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Pandemia da COVID-19: recomendações de retorno às clínicas dermatológicas

Pitila Ramalhoto1; Bianca Viscomi2; Carla de Sanctis Pecora2; Suyan Vasconcelos3; Rossana Vasconcelos4; Nicoli Oliveira5; Carlos David Araújo Bichara6; Ada Trindade de Almeida7

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.202012208

Data de recebimento: 25/05/2020
Data de aprovação: 30/05/2020


Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Trabalho realizado em clínicas particulares e Serviços de Dermatologia nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Sergipe, Brasil


Abstract

A pandemia da COVID-19 trouxe inúmeros desafios aos profissionais da saúde. O objetivo das recomendações presentes neste artigo é dar diretrizes para promover o cuidado com a saúde de pacientes e equipe médica nas clínicas dermatológicas, minimizando o risco de contágio.

Dado o caráter eletivo dos procedimentos estéticos, cuidado adicional deve ser tomado de modo a proteger a saúde de todos. Por meio de medidas comportamentais e ambientais, é possível manter o funcionamento das clínicas com maior segurança e ajudar os pacientes a sentir-se seguros após um longo período de stress durante o isolamento.


Keywords: Clínicas, SARS-CoV-2; COVID-19; Dermatologia; Pandemia.


INTRODUÇÃO

O novo coronavírus (SARS-CoV-2) foi identificado pela primeira vez em Wuhan, na China, em dezembro de 2019.1 Em março de 2020, a COVID-19, causada pelo novo coronavírus, foi oficialmente declarada pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), representando crise de saúde global sem precedentes.2

A principal via de transmissão é por meio da secreção respiratória (aerossóis ou contato direto). Os sintomas podem aparecer após dois a 14 dias da exposição, com um período de incubação de quatro a sete dias. Os sintomas são febre (98%), anosmia (80%), tosse (76%), dispneia (50%) e mialgia ou fadiga (44%), porém muitos pacientes podem ser assintomáticos e mesmo assim transmitir a doença.3

A prática dermatológica engloba atendimento clínico, cirúrgico e cosmiátrico. Assumindo que os procedimentos estéticos dermatológicos são considerados não essenciais e não emergenciais, é imperativo preparação adequada para o exercício seguro da Dermatologia.3,4

Para discutir a forma mais segura do exercício da Dermatologia neste novo cenário, um grupo de dermatologistas brasileiros desenvolveu um guia de condutas de segurança para atendimento ambulatorial, com base nas orientações de órgãos oficiais como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), OMS e publicações científicas.5,6

Adequação de clínicas e consultórios

Como indivíduos assintomáticos podem ser transmissores, o preparo do ambiente deve ser feito de forma cautelosa, considerando todo paciente como possível portador da COVID-19.

As seguintes medidas devem ser implementadas: (Figura 1)1,5,6,7

• Álcool em gel a 70%: dispensers na entrada da clínica e em todos os ambientes, permitindo fácil higienização das mãos.

• Distanciamento social: o ambiente deve ser preparado de forma a manter distanciamento mínimo entre as pessoas de 1,5 a 2m. Retirada ou bloqueio de assentos, marcações no solo e barreiras de acrílico são algumas opções para ajudar nesta medida.

• Máscaras descartáveis: todo paciente deve ser orientado a comparecer à consulta usando máscara. Caso compareça sem, deve ser fornecida na entrada da clínica e só retirada quando solicitada pelo médico.

• Higienização do ambiente: o staff deve ser treinado em relação ao processo correto de higienização e desinfecção da clínica. O ambiente deve ser limpo no início e no final do dia. Áreas comuns, como banheiros, salas de atendimento e procedimento, devem ser limpas antes e após o uso de cada paciente. Alguns métodos e substâncias podem ser utilizados, como luz ultravioleta, álcool a 70%, soluções de hipoclorito de sódio e preparações comerciais contendo estas substâncias.

• Remoção de materiais compartilhados: todo material de uso compartilhado, como revistas, jornais e panfletos, deve ser retirado da recepção. Para servir bebida, usar recipientes descartáveis. As canetas devem ser descartadas em recipiente para posterior higienização, e oferecidas às pessoas já higienizadas.

• Diminuição do fluxo de pessoas: deve ser incentivada por meio do rodízio de equipe, restrição de acompanhantes e ajustes na marcação da agenda. A sugestão dos autores é de intervalo mínimo de 40 minutos entre as consultas, podendo ser maior no caso de procedimentos estéticos e cirúrgicos.

• Ambientes ventilados e arejados: janelas e portas devem permanecer abertas para dispersão de partículas virais suspensas no ambiente. Se possível, fazer rodízio de salas para facilitar limpeza.

• Comunicação visual: deve ocorrer com orientações de ética de tosse, higiene das mãos e distanciamento físico.

• Propés e aferição de temperatura: Antes de entrar na clínica, a temperatura do paciente pode ser aferida, e propé, oferecido.

Recomendações pré-consulta

É essencial que seja adotada comunicação clara e transparente entre a clínica e o paciente. No período de retomada durante a COVID-19, isso facilitará a triagem dos indivíduos aptos a comparecer à clínica. Também criará uma atmosfera de confiança, mostrando a preocupação de toda a equipe em manter o local o mais seguro possível,7 de acordo com fluxograma de atendimento na figura 2.

A telemedicina deve ser promovida para consultas médicas, definições de protocolos de tratamento e demais esclarecimentos.1,7,8 Desta forma, haverá redução do fluxo de pacientes, do tempo de permanência na clínica e do risco de contaminação no percurso até lá.

Sendo a consulta presencial necessária, o paciente deverá responder previamente a questionário sobre situações de risco e sintomas da COVID-19, descrito na figura 3.7,8 Diante de qualquer sintoma, o agendamento deverá ser adiado em 20 dias.

Se o indivíduo estiver apto à consulta presencial, um segundo contato deve ser feito na véspera, à procura do surgimento pessoal ou em familiares de sintomas da doença. Caso negativo, deve receber por mensagem ou e-mail, orientações de segurança descritas na figura 4.

Se o paciente for de alto risco para as complicações da COVID-19, como idosos, imunocomprometidos, portadores de doenças cardíacas e pulmonares ou outras comorbidades, como diabetes, hipertensão arterial ou obesidade, deve-se avaliar o adiamento de procedimentos não essenciais.7

Equipamentos de proteção individual

A Sociedade Brasileira de Infectologia recomenda o uso da máscara cirúrgica durante a permanência do profissional no consultório, clínica ou hospital, que deve ser trocada regularmente, enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a N95. Máscaras de pano não devem ser usadas pelos profissionais de saúde, incluindo médico e staff clínico, sendo seu uso permitido apenas pelos pacientes (Figura 5).9

Durante o exame físico ou procedimento, orienta-se o uso de avental descartável, que deve ser trocado a cada atendimento. Em situações de proximidade com a face do paciente, sugere-se o uso de máscara N95, óculos de proteção e/ou face shield.3 O uso de luvas é necessário somente durante os procedimentos.3

Recomendações durante o atendimento

O atendimento deve ser realizado, se possível, com as janelas abertas para otimizar a circulação de ar. O ar-condicionado pode ou não permanecer ligado. Durante a anamnese, médico e paciente devem usar máscaras.10

Recomendam-se higiene das mãos antes e após o contato com o paciente e não tocar a face com as mãos contaminadas. A higiene das mãos deve ser realizada com água e sabão ou álcool 70%, substâncias capazes de dissolver a membrana lipídica do vírus e torná-lo inativo.3,10,11 Se forem utilizados água e sabão, a lavagem deve durar aproximadamente um minuto. Quando a escolha for por álcool em gel 70%, a higiene das mãos deve durar aproximadamente 20 segundos.

A maca deve estar coberta com lençóis descartáveis que devem ser removidos e desprezados após cada paciente utilizá-los, mantendo sempre um cuidado adequado para evitar autocontaminação. Todos os aparelhos que possam ser utilizados em contato direto com o paciente devem ser higienizados com álcool 70%.3,11

No momento do exame físico, a máscara do paciente poderá ser retirada para avaliação da face e mucosa oral.10 Como há o risco de transmissão por gotículas neste momento, sugerimos o uso de óculos de proteção ou face shield adicionalmente à máscara cirúrgica ou N95 para aumento da proteção.5,6,10 A figura 6 inclui recomendações de segurança sobre procedimentos dermatológicos específicos.

Após cada consulta, deverão ser higienizadas com álcool 70% ou solução de hipoclorito de sódio a 1% todas as superfícies tocadas pelo paciente ou acompanhante, como mesa de anamnese, cadeira, maca, balança, esfigmomanômetro, termômetro etc.3,10,11

Testes laboratoriais

Os testes para COVID-19 podem ser divididos em:

- Teste relacionados ao vírus: RT-PCR/COVID-19.

- Pesquisa de anticorpos ou testes sorológicos: para detectar IgM, IgA, IgG, que podem ser realizados por diversas metodologias como Elisa, quimiofluorescência e imunofluorescência.

Na prática médica, até o presente momento, não existe consenso sobre protocolo de testes para COVID-19.12

Um teste positivo é altamente sugestivo de COVID-19, o negativo não descarta a doença. Pacientes e profissionais da saúde devem assumir que têm a doença caso tenham sinais ou sintomas, mesmo que seu teste seja negativo.13

A indicação dos testes para COVID-19 deve seguir as figuras 7 e 8, e a interpretação dos exames laboratoriais, a figura 9.

 

CONCLUSÃO

A pandemia trouxe desafios inimagináveis.14-16 A constante descoberta de informações faz com que os profissionais de saúde tenham um desafio extra em se manterem atualizados com as melhores práticas. As adaptações têm que ser feitas para mitigação de riscos e garantia de segurança para o paciente e todos os profissionais envolvidos.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Pitila Ramalhoto | 0000-0002-4359-7607
Contribuição no artigo: Aprovação da versão final; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Bianca Viscomi | 0000-0001-9909-258X
Contribuição no artigo: Aprovação da versão final; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Carla de Sanctis Pecora | 0000-0002-0711-281X
Contribuição no artigo: Aprovação da versão final; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Suyan Vasconcelos | 0000-0003-3109-8613
Contribuição no artigo: Aprovação da versão final; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Rossana Vasconcelos | 0000-0002-6185-1840.
Contribuição no artigo: Aprovação da versão final; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Nicoli Oliveira | 0000-0001-6540-0898.
Contribuição no artigo: Aprovação da versão final; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Carlos David Araújo Bichara | 0000-0002-7107-3640.
Contribuição no artigo: Obtenção, análise e interpretação dos dados.

Ada Trindade de Almeida | 0000-0002-4054-2344
Contribuição no artigo: Aprovação da versão final; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

 

REFERÊNCIAS

1. Kaye K, Paprottka F, Escudero R, Casabona G, Montes J, Fakin R, et al. Elective, non-urgent, procedures and aesthetic surgery in the wake of SARS–COVID-19: considerations regarding safety, feasibility and impact on clinical management. Aesthetic Plast Surg. 2020 14:1-29.

2. Al-Benna S. Availability of COVID-19 information from national and international aesthetic surgery society websites. Aesth Plast Surg. 2020;12:1-4.

3. Jindal A, Noronha M, Mysore V. Dermatological procedures amidst COVID-19: when and how to resume. Dermatol Ther. 2020;12:e13561.

4. Kapoor KM, Chatrath VC; Boxley SG; Nurlin I, Snozzi P, Demosthenes N, et al. COVID-19 Pandemic: consensus guidelines for preferred practices in an aesthetic clinic. Dermatologic Therapy. Epub 2020 May 16.

5. Anvisa [Internet]. Orientações para serviços de saúde: medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas durante a assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). 2020. [cited 2020 Maio 8]. Available from: http://www.portal.anvisa.gov.br

6. WHO [Internet]. Novel Coronavirus (COVID-19) Dashboard. [acessed 2020 jun 7]. Available from: https://www.who.int/.

7. Dover JS, Moran ML, Figueroa JF, Furnas H, Vyas JM, Wiviott LD, et al. A path to resume aesthetic care: executive summary of project AesCert guidance supplement-practical considerations for aesthetic medicine professionals supporting clinic preparedness in response to the SARS-CoV-2 outbreak. Facial Plast Surg Aesthet Med. 2020;22(3):125-151.

8. Euclides Cavalcanti. COVID-19: a physician practice guide to reopening. In.: American Medical Association [Internet]. 2020. [cited 2020 May 21]. Available from: https://www.ama-assn.org/delivering-care/public-health/covid-19-physician-practice-guide-reopening

9. Weissmann L, Cunha AC, Chebabo A, Michelin L, Bandeira ACA, Domingos de Oliveira PR, et al. Nota de esclarecimento (Uso de máscaras na pandemia de COVID-19) [Cited 2020 Apr 2]. In.: Sociedade Brasileira de Infectologia [Internet]. Available from: https://www.infectologia.org.br/

10. Recomendações de Cuidados para Consultórios Médicos do Hospital Sírio-Libanês. https://www.hospitalsiriolibanes.org.br. Abr 2020.

11. Türsen Ü, Türsen B, Lotti T. Coronavirus-days in dermatology. Dermatol Ther. 2020:e13438.

12. Bachelet V. Do we know the diagnostic properties of the tests used in COVID-19? A rapid review of recently published literature Medwave 2020;20(3):e7891

13. Beeching NJ, Fletcher TE, Beadsworth MBJ. COVID-19: testing times. BMJ 2020;369:m1403

14. David Bichara. COVID-19: marcadores sorológicos. Goiás: PUC; 2020.

15. Sociedade Brasileira de Dermatologia [Internet]. Orientações da Sociedade Brasileira de Dermatologia sobre o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) aos profissionais da área da saúde [cited 2020 Apr 21]. Available from: https://www.sbd.org.br

16. Anvisa [Internet]. Protocolo de manejo clínico do novo coronavírus (COVID-19) na atenção primária à saúde [cited 2020 May 4]. Available from: https://portalarquivos2.saude.gov.br


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