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Relato de casos

Granuloma piogênico simulando tumor maligno de couro cabeludo

Kelly Cristina Signor1; Luciana Gasques de Souza1; Denise Steiner2; Priscilla de Freitas Pereira1; André César Pessanha3; Marco Antônio Soufen4

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201681638

Data de recebimento: 02/04/2015
Data de aprovação: 07/08/2015
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Abstract

O granuloma piogênico ou hemangioma capilar lobular é lesão benigna de pele e membranas mucosas ainda sem etiologia elucidada. Relatamos caso clínico exuberante e atípico dessa afecção dermatológica benigna simulando clinicamente lesão maligna.


Keywords: GRANULOMA PIOGÊNICO; DERMATOSES DO COURO CABELUDO; HEMANGIOMA CAPILAR; MELANOMA


INTRODUÇÃO

Os granulomas piogênicos são lesões capilares benignas e adquiridas que acometem pele e membranas mucosas, cuja patogenia ainda não está elucidada.1 Aventa-se a possibilidade de resultar de trauma mecânico, mas também já foram propostas as participações de fator hormonal, medicamentos, malformações arteriovenosas e fatores de crescimento angiogênicos.2 Apresenta-se como pápula ou nódulo único, exofítico, com crescimento rápido, friável e exulceração.1,3 Pelo fato de alguns tumores malignos, como os melanomas nodulares, mimetizarem granulomas piogênicos, a biópsia se faz necessária para o estudo anatomopatológico, evitando postergar o diagnóstico e melhorar o prognóstico frente a tumores malignos.

O presente relato retrata um quadro exuberante e atípico de afecção dermatológica benigna simulando clinicamente lesão maligna.

 

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 19 anos, procurou serviço de dermatologia devido a surgimento de lesão em couro cabeludo há oito meses com crescimento rápido e progressivo, acompanhado de dor e saída de secreção amarelada. Ao exame dermatológico apresentava nódulo eritêmato-violáceo, bem delimitado, pedunculado, com superfície exulcerada, medindo 10cm de diâmetro, localizado no vértice de couro cabeludo (Figura 1). As hipóteses diagnósticas foram: carcinoma espinocelular, melanoma, sarcoma de Kaposi, metástase cutânea, tumor de anexo e granuloma piogênico. Realizada a biópsia excisonal da lesão (Figura 2), o exame anatomopatológico evidenciou proliferação de estruturas vasculares revestidas por células sem atipias, sugerindo diagnóstico de hemangioma cutâneo, tipo granuloma piogênico ulcerado (Figuras 3 e 4). A paciente se apresenta sem recidivas da lesão dois anos após sua retirada.

 

DISCUSSÃO

O granuloma piogênico ou hemangioma lobular capilar caracteriza proliferação vascular benigna que ocorre, principalmente, em locais expostos a traumas frequentes, como mãos, braços, pés, face e, menos comumente, em tronco e couro cabeludo.1,3 Pode-se desenvolver em mucosas labial e perianal. Tem maior prevalência em crianças, podendo ocorrer em adultos, particularmente em mulheres grávidas. A despeito de sua denominação própria, o granuloma piogênico não é relacionado à presença de supuração, e nenhum microrganismo específico pode ser relacionado à lesão. O fato que ocorre em alguns casos é sua associação com infecção secundária.4 Sua etiologia é desconhecida, e está relacionada a uma resposta vascular hiperproliferativa reacional a uma série de estímulos como trauma, infecções virais, úlceras crônicas, hormônios sexuais femininos e com uso de algumas medicações, como isotretinoína, capecitabina ou indinavir.1,6 Clinicamente se apresenta como lesão única, nodular ou vegetante, friável, de coloração variando de vermelho a azul-enegrecido. Poder ser séssil ou pedunculado e tem evolução com crescimento rápido. Em geral é indolor, com sangramento aos mínimos traumas e tende à recorrência.1,3 Normalmente seu diagnóstico é facilitado pela história e aspecto clínico, porém em algumas situações pode mimetizar tumores benignos ou malignos. Os principais diagnósticos diferenciais são: queratoacantoma, carcinoma espinocelular, carcinoma basocelular, queratose seborreica inflamada, nevo melanocítico, carcinoma metastático, sarcoma de Kaposi, hemangioma verdadeiro, tumores vasculares de malignidade intermediária e melanoma amelanótico ou desmoplásico.4,5 Pelo fato de alguns melanomas nodulares mimetizarem granulomas piogênicos, a biópsia se faz necessária para o estudo anatomopatológico, evitando-se postergar assim o diagnóstico. Optamos por realizar biópsia excisional na paciente em questão, visto ser uma lesão exuberante de crescimento rápido e localização atípica, com suspeita diagnóstica de tumor maligno. Durante o procedimento a visualização de pedículo na lesão já sugeria clinicamente diagnóstico de lesão benigna (Figura 5). O exame histológico da peça retirada apresentou, em área próxima à superfície, proliferação capilar com padrão radiado e matriz colágena edematosa frouxa, com a epiderme se estendendo para dentro da base da lesão, produzindo um colarete epidérmico e causando, em alguns casos, a formação de pedúnculo. No hemangioma lobular capilar pode ocorrer infiltrado inflamatório misto e, nos casos mais avançados, fibrose com septos que interceptam a lesão produzindo um padrão lobular.4-6 O granuloma piogênico pode involuir espontaneamente, porém a maioria requer tratamento, sendo que a modalidade de escolha dependerá do tamanho da lesão e de sua localização. A terapêutica-padrão consiste na remoção cirúrgica total da lesão e eliminação de fatores causais. Alguns autores preconizam o uso da crioterapia com dióxido de carbono, eletrocauterização química, eletrocoagulação e laser Nd:YAG.7,8 No caso relatado optou-se por realizar biópsia excisonal, por ser técnica que oferece baixa recorrência e rápida resolução clínica.

 

CONCLUSÃO

Descreve-se um quadro exuberante e atípico de afecção dermatológica benigna e relativamente comum, simulando clinicamente lesão maligna. Destacam-se a importância da avaliação clínica dermatológica detalhada e o estudo histopatológico para sua confirmação diagnóstica.

 

Referências

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5. Junck M, Huerter CJ, Sarma DP. Unknown: Rapidly growing hemorrhagic papule on the cheek of a 54-year-old man. Dermatol Online J. 2011;17(1):11.

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7. Millsop JW, Trinh N, Winterfield L, Berrios R, Hutchens KA, Tung R. Resolution of recalcitrant pyogenic granuloma with laser, corticosteroid, and timolol therapy. Dermatol Online J. 2014;17;20(3).

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Trabalho realizado na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) - Mogi das Cruzes (SP), Brasil.


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