4919
Views
Open Access Peer-Reviewed
Relato de casos

Correção cirúrgica de rinofima grave

Bruna Morassi Sasso1; Maria Carolina Fidelis2; Maria Letícia Cintra3; Emerson Henrique Padoveze4

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201792995

Data de recebimento: 06/03/2017
Data de aprovação: 21/06/2017
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Abstract

A rosácea pode manifestar-se com a formação de fima, que se caracteriza por hipertrofia de glândulas sebáceas e proliferação de tecido conectivo e vasos sanguíneos. Considerada complicação grave, a fima é mais comum em homens, e mais frequente no nariz, quando é denominada rinofima. Rosácea e rinofima podem trazer prejuízos funcionais e estéticos com piora da qualidade de vida dos pacientes. Nos estádios iniciais realizam-se terapêuticas farmacológicas, às quais, porém, a forma fimatosa responde pobremente. Relatamos um caso de correção cirúrgica de rinofima gigante pela técnica de shaving e eletrocoagulação, com excelente resultado cosmético e funcional.


Keywords: RINOFIMA; ROSÁCEA; ELETROCIRURGIA


INTRODUÇÃO

A rosácea é doença inflamatória crônica da pele, com predileção pelo sexo feminino e de etiologia multifatorial.1 A fima é atualmente considerada manifestação da rosácea que, ao contrário desta, acomete principalmente homens, podendo ser recorrente ou surgir como consequência de inflamação crônica.2 A rinofima é sua expressão mais frequente, caracterizada clinicamente pelo aumento irregular do nariz, de leve até exuberante, com infundíbulos dilatados e telangectasias. Histologicamente é representada por padrão semelhante ao da rosácea, com infiltrado inflamatório perivascular e peri-infundibular de linfócitos e células plasmáticas, associada a hiperplasia de glândulas sebáceas e vasos angulados peculiares. Nas formas exuberantes pode ser visto um padrão fibrótico, com espessamento da derme e redução ou ausência de folículos pilossebáceos.3

As alterações fimatosas, apesar de benignas, causam problemas cosméticos graves e, ocasionalmente, comprometimento funcional. Os pacientes apresentam sintomas negativos decorrentes da doença, como baixa autoestima e diminuição das interações sociais4 - a melhora desses sintomas proporciona imenso bem-estar ao indivíduo.

Como o tratamento farmacológico apresenta resultado limitado na forma fimatosa,4 relatamos um caso exuberante de rinofina tratado com procedimento cirúrgico que resultou em melhora expressiva e aumento de qualidade de vida do paciente.

 

RELATO DO CASO

Apresentou-se à consulta, paciente de 59 anos, do sexo masculino, branco, com queixa de aumento do nariz há 10 anos. Ao exame físico, apresentava aumento do volume nasal à custa de lesões papulonodulares discretamente eritematosas, amolecidas e com superfície cribriforme, localizadas na ponta nasal e duas tumorações pedunculadas com iguais características nas asas nasais (Figuras 1.A, 1.B, 2.A). Havia também discreto desvio de rima para a esquerda e oclusão parcial das narinas pelas lesões (Figura 2.B). Negava comorbidades, porém referia que o crescimento nasal atrapalhava a inspiração.

Foi feita a hipótese de rinofima, procedendo-se à investigação com exame de imagem (tomografia computadorizada) para avaliar extensão e caráter do comprometimento, o qual não evidenciou comprometimento de planos profundos (Figura 3).

Sendo o quadro era inestético, estigmatizante e havendo comprometimento funcional do nariz, optou-se por correção cirúrgica. O procedimento foi realizado em um único tempo cirúrgico com anestesia local tumescente. Foi feita a exérese tangencial (shaving) com lâmina cirúrgica maleável (DermaBlade®, American Safety, Estados Unidos), seguida de hemostasia com bisturi elétrico monopolar com corrente de baixa energia.

Os dois tumores pedunculados apresentavam aproximadamente 4cm de diâmetro (Figura 4). As amostras foram enviadas para exame anatomopatológico, que evidenciou fibrose da derme e hipoderme, com glândulas sebáceas volumosas remanescentes e infiltrado inflamatório perifolicular, confirmando o diagnóstico de rinofima (Figura 5).

As figuras 6 a 8 demonstram a evolução no pós-operatório imediato, intermediário (15 dias) e tardio (um mês de evolução). Nota-se ótimo resultado estético e funcional com imensa satisfação do paciente. Na figura 8 observa-se a clínica pré-operatória e um mês após cirurgia, com resolução da oclusão das narinas.

 

DISCUSSÃO

A rinofima (do grego rhis, nariz e phyma, crescimento)5 apresenta etiologia desconhecida, sendo considerada atualmente evolução grave da rosácea.6 Ela pode levar ao comprometimento estético e funcional, além de ocasionar irritação e dor local.6

Pacientes com rosácea apresentam elevadas taxas de ansiedade e depressão, em níveis superiores aos do etilismo.7 Podem, ainda, manifestar timidez e fobia social em decorrência das condições cutâneas.8

Visando à melhora clínica e da qualidade de vida do paciente com rosácea, é crucial que sua abordagem seja feita pela terapêutica farmacológica, comportamental e física. O tratamento farmacológico nas manifestações fimatosas apresenta baixa efetividade,4 sendo geralmente preconizada a abordagem cirúrgica.5 A terapia destrutiva pode ser realizada com laser de CO2, cirurgia ablativa convencional, dermoabrasão e eletrocirurgia.4,9

Das possibilidades cirúrgicas, escolhemos a exérese com shaving e eletrocoagulação, opção segura, efetiva e de baixo custo. No presente caso, proporcionou ao paciente resultado excepcional e bastante satisfatório.

 

PARTICIPAÇÃO NO ARTIGO:

Bruna Morassi Sasso:

Realização da cirurgia e fotografia
Elaboração do manuscrito

Maria Carolina Fidelis:

Realização da cirurgia
Ajudou na confecção do manuscrito

Maria Letícia Cintra:

Responsável pela avaliação da lâmina da biópsia
Fotografia

Emerson Henrique Padoveze:

Coordenador da cirurgia
Revisor do manuscrito

 

Referências

1. Yigider AP, Kayhan FT, Yigit O, Kavak A, Cingi C. Skin diseases of the nose. Am J Rhinol Allergy. 2016;30(3):83-90.

2. Addor FAS. Skin barrier in rosacea. An Bras Dermatol. 2016;91(1):59-63.

3. Schüürmann M, Wetzig T, Wickenhauser C, Ziepert M, Kreuz M, Ziemer M. Histopathology of rhinophyma - a clinical-histopathologic correlation. J Cutan Pathol. 2015;42(8):527-35.

4. Hofmann MA, Lehmann P. Physical modalities for the treatment of rosacea. J Dtsch Dermatol Ges. 2016;14 Suppl 6:38-43.

5. Little SC, Stucker FJ, Compton A, Park SS. Nuances in the management of rhinophyma. Facial Plast Surg. 2012;28(2):231-7.

6. Weinkle AP, Doktor V, Emer J. Update on the management of rosacea. Clin Cosmet Investig Dermatol. 2015;7;8:159-77.

7. Moustafa F, Lewallen RS, Feldman SR. The psychosocial impact of rosacea and the influence of current management options. J Am Acad Dermatol. 2014;71(5):973-80.

8. Gupta MA, Gupta AK, Chen SJ, Johnson AM. Comorbidity of rosacea and depression: an analysis of the National Ambulatory Medical Care Survey and National Hospital Ambulatory Care Survey-Outpatient Department data collected by the U.S. National Center for Health Statistics from 1995 to 2002. Br J Dermatol. 2005;153(6): 1176-81.

9. Lazzeri D, Agostini T, Spinelli G. Optimizing cosmesis with conservative surgical excision in a giant rhinophyma. Aesthetic Plast Surg. 2013;37(1):125-7.

 

Trabalho realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - Campinas (SP), Brasil.


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773