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Diagnóstico por imagem

Aspectos dermatoscópicos do xantogranuloma juvenil com múltiplas lesões

Juliana Ribeiro Fernandes1; Elizabeth Leocadia Fernandes2; Denise Steiner3

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201683857

Recebido: 11/07/2016
Aprovado: 14/08/2016
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

O xantogranuloma juvenil é forma de histiocitose não Langerhans que acomete preferencialmente crianças. Em geral, manifesta-se como pápulas amarelo-acastanhadas assintomáticas. O diagnóstico é clínico e confirmado pela histopatologia. Devido à tendência involutiva, o tratamento geralmente não é recomendado. A dermatoscopia emerge como recurso diagnóstico não invasivo, revelando padrão típico para essa afecção.


Keywords: XANTOGRANULOMA JUVENIL; DERMOSCOPIA; HISTIOCITOSE DE CÉLULAS NÃO LANGERHANS


INTRODUÇÃO

O xantogranuloma juvenil (XGJ) é forma comum de histiocitose não Langerhans. Consiste em tumoração benigna de células histiocitárias, em geral com regressão espontânea e que acomete preferencialmente crianças. Manifesta-se como pequenas pápulas amareladas ou acastanhadas, únicas ou múltiplas, na maioria das vezes assintomáticas. As alterações viscerais são raramente observadas. O diagnóstico é clínico e, em casos duvidosos, confirmado pela histopatologia. O tratamento em geral não é recomendado, considerando o caráter autolimitado dessa entidade. Vale ressaltar que a regressão é passível de gerar atrofia e hiperpigmentação.1 A dermatoscopia representa instrumento útil no auxílio do diagnóstico, já que apresenta o padrão típico caracterizado por coloração alaranjada de fundo, descrita como setting sun (sol poente), presença de nuvens de depósitos de coloração amarelo-pálida e vasos lineares ou arboriformes da periferia para o centro da lesão.2-4

 

RELATO DO CASO

Criança de um ano, natural e procedente de Mogi das Cruzes-SP, com fototipo III de Fitspatrick, apresentou-se à consulta com história de surgimento de lesões papulosas acastanhadas desde os três meses de idade, assintomáticas, inicialmente na região torácica superior evoluindo após para abdômen, dorso e face (mento e regiões paranasal e pré-auricular). Tais lesões não exibiam sinais flogísticos ou prurido, exceto quando a criança acidentalmente as traumatizava. A paciente não apresentava comorbidades ou uso de medicações, exibia calendário vacinal atualizado, não sendo referidos casos semelhantes na família. Ao exame dermatológico evidenciaram-se pápulas amarelo-acastanhadas, de consistência amolecida e superfície bocelada, medindo cerca de 10mm em seu maior diâmetro, localizadas na face (mento e regiões paranasal e pré-auricular direita), tórax superior, dorso e região occipital de couro cabeludo. As lesões torácicas exibiam discreto halo amarelo-alaranjado (Figuras 1 e 2). Não havia acometimento do estado geral. Ao exame dermatoscópico observaram-se coloração amarelo-alaranjada de fundo (padrão em "sol poente"), presença de linhas acastanhadas delicadas, interrompidas, que não configuram rede pigmentar, vasos puntiformes centrais e outros lineares da periferia para o centro da lesão, nuvens amarelo-pálidas e anel pigmentado periférico (Figuras 3 e 4). Após solicitação de avaliação oftalmológica, optou-se por conduta expectante, com acompanhamento clínico seriado.

 

DISCUSSÃO

O xantogranuloma juvenil (XGJ) representa forma comum de histiocitose não Langerhans e manifesta-se como pápulas amareladas, por vezes róseas, medindo entre cinco e 20mm de diâmetro, assintomáticas, que com o transcorrer do tempo podem tornar-se amarelo-acastanhadas e exibir telangectasias.1,3 Cerca de 70% dos casos surgem na primeira infância,1 porém crianças de todas as idades podem ser acometidas. Lesões únicas são mais frequentes, mas crianças com menos de seis meses costumam apresentar múltiplas, com predileção pelo segmento cefálico e tronco superior. Tendem a regredir espontaneamente por volta de um ano após o início. Apesar de incomum, é possível o acometimento extracutâneo com lesões em tecido celular subcutâneo, globo ocular, fígado e baço. À histopatologia, tais lesões apresentam difuso e denso infiltrado histiocítico pleomórfico, com predomínio de células vacuoladas no início e posteriormente, xantomatosas. A célula de Touton (xantomatosa multinucleada com os núcleos dispostos em forma de cocar) corresponde ao elemento mais típico dessa dermatose, porém, não específico.1,2,5 A dermatoscopia representa um instrumento útil ao diagnóstico, principalmente quando se opta por não realizar a biópsia das lesões, como no caso aqui apresentado. Inicialmente descritas por Palmer e Bowling,2 o padrão dermatoscópico do xantogranuloma juvenil consiste em uma base amarelo-alaranjada com halo eritematoso descrita como setting sun (sol poente), nuvens amarelo-pálidas que correspodem ao infiltrado xantogranulomatoso dérmico (semelhante ao encontrado na hiperplasia sebácea) e vasos arboriformes da periferia para o centro da lesão.1-5 No caso em questão, todos esses aspectos foram visualizados, corroborando o diagnóstico clínico e dermatoscópico de XGJ. Conclui-se que o exame dermatoscópico oferece informações complementares valiosas para o diagnóstico,3 evitando, assim, a realização de procedimentos invasivos, como a biópsia cutânea, na população pediátrica.

 

Referências

1. Belda Junior W., Chiacchio Di N.,Criado, P.R. Tratado de Dermatologia. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2014. p.2095-106.

2. Pretel M, Irarrazaval I, Lera M, Aguado L, Idoate MA. Dermoscopic ''setting sun'' pattern of juvenile xanthogranuloma. J Am Acad Dermatol. 2015;72(1 Suppl):S73-5.

3. Palmer A, Bowling J. Dermoscopic Appearance of Juvenile Xanthogranuloma. Dermatology. 2007;21593):256-9.

4. Rubegni P, Mandato F, Fimiani M.Juvenile Xanthogranuloma: Dermoscopic Pattern. Dermatology. 2009;218(4):380

5. KIM JH, Lee SE, KIM SC. Juvenile xanthogranuloma on the sole: Dermoscopic findings as a diagnostic clue. J Dermatol. 2011;38(1):84-6.

 

Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) – Mogi das Cruzes (SP), Brasil.


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