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Artigo Original

Radiofrequência pulsada com multiagulhas (RFPM®) no tratamento de estrias atróficas

Emerson Vasconcelos de Andrade Lima

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20168301

Data de recebimento: 10/02/2016
Data de aprovação: 20/06/2016
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Abstract

Introdução: As estrias atróficas representam alterações cutâneas caracterizadas pela perda de colágeno e elastina na derme, assemelhando-se a cicatrizes. Lasers fracionados, microagulhamento e peelings químicos têm apresentado bons resultados em alguns casos, mas não há um tratamento ideal.
Objetivo: Avaliar a eficácia da radiofrequência pulsada com multiagulhas (RFPM®) em estrias tardias atróficas.
Métodos: Estudo retrospectivo da segurança e efetividade da técnica mediante avaliação dos resultados por aplicação de questionário de satisfação aos pacientes e julgamento dos resultados clínicos por dermatologistas independentes.
Resultados: Foram avaliados oito pacientes com idade entre 22 e 38 anos, submetidos à técnica, 100% dos quais relataram satisfação com os resultados, enquanto na avaliação comparativa das fotografias por dois dermatologistas independentes o índice de melhora foi de: 50% em dois pacientes e 75% em seis pacientes. A hiperpigmentação pós-inflamatória foi observada de dez a 20 dias após o tratamento em seis pacientes, tendo sido revertida após tratamento clínico.
Conclusão: Esse novo procedimento se apresenta como alternativa ao tratamento de estrias atróficas.


Keywords: ESTRIA POR DISTENSÃO; TRATAMENTO POR RADIOFREQUÊNCIA PULSADA; COLÁGENO


INTRODUÇÃO

O tratamento das estrias é sempre um desafio, e os bons resultados tornam-se ainda mais difíceis quando estamos diante de lesões antigas e atróficas. Resultante frequentemente do estiramento da pele e ruptura de fibras colágenas e elásticas na derme, as estrias tardias apresentam-se como cicatrizes com substancial comprometimento da textura, relevo e coloração da pele acometida.1,2

Algumas regiões são mais facilmente envolvidas por estrias: lombossacral e flancos em homens, e abdômen, quadril e mamas em mulheres. Condições como gestação, aumento de peso, hipertrofia muscular e o estirão puberal são fatores favorecedores, bem como administração oral e tópica desregrada de corticosteroides e doenças como síndrome de Cushing.3

Vários tratamentos têm sido propostos, oferecendo melhores resultados nas estrias rubras (recentes) quando comparados aos das estrias albas (tardias/atróficas). Tretinoína tópica, peelings, microagulhamento, microdermoabrasão, lasers fracionados e luz intensa pulsada são algumas das opções terapêuticas utilizadas pela dermatologia para abordar essas lesões. Porém não há um tratamento considerado ideal, e os resultados muitas vezes modestos sinalizam o seu desafio.4,5

Com base nos achados obtidos no tratamento de flacidez da pálpebra, o autor iniciou investigação em busca de aplicabilidade da radiofrequência pulsada com multiagulhas (RFPM®) nos casos de estrias antigas. O presente estudo é fruto dessas observações.6,7

Radiofrequência pulsada com multiagulhas (RFPM®)

A utilização de energia fracionada randômica de alta frequência disparada sobre a pele resulta em regeneração dérmica na interface papilar-reticular, por meio da estimulação de fibroblastos com consequente síntese de fibras colágenas e fibras elásticas, bem como regeneração epidérmica gerada pela migração de queratinócitos.

Propõe-se aqui uma abordagem inovadora para o rejuvenescimento cutâneo, com base na energia subablativa, por meio de eletrodos com várias agulhas, conectados a um aparelho de radioeletrocirurgia.

Essa técnica, realizada de forma precisa e pontuada, não compromete o tecido adjacente aos micropontos vaporizados e provoca significativo impacto tecidual, viabilizando, assim, o estímulo para o novo colágeno.

São necessários à execução da RFPM® eletrodos denominados Lima 2, Lima 4 e Lima 8, nomenclatura referenciada ao autor. São constituídos respectivamente de duas, quatro ou oito agulhas de tungstênio, com diâmetro de 100 milésimos de milímetro, peso e comprimento idênticos e dispostas paralelamente, com o objetivo de atingir o mesmo nível de profundidade. Com comprimento de 2,5mm, essas agulhas ultrapassam a epiderme e atuam na derme, estimulando a contração e a renovação do colágeno.

O objetivo deste estudo clínico retrospectivo foi avaliar a eficácia da RFPM® em estrias tardias atróficas.

 

MÉTODOS

Foram avaliados os prontuários de oito pacientes do sexo feminino com estrias atróficas, tratadas com a RFPM®, executada ambulatorialmente pelo mesmo médico, entre fevereiro e dezembro de 2015. A documentação fotográfica foi realizada com a mesma câmera digital em condições ambientais idênticas, imediatamente antes e dois meses após a intervenção única. O estudo foi realizado segundo os critérios éticos da declaração de Helsinki.

Após a antissepsia com clorexidine 1%, procedeuse à infiltração da área das estrias com lidocaína 2% sem vasoconstrictor. Para a aplicação da RFPM®, foi utilizado o aparelho FRAXX® (Loktal Medical Electronics, São Paulo, Brasil - Anvisa nº 10362610008) no modo single pulse e parâmetros guiados pela experiência de 12 meses de investigação. Os pacientes desse grupo foram tratados com o aparelho em CUT, com potência 30 e Active em 30ms, utilizando-se o eletrodo Lima 8 seguindo o trajeto linear das estrias. Foi executada apenas uma passada, evitando-se overlap, e para tanto realizaram-se em média quatro fileiras paralelas de micropunturas com o eletrodo. As estrias deveriam ser totalmente contempladas pelo tratamento em sua espessura (Figura 1).

Após o procedimento os pacientes receberam curativo com esparadrapo microporado, removido no dia seguinte. Para o período pós-operatório, orientou-se o uso de regenerador cutâneo (Ciclapast baume®, La Roche Posay, Rio de Janeiro, Brasil) duas vezes ao dia e protetor solar industrializado com FPS 60, mesmo na área coberta.

A avaliação dos resultados foi feita a partir da aplicação de questionários de satisfação aos pacientes e julgamento dos resultados clínicos por dermatologistas independentes, dois meses após a intervenção.

O questionário de autoavaliação aos pacientes incluiu perguntas quanto ao grau de satisfação com o procedimento medido pelas categorias ruim, razoável, bom e muito bom.

As fotos de antes e 60 dias após a intervenção foram avaliadas por dois dermatologistas independentes ao estudo, que consideraram a seguinte escala: regular (para 25% de melhora), bom (para 50% de melhora), muito bom (para 75% de melhora) e excelente (para 100% de melhora).

 

RESULTADOS

Oito pacientes do sexo feminino, entre 22 e 38 anos, foram avaliadas, provenientes da clínica privada do autor e do Ambulatório de Cosmiatria da Santa Casa de Misericórdia do Recife. O fototipo das pacientes variou de II a IV, segundo classificação de Fitzpatrick. Cinquenta por cento das lesões estudadas localizavam-se no abdômen, 30% nas nádegas e 20% nas mamas.

A totalidade das pacientes relatou satisfação com os resultados, apontando no questionário os itens bom e muito bom, segundo as perguntas propostas.

Na avaliação comparativa das fotografias dos períodos prévio e após procedimento, realizada por dois dermatologistas independentes, o índice de melhora foi de: 50% = bom em dois pacientes e 75% = muito bom em seis pacientes (Figura 2).

A dor durante o tratamento foi considerada tolerável, observando-se regeneração tecidual entre cinco e sete dias, com retorno às atividades laborativas em 24 horas. Não se observaram nesse grupo infecções, discromias ou cicatrizes inestéticas.

Hiperpigmentação pós-inflamatória de grau leve a moderado foi observada após período de dez a 20 dias do tratamento em seis das oito pacientes, tendo sido resolvida no prazo de 30 a 45 dias com a utilização de formulações clareadoras.

 

DISCUSSÃO

O amplo arsenal terapêutico disponível atualmente para o tratamento das estrias oferece resultados satisfatórios em estrias rubras recentes, porém quando essas lesões passam da fase inflamatória e caminham para uma fase tardia, com histopatológico similar ao observado em cicatrizes, com degradação substancial das fibras colágenas e elásticas, o tratamento torna-se difícil.4,5

Propomos para o tratamento de estrias tardias atróficas a RFPM®, metodologia desenvolvida e estudada minuciosamente no último ano, utilizando eletrodos específicos, com base em resultados obtidos no tratamento do envelhecimento periorbital.6 Os dados apresentados neste artigo nos permitem sugerir que:

1. A RFPM® é proposta terapêutica promissora para o tratamento de lesões desafiadoras como as estrias atróficas.

2. Os resultados obtidos são passíveis de reprodução utilizando a metodologia e os eletrodos descritos neste artigo.

3. O rápido retorno às atividades e os poucos efeitos adversos observados no grupo avaliado estimularam o autor a recomendar a inclusão dessa nova proposta no amplo arsenal terapêutico já disponível para o tratamento de estrias atróficas.

4. A hiperpigmentação pós-inflamatória apesar de reversível merece atenção especial, e o autor recomenda sempre o preparo da pele com clareadores antes da intervenção e logo após o estabelecimento da reepitelização.

5. O procedimento exige treinamento e é técnicodependente. O operador precisa estar devidamente habilitado e ter todo conhecimento básico necessário para garantir a excelência dos resultados.

Sugerimos a avaliação da técnica em outros grupos para confirmar os resultados e as conclusões aqui apresentadas.

 

Referências

1. Osman H, Rubeiz N, Tamim H, Nassar AH. Risk Factors for development of striae gravidarum. Am J Obstet Gynecol. 2007;196(1):62-e1-5 2.

2. Elsaie M, Baumann L, Elsaaiee L. Striae Distensae (Stretch Marks) and Different Modalities of Therapy : an Update Dermatol Surg. 2009;35(4):563-73.

3. Lee SE, Kim JH, Lee SJ, Lee JE, Kang JM, Kim YK, et al. Treatment of Striae Distensae Using Ablative 10,600-nm Carbon Dioxide Fracional Laser : A Retrospective Review of 27 participants. Dermatol Surg 2010, 36(11):1683-90.

4. Bagatin E, Hassun K, Talarico S. Revisão sistemática sobre peelings. Surg Cosmet Dermatol. 2009;1(1):37-46.

5. Al-Himdani S1, Ud-Din S, Gilmore S, Bayat A. Striae distensae: a comprehensive review and evidence-based evaluation of Prophylaxis and treatment. Br J Dermatol. 2014;170(3):527-47.

6. Lima E . Radiofrequência pulsada com multiagulhas: uma proposta terapêutica em rugas, flacidez e pigmentação periorbital. Surg Cosmet Dermatol 2015;7(3):223-6.

7. Ryu HW, Kim SA, Jung HR, Ryoo YW, Lee KS, Cho JW. Clinical Improvement of Striae Distensae in Korean Patients Using a Combinated Micronnedle Radiofreuqncy and Fracional Carbon Dioxide Laser. Dermatol Surg . 2013 ;39(10):1452-58.

 

Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP) – Ribeirão Preto (SP), Brasil.


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