7181
Views
Open Access Peer-Reviewed
Comunicações

Transplante capilar: técnica Fast FUE – Implantação durante todo o período de extração

Gustavo Martins; Gabriel Fachini

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201810302

Data de recebimento: 25/06/2018

Data de aprovação: 15/08/2018


Trabalho realizado na Clínica Dr. Gustavo Martins - Transplante Capilar, Uberlândia (MG), Brasil

Suporte Financeiro: Nenhum

Conflito de Interesses: Nenhum


Abstract

INTRODUÇÃO: O transplante capilar promove a redistribuição dos fios no couro cabeludo para cobrir a área calva. A implantação na técnica FUE (Follicular Unit Extration), normalmente ocorre após a extração dos enxertos. Porém, quanto mais cedo os enxertos forem implantados, melhor será a integração com a área receptora.
OBJETIVO: Deixar os enxertos o mínimo possível fora do organismo, durante a realização de transplante capilar com técnica FUE, e consequentemente aumentar sua integração na área receptora.
MÉTODOS: Foram desenvolvidas uma cadeira e uma maca elétricas projetadas e fabricadas para extrair e implantar ao mesmo tempo.
RESULTADOS: Os aparatos, ao modificar o campo cirúrgico, possibilitaram a implantação concomitante à extração.
CONCLUSÕES: Essa metodologia, denominada Fast FUE proporciona implantação concomitante à extração, reduz o tempo de cirurgia e deixa os enxertos menos tempo fora do corpo.


Keywords: Alopecia; Cabelo; Cabelo/transplante


INTRODUÇÃO

O transplante capilar promove a redistribuição dos fios no couro cabeludo, mediante retirada de enxertos da área doadora e posterior colocação na área receptora, na qual há falta de cabelos.

A técnica FUE (Follicular Unit Extration), tradicionalmente é dividida em fase de extração, na qual os enxertos são removidos, e fase de implantação, na qual os enxertos são implantados na área receptora. Um dos pilares do transplante capilar é a hidratação das unidades foliculares.1,2 Sem hidratação os enxertos sobrevivem pouco tempo.

Embora mantidos hidratados, quanto menos tempo os enxertos ficarem fora do organismo, melhor será sua integração na área receptora,3 e consequentemente um menor número de enxertos será perdido.

Na técnica FUT (Follicular Unit Transplantation) é retirada uma faixa contendo pele e cabelos. A obtenção das unidades foliculares ocorre pela dissecção microscópica dos enxertos. Nessa técnica, durante a separação dos enxertos, já é iniciada a implantação.

Na técnica FUE, a extração é feita enxerto por enxerto com instrumentos cilíndricos ocos e cortantes denominados punchs. A implantação ocorre após a coleta dos enxertos4 deixando, em geral, os enxertos mais tempo fora do organismo do que na FUT.

É recomendável que o período da extração não exceda quatro horas5 para não reduzir a sobrevida dos enxertos.

 

OBJETIVO

Visando deixar os enxertos o mínimo tempo possível fora do organismo e consequentemente aumentar sua sobrevida e o índice de integração na área receptora, os autores desenvolveram a técnica Fast FUE, metodologia usada na cirurgia de FUE, na qual durante todo o período de extração das unidades foliculares, os enxertos já vão sendo implantados.

 

METODOLOGIA

A linha de produção descrita por Henry Ford6,7 em 1913 promove a racionalização da produção por mudanças técnicas e organizacionais em atividades sequenciais. É usada em diversas situações acelerando os processos e aumentando a produtividade.

Ao aplicarmos a linha de produção no processo do transplante capilar, identificamos um entrave que não permitia o fluxo e diminuía potencialmente a capacidade da técnica FUE tradicional.

As etapas do processo de transplante capilar FUE podem ser descritas como:

Perfuração com punchs;

Extração com pinças;

Separação, controle de qualidade e armazenamento;

Carregamento de implanters;

Implantação.

(Figura 1)

Essa incapacidade de extrair e implantar ao mesmo tempo ocorre quando o paciente ocupa uma maca médica elétrica tradicional, onde ocorre a regulagem de subida e descida (eixo vertical) em bloco. Algumas têm posição de Tredelemburg, Tredelemburg invertido e inclinação lateral, entretanto, esses movimentos têm amplitude e arcos de movimento limitados para que o paciente que está deitado não caia da maca. Nesse tipo de maca, todos os integrantes da equipe trabalham em um mesmo nível. Com o paciente em decúbito ventral, as mãos do cirurgião e as da assistente que remove as unidades movimentam-se apontadas para baixo (Figura 2).

Ao implantar na região frontal (sede da maioria dos transplantes) estando o paciente em decúbito ventral, as mãos da implantadora movimentam-se em sentido inverso às do cirurgião.

Para que três pessoas possam trabalhar concomitantemente sobre a cabeça do paciente, fazendo perfurações (cirurgião), coletando os enxertos (assistente) e implantando (implantadora), desenvolvemos os aparatos adequados: uma cadeira e uma maca elétricas. Ambas foram projetadas e fabricadas para proporcionar a posição ideal para a cirurgia de transplante capilar usando a técnica FUE.

Tanto a cadeira quanto a maca proporcionam que a equipe trabalhe em dois planos diferentes. Em pé (Cirurgião e Assistente de extração) e sentado (Implantadora), dando acessibilidade a 360°graus da circunferência do crânio (Figura 3).

Com nossos aparatos foi possível implantar durante todo o período da extração e de maneira ininterrupta, acelerando o processo de implantação (Figura 4).

Descrição da técnica Fast FUE

1) Marcação das áreas doadora e receptora (raspagem opcional).

2) Anestesia local da área receptora e doadora com solução anestésica contendo soro fisiológico, lidocaína, ropivacaína e adrenalina.

3) Realização de incisões prévias: utiliza-se a técnica dull needle implanter and premade incisions descritas por Mauro Speranzini,8 antes da extração, utilizando-se lâminas customizadas de 0.9 a 1.1mm. Quando se utilizam implanters afiados não há necessidade de incisões prévias.

4) Posicionamento confortável do paciente e do cirurgião que se coloca atrás do seu braço esquerdo.

5) FUE motorizada com aspiração sem pedal e punchs de 0,85 a 0,95mm de diâmetro real.

6) Posicionamento da assistente que remove os enxertos atrás do braço direito do paciente.

7) Inspeção, contabilização, separação e armazenamento dos enxertos por ordem de tempo de extração.

8) Carregamento dos enxertos nos implanters

9) Posicionamento do implantador que implanta os enxertos de frente para a cabeça do paciente.

10) Após o término da extração, o paciente é colocado em decúbito dorsal em maca médica tradicional, e a implantação dos enxertos é concluída com dois implantadores ao mesmo tempo.

11) Realização de curativo apenas na área doadora.

Além das três pessoas que atuam ao mesmo tempo diretamente sobre a cabeça do paciente a equipe é composta de outras pessoas: assistente que conta, separa e checa a qualidade das unidades foliculares; assistente que carrega os implanters; e assistente que circula, ajustando posições e fornecendo materiais.

Há a possibilidade de implantar durante a extração com dois implantadores ao mesmo tempo, o que acelera ainda mais a implantação e o procedimento.

 

RESULTADOS

Os aparatos, ao modificar o campo da área a ser implantada, possibilitaram a implantação concomitante à extração.

 

DISCUSSÃO

A contração isométrica dos músculos esternocleidomastóideo, escalenos e trapézio é o maior causador de desconforto se o encosto de cabeça não for adequado ou não estiver bem adaptado ao paciente.

Inicialmente foi desenvolvida uma cadeira, porém alguns pacientes, principalmente os obesos e aqueles com problemas ortopédicos e reumatológicos, tinham dificuldade em se manter sentados. Para esses a maca proporcionou a mesma posição da cabeça que a cadeira proporcionava.

A elevação da cabeça obtida tanto pela cadeira quanto pela maca permite que o cirurgião e a assistente que remove os enxertos atuem de pé e a implantadora atue sentada ou em pé dependendo de sua altura e da área a ser implantada.

Foi necessário o treinamento da equipe de maneira totalmente diferente da que estava habituada a trabalhar.

As várias regulagens, a estrutura reforçada, além da fixação ao solo, nos permitiu a adaptação de pessoas de diferentes compleições físicas.

O quadro 1 resume as posições de extração e implantação.

A posição 1, rotação lateral da cabeça para direita, foi a adotada como inicial (Figura 5).

A posição 2, extração occipital e implantação frontal, se inicia após a extração da região parietal direita (Figura 6).

O resumo das características da técnica Fast FUE está descrito na quadro 2. As dificuldades da sua realização incluem:

- o atraso de um dos processos compromete a evolução dos outros em cascata, impedindo o uso das vantagens da técnica;

- os pacientes obesos mórbidos, com problemas ortopédicos ou reumatológicos.

 

Figura 7

 

 

Figura 8

 

Por meio dessa técnica, é possível realizar concomitantemente a extração e a implantação. A média de implantação foi de 300 a 350 enxertos por hora durante o período de extração ao se utilizar incisões prévias (um implantador). Com implanters novos (afiados), implantamos de 400 a 500 por hora durante a extração (um implantador).

De maneira geral, a cirurgia termina em menos tempo do que quando se faz a implantação somente após a extração. Os enxertos são implantados de maneira mais rápida, ficando menos tempo fora do organismo.

 

CONCLUSÃO

A metodologia Fast FUE, ao proporcionar a possibilidade de implantação concomitante à extração, permite reduzir o tempo de cirurgia e deixar os enxertos menos tempo fora do organismo.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Dr. Gustavo Martins | ORCID 0000-0001-9749-9407
Ideia original, supervisão do desenvolvimento da pesquisa e elaboração do texto final.

Dr. Gabriel Fachini | ORCID 0000-0001-5344-4850
Supervisão do desenvolvimento.

 

REFERENCES

1. Limmer R. Micrograft survival. In: Stough DB, Haber RS, editors. Hair replacement : surgical and medical. St. Louis: Mosby; 1996. p. 147-9.

2. Kim JC, Hwang S. The effects of dehydration, preservation temperature and time, and hydrogen peroxide on hair grafts. In: Unger WP, Shapiro R, editors. Hair Transplantation. New York: Marcel Dekker; 200. p.285-6.

3. Kurata S, Ezaki T, Itami S, Terashi H, Takayushu S. Viability of isolatated single hair folicles preserved at 4°C. Dermatol Surg. 1999;25(1):26-9.

4. Bernstein RM, Rassman WR. Follicular unit transplantation. In: Haber RS, Stough DB, editors. Hair Transplantation. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006. p. 91-8.

5. Rassman WR, Bernstein RM, McClellan R, Jones R, Worton E, Uytten-daele H. Follicular unit extraction: minimally invasive surgery for hair transplantation. Dermatol Surg. 2002;28(8):720-8.

6. Womack JP, Jones DT, Roos D. The machine that changed the world. 19. ed. Rio de Janeiro: Campus; 1992.

7. PINTO GA. A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordis-mo e toyotismo. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular; 2010.

8. Speranzini, M. FUE graft placement with dull needle implanters into premade sites. Hair Transplant Forum Int'l. 2016;26(2):49,53-6.


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773