3912
Views
Open Access Peer-Reviewed
Relato de casos

Subcisão e microagulhamento: relato de dois casos

Heliana Freitas de Oliveira Góes1; Anangélica Rodrigues Virgens1; Alzinira Herênio Neta1; Caroline Coronado Cha2; Régia Celli Patriota de Sica3; Ana Paula Gomes Meski4

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20168409

Data de recebimento: 06/08/2016
Data de aprovação: 12/11/2016
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Abstract

As lesões inflamatórias da acne podem resultar em cicatrizes permanentes, e vários tratamentos são propostos para reduzir sua aparência. Relatam-se os casos de dois pacientes, um homem e uma mulher com cicatrizes de acne distróficas, distensíveis retráteis e crateriformes na face, em que se optou pelo uso da subcisão nas áreas cicatriciais. Na paciente do sexo feminino foi associado na mesma sessão o microagulhamento. Houve bom resultado clínico nas áreas tratadas dos dois pacientes após três sessões mensais.


Keywords: CICATRIZ; ACNE VULGAR; RELATOS DE CASOS


INTRODUÇÃO

Acne é doença que afeta mais de 80% da população adolescente em diferentes graus1,2 e 12 a 51% dos adultos de 20 a 49 anos.3,4 Essas lesões inflamatórias podem resultar em cicatrizes permanentes que em geral ocorrem precocemente e podem afetar cerca de 95% dos pacientes, causando estresse psicológico para muitos indivíduos.3,5 Estão relacionadas à severidade da acne e à demora no tratamento.1

As cicatrizes de acne podem ser classificadas em: elevadas (subtipos: hipertróficas, queloideanas, papulosas e pontes), distróficas e deprimidas (subtipos: distensíveis e não distensíveis). As distensíveis subdividem-se em retráteis e onduladas, enquanto as não distensíveis podem ainda classificar-se em superficiais, médias ou crateriformes e profundas (ice-picks) e túneis.6

Vários tratamentos são propostos para reduzir a aparência das cicatrizes e devem ser individualizados.1 Essas terapias incluem dermoabrasão,1 subcisão,7 microagulhamento,8 técnicas com punch,3 peelings químicos,3 lipoenxertia,3 preenchimento com ácido hialurônico4 e lasers ablativos,2 como o de CO2 (10.600nm).

Apresentamos dois casos de pacientes com cicatrizes de acne, um que se submeteu à subcisão e ao microagulhamento, e o outro, somente à subcisão.

 

RELATO DOS CASOS

1. Paciente do sexo feminino, 37 anos com múltiplas cicatrizes de acne distróficas, distensíveis retráteis e crateriformes, localizadas bilateralmente nas regiões temporal, malar e mandibular (Figura 1).

2. Paciente do sexo masculino, 35 anos, apresentando desde a adolescência múltiplas cicatrizes de acne distróficas, distensíveis retráteis e crateriformes, localizadas bilateralmente na fronte, têmpora e nas regiões malar, mandibular e mentoniana (Figura 2).

 

MÉTODO

Para ambos os pacientes foi utilizada a técnica de subcisão9 em que é introduzida uma agulha estéril de aspiração, 1,20 X 25mm 18G, por via transepidérmica, na profundidade da derme e subcutâneo, perfazendo trajetos lineares em diferentes direções nas áreas de cicatrizes distensíveis retráteis e crateriformes, após prévios bloqueios regionais e infiltração local com lidocaína a 2% e epinefrina 1:100.000 diluídas em soro fisiológico 0,9% na proporção de 1:1. Na paciente do sexo feminino utilizou-se, após a subcisão, o microagulhamento com agulhas de 1,5mm DermaRoller System®, Ekai Eletronic Technology co. Ltd, Guangzhou, China) na face toda. Após o procedimento os pacientes foram orientados a fazer uso de creme cicatrizante (Cicaplast Baume B5 ® La Roche Posay, Rio de Janeiro, Brasil) uma vez ao dia durante sete dias e fotoproteção.

 

RESULTADOS

Três dias depois do procedimento, os dois pacientes apresentavam boa recuperação. Após três sessões mensais houve bom resultado nas áreas tratadas, com elevação das cicatrizes e resposta clínica satisfatória após cada sessão, bem como no primeiro mês após três sessões (Figuras 3 e 4). A paciente que se submeteu aos dois procedimentos obteve resposta superior.

 

DISCUSSÃO

O microagulhamento consiste na aplicação de um instrumento com centenas de agulhas, que criam milhares de pertuitos na pele, no nível da derme papilar.1,8 As cicatrizes ideais para tratar com esse método são as crateriformes e profundas.10 Durante o procedimento, a rolagem é geralmente contínua até que ocorra sangramento e, com isso se inicia uma complexa cascata de fatores de crescimento que resulta em produção de colágeno. A neocolagênese geralmente se inicia após cerca de seis semanas, mas o efeito completo pode demorar pelo menos três meses para ocorrer, e, como essa deposição de colágeno novo ocorre lentamente, a textura da pele vai continuar a melhorar ao longo de 12 meses.1,3,8

Já a subcisão, que foi introduzida em 1995, é procedimento em que uma agulha, em geral hipodérmica 1,20 x 40mm, é inserida sob a pele, no plano subcutâneo, e é passada em múltiplas direções, com o objetivo de romper os componentes fibrosos abaixo da cicatriz. É mais eficazmente utilizada para cicatrizes distensíveis retráteis, sendo menos eficaz para o tratamento de cicatrizes crateriformes e profundas, do tipo ice-pick.1,7 Ocorre ruptura das traves fibróticas subjacentes, desencadeamento de resposta inflamatória, após o sangramento, que culmina na produção de colágeno subjacente com elevação e melhora da cicatriz.7,9 Embora a subcisão possa ser realizada como técnica única, os resultados clínicos costumam ser melhores quando há associação com outros procedimentos, como foi com a paciente aqui apresentada, em que houve associação de microagulhamento e subcisão.

 

CONCLUSÕES

A subcisão e o microagulhamento têm vantagens, como menor tempo de recuperação (dois a três dias), são seguras em todos os fototipos e apresentam menores riscos de hiperpigmentação pós-inflamatória quando comparadas a outras técnicas, como o tratamento a laser, peelings químicos ou dermoabrasão, além do baixo custo.

 

Referências

1. Gozali MV, Zhou B. Effective treatments of atrophic acne scars. J Clin Aesthet Dermatol. 2015;8(5):33-40.

2. Petrov A, Pljakovska V. Fractional carbon dioxide laser in treatment of acne scars. Maced J Med Sci. 2016;4(1):38-42.

3. Hession MT, Graber EM. Atrophic acne scarring: a review of treatment options. J Clin Aesthet Dermatol. 2015;8(1):50-8.

4. Wollina U, Goldman A. Fillers for the improvement in acne scars. Clin Cosmet Investig Dermatol. 2015;8:493-9.

5. Al-Hammadi A, Al-Ismaily A, Al-Ali S, Ramadurai R, Jain R, McKinley-Grant L, Mughal TI. Topical, biological and clinical challenges in the management of patients with acne vulgaris. Sultan Qaboos Univ Med J. 2016;16(2):e152-e160.

6. Kadunc BV, Trindade de Almeida AR. Surgical treatment of facial acne scars based on morphologic classification: a Brazilian experience. Dermatol Surg. 2003;29(12): 1200-9.

7. Nilforoushzadeh M, Lotfi E, Nickkholgh E, Salehi B, Shokrani M. Can Subcision with the Cannula be an Acceptable Alternative Method in Treatment of Acne Scars? Med Arch. 2015;69(6):384-6.

8. El-Domyati M, Barakat M, Awad S, Medhat W, El-Fakahany H, Farag H. Microneedling Therapy for Atrophic Acne Scars: An Objective Evaluation. J Clin Aesthet Dermatol. 2015;8(7):36-42.

9. Barikbin B, Akbari Z, Yousefi M, Dowlati Y. Blunt Blade Subcision: An Evolution in the Treatment of Atrophic Acne Scars. Dermatol Surg. 2016. Epub 2016 Feb 15.

10. Fabbrocini G, Fardella N, Monfrecola A, Proietti I, Innocenzi D. Acne scarring treatment using skin needling. Clin Exp Dermatol. 2009;34(8):874-9.

 

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFM/USP) – São Paulo (SP), Brasil.


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773