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Artigo Original

Estudo epidemiológico do carcinoma basocelular no período de 2010 a 2013 em um hospital de referência em dermatologia na cidade de Bauru, São Paulo

Maria Helena Mazzi Freire Nigro1; Leticia Stella Gardini Brandão2; Ana Paula Cota Pinto Coelho3; Leticia Marra da Motta1; Ivander Bastazini Júnior4

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201573687

Data de recebimento: 31/08/2015
Data de aprovação: 10/09/2015
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

Introdução: O carcinoma basocelular é o câncer da pele mais comum e corresponde a 70-80% das neoplasias malignas da pele. Sua incidência vem aumentando em todos os países, configurando um problema de saúde pública mundial. Objetivo: Avaliar o perfil epidemiológico e as características dos pacientes diagnosticados com CBC nos últimos quatro anos em um hospital de referência. Métodos: Foi realizado estudo transversal e descritivo em um serviço de referência em dermatologia na cidade de Bauru (SP) incluindo pacientes com diagnóstico de carcinoma basocelular confirmado por exame histopatológico, no período de janeiro de 2010 a dezembro de 2013. As variáveis analisadas de forma descritiva foram: idade ao diagnóstico, gênero, cidade de origem, local da lesão e raça. Resultados: Observou-se maior incidência de casos de CBC em mulheres, da raça branca, com mais de 60 anos, sendo as localizações preferenciais as regiões malares e nasal. Conclusões: Há um aumento da incidência de carcinoma basocelular em jovens, embora o segmento mais afetado continue sendo a população branca e idosa. A área preferencial do câncer é a face, principalmente nos dois terços superiores. É preocupante a incidência dessa neoplasia em populações mais jovens, sendo importante o papel do dermatologista na prevenção e no tratamento precoce.


Keywords: CARCINOMA BASOCELULAR; EPIDEMIOLOGIA; NEOPLASIAS CUTÂNEAS; PATOLOGIA; DERMATOLOGIA


INTRODUÇÃO

O carcinoma basocelular (CBC) é neoplasia cutânea que se origina de células basais epiteliais imaturas pluripotentes, que perderam sua capacidade de diferenciação e queratinização normais e dos anexos cutâneos.1 É o câncer de pele mais comum no mundo e, no Brasil, corresponde a 70-80% das neoplasias malignas da pele.2,6-8 Acomete principalmente pacientes do sexo masculino, acima de 40 anos, brancos e com relato de exposição solar crônica. Sua localização preferencial é a face, principalmente seus dois terços superiores. Exposição à radiação ultravioleta representa o principal fator de risco ambiental associado a sua gênese. Recentemente, o CBC tem demonstrado alterações em sua apresentação, como o acometimento de áreas não expostas e tendência a maior ocorrência no sexo feminino.3,4,6 O risco cumulativo de CBC na população branca é de mais de 30%, e sua incidência vem aumentando em todos os países, configurando problema crescente de saúde pública.2 O CBC é neoplasia de crescimento lento, localmente agressivo, porém raramente é capaz de gerar metástases.3,6 O subtipo clínico mais frequente é o nodular-ulcerativo, que ocorre com maior frequência em áreas fotoexpostas, seguido pelo tipo superficial, mais prevalente na região do tronco. O diagnóstico é clínico e confirmado pela histopatologia, e a cirurgia permanece a terapêutica de escolha.1,5 O objetivo do estudo foi avaliar o perfil epidemiológico e características dos pacientes com CBC atendidos de 2010 a 2013 no Instituto Lauro de Souza Lima, hospital terciário de referência em dermatologia, localizado na cidade de Bauru (SP), e correlacionar com dados já publicados na literatura.

 

MÉTODO

Realizou-se estudo transversal e descritivo com pesquisa em banco de dados de um serviço de referência em dermatologia incluindo pacientes com diagnóstico de CBC confirmado por exame histopatológico, no período de janeiro de 2010 a dezembro de 2013. As variáveis analisadas - apenas de forma descritiva - foram: idade ao diagnóstico, gênero, cidade de origem, local da lesão e raça.

 

RESULTADOS

Entre 1º de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2013 foram identificados 1.968 laudos com diagnóstico de CBC para o total de 1.150 pacientes, com média de 1,7 lesão por paciente. O número máximo de lesões com diagnóstico de CBC em uma mesma ocasião foi sete, e o máximo de carcinomas basocelulares num mesmo paciente no decorrer desses quatro anos foi 13. Dos pacientes com CBC, 51,2% eram do sexo feminino e 48,8% do sexo masculino (Gráfico 1). A idade variou de 21 a 97 anos, agrupando-se os pacientes em cinco categorias: até 30 anos (0,3%), 31-40 anos (2,7%), 41-50 anos (8,5%), 51-60 anos (19,7%) e com mais de 60 anos, esta última com a maioria absoluta dos casos (68,8%) (Gráfico 2). A localização da lesão foi dermarcada de acordo com divisão em dez regiões anatômicas: 1 - fronte, temporal e couro cabeludo (13,5%), 2 - nariz (21,6%), 3 - malar, maxilar, mandibular e periorbital (22,7%), 4 - mento (2,1%), 5 - auricular, pré-auricular e retroauricular (8%), 6 - região cervical e tórax anterior (6,2%), 7 - abdômen (2%), 8 - ombros e membros superiores (12%), 9 - quadril, glúteos e membros inferiores (3,9%), 10 - dorso (7%) e 11 - local não identificado (1%) (Gráfico 3 e Figura 1). Os pacientes foram também agrupados em brancos (99,1%), mestiços, pardos e amarelos (0,8%) e negros (0,1%) (Gráfico 4). Foi constatado também que 51,6% dos pacientes analisados eram provenientes da cidade em que o estudo foi realizado, e 48,2% de cidades da região de Bauru, pois o hospital é referência para 67 cidades e apenas 0,2% de fora da região (Gráfico 5).

 

DISCUSSÃO

A alta morbidade causada pelo CBC em estágios avançados é um problema de saúde pública. A prevenção e diagnóstico precoces, além do conhecimento sobre seus fatores de risco são fundamentais para a redução da morbidade. A falta de informação sobre a epidemiologia do CBC na população brasileira justifica a realização deste estudo. Os achados relacionados ao gênero demonstram que não há diferença significativa entre a porcentagem de homens e mulheres acometidos. Em nosso estudo, observou-se maior incidência de CBC em mulheres em relação aos homens, o que difere de grande parte da literatura publicada,5 mas estudos mais atuais têm demonstrado essa mudança no padrão de acometimento.3,4,6,8,9 Pode-se notar aumento da incidência de CBC em pacientes mais jovens, o que pode ser parcialmente explicado pela cultura da pele bronzeada e o maior tempo disponível para o lazer. Entretanto, pacientes com mais de 60 anos permanecem sendo os mais afetados pela neoplasia, consoante com o restante da literatura analisada. Houve predomínio quase absoluto da raça branca, assim como descrito na literatura.1-9 Entretanto, esse resultado pode ser questionado, uma vez que a denominação raça é subjetiva e definida pelo próprio paciente ao ingressar no serviço. Quanto à localização da lesão, foi verificada maior incidência de CBC em áreas expostas ao sol, com predomínio em face, e ênfase na região malar e região do nariz. Áreas cobertas, como pernas e tronco, apresentaram incidência bastante reduzida. Não foi possível agrupar as lesões de acordo com seu tipo histológico, já que o serviço de patologia utilizado não faz essa diferenciação entre as neoplasias encontradas.

 

CONCLUSÃO

O presente estudo está de acordo com a maioria da literatura atual, que tem mostrado aumento progressivo no acometimento do sexo feminino e de pacientes jovens.6 Além de confirmado que a população branca é a mais acometida por esse tipo de câncer e as áreas expostas estão sob maior risco de desenvolvimento das lesões1-9. O aumento da incidência da neoplasia na população mais jovem é preocupante. Portanto, é importante que essa população seja orientada por meio de campanhas de fotoproteção e orientação durante a consulta dermatológica sobre o fato de que o principal fator causal da neoplasia é a exposição solar frequente e acumulativa.

 

Referências

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8. Souza CFD, Thomé EP, Menegotto PF, Schmitt JV, Shibue JRT, Tarlé RG. Topografia do carcinoma basocelular e suas correlações com o gênero, a idade e o padrão histológico: um estudo retrospectivo de 1.042 lesões. An Bras Dermatol. 2011;86(2):272-7.

9. Peres LP, Fiorentin JZ, Baptista TS, Fuzina DG, Blanco LFO. Clinical and histopathological profile of basal cell carcinoma in a population from Criciuma, Santa Catarina, Brazil. An Bras Dermatol. 2012;87(4):657-9.

 

Trabalho realizado no Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) - Bauru (SP), Brasil.


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