John Verrinder Veasey; Nabila Scabine Pessotti
Data de recebimento: 20/08/2018
Data de aprovação: 26/12/18
Trabalho realizado na Instituição: Clínica de Dermatologia, Hospital da Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum
Escabiose é infecção cutânea contagiosa causada pela penetração do ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis na epiderme. A suspeita diagnóstica é feita pela história, distribuição clínica das lesões e sua aparência, porém sua confirmação se dá com a identificação do parasita. Apresentamos os aspectos dos métodos diagnósticos da escabiose, desde a identificação por microscopia óptica de raspados cutâneos de lesão ou pelo uso de fita adesiva sobre as lesões, à identificação com uso do dermatoscópio, ferramenta presente na maioria dos consultórios dermatológicos e que, mesmo em mãos inexperientes, possui sensibilidade e especificidade aceitáveis.
Keywords: Dermoscopia; Diagnóstico por imagem; Doenças da pele e do tecido conjuntivo; Escabiose; Microscopia
Escabiose é infecção cutânea contagiosa causada pela penetração do ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis, um parasita humano obrigatório, no estrato granuloso da epiderme. Clinicamente, é caracterizada por lesões pápulo-vesiculares, eritematosas, geralmente simétricas, com predileção pelas regiões palmoplantares e interdigitais, axilas, mamilos, região periumbilical, cotovelos, face anterior dos pulsos, cintura e genital, que provocam intenso prurido, principalmente à noite. A suspeita diagnóstica é feita pela história, distribuição clínica das lesões e sua aparência.1 A escabiose, entretanto, pode apresentar padrão clínico atípico em certas situações, como em pacientes em uso prolongado de corticoides e imunossuprimidos.2 O diagnóstico definitivo baseia-se na identificação microscópica dos ácaros, ovos ou elementos fecais. Tais elementos são classicamente identificados pela microscopia óptica em amostras de raspados cutâneos coletadas com lâmina de bisturi e colocadas em lâmina de vidro com hidróxido de potássio a 10%, ou até mesmo por coleta realizada ao colocar um pedaço de fita adesiva sobre a pele, removê-la lentamente e colar nas lâminas de microscópio a fim de se visualizar o ácaro em microscopia óptica1 (Figuras 1 e 2). Esses dois métodos de coleta são também realizados no diagnóstico de outras parasitoses por ácaros, como as demodecidoses.2
Em 1992, Kreusch sugeriu o uso do dermatoscópio para detecção in vivo do Sarcoptes scabiei, afastando a necessidade de coleta de material para análise em microscópio óptico.3 Desde então diversos autores têm relatado o uso desse aparelho para determinação dos aspectos encontrados nessa parasitose, que pode ser com identificação direta e indireta do ácaro.3-5
Pelo dermatoscópio é possível a visualização direta do agente na epiderme, quando analisadas as lesões cutâneas mais recentes. Nesses casos nota-se estrutura triangular que corresponde à cabeça e aos dois pares de membros anteriores, representando a porção anterior do ácaro adulto (Figura 3). Além do benefício da utilização de um instrumento não invasivo, bem aceito pelos pacientes por causar pouco desconforto e presente na maioria dos consultórios dermatológicos, o uso do dermatoscópio apresenta outra vantagem frente aos métodos clássicos de identificação do agente por microscopia óptica, que é a identificação indireta do ácaro. Pela análise dermatoscópica da lesão cutânea é possível evidenciar sinais da presença do agente por meio de estruturas tunelares que correspondem ao caminho percorrido pelo ácaro em seu momento de parasitismo. Nas imagens dermatoscópicas a estrutura do túnel consiste em um fino trecho delimitado com escamas esbranquiçadas, e é mais bem evidenciado quando utilizadas luzes não polarizadas. A identificação do túnel auxilia também a busca do ácaro, visto que é ao final dessa estrutura que encontramos com maior frequência o Sarcoptes scabiei (Figura 4).
Há vários trabalhos na literatura que expõem a experiência do diagnóstico dermatoscópico da escabiose. Dupuy et aí.4 demonstraram que a dermatoscopia possui sensibilidade diagnóstica de 91%, em comparação aos 90% dos raspados de pele, e especificidade de 86%, quando a dos raspados é de 100%. Outro estudo demonstrou que o raspado de pele somado à dermatoscopia possui maior acurácia e rapidez para diagnosticar escabiose, do que sem ela.5 Outro aspecto importante a ressaltar no uso do dermatoscópio é a ausência de qualquer risco à integridade do paciente, diferentemente da coleta clássica realizada com lâmina de bisturi, que em seu processo de coleta pode acarretar cortes e abrasões na pele do paciente, e levar a ferimentos em locais sensíveis com risco de complicações e cicatrizes inestéticas.
O presente trabalho ilustra a importância da identificação dos aspectos diagnósticos da escabiose, facilitando a decisão terapêutica para uma doença altamente contagiosa, cujo atraso no tratamento pode resultar em surtos epidêmicos e ônus econômico.
John Verrinder Veasey | ORCID 0000-0002-4256-5734
Aprovação da versão final do original, concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do original, participação efetiva na orientação da pesquisa, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, revisão crítica da literatura, revisão crítica do original
Nabila Scabine Pessotti | ORCID 0000-0003-0879-2981
Concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do original, obtenção, análise e interpretação dos dados, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, revisão crítica da literatura, revisão crítica do original
REFERÊNCIAS
1. Hicks MI, Elston DM. Scabies. Dermatol Ther. 2009;22(4):279-92.
2. Veasey J, Framil V, Ribeiro A, Lellis R. Reflectance confocal microscopy use in one case of Pityriasis folliculorum: a Demodex folliculorum analysis and comparison to other diagnostic methods. Int J Dermatol. 2014;53(4):e254-7.
3. Kreusch J. Incident ligh microscopy: Reflections on microscopy of the living skin. Int J Dermatol. 1992;31(9):618-20.
4. Dupuy A, Dehen L, Bourrat E, Lacroix C, Benderdouche M, Dubertret L, et al. Accuracy of standard dermoscopy for diagnosing scabies. J Am Dermatol. 2007;56(1): 53-62.
5. Park JH, Kim CW, Kim SS. The diagnostic accuracy of dermoscopy for scabies. Ann Dermatol. 2012;24(2):194-9.