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Relato de casos

Metástase cutânea como primeira manifestação de carcinoma espinocelular de esôfago – relato de caso e revisão de literatura

Agnes Mayumi Nakano Oliveira1; Tatiana Cristina Pedro Cordeiro de Andrade2; Tabata Yamasaki Martins2; Gustavo Longhi Bedin3; Jaison Antonio Barreto4; Adauto José Ferreira Nunes5

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2016831770

Data de recebimento: 01/06/2015
Data de aprovação: 28/08/2016
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

As metástases cutâneas de malignidade interna são raras, e sua incidência varia de 0,7 a 9% entre todos os casos de câncer. Representam 2% de todos os tumores da pele. Ocorrem devido ao crescimento de células cancerígenas na derme ou tecido celular subcutâneo, originadas de neoplasia interna. A metástase cutânea originada de carcinoma espinocelular esofágico é rara, e representa menos de 1% dos casos. Relata-se um caso de carcinoma espinocelular de esôfago diagnosticado após manifestação cutânea metastática em abdômen que evoluiu para êxito letal devido à invasão tumoral metastática disseminada.


Keywords: CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS; NEOPLASIAS CUTÂNEAS; METÁSTASE NEOPLÁSICA


INTRODUÇÃO

O câncer de esôfago é neoplasia extremamente letal, sendo a maioria dos pacientes diagnosticada com invasão tumoral local ou metástase a distância. As metástases cutâneas de malignidade interna são raras, e sua incidência variou de 0,7% em uma série com 865 autópsias reportadas por McWhorter e Cloud, a 9% em outro estudo com 7.518 casos descritos por Spencer e Helm; em avaliação anterior de cinco grandes estudos, Rosen demonstrou a incidência global de aproximadamente 2%.1 Em metanálise de 2003 foram encontrados 1.080 casos de metástases cutâneas no total de 20.380 casos de pacientes com câncer, estimando-se incidência de 5,3%. Foram excluídos os casos de melanoma, leucemia e linfoma.1 Nesse mesmo estudo foi evidenciado que o tumor com maior incidência de metástase cutânea foi o adenocarcinoma de mama, encontrado em 24% dos casos.1 As metástases cutâneas ocorrem devido ao crescimento de células cancerígenas na derme ou tecido celular subcutâneo, originadas de neoplasia interna, e podem ocorrer por disseminação hematogênica, linfática, contiguidade e, raramente, por implantação iatrogênica.2,3 As neoplasias com disseminação linfática, como a de mama, comumente levam a metástases cutâneas regionais, e os cânceres de pulmão e cólon levam a metástase cutânea por via hematogênica, que se apresentam a distância.2 A localização mais comum é o tórax, com 28,4%, seguido pelo abdômen com 20,2%, de acordo com uma metanálise.1 As metástases cutâneas são classificadas em sincrônicas e metacrônicas, de acordo com o tempo entre o diagnóstico do sítio primário e seu aparecimento.2 As sincrônicas ocorrem quando as metástases são diagnosticadas simultaneamente com o tumor primário, e as metacrônicas quando se desenvolvem meses ou anos após o aparecimento do câncer primário. A maioria dos casos de metástases cutâneas é metacrônica, e em 0,5% dos casos são o primeiro sinal da neoplasia primária.2 Existem várias formas de apresentação: esclerodermiforme, alopecia, zosteriforme, inflamatória, telangiectásica, cicatricial e pseudomixematosa, entre outras.3,4 A forma mais comum é a nodular, que se apresenta como nódulos indolores, redondos ou ovalados e firmes.3 Podem ser únicos ou múltiplos e, neste último caso, ocorre em sítios anatômicos diferentes. O exame histopatológico das lesões permite direcionar o diagnóstico à origem do sítio primário.2,3 O carcinoma epidermoide está associado com tumores de pulmão, esôfago e cavidade oral.3 Quando a metástase cutânea tiver origem desconhecida pode-se solicitar marcadores com técnica de imuno-histoquímica.3 Alguns estudos evidenciaram que metade dos pacientes com metástases cutâneas morrem nos primeiros seis meses do diagnóstico.3 As metástases cutâneas de carcinoma espinocelular esofágico são raras e representam menos de 1% entre todos os casos.4 Relata-se um caso raro de metástase cutânea sincrônica em abdômen originada de carcinoma espinocelular esofágico, que direcionou o diagnóstico do sítio primário.

 

RELATO DO CASO

Paciente com 59 anos de idade, do sexo masculino, tabagista (50 maços-ano) e ex-etilista, procurou o Serviço de Dermatologia do Instituto Lauro de Souza Lima, Bauru, São Paulo, Brasil, referindo surgimento de nódulos em abdômen há dois meses. Também relatava perda ponderal de cinco quilos, disfagia e anorexia nesse período. Ao exame físico apresentava abdômen escavado com tumor de 6cm, pedunculado, friável e ovalado na superfície em flanco direito e outro nódulo de 1cm eritematoso e ovalado em flanco esquerdo (Figura 1); linfonodomegalia inguinal bilateral, variando de um a 3cm, com linfonodos endurecidos e aderidos na profundidade. Foi realizada biópsia, e solicitados ultrassom de abdômen, RX de tórax, marcadores tumorais e exames gerais. Os exames evidenciaram: carcinoma espinocelular em ambas as lesões no exame anatomopatológico (Figura 2), GGT = 383, FA = 494, TGO = 60, TGP = 21, bilirrubina total de 5,17 (direta 2,32 e indireta 2,85), CA 15-3 = 101U/ml, ferritina = 798, ferro sérico = 18, VHS = 109, Hb = 10,5 e RX de tórax com opacidades circulares, difusas e pequenas em ambos os hemitórax (Figura 3). O paciente evolui com disfagia importante, tendo sido solicitada passagem de sonda nasoenteral, que não progrediu. Foi então realizada endoscopia para a passagem da sonda, que evidenciou massa exofítica a esclarecer. Foi então cogitada a hipótese de carcinoma espinocelular de esôfago com metástases cutâneas, pulmonar e hepática, tendo o paciente falecido em curto período de tempo.

 

DISCUSSÃO

O câncer de esôfago é neoplasia extremamente letal, que apresenta início insidioso, produzindo obstrução progressiva e tardia. A maioria dos pacientes é diagnosticada com invasão tumoral local ou metastática, não sendo mais passíveis de tratamento curativo. As metástases cutâneas originadas de tumor do esôfago representam menos de 1% entre todas, e surge em somente 1% dos pacientes com carcinoma de esôfago metastático. No caso relatado ficou evidenciado um tipo raro de metástase cutânea que antecedeu o diagnóstico do tumor primário, ressaltando a importância do dermatologista no conhecimento das diversas formas de apresentação clínica dessa entidade.

 

Referências

1. Krathen RA, Orengo IF, Rosen T. Cutaneous metastasis: a meta-analysis of data. South Med J. 2003;96(2):164-7.

2. Azcune R, Spelta MG, Moya J, Lado Jurjo ML, Fontana,MI, Barbarulo AM, et al. Metástasis cutáneas de carcinomas internos, nuestra experiencia a propósito de 94 casos. Dermatol Argent 2009; 15:117-24.

3. Casimiro LM, Corell JJV. Metástasis cutáneas de neoplasias internas. Med Cutan Iber Lat Am. 2009;37(3):117-129.

4. Baijal, Rajiv, et al. "Cutaneous metastasis in esophageal squamous cell carcinoma." Indian J Med Paediatr Oncol. 2013; 34(1): 42–3.

 

Trabalho realizado no Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) – Bauru (SP), Brasil


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