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Artigo Original

Tunelização dérmica (TD®): uma opção terapêutica para rugas glabelares estáticas

Emerson de Andrade Lima

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.20168105

Data de recebimento: 10/11/2015
Data de aprovação: 12/02/2016
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

Introdução: As rugas glabelares estáticas apresentam-se como um desafio, apesar das propostas terapêuticas consagradas. A subincisão é técnica comumente utilizada para a melhoria dessas lesões. Objetivos: O presente artigo propõe nova metodologia para o descolamento de rugas glabelares estáticas nomeada tunelização dérmica (TD®) pelo autor e assim registrada. Metodologia: Doze pacientes submetidos à tunelização dérmica com o mesmo profissional e seguindo a mesma metodologia foram retrospectivamente avaliados, mediante observação direta, análise fotográfica e questionários de autoavaliação aplicado aos pacientes. Resultados: Todos os pacientes relataram ou registraram nos questionários de autoavaliação que os resultados foram bons ou muito bons. A avaliação por dois dermatologistas independentes, com base em fotos de antes e depois, demonstrou dois pacientes com resultado regular (25% de melhora), cinco com bom (50% de melhora) e cinco com muito bom (75% de melhora). Conclusão: A tunelização dérmica (TD®) pode ser considerada tratamento efetivo, seguro e passível de ser reproduzido.


Keywords: RUGA; PELE; TERAPÊUTICA


INTRODUÇÃO

A presença de rugas na fronte e glabela, mesmo na ausência de contratura da musculatura correspondente, caracteriza linhas estáticas, que comumente são difíceis de ser atenuadas.1 A utilização de toxina botulínica oferece bons resultados em rugas dinâmicas, porém a resposta é insatisfatória quando nos deparamos com rugas estáticas profundas, tratamento complementado comumente com preenchedores.1,2 A incisão subcutânea ou subincisão tem sido proposta também para tratamento desses sulcos, que comumente assumem o caráter de cicatriz em função de sua profundidade, seu enrijecimento e inflexibilidade. Inicialmente descrita por Orentreich e Orentreich,3 tem como fundamento a ruptura de traves fibróticas e o desencadeamento de resposta inflamatória, com sangramento, que culmina na produção de colágeno.3,4 Agulhas com características particulares vêm sendo utilizadas por diferentes autores na realização dessa técnica, entre elas a 19G, 20G, 21G ,18G 1,5 Nokor, apresentando vantagens técnicas particulares em suas experiências.4-6 Efeitos adversos podem ser evidenciados no pós-procedimento imediato tais como edema, hematoma e dor ou complicações tardias como hiperpigmentação pós-inflamatória, hipercorreção da depressão tratada e nódulos fibróticos.4 Essas complicações podem ser evitadas ou bem conduzidas quando a intervenção é realizada por profissional experiente e criterioso.7 Propõe-se neste trabalho, a correção das rugas estáticas da glabela utilizando um novo instrumento e guiada por metodologia facilmente executável denominada tunelização dérmica (TD®).

 

MÉTODOS

Retrospectivamente, de janeiro de 2013 a janeiro de 2015 foram avaliados os prontuários de 12 pacientes provenientes de clínica privada do autor e do ambulatório de Cosmiatria da Santa Casa de Misericórdia do Recife, com rugas glabelares estáticas tratadas com a TD®, seguindo a mesma técnica e executada pelo mesmo médico. Todos os pacientes eram virgens de tratamento na área da glabela. A documentação fotográfica foi realizada pelo mesmo investigador e com a mesma câmara digital em condições iguais de iluminação, imediatamente antes e dois meses após uma única intervenção. A avaliação dos resultados foi feita pela análise de comparações fotográficas por dois dermatologistas independentes seguindo a escala: regular (25% de melhora), bom (50% de melhora), muito bom (75% de melhora) e excelente (100% de melhora). Um questionário de satisfação com o procedimento foi respondido pelos pacientes, com as seguintes opções em relação ao resultado: ruim, bom, muito bom e excelente.

O estudo seguiu as regras recomendadas pela Declaração de Helsinki.

Descrição da técnica cirúrgica

O instrumento utilizado para a realização da TD® é uma agulha estéril de aspiração, 1,20 X 25mm 18G X 1". O tratamento deve ser realizado em sala de procedimento criteriosamente preparada para uma intervenção cirúrgica. Inicialmente, procede-se à demarcação da área a ser tratada, tracejando-se a ruga estática a ser abordada. Segue-se a antissepsia com clorexidine 2% e anestesia infiltrativa com lidocaína 2% sem vasoconstrictor. A agulha de aspiração é então introduzida via transepidérmica na profundidade da derme, no ponto mais distal da ruga (ponto A), perfazendo um trajeto de túnel em direção à base da ruga (ponto B). Os movimentos realizados pela agulha são de ida e vinda (vai e vem), criando um túnel, a cada movimento realizado, entre A e B. Propõe-se a criação de três ou quatro túneis seguindo a mesma técnica, com introdução da agulha no mesmo orifício (A), movimentando-a em direção ao ponto B. Esse processo resulta na criação de três ou quatro colunas hemáticas verticais dispostas paralelamente, resultando em descolamento das traves e preenchimento hemático da ruga (Figura 1). Após o procedimento os pacientes receberam curativo com micropore que foi removido no dia seguinte. Orientou-se apenas a utilização de filtro solar industrializado com FPS 60.

 

RESULTADOS

A totalidade dos 12 pacientes, sete mulheres e cinco homens, relatou nos questionários de autoavaliação que os resultados foram bons ou muito bons. A avaliação por dois dermatologistas independentes que demonstraram percepções similares do grau de melhora, com base em fotos de antes e depois, resultou em: dois pacientes com 25% de melhora (regular), cinco com 50% de melhora (bom) e cinco com 75% de melhora (muito bom). A dor durante o tratamento foi considerada tolerável. A idade dos investigados variou de 42 a 60 anos, e o fototipo de II a IV, com base na classificação de Fitzpatrick (1975). O retorno às atividades laborativas ocorreu entre o quinto e o sétimo dia após o procedimento, com a redução significativa do edema e hematoma. Não se observaram nesse grupo complicações como infecção, hipercorreção, hiperpigmentação pós-inflamatória, nódulos fibróticos persistentes (Figura 2). Dos pacientes avaliados, cinco já estão com 24 meses de seguimento após o procedimento, mantendo resultados satisfatórios.

 

DISCUSSÃO

Apesar das muitas propostas, o tratamento das rugas glabelares é ainda um desafio de difícil solução.2 Trata-se de queixa frequente nos consultórios dermatológicos muitas vezes parcialmente corrigida pela aplicação de toxina botulínica, porque mesmo atenuadas, continuam a incomodar na sua condição de ruga estática.8 O preenchimento dessa depressão quase cicatricial com ácido hialurônico oferece segurança duvidosa, em virtude dos riscos da injeção intravascular e resultados variáveis.2,8 Propomos nova abordagem cirúrgica dessas lesões, com base na tentativa de otimizar os resultados observados com as técnicas já existentes de descolamento,3,5 padronizando metodologia de intervenção e instrumental próprio, passível de ser reproduzida por outros médicos e em muitos pacientes.

 

CONCLUSÕES

1. A tunelização dérmica (TD®), seguindo a metodologia acima descrita, foi considerada tratamento eficaz em rugas glabelares estáticas.

2. Os resultados foram promissores e compatíveis com a expectativa do autor e dos pacientes, o que nos permite sugerir a inclusão da metodologia proposta no arsenal terapêutico dessas lesões.

3. A dor e o desconforto no intra e no pós-operatório relatados pelos pacientes foram compatíveis com as previstas.

4. A ausência de complicações no pós-operatório nos estimula a tratar outros pacientes.

5. Sugerimos a avaliação da técnica em outros grupos para confirmar os resultados e as conclusões aqui apresentadas.

 

Referências

1. Almeida ART, Marques ERMC, Kadunc BV. Rugas glabelares: estudo piloto dos padrões de contração. Sug Cosmet Dermatol. 2010; 2(1):23-8.

2. Dubina M, Tung R, Bolotin D, Mahoney AM, Tayebi B, Sato M, et al. Treatment of forehead/glabellar rhytide complex with combination of botulinum toxin and hyaluronic acid versus botulinum toxin a injection alone: a split face, rather-blinded, randomized control trial. J Cosm Dermatol. 2013 ;12(4):261-6.

3. Orentreich DS, Orentreich N. Subcutaneuos incisionless (subcision) surgery for correction of depressed scars and wrinkles. Dermatol Surg; 1995;21(6):543-9.

4. Hexsel DM, Mazzuco R. Subcision: uma alternativa cirúrgica para a lipodistrofia ginóide (celulite) e outras alterações no relevo corporal. An Bras Dermatol. 1997: 72(1) :27-32.

5. AlGhamdi KM. A better way to hold a Nokor needle during subcision. Dermatol Surg. 2008;34(3):378-9.

6. Balighi K, Robati RM, Moslehi H, Robati AM. Subcision in acne scar with. and without subdermal implant: a clinical trial . J Eur Acad Dermatol Venereol. 2008, 22(6):707-11.

7. Hexsel DM, Mazzuco R. Subcision: a treatment for celulite. Int J Dermatol. Int J Dermatol. 2000;39(7):539-44.

8. Kim HS, Kim C, Cho H. A study on glabellar wrinkle patterns in Koreans. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2014; 28(10): 1332-9.

 

Trabalho realizado na Santa Casa de Misericórdia do Recife (PE), Brasil.


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