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Relato de casos

Hidradenoma de células claras: apresentação atípica no couro cabeludo

Vando Barbosa de Sousa1; Vanessa de Carvalho Lacerda1; Marcella Leal Novello D'Elia2; Natália Ribeiro de Magalhães Alves3; Juãn Manuel Piñeiro-Maceira4; Solange Cardoso Maciel Costa Silva5

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2015776

Data de recebimento: 23/02/2016
Data de aprovação: 14/08/2016
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

Hidradenoma nodular é neoplasia anexial benigna. Recentemente foi sugerida subdivisão em dois grupos: tumores com diferenciação écrina ou hidradenoma poroide e tumores com diferenciação apócrina ou hidradenoma de células claras. Se apresentam como nódulo dérmico bem delimitado, com dimensão variável entre 0,5 e 3cm, assintomático, de crescimento lento e endofítico. A histopatologia evidencia padrão celular bifásico típico, com células poliédricas com citoplasma eosinofílico e células grandes com abundante citoplasma claro e núcleo pequeno. Transformação maligna é rara. Relata-se um caso de hidradenoma de células claras com características clínicas incomuns e realiza-se revisão da literatura.


Keywords: NEOPLASIAS DE ANEXOS E DE APÊNDICES CUTÂNEOS; NEOPLASIAS CUTÂNEAS; ACROSPIROMA; RETALHOS CIRÚRGICOS


INTRODUÇÃO

Descrito inicialmente por Mayer1 em 1941, o hidradenoma nodular é neoplasia anexial benigna, de diferenciação écrina ou apócrina. Devido a diferentes interpretações de suas características histológicas, diversas denominações e classificações foram sugeridas ao longo dos anos, havendo ainda controvérsias. Recentemente foi sugerida subdivisão em dois grupos: tumores com diferenciação écrina ou hidradenoma poroide e tumores com diferenciação apócrina ou hidradenoma de células claras.2 É encontrado em adultos de meia-idade, sendo mais prevalente no sexo feminino. Clinicamente, manifesta-se como nódulo sólido ou cístico, bem delimitado, de diâmetro variável de 0,5 a 3cm, assintomático, de crescimento lento e endofítico. Os locais mais acometidos são couro cabeludo, face, tronco e extremidades proximais.3 Relata-se caso de hidradenoma de células claras com características clínicas incomuns no couro cabeludo.

 

RELATO DE CASO

Paciente de 32 anos, do sexo masculino, apresenta há um ano e meio surgimento de lesão nodular de superfície ulcerovegetante no couro cabeludo, com crescimento progressivo, atingindo 4cm de diâmetro (Figura 1). Havia relato de drenagem de secreção serosa. Nega comorbidades, uso de medicamentos, alergias, história familiar ou pessoal de doenças de pele. Tomografia de crânio mostrou formação expansiva com densidade de partes moles, impregnação heterogênea do meio de contraste, em topografia adjacente ao osso occiptal, determinando abaulamento da superfície cutânea, com cortical óssea íntegra. Foram sugeridas hipóteses de carcinoma epidermoide, carcinoma basocelular, metástase cutânea, linfoma cutâneo e melanoma amelanótico. Realizado exérese da lesão com margem de 5mm e fechamento por meio de retalho de dupla rotação OZ ( Figuras 2 e 3). Exame histopatológico evidenciou formação tumoral multilobulada, bem circunscrita, constituída por padrão celular bifásico, com células poliédricas de citoplasma eosinofílico e células com abundante citoplasma claro, além de espaços císticos ( Figuras 4 e 5). O diagnóstico foi de hidradenoma de células claras.

 

DISCUSSÃO

O hidradenoma nodular, descrito em 1941 por Mayer,1 é neoplasia anexial benigna, cuja prevalência não está claramente identificada na literatura. Alguns autores a consideram rara,2 outros a citam como sendo relativamente comum.4, 5 Há considerável confusão na literatura acerca da designação mais apropriada, já tendo sido relatado como hidradenoma nodular, hidradenoma de células claras, hidradenoma nódulo cístico, mioepitelioma de células claras, acrospiroma écrino. Isso reflete diferentes abordagens entre os autores acerca de suas características histológicas e sua histiogênese.4 Embora tradicionalmente classificado como de diferenciação écrina, aceita-se agora a ideia de que esses tumores podem mostrar diferenciação écrina ou apócrina.6 Recentemente foi sugerida subdivisão em dois grupos: tumores com diferenciação écrina ou hidradenoma poroide e tumores com diferenciação apócrina ou hidradenoma de células claras.2 Alguns autores, entretanto, classificam o hidradenoma poroide à parte do hidradenoma nodular.4

Encontrado principalmente em adultos de meia-idade, é mais prevalente no sexo feminino. Apresenta-se como nódulo dérmico bem delimitado, sólido ou cístico, sua dimensão variando entre 0,5 e 3cm, em couro cabeludo, face, tronco e extremidades proximais. Em geral assintomático, raramente inclui dor e drenagem de descarga serosa. O crescimento é lento e endofítico, mas há raros casos com crescimento exofítico.3 Classicamente, faz diagnóstico diferencial com outros tumores anexiais, sendo clinicamente indistinguíveis. Apresentações incomuns incluem tumores com mais de 3cm de diâmetro,7 tumores com superfície erosada, tumores com componente cístico predominante e em locais atípicos, como região plantar.8

A histopatologia do hidradenoma de células claras é caracterizada pela presença de tumor bem circunscrito, mas não encapsulado. Dois tipos celulares predominam: células poliédricas com citoplasma eosinofílico e células grandes com abundante citoplasma claro e núcleo pequeno. Espaços císticos são comuns, como resultado de degeneração das células tumorais. Secreção apócrina por decapitação pode ser vista. Alguns tumores podem apresentar diferenciação escamosa, sebácea ou epitélio mucinoso.2 Há variável proporção entre os tipos celulares, mas células claras predominam em um terço dos casos.3

O caso relatado evidencia a histopatologia típica do hidradenoma de células claras, mostrando apresentação clínica incomum, dados a dimensão do tumor e seu crescimento exofítico com superfície erosada. A cirurgia é curativa, mas recorrência pode ocorrer mesmo em caso de excisão incompleta.9 Transformação maligna é muito rara, tendo a maioria dos hidradenocarcinomas surgimento "de novo".10

 

Referências

1. Mayer I. Zur histologie der hidroadenome. Frankfurter Zeit f Pathol. 1941;55:548-80.

2. Nandeesh BN, Rajalakshmi T. A study of histopathologic spectrum of nodular hidradenoma. Am J Dermatopathol. 2012;34(5):461-70.

3. Winkelmann R, Wolff K. Solid - cystic hidradenoma of the skin. Arch Dermatol. 1968;97(6):651-61.

4. Kazakov DV, McKee PH, Michal M, Kacerovska D. Lesions with Predominant Apocrine and Eccrine Differentiation. In: Dmitry V. Kazakov MD PhD, Cutaneous adnexal tumors. Wolters Kluwer Health: 2012. p1-171.

5. Hernandez-Perez E, Cestoni-Parducci R. Nodular hidradenoma and hidradenocarcinoma. A 10-year review. J Am Acad Dermatol. 1985;12(1 pt 1):15-20.

6. Gianotti F, Alessi E. Clear cell hidradenoma associated with the folliculosebaceous apocrine unit. Histologic study of five cases. Am J Dermatopathol 1997;19(4):351-7.

7. Demirci GT, Atis G, Altunay IK, Sakiz D. A giant benign clear cell hidradenoma on the anterior trunk. Dermatol Reports. 2011;3(3):e45.

8. Shin HT, Clear cell hidradenoma on the palm. Ann Dermatol. 2014;26(3):403-4.

9. Will R, Coldiron B. Recurrent clear cell hidradenoma of the foot. Dermatol Surg. 2000;2697):685-6.

10. Yildrim S, Akoz T, Apaydin I, Ege G, Gideroglu K. Malignant clear cell hidradenoma with giant metastasis to the axilla. Ann Plast Surg. 2000;45(1):102.

 

Trabalho realizado no Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Hupe/Uerj) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.


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