possibilidades de uso, inclusive na área médica. Dentre estes usos, está a viabilidade de fornecer aos espectadores a visão do cirurgião durante a cirurgia. Cirurgias com pequeno campo operatório, como queiloplastia, devem beneficiar-se com o uso do google glass. Em nossa instituição, gravamos a primeira queiloplastia com google glass com a intenção de dar a nossa impressão dos óculos da Google Inc.


Keywords: Educação Médica; Inovação; Tecnologia


INTRODUÇÃO

A tecnologia está cada vez mais presente em nosso meio e, na área médica, não é diferente. A cada momento deparamo-nos com novos aparelhos no cotidiano clínico e no centro cirúrgico que mudam a forma como interagimos com o mundo.

Mais conhecido como tecnologia “de vestir”, o google glass é uma dessas tecnologias, e já é usado na área médica.1-4 Criado pelo Google Inc. California Mountain View, este dispositivo fornece a possibilidade da visão do cirurgião durante a cirurgia em tempo real ou a gravação do procedimento para revisão posterior. A primeira descrição do uso dessa tecnologia em um procedimento cirúrgico foi realizada por Davis e Rosenfield em 20135,6 e sua equipe demonstra as dificuldades e perspectivas dessa tecnologia Figura 1.

Cirurgias com pequeno campo operatório, como a queiloplastia, beneficiam-se do uso do google glass. Além disso, em unidades de ensino, a dificuldade em viabilizar o acompanhamento dos passos da cirurgia pelos residentes e estagiários presentes em sala e fora do campo cirúrgico, por campo visual reduzido e pela necessidade de parar a cirurgia a cada passo, aumenta muito o tempo do procedimento.

Em nossa instituição, gravamos a primeira cirurgia de lábio leporino com o google glass com a intenção de dar a nossa impressão dessa tecnologia em cirurgias de campo visual reduzido (Figura 2).

 

OBJETIVO

Avaliar o uso de uma nova tecnologia na cirurgia de queiloplastia, com campo cirúrgico muito pequeno, e usar a tecnologia para o aprimoramento e aprendizado da equipe (Figura 3).

 

MÉTODOS

Um paciente com uma fissura labial pré-forame incompleta foi escolhido após consentimento informado obtido com termo de autorização de gravação. A ausência de uma internet rápida para vídeo streaming limitou a utilização dos óculos apenas para gravação. O paciente foi colocado em posição de Rose e realizou-se uma queiloplastia Millard. Após a cirurgia, o vídeo foi mostrado aos residentes.

 

RESULTADOS

A imagem foi nítida e possibilitou a visão do procedimento e das estruturas sem qualquer tipo de dúvida. No início, pode ser estranho o seu uso para o cirurgião, mas com o tempo torna-se habitual.

O procedimento foi realizado com a equipe de residentes com a proposta de aprendizado dos mesmos. O aproveitamento da equipe presente na cirurgia foi importante, mas, após o procedimento com o vídeo gravado, puderam ser discutidos e demonstrados com visão detalhada os passos cirúrgicos, o que gerou fixação dos tempos da técnica e entendimento.

 

DISCUSSÃO

Existem muitos benefícios no uso de uma tecnologia “de vestir” como o google glass.7 A funcionalidade que permite a comunicação entre médicos e a troca de experiências ou consulta durante o procedimento cirúrgico pode ser muito útil, mas a ausência de uma internet rápida é um fator limitante em países como o Brasil. Problemas de comunicação são uma causa muito comum de erros na cirurgia e esta tecnologia pode diminuir esses erros.

A principal utilidade que vemos no momento é no ensino cirúrgico, como na queiloplastia que possui um campo cirúrgico limitado e pode o cirurgião compartilhar em tempo real os passos do procedimento. Até onde sabemos, esta foi a primeira queiloplastia realizada com google glass e pudemos aproveitar para revisar o campo cirúrgico com toda a equipe.

Entretanto, questões éticas e a falta de um rápido vídeo streaming de internet podem ser dificuldades encontradas. Outras funcionalidades, como supervisão remota e até mesmo consulta para procedimentos menores, também poderiam ser utilizadas.

 

CONCLUSÃO

O uso do google glass em cirurgias com campo visual reduzido é muito viável, e puderam os residentes usufruir e compartilhar de um aprendizado em primeira pessoa do médico-assistente. Porém, todo o potencial dessa tecnologia ainda está para ser descoberto. A possibilidade de realizar procedimentos cirúrgicos e poder ensinar ou discutir a partir da visão em primeira pessoa é excelente para cirurgias com campo de visão pequeno ou para procedimentos realizados em instituições de ensino. No momento atual de isolamento social em que vivemos e em que se pede para que se evitem aglomerações, torna-se uma ideia para continuar o ensino.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Bruno de Oliveira Barbosa | 0000-0002-6399-6322
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Guilherme Henrique de Castro Teixeira | 0000-0001-7881-8222
Concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Danilo Monteiro Vieira | 0000-0003-1954-8706
Concepção e planejamento do estudo.

Ana Flávia Saraceni | 0000-0001-9906-9398
Concepção e planejamento do estudo.

Guilherme Gurgel do Amaral Teles | 0000-0003-2488-4536
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

 

REFERÊNCIAS

1. Muensterer OJ, Lacher M, Zoeller C, Bronstein M, Kübler J. Google Glass in pediatric surgery: an exploratory study. Int J Surg. 2014;12(4):281-9.

2. Niamtu J III. Google Glass: dermatologic and cosmetic surgery applications. Dermatol Surg. 2014;40:1150-2.

3. Kantor J. First look: Google Glass in dermatology, Mohs surgery, and surgical reconstruction. JAMA Dermatol. 2014;150(11):1191.

4. Lindeque BG, Ponce BA, Menendez ME, Oladeji LO, Fryberger CT, Dantuluri PK. Emerging technology in surgical education: Combining real-time augmented reality and wearable computing devices. Orthopedics. 2014;37(11):751-7.

5. Rosenfield LK. Google Glass and the surgeon. San Mateo County Physician 2013;2:13-4.

6. Davis CR, Rosenfield LK. Looking at plastic surgery through Google Glass: Part 1. systematic review of Google Glass evidence and the first plastic surgical procedures. Plast Reconstr Surg. 2015;135(3):918-28.

7. Davis CR, Rosenfield, LK. Discussion: Google Glass in the operating room the plastic surgeon's perspective. Plast Reconstr Surg. 2016;138(1):303-4.


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