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Relato de casos

Metástase cutânea de carcinoma folicular de tireóide mimetizando granuloma piogênico

Caroline Paias Ribeiro1; Fabiana Oliveira da Silva1; Ticiana de A. Castelo Branco Diniz1; Mario Cezar Pires1,2; Neusa Yuriko Sakai Valente1,3

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181031985

Data de recebimento: 23/02/2017

Data de aprovação: 21/08/2018


Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público do Estado - São Paulo (SP), Brasil

Suporte financeiro: Nenhum

Conflito de interesse: Nenhum


Abstract

O carcinoma folicular de tireóide é um tumor bem diferenciado, considerado o segundo subtipo mais comum de câncer de tireóide. Sua metástase geralmente ocorre por via hematogênica, principalmente para pulmões e ossos, porém é rara quando cutânea. Relatamos caso de paciente com carcinoma folicular de tireóide há 5 anos que percebeu lesão nodular exofítica de 1cm, eritematosa, friável no couro cabeludo com 7 meses de evolução, simulando granuloma piogênico. A biópsia revelou adenocarcinoma com diferenciação glandular e material coloide no lúmen. O perfil imuno-histoquímico foi positivo para CK-7 e tireoglobulina, favorecendo o diagnóstico de metástase cutânea de neoplasia primária da tireóide.


Keywords: Dermatologia; Granuloma piogênico; Neoplasias; Metástase neoplásica


INTRODUÇÃO

O carcinoma folicular de tireóide é um tumor bem diferenciado, considerado o segundo subtipo mais comum de câncer de tireóide, seguido pelo carcinoma papilífero. Sua metástase geralmente ocorre por via hematogênica, principalmente para os pulmões e ossos, e o diagnóstico é confirmado pelo estudo histopatológico e imunohistoquímico das lesões suspeitas.1

As metástases cutâneas de carcinoma folicular de tireóide são consideradas um evento raro, e a sua ocorrência sinaliza doença avançada.2 Apresentam-se como lesões eritematosas, placas purpúricas ou nódulos de crescimento lento, que podem ulcerar, em paciente com antecedente de carcinoma folicular de tireóide, geralmente com metástase óssea e/ou visceral já presentes. Na maioria dos casos, as lesões se localizam no couro cabeludo, seguido da face e pescoço, devido à intensa vascularização da derme nestes locais.3

Em virtude da semelhança clínica, especialmente quando a lesão se apresenta de forma nodular, eritematosa e friável, deve ser considerado o diagnóstico diferencial com granuloma piogênico.

Relata-se um caso de metástase cutânea de carcinoma folicular de tireóide no couro cabeludo que clinicamente simulava uma lesão de granuloma piogênico.

 

RELATO DE CASO

Paciente feminina de 53 anos, teve diagnóstico de carcinoma folicular de tireóide há 5 anos, tendo sido submetida a tireoidectomia total e radioiodoterapia. Porém apresentou aplasia de medula óssea após este procedimento, tendo sido contraindicadas novas sessões. Já na presença de metástases óssea, hepática e pulmonar, notou uma lesão nodular exofítica medindo cerca de 1cm, eritematosa, friável, localizada no couro cabeludo, com 7 meses de evolução (Figura 1), simulando granuloma piogênico. A biópsia revelou adenocarcinoma com diferenciação glandular com material coloide no lúmen (Figuras 2 e 3). O perfil imuno-histoquímico foi positivo para CK-7 (Figura 4) e tireoglobulina (Figura 5), favorecendo o diagnóstico de metástase cutânea de neoplasia primária da tireóide.

 

DISCUSSÃO

As metástases cutâneas ocorrem em 2% a 9% dos pacientes portadores de doenças malignas.2 Os tumores primários que mais metastatizam para a pele são os de mama nas mulheres, e os de pulmão nos homens.4 A metástase cutânea de carcinoma folicular de tireóide é considerada um evento raro,2 ainda que ocorra com mais frequencia do que no carcinoma papilífero de tireóide.3 O local mais comumente afetado é o couro cabeludo,2 podendo ocorrer também em cicatriz de tireoidectomia e na pele da região sacral.5 Deve ser suspeitada na presença de lesões nodulares eritematosas ou placas purpúricas de crescimento lento, geralmente assintomáticas, em pacientes com doença avançada.3 O diagnóstico se confirma pelo estudo histopatológico e imunohistoquímico.3 Quando bem diferenciada, a metástase cutânea mantém as características morfológicas do tumor primário.5

A terapêutica é baseada no tratamento da doença primária, com tireoidectomia total e radioiodoterapia. Em casos avançados, o prognóstico é limitado, em torno de 19 meses de sobrevida após a detecção da metástase cutânea.2-3

Por sua vez, o granuloma piogênico é um tumor proliferativo vascular, comum, mais encontrado em crianças, mas também em adultos, principalmente na face, mãos, lábios ou mucosa oral.6 Apresenta-se como nódulo ou pápula, de crescimento rápido, usualmente solitário, de cor vermelha, por vezes com colar de escamas discreto, de fácil sangramento.

A simulação de granuloma piogênico já foi descrita no carcinoma basocelular de quirodáctilo,7 na metástase cutânea de carcinoma basalóide do canal anal,4 no carcinoma hepatocelular8 e no melanoma amelanótico9, porém não encontramos relato de metástase cutânea de carcinoma folicular de tireóide simulando granuloma piogênico.

Metástase de carcinoma renal é a que mais se assemelha a granuloma piogênico,4 tendo Guadalupe et al., em 2006, relatado o caso de um paciente de 80 anos de idade, com lesão nodular exofítica no couro cabeludo, medindo cerca de 1cm, vermelho-purpúrica, friável, sobre base lisa e brilhante, com 18 meses de evolução.10 Foi realizada biópsia da lesão com a hipótese diagnóstica de granuloma piogênico, evidenciando à histopatologia metástase de células renais.

Considerando o caso exposto, concluímos que é relevante considerar o diagnóstico diferencial de metástase cutânea em lesões sugestivas de granuloma piogênico, as quais devem sempre serem submetidas à histopatologia, pela possibilidade de se tratarem de simuladores de granuloma piogênico, dentre os quais destacamos as metástases de neoplasias malignas.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Caroline Paias Ribeiro | ORCID 0000-0002-1226-3487
Elaboração e redação do texto

Fabiana Oliveira da Silva | ORCID 0000-0002-4114-7952
Elaboração e redação do texto

Ticiana de Andrade Castelo Branco Diniz | ORCID 0000-0003-0083-5123
Elaboração e redação do texto

Mario Cezar Pires | ORCID 0000-0001-7587-8932
Revisão crítica

Neusa Yuriko Sakai Valente | 0000-0002-8065-2695
Revisão crítica

 

REFERÊNCIAS

1. Jehangir A, Pathak R, Aryal M, Qureshi A, Jehangir Q, Alweis R, et al. Thyroid follicular carcinoma presenting as metastatic skin nodules. J Community Hosp Intern Med Perspect. 2015;5(1):26332.

2. Dahl P, Brodland DG, Goellner JR, Hay ID. Thyroid carcinoma metastatic to the skin: a cutaneous manifestation of a widely disseminated malignancy. J Am Acad Dermatol. 1997;36(4):531-7.

3. Márquez GA, Ferrándiz PL, Ríos-Martín JJ, Camacho MF. Cutaneous metastases on the head and neck from a papillary thyroid carcinoma, follicular variant. Actas dermo-sifiliograficas. 2016;107(1):83-5.

4. Verardino GC, Silva RSD, Obadia DL, Gripp AC, Alves MDFGS. Rare cutaneous metastasis from a probable basaloid carcinoma of the colon mimicking pyogenic granuloma. An Bras Dermatol. 2011; 86(3):537-40.

5. Quinn TR, Duncan LM, Zembowicz A, Faquin WC. Cutaneous metastases of follicular thyroid carcinoma: a report of four cases and a review of the literature. Am J Dermatopathol. 2005;27(4): 306-312.

6. Gupta D, Singh N, Thappa DM. Is timolol an effective treatment for pyogenic granuloma? Int J Dermatol. 2016;55(5):592-595.

7. Kim HS, MIN J, KIM HO, Park YM. Basal cell carcinoma of the finger resembling a pyogenic granuloma. J Dermatol. 2009;36(3):174-175.

8. Kubota Y, Koga T, Nakayama J. Cutaneous metastasis from hepatocellular carcinoma resembling pyogenic granuloma. Clin Exp Dermatol. 1999;24(2):78-80.

9. Rao AG, Babu VA, Koppada D, Haritha M, Chandana P, Swapna, et al. Amelanotic melanoma in the vicinity of acquired melanocytic nevi and not arising from agminated melanocytic nevi: asquerading as pyogenic granuloma. Indian J Dermatol. 2016;61(1):122.

10. Guadalupe EC, Maria EVM, Rosa MLN, Sonia TC. Scalp metastases of a renal cell carcinoma. Skinmed. 2016;5(3):148-50.


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