Catarina Gonçalves da Silva Carvalho1; Vanessa da Nóbrega Vilela1; Amanda Eugênia Almeida Rocha1; Gustavo de Sá Menezes Carvalho2; Emmanuel Rodrigues de França3; Aldejane Gurgel de Amorim Rodrigues4
Ocronose exógena é doença cutânea rara, geralmente associada ao uso tópico de hidroquinona. Leva à hiperpigmentação acinzentada ou preto-azulada, devido à deposição dérmica de pigmento ocre. Não existe tratamento padronizado, e as opções terapêuticas são em geral frustrantes. Relatamos o caso de uma paciente com ocronose exógena após uso de hidroquinona, tratada com laser fracionado de CO2 e apresentando resultado bastante satisfatório.
Keywords: OCRONOSE; HIDROQUINONAS; TERAPIA A LASER
Ocronose exógena é doença rara caracterizada pela hiperpigmentação assintomática, preto-azulada ou acinzentada, localizada tipicamente na face, mas podendo acometer pescoço, dorso e superfícies extensoras.1,2 É mais comumente efeito colateral ao uso da hidroquinona, mas pode estar associada a fenol, mercúrio, antimaláricos ou outras drogas.3 Ocorre deposição dérmica microscópica de pigmento de coloração ocre, histologicamente semelhante à forma endógena congênita, conhecida como alcaptonúria, na qual ocorre acúmulo de ácido homogentísico em cartilagens, válvulas cardíacas e pele.1,3
O mecanismo de hiperpigmentação induzida pela hidroquinona permanece incerto.1,2 Há relatos de ocronose exógena em praticamente todos os grupos étnicos, mesmo com uso em baixas concentrações da substância (2%) e por curto período de tempo (seis meses), mas essa patologia é, de fato, mais frequente em fototipos mais altos, após uso prolongado de altas concentrações de hidroquinona.2,3 Penneys atribuiu a hiperpigmentação cutânea à inibição da enzima oxidase ácido homogentísico pela hidroquinona, resultando no acúmulo do ácido homogentísico que se polimeriza para formar o pigmento ocronótico.4
Clinicamente são identificadas três etapas. Na fase I verificam-se eritema e pigmentação discreta; na fase II, pápulas pigmentadas com aspecto caviar-like e atrofia; e na fase III, lesões papulonodulares, circundadas ou não por inflamação.1,5
Vários tratamentos têm sido usados, mas em geral existem alta taxa de refratariedade e resultados frustrantes. Relata-se um caso de ocronose exógena após uso de hidroquinona, tratado com laser de CO2 e apresentando resultado bastante satisfatório.6-7
Paciente de 46 anos de idade, fototipo V de Fitzpatrick, compareceu ao serviço de dermatologia referindo manchas escuras na face (Figura 1). Encontrava-se em uso de fórmula com hidroquinona 4% para tratamento de melasma há aproximadamente cinco anos, com piora progressiva das lesões. Ao exame inicial, apresentava pápulas e máculas hipercrômicas de bordas mal delimitadas em fronte, dorso nasal e regiões malares (Figuras 2 e 3). Negava qualquer outro sintoma, história familiar semelhante, alteração na coloração da urina, hiperpigmentação de escleras, pele das axilas ou sobre articulações, uso de medicação oral e comorbidades. Iniciou-se tratamento com laser CO2 fracionado na face toda - máquina Dual Deep da Lutronics, Korea. Foi usado tip de 120mm com energia de 120mJ e densidade de 150 pontos por cm2, que foi repetido mensalmente no período de um ano, totalizando 12 sessões, com melhora significativa do quadro clínico (Figuras 4 e 5).
O tratamento da ocronose exógena não é fácil; sua prevenção, portanto, é extremamente importante. O uso de hidroquinona em concentrações mais baixas, a proteção solar, o diagnóstico precoce de irritação e a suspensão do tratamento na ausência de resposta clínica dentro de seis meses são medidas preventivas importantes.4,6 Evitar o uso da substância causadora é benéfico, porém a ocorrência de alguma melhora pode demandar vários anos.
A paciente aqui focalizada apresenta fototipo V de Fitzpatrick e tratamento prolongado com hidroquinona, os principais fatores de risco descritos na literatura.
Vários tratamentos têm sido utilizados, geralmente com resultados frustrantes. Tratamentos com ácido tricloroacético e crioterapia não são eficazes.7 A tretinoína pode melhorar as lesões em alguns casos, porém podem causar hiperpigmentação transitória em outros.4,7 Corticosteroides de baixa potência associados à fotoproteção mostraram bons resultados.7 Resultados satisfatórios foram descritos também com dermoabrasão, laser de CO2, peelings de ácido glicólico e laser Q-switched (ruby 694nm e alexandrite 755nm). Contudo, os resultados não são uniformes.6,7
O uso do laser CO2 para tratamento dessa patologia é pouco descrito na literatura, principalmente de forma isolada. Diven et al. utilizaram uma combinação de dermoabrasão e laser de CO2 ablativo com resultados satisfatórios nas regiões periorbital e nasal em uma mulher de fototipo alto com melhora parcial da lesão cutânea.7,8
A ocronose exógena é patologia de difícil tratamento, com relatos na literatura de diversas terapêuticas ineficazes.5,7 A paciente em questão teve ótima resposta às sessões do laser fracionado de CO2, mostrando ser alternativa eficaz em alguns casos refratários.
1. Kindem S, Serra-Guillén C, Guillén C. Hiperpigmentación facial parcheada. Actas dermosifiliograficas 2015;106(4):317-8.
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Trabalho realizado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz – Universidade de Pernambuco (UPE) – Recife (PE), Brasil.