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Novas Técnicas

Técnica de fácil execução para reconstrução do lábio inferior

João Marcos Góes de Paiva1; Marta Regina Machado Mascarenhas1; Laís de Abreu Mutti1; Ival Peres Rosa1; Mauro Yoshiaji Enokihara2

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201681735

Data de recebimento: 12/11/2015
Data de aprovação: 20/03/2016
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Abstract

Os lábios são frequentemente sede de carcinomas. Cerca de 95% dos tumores dos lábios envolvem o lábio inferior, sendo 90% carcinomas espinocelulares. A cirurgia é o tratamento de escolha, tendo bom prognóstico quando é feito diagnóstico precoce. Defeitos envolvendo menos da metade do lábio inferior podem ser fechados borda a borda; defeitos maiores exigem métodos de maior complexidade técnica e com maior risco de complicações. Descrevemos uma técnica para reconstrução desses defeitos, de execução simples, com sutura borda a borda, sem necessidade de excisão em V ou em W, e com bom resultado estético e funcional.


Keywords: CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS; NEOPLASIAS LABIAIS; PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS RECONSTRUTIVOS


O câncer de pele não melanoma é o tumor mais comum em caucasianos. Localiza-se mais na cabeça e no pescoço.1 Os lábios são frequentemente acometidos, com 95% dos tumores dessa região localizando-se no lábio inferior. Na maioria dos casos trata-se de carcinomas espinocelulares (CECs).2

O CEC do lábio inferior corresponde a percentual que varia de 25% a 30% de todos os cânceres orais. Acomete mais homens acima de 50 anos, que tiveram significativa exposição solar ao longo da vida. Fatores de risco como cigarro, bebida alcoólica e imunossupressão após transplante renal podem estar associados a essa neoplasia.3

Apesar de bom prognóstico quando diagnosticado em estágios iniciais, a ocorrência de metástases linfonodais pode chegar a 20% dos casos.3

O tratamento de escolha para esses tumores do lábio inferior é a cirurgia com margem de segurança. A cirurgia de Mohs tem sido usada com frequência crescente, com bons resultados, mas é pouco disponível nos serviços brasileiros, de alto custo e de execução complexa, portanto, de difícil acesso para a maior parte dos pacientes. A cirurgia excisional, nesses casos, deve ser feita com margem de segurança de 7 a 10mm. Assim, apresenta taxas de recidiva e resultados clínicos semelhantes aos da cirurgia de Mohs3 , com menor tempo de execução, menor custo, além de ser tecnicamente mais simples.

Lesões envolvendo até metade do lábio inferior podem ser fechadas primariamente.4 As lesões menores podem ser excisadas em formato em "V", enquanto que lesões maiores são excisadas usando formato em "W", para que se evite ultrapassar o sulco mentoniano.4

Defeitos maiores do que a metade do lábio inferior geralmente não podem ser fechados primariamente sem que haja tensão aumentada nas bordas da ferida e microstomia. Dessa forma, é necessária a realização de retalhos, com tecido do lábio superior e regiões periorais.5

A possibilidade de realização desse tipo de retalho muitas vezes inibe o cirurgião dermatológico, que opta pela não realização de cirurgias no lábio inferior, devido à grande dificuldade técnica, ao elevado tempo cirúrgico e ao grande risco de complicações. A técnica aqui descrita é de fácil execução, rápida, com bons resultados e baixo risco de complicações.

Consiste na exérese do tumor com margem de segurança de cinco a 8mm, com espessura total do tecido, incluindo mucosa oral, de maneira a obter um defeito retangular. Inicia-se a sutura pelas margens laterais, aproximando o vermelhão do lábio e se finaliza com a sutura do vermelhão (Figura 1).

Na figura 2 demonstra-se a marcação inicial, de formato retangular e o aspecto final da cirurgia. A figura 3 mostra o pós-operatório tardio desse paciente, com bom resultado estético.

A cirurgia, como toda reconstrução borda a borda de lábio inferior deixa discreta microstomia inicial, que melhora após alguns meses de evolução.

 

DISCUSSÃO

O CEC do lábio inferior é tumor comum no nosso meio. O tratamento de escolha é cirúrgico, com bom prognóstico quando realizado precocemente. Apesar disso, existe um risco significativo de metástases cervicais, devendo a busca de linfonodos acometidos fazer parte da avaliação clínica inicial desses pacientes.

A escolha da técnica de reconstituição do lábio inferior deve ser levada em consideração pelos aspectos funcionais e estéticos dos lábios, além do tamanho do defeito. Defeitos menores do que a metade do lábio inferior podem ser corrigidos com sutura borda a borda. Vale lembrar que esse tipo de reconstrução sempre leva a algum grau de microstomia. Apesar de existirem diversas técnicas de reconstrução para defeitos maiores do que a metade do lábio inferior, a maior parte delas envolve cirurgias complexas, muitas vezes de difícil execução para o cirurgião dermatológico. Mostramos uma técnica de fácil execução, que pode ser realizada pelo cirurgião dermatológico, sob anestesia local e com bom resultado estético e funcional.

 

Referências

1. Kayabasoglu G, Nacar A, Baker SR. A Novel Flap Technique for Repairing Large Lower Lip Defects. Aesthetic Plast Surg. 2015;39(2):231-4.

2. Wollina U. Reconstructive surgery in advanced perioral non-melanoma skin cancer. Results in elderly patients. J Dermatol Case Rep. 2014 Dec 31;8(4):103-7.

3. Hasson O. Squamous cell carcinoma of the lower lip. J Oral Maxillofac Surg. 2008;66(6):1259-62.

4. Campbell JP. Surgical management of lip carcinoma. J Oral Maxillofac Surg. 1998;56(8):955-61.

5. Cupp CL, Larrabee WF. Reconstruction of the Lips. Otolaryngol Head Neck Surg. 1993;(4):46-53.

 

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - São Paulo (SP), Brasil.


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