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Relato de caso

Cistos cutâneos no couro cabeludo: descrição de técnica inovadora

Laura Costa Beber de Jesus1; Gabriela Machado Dias Junqueira1; Getullio Pisa Carneiro1; Douglas Haddad Filho2

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20201241191

Data de recebimento: 30/04/2018
Data de aprovação: 11/08/2020

Trabalho realizado na Universidade de Santo Amaro, São Paulo (SP), Brasil
Suporte Financeiro: Nenhum.
Conflito de Interesses: Nenhum.
Agradecimentos: Aos nossos familiares e preceptores, que sempre nos estimulam a aprimorar nosso conhecimento na tentativa de oferecer o melhor aos nossos pacientes.


Abstract

Cistos são tumores epiteliais benignos extremamente comuns. O cisto triquilemal ou pilar tem origem no istmo do pelo anágeno, representa cerca de 20% dos cistos e localiza-se mais frequentemente no couro cabeludo (90%). Vários métodos podem ser usados para a retirada dos mesmos. A escolha da técnica depende de suas características, como: tamanho, mobilidade, consistência, quiescência, inflamação e quantidade. Porém, eles podem reaparecer se houver remoção incompleta da cápsula. Os autores apresentam uma variante simples da técnica de marsupialização que permite a sua retirada total.


Keywords: Cistos; Couro cabeludo; Procedimentos cirúrgicos ambulatoriais


INTRODUÇÃO

Cistos são tumores epiteliais benignos extremamente comuns, constituídos de um espaço revestido por um epitélio com conteúdo líquido ou pastoso no seu interior, móveis em relação aos planos profundos, localizados na derme ou no subcutâneo.1,2 São normalmente assintomáticos e se localizam principalmente no segmento cefálico, pescoço e tronco superior.1

Os cistos epidermoides ou foliculares são mais comuns nos adultos e podem ser originados do infundíbulo piloso ou do óstio folicular (comedoniano). O cisto pilar ou triquilemal deriva do istmo de pelo anágeno e o esteatocistoma, do epitélio sebáceo, sendo, portanto, sebáceos verdadeiros.3

Os cistos triquilemais são menos comuns que os cistos epidermoides, representando cerca de 20% dos cistos. Têm predileção pelo sexo feminino, adultos de meia-idade ou maiores de 60 anos. São mais frequentes no couro cabeludo (90%) e raros em face, membros e tronco.4,5 Diferentemente do cisto epidermoide, não possuem orifício. Têm consistência mais firme e são mais móveis do que o cisto epidermoide.3

Vários métodos podem ser usados com sucesso para a retirada dos cistos. A escolha depende do tamanho do cisto, da qualidade da pele suprajacente, da existência ou não do orifício de saída do cisto, entre outras variáveis. Porém, eles podem recidivar se houver remoção incompleta da cápsula.6

Apresentamos uma técnica cirúrgica de marsupialização que permite segurança na retirada total da cápsula, variação técnica não descrita na literatura.

 

MÉTODOS (DESCRIÇÃO CIRÚRGICA)

Cisto (com cerca de 1,5cm em seu maior diâmetro) na linha média do couro cabeludo, de consistência elástica, indolor à palpação, não aderido a planos profundos (Figura 1).

1. Marcação da incisão na linha de maior diâmetro do cisto e marcação dos limites do mesmo (Figura 1)

2. Assepsia e antissepsia locais

3. Anestesia local (lidocaína com vasoconstritor), 2ml, na incisão, no plano entre a derme e a parede anterior do cisto (Figura 2)

4. Incisão na pele com bisturi lâmina 15 (Figura 3)

5. Incisão na cápsula do cisto com bisturi lâmina 15

6. Drenagem do conteúdo do cisto (Figura 4)

7. Infiltração profunda de anestésico (1ml) no plano entre a parede posterior do cisto e o periósteo (Figura 5)

8. Expressão do cisto em direção ao crânio (Figura 6)

9. Remoção do cisto com pinça de Halsted (Figura 7)

10. Sutura

 

DISCUSSÃO

Os cistos epidérmicos ou foliculares podem ter um orifício central e são frequentemente encontrados na derme, hipoderme e tecido subcutâneo, e constituem uma entidade clínica bastante comum e de fácil resolução, porém dependem de uma conduta cirúrgica.3

A necessidade das ressecções de segmento da pele acima do cisto depende muito da qualidade dessa pele, uma vez que o cisto pode ter sofrido inflamações e/ou infecções. Outro fato que também demanda a remoção cutânea é a presença do orifício que identifica o óstio do folículo do qual o cisto é derivado, portanto deve ser retirado em conjunto com o cisto.

A remoção convencional é realizada com anestesia infiltrativa ao redor e superficialmente à parede anterior do cisto, sendo uma das técnicas mais utilizadas no tratamento dos cistos foliculares.4 É feita por meio de uma incisão na superfície da pele, expondo o cisto subjacente. Neste, é feita a preensão com pinça de Halsted para facilitar o descolamento das paredes laterais e profundas do cisto com tesoura de Íris curva delicada, até remover completamente a estrutura.1,6,7

Embora essa técnica apresente alta eficiência, a possibilidade de rotura do cisto na dissecção dos tecidos aumenta a probabilidade da permanência de resíduo de cápsula, potencializando uma recidiva.

Na técnica apresentada, é realizada infiltração na região posterior do cisto que, com manobra bidigital de compressão, everte o cisto em direção à incisão, quando esse é tracionado. Os processos inflamatórios e infecciosos de repetição do cisto podem levar à formação de um granuloma perilesional e fibrose reacional, dificultando a retirada da cápsula. Nesses casos, a aplicabilidade da técnica apresentada pode não ser indicada, visto que a fibrose existente na região dificultaria a remoção integral do cisto. Assim, indica-se a retirada da estrutura em bloco, ou seja, pele e cisto, o que, embora aumente o volume do procedimento, garante a remoção integral da cápsula.

A vantagem da técnica apresentada reside no fato de que não é necessária a separação tecidual do cisto e dos tecidos vizinhos, o que, por sua vez, diminui o sangramento e, consequentemente, o tempo cirúrgico. A técnica é simples, rápida e pode ser aplicada em locais como a superfície rígida do couro cabeludo3.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Laura Costa Beber de Jesus | 0000-0003-2347-5554
Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Gabriela Machado Dias Junqueira | 0000-0003-0899-9341
Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Getullio Pisa Carneiro | 0000-0001-7748-0282
Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Douglas Haddad Filho | 0000-0001-9304-4739
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

 

REFERÊNCIAS

1. Junior WB, Chiacchio ND, Criado PR. Tratado de dermatologia. 2nd ed. São Paulo: Atheneu, 2014. p. 2332.

2. Sampaio SAP, Rivitti EA. Dermatologia. 3th ed. São Paulo: Artes Médicas, 2007. p. 1120-1121.

3. Galdelha ADR, Costa IMC. Cirurgia Dermatológica. 3th ed. São Paulo : Atheneu, 2017. p. 761-762.

4. Al-Khateeb TH, Al-Masri NM, Al-Zoubi F. Cutaneous cysts of the head and neck. J Oral Maxillofac surg. 2009;67(1):52-7.

5. Fitzpatrick TB. Fitzpatrick's color atlas and synopsis of clinical dermatology. 5th ed. New York: McGraw-Hill, 2005. p. 171.

6. Mehrabi D, Leonhardt JM, Brodell RT. Removal of keratinous and pilar cysts with the punch incision technique: analysis of surgical outcomes. Dermatol Surg. 2002;28(8):673-7.

7. Lopes Filho LL, Lopes LRS. Cistos (Epidérmico, Pilar, Mixoide, Dermoide), Dermatofibroma e Lipoma. In: Palermo E. [et al.] editors. Tratado de cirurgia dermatológica, cosmiatria e laser da Sociedade Brasileira de Dermatologia. 1st ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 621-627.


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