Guilherme Moraes Kruger1; Gabriela Kimie Aseka1; Carlos Alberto Ferreira de Freitas2; Günter Hans Filho1
Data de recebimento: 07/07/2017
Data de aprovação: 11/03/2018
Trabalho realizado no Ambulatório de Dermatologia do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS), Brasil.
Suporte Financeiro: Nenhum Conflito
de Interesses: Nenhum
O carcinoma basocelular, também conhecido como epitelioma basocelular, é a neoplasia epitelial mais frequente em nosso meio, sendo mais comum em homens. Relata-se o caso de paciente do sexo feminino, de 75 anos, portadora de um carcinoma basocelular nas regiões da concha, anti-hélice e fossa triangular da orelha direita, que foi completamente excisado, com inclusão da cartilagem. A reparação do defeito foi feita por meio de retalho do tipo "porta de saloon", com bom resultado estético e funcional. O retalho auricular posterior é opção versátil para a reconstrução parcial do defeito da orelha.
Keywords: Carcinoma basocelular; Neoplasias cutâneas; Retalhos cirúrgicos
O carcinoma basocelular (CBC), também conhecido como epitelioma basocelular, é a neoplasia epitelial mais fre-quente em nosso meio, sendo mais comum em homens. Sua incidência aumenta faixas etárias mais altas, estimando-se que nos últimos 30 anos tenha aumentado de 20 a 80%. A idade média do diagnóstico é 68 anos.1
O retalho retroauricular em ilha, também conhecido como retalho em “porta de saloon”, retalho em porta giratória, ou retalho flip flop, foi introduzido por Masson em 1972.2 A técnica original foi modificada mais tarde por vários autores, e as indicações para seu uso estendidas para defeitos auriculares extensos.3-5
Paciente do sexo feminino, 75 anos de idade, compareceu à consulta referindo o surgimento de lesão na concha da orelha direita há cerca de um ano. Ao exame físico apresentava placa eritematosa, infiltrada, na porção central aderida à cartilagem. Ao exame dermatoscópico observaram-se vasos arboriformes e estruturas hipercrômicas tipo folha de bordo (Figura 1). A bióp-sia prévia revelou CBC do subtipo nodular. Durante o planejamento da cirurgia a lesão foi demarcada por dermatoscopia com margem de 5mm; fez-se também a marcação do retalho na região retroauricular. Foi usada anestesia local infiltrativa. Realizou-se a exérese da lesão e da cartilagem subjacente, seguindo-se a confecção da ilha na porção retroauricular e a rotação da pele para a porção anterior (Figura 2). O retalho foi acomodado e suturado. Posteriormente procedeu-se ao fechamento do defeito posterior (Figura 3). As suturas foram realizadas em plano único, com fio de náilon e pontos simples, retirados 15 dias depois. O resultado do exame anatomopatológico confirmou tratar-se de um CBC do subtipo nodular com margens livres. A cicatrização ocorreu sem intercorrências e bom resultado estético e funcional foi observado após três semanas (Figura 4).
A reconstrução de defeitos parciais da orelha, sem reduzir o tamanho e sem alterar seu contorno e forma naturais, é um desafio. Nessa localização se faz necessária, além da cura, a tentativa de manter a estética facial. As alternativas à reconstrução do defeito são: fechamento por segunda intenção, enxertos de pele e excisão de cunha que reduzem a altura auricular.
Alguns estudos demonstram que a taxa de excisão completa de CBC, quando se utiliza a dermatoscopia para demarcação de margens, é alta, de 95% a 98,5%.6 Assim, é de grande importância, quando não se dispõe da cirurgia micrográfica de Mohs, a demarcação das margens pela dermatoscopia.
O retalho auricular posterior é opção versátil para a reconstrução parcial do defeito da orelha. A chave para alcançar bons resultados estéticos é o planejamento com escolha da técnica adequada e individualizada para cada tipo de tumor, localização e condições do paciente.
Guilherme Moraes Kruger | ORCID 0000-0003-1296-2103
Concepção e planejamento do trabalho, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado, revisão do manuscrito, revisão de literatura e aprovação da versão final do manuscrito.
Gabriela Kimie Aseka | ORCID 0000-0002-5573-2378
Revisão crítica do manuscrito.
Carlos Alberto Ferreira de Freitas | ORCID 0000-0003-2501-0128
Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado, revisão do manuscrito, revisão de literatura e aprovação da versão final do manuscrito.
Günter Hans Filho | ORCID 0000-0001-9324-3703
Revisão crítica do manuscrito e aprovação da versão final do manuscrito.
1. Bolognia JL, Jorizzo JL, Schaffer JV. Dermatology. 3rd ed. Philadelphia: Elsevier; 2012. 1774 p.
2. Masson Jk. A simple island ap for reconstruction of concha-helix defects. Br J Plast Surg. 1972; 25(4): 399-403.
3. Talmi YP, Horowitz Z, Bedrin L, Kronenberg J. Auricular reconstruction with a postauricular myocutaneous island flap: flip-flop flap. Plast Reconstr Surg. 1996;98(7):1191-9.
4. Redondo P, Lloret P, Sierra A, Gil P. Aggressive tumors of the concha: treatment with postauricular island pedicle flap. J Cutan Med Surg. 2003;7(4):339-43.
5. Jackson T, Milligan I, Agrawal K. The versatile revolving door ap in the reconstruction of ear defects. Eur J Plast Surg. 1994;17:131-33.
6. Comparin C, Freitas CAF, Hans-Filho G. Dermatoscopy as a tool in the detection of presurgical margins of basal cell carcinomas. Rev Bras Cir. Cabeça Pescoço. 2013;42(1):47-52