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Artigo Original

Laser de érbio 2940nm fracionado no tratamento do fotoenvelhecimento cutâneo da face - avaliação após 15 meses

Ane Beatriz Mautari Niwa1, Juliana Marcondes Macéa1, Danielle Shitara do Nascimento1, Luís Torezan1, Nuno Eduardo Sanches Osório1

Recebido em: 31/03/2009
Aprovado em: 10/01/2010
Trabalho realizado em Clínica privada.
Conflito de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum

Abstract

Introdução: Os procedimentos fracionados ablativos oferecem resultados consistentes, com menor tempo de recuperação e menor risco de efeitos adversos do que os ablativos não fracionados. Objetivo: Avaliar os efeitos de uma nova tecnologia fracionada ablativa com laser de érbio (2.940nm) no fotoenvelhecimento facial. Métodos: Pacientes femininas com fotodano moderado na face foram submetidas ao tratamento com laser de érbio 2,940 nm fracionado (Palomar Inc., Burlington MA). Os parâmetros variaram de 5 a 9 mJ/µb com duração de pulso de 250 microssegundos a 5 milissegundos. Foram realizadas duas a seis passadas com 50% de sobreposição. As avaliações clínicas ocorreram 3 dias, 1,4,8 e 12 semanas, e 15 meses após o procedimento. Três dermatologistas não envolvidos no estudo avaliaram a melhora global do fotodano antes e após 3 meses, através de fotografias digitais e de acordo com a seguinte escala: grau 1=melhora menor que 25%; grau 2=melhora de 26-50%; grau 3=melhora de 51-75% e grau 4=melhora de 76 a 100%. Resultados: Doze pacientes (n=12) femininas, com idade variando de 48 a 78 anos foram incluídas.A avaliação após 3 meses, demonstrou que 23% das pacientes obtiveram grau 3, 55% grau 2 e 22% grau 1. Melhora significativa (grau > 2) foi observada em 78% e 63% das rugas periorbitárias e periorais respectivamente. Dois pacientes desenvolveram hiperpigmentação pós-inflamatória transitória. Conclusão: O laser com érbio fracionado mostrou-se eficaz e seguro no tratamento do fotoenvelhecimento moderado. Use of 2940 Erbium fractional laser in the treatment of photodamaged skin: clinical evaluation and follow up.

Keywords: ERBIO, LASERS, TÉCNICAS DE ABLAÇÃO, REJUVENESCIMENTO, TERAPIA A LASER


INTRODUÇÃO

O tratamento do fotoenvelhecimento através do resurfacing com lasers ablativos, como o de CO2 e o de érbio, mostrou-se eficaz em diversos estudos.1-3 Entretanto, por serem procedimentos dolorosos, com processo longo de recuperação cutânea e risco de efeitos adversos, tais como infecções, discromias, cicatrizes e eritema persistente, atualmente sua indicação é restrita.4-6

A tecnologia fracionada para o rejuvenescimento cutâneo não ablativo, por sua vez tem-se mostrado segura e eficaz no tratamento de rítides leves e moderadas,7,8 cicatrizes de acne,9,10 outras cicatrizes,11 discromias,12,13 e fotorrejuvenescimento de áreas extrafaciais.11 Esse método utiliza laser no espectro infravermelho médio (1.550nm), produzindo colunas microscópicas de necrose epidérmica e desnaturação de colágeno.7 Posto que o tecido ao redor dessas colunas de tratamento permanece intacto, a reepitelização é rápida, ocorrendo 24 horas após o tratamento14,15 e com mínimo risco de efeitos adversos, particularmente em relação aos lasers ablativos não fracionados. Contudo, a eficácia clínica dessa modalidade não se equipara aos resultados obtidos com os lasers ablativos, principalmente no tratamento das rítides moderadas e profundas.7,8

O desenvolvimento da tecnologia fracionada ablativa combina a alta eficiência dos lasers ablativos com a alta segurança dos lasers fracionados não ablativos e com curto período de recuperação.

OBJETIVO

O objetivo deste estudo clínico aberto, prospectivo de série de casos foi avaliar os efeitos de nova tecnologia fracionada ablativa com laser de érbio (2.940nm) no fotoenvelhecimento facial.

MÉTODOS

O laser fracionado de érbio utilizado consiste em ponteira da plataforma Starlux® (Palomar Inc., Burlington MA) que emprega cristal de ítrio, alumínio e granada (YAG) dotado de íons érbio que são excitados por lâmpada de flash, emitindo o feixe de laser no comprimento de onda de 2.940nm. Apresenta duas ponteiras: uma de 10x10mm para resurfacing mais leve e outra de 6x6mm para os mais agressivos. O padrão de emissão fracionado consiste num arranjo de microfeixes focados que atingem fluência de 9mj/µb e densidade de 920µb/cm2. O número de microfeixes distribuídos na pele vai depender da ponteira utilizada, da distância entre os microfeixes e do número de passadas.Além disso, esse laser oferece a possibilidade de pulso duplo; um curto fixo de 250µs, que promove predominantemente ablação cutânea, e outro longo, variando de três a 5ms para coagulação.

O estudo envolveu pacientes do sexo feminino de fototipos I, II e III, de acordo com a classificação de Fitzpatrick, tendo sido observadas as normas de boas práticas clínicas.

Ao exame clínico, as pacientes apresentavam fotodano facial de leve a moderado, incluindo alterações da textura e espessura da pele, despigmentações, e presença de rítides. Os critérios de exclusão foram: utilização de aplicações de toxina botulínica, preenchedores ou peelings químicos nas áreas envolvidas nos últimos seis meses, antecedente de queloides, uso de isotretinoína sistêmica no último ano, procedimento de resurfacing ablativo a laser nos últimos três anos e gestação.

A face foi subdividida em áreas que incluíram: fronte e regiões periorbitária, perioral e laterais da face, totalizando 31 áreas de tratamento. Seis pacientes tiveram toda a face tratada, e seis, de forma localizada, as regiões periorbitária4, perioral3 e fronte.1 Uma hora antes do tratamento foi aplicada pomada anestésica constituída de lidocaína 23% e tetracaína 7%. Os parâmetros utilizados foram: fluência entre cinco e 9mj/µb e duração de pulso de três ou 5ms para o modo de duplo pulso de 250µs. Foram realizadas de duas a seis passadas com 50% de sobreposição, sendo maior o número de passadas nas áreas com rítides mais profundas.

Após o tratamento, as pacientes foram orientadas a limpar a área tratada e utilizar vaselina sólida três a quatro vezes ao dia durante quatro dias. A profilaxia viral anti-herpética só foi realizada nas pacientes que apresentavam história prévia da infecção.

No seguimento clínico, as pacientes foram monitoradas sempre pelo mesmo profissional quanto à recuperação da pele e ao surgimento de eventos adversos imediatamente após o procedimento, três dias, uma, quatro, oito e 12 semanas, e 15 meses após o tratamento.Três dermatologistas não envolvidos no estudo avaliaram a melhora global do fotodano antes e três meses depois, através de fotografias digitais padronizadas quanto à distância e iluminação ambientes, e de acordo com a seguinte escala: grau 1 = melhora inferior a 25%; grau 2 = melhora de 26 a 50%; grau 3 = melhora de 51 a 75% e grau 4 = melhora de 76 a 100%.

RESULTADOS

O estudo envolveu 12 pacientes do sexo feminino de fototipos I, II e III, de acordo com a classificação de Fitzpatrick, com idade variando de 48 a 78 anos.

Imediatamente após o tratamento, todas as pacientes apresentaram eritema e edema de grau leve a moderado nas áreas tratadas. Pequenos pontos de sangramento foram observados de forma esparsa, e restos epiteliais necróticos desprenderam-se no quarto dia pós-tratamento, evidenciando pele eritematosa e edemaciada.A evolução pós-tratamento está ilustrada na Figura 1. No final da primeira semana, a pele apresentava-se recuperada, com ligeiro eritema e edema, particularmente nas rítides mais profundas, sendo já possível observar textura e tônus naturais nas áreas tratadas.

A avaliação três meses após o tratamento, mostrou que 23% das pacientes apresentaram grau 3 de melhora das rítides em geral (Figura 2), 55% grau 2 e 22% grau 1. Melhora significativa (grau=2) foi observada em 78% e 63% das rítides periorbitárias (Tabela 1, Figura 3) e periorais (Tabela 2, Figura 4), respectivamente. Além das rítides, observou-se melhora significativa das discromias, particularmente dos lentigos solares, e da textura da pele.

O tratamento foi bem tolerado, tendo a maioria das pacientes classificado o nível de dor como moderado (média de 4,8 numa escala de 0 a 10) durante o procedimento.

Os eventos adversos foram limitados e transitórios. Uma paciente apresentou erupção acneiforme no sexto dia pós-tratamento, que foi atribuída ao uso excessivo de vaselina enquanto outras duas apresentaram hiperpigmentação pós-inflamatória nas regiões periorbitária (Figura 5) e perioral, que melhorou em dois meses com o uso de corticosteróides e clareadores tópicos. Na avaliação após 15 meses não foram detectadas cicatrizes ou áreas hipocrômicas.

DISCUSSÃO

A ablação promovida pelo laser de érbio tradicional apresenta zona restrita de dano térmico devida ao alto coeficiente de absorção pela água e duração de pulso curta, da ordem de microssegundos. Característica inovadora do laser de érbio fracionado é a possibilidade de gerar pulso de longa duração (da ordem de milissegundos) que promove a coagulação dérmica ao redor das microcolunas de ablação, aprofundando a zona de dano térmico tecidual.Além disso, a possibilidade de associar o pulso longo permite realizar ablação cutânea mais profunda sem que ocorra sangramento difuso à medida que atinge os vasos dérmicos. O sistema fracionado de distribuição dos microfeixes, em contrapartida, permite a regeneração cutânea mais rápida, havendo estudos histológicos16 que demonstram reepitelização rápida, em até 12 horas pós-tratamento. Na prática, com o aumento do número de passadas, há maior probabilidade de fusão ou sobreposição das microcolunas, aumentando o dano térmico e, consequentemente, o tempo de recuperação cutânea.

Neste trabalho, as vantagens do sistema fracionado foram confirmadas através da rápida regeneração da pele. Após quatro dias do tratamento apresentavam apenas eritema e edema discretos que, na maioria das vezes, desapareciam em até duas semanas. Após 15 meses de seguimento, não foram observadas cicatrizes ou discromias, que podem aparecer tardiamente após procedimentos ablativos.2

É importante mencionar que os resultados obtidos com os lasers fracionados não ablativos, com comprimento de onda de 1550nm, apresentam tempo de recuperação ainda menor, com eritema e edema de até três dias de duração, seguidos de aspecto bronzeado da pele e descamação fina em menos de 40% dos pacientes tratados.7 Com relação a rugas profundas, no entanto, conforme experiência pessoal e relatos na literatura, 7,11 os resultados obtidos com esse tipo de procedimento são limitados.

Outra vantagem do resurfacing fracionado em relação aos tratamentos ablativos tradicionais diz respeito à realização dos procedimentos só com anestesia tópica, sem necessidade de sedação. Foram bem tolerados pela maioria dos pacientes, que classificou o nível de dor como moderado durante a aplicação do laser. Além disso, o pós-operatório foi tranquilo, sem uso de curativos oclusivos, sendo os pacientes orientados apenas para a aplicação de vaselina no local tratado.

Os resultados aqui apresentados são consistentes com os relatados por Dierickx e colaboradores,16 que mostram melhora das rítides periorbitárias igual ou superior a um ponto (escala de 0-9) em mais de 90% dos pacientes estudados. Nas rítides periorais, mais de 50% obtiveram melhora igual ou superior a 2. Esses autores não observaram hiperpigmentação pós-inflamatória, possivelmente em decorrência do predomínio de pacientes com fototipo mais baixo em relação aos pacientes incluídos neste estudo.

Este trabalho é estudo piloto no uso dessa nova tecnologia fracionada ablativa no rejuvenescimento cutâneo da face; estudos comparativos entre lasers ablativos tradicionais e ablativos fracionados são necessários para melhor avaliação e conhecimento tanto da eficácia quanto dos efeitos adversos e do tempo de recuperação dessa nova tecnologia.

CONCLUSÕES

O tratamento fracionado ablativo com laser de érbio 2940nm promoveu redução efetiva e segura do fotoenvelhecimento facial de grau leve a moderado. Estudos adicionais são necessários para melhor determinação dos parâmetros de fluência, densidade e duração de pulso que maximizem a eficácia e margem de segurança e demandem mínimo tempo de recuperação.

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