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Artigo Original

Uso do pycnogenol no tratamento do melasma

Camila Araujo Scharf Pinto1; Manuela Ferrasso Zuchi Delfes2; Larissa Montanheiro dos Reis2; Luiz Eduardo Garbers3; Paola Cristina Vieira da Rosa Passos4; Deborah Skusa de Torre5

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.201573663

Data de recebimento: 28/06/2015
Data de aprovação: 20/09/2015
Suporte Financeiro: Os participantes receberam gratuitamente o tratamento completo do Pycnogenol e protetor solar do laboratório FQM
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

Introdução: Melasma é uma hipermelanose comum, adquirida e de difícil tratamento por ser uma condição refratária e recorrente. O pycnogenol é um potente antioxidante que por possuir ação protetora contra radiação ultravioleta pode apresentar eficácia no tratamento do melasma. Objetivos: Avaliação da efetividade do pycnogenol 100mg/dia no tratamento do melasma. Métodos: Estudo prospectivo, randomizado e intervencional com 31 pacientes. As participantes selecionadas fizeram uso do pycnogenol 100 mg por dia durante 90 dias, bem como de filtro solar. Foram avaliadas quanto a extensão do melasma (MASI - Melasma Area Severity Index) e qualidade de vida (MELASQol - Melasma Quality of life, ambos questionários já validados na literatura. Foi realizado também documentação fotográfica antes e após o tratamento. Resultados: Os resultados de eficácia mostraram uma redução significativa (p<0,05) nos escores para ambas as escalas avaliadas. Segundo a auto-avaliação das participantes 94,4% apresentaram uma melhora clínica. Conclusões: O pycnogenol 50mg demonstrou ser efetivo no tratamento do melasma após a utilização de 2 comprimidos/ dia durante 90 dias. Os resultados para os escores dos questionários foram estatisticamente significantes tanto para área do melasma quanto para qualidade de vida. Além disso, o produto demonstrou ser seguro, dada a baixa incidência de efeitos colaterais.


Keywords: MELANOSE; QUIMIOPREVENÇÃO; ADJUVANTES FARMACÊUTICOS


INTRODUÇÃO

Melasma é hipermelanose comum, adquirida, simétrica, caracterizada por máculas acastanhadas, mais ou menos escuras, de contornos irregulares, com limites nítidos, nas áreas fotoexpostas, especialmente face, fronte, têmporas e, mais raramente, nariz, pálpebras, mento e membros superiores.1-3 Afeta ambos os sexos, com maior incidência em mulheres, especialmente gestantes. Ocorre em todas as raças, particularmente em indivíduos com fototipos intermediários, que vivem em áreas com elevados índices de radiação ultravioleta (UV).2

Apesar de sua etiopatogenia não ser inteiramente conhecida, múltiplos fatores estão envolvidos, especialmente a influência hormonal associada à gravidez, contraceptivos orais, terapia de reposição hormonal, radiação ultravioleta A e B, predisposição genética, drogas fototóxicas, anticonvulsivantes e disfunção tireoidiana.3-5

Não há consenso sobre a classificação clínica do melasma. São reconhecidos dois principais padrões de melasma da face: centrofacial, que acomete a região central da fronte, região bucal, labial, supralabial e mentoniana; e malar, que acomete as regiões zigomáticas. Alguns autores acrescentam ainda um terceiro padrão, menos frequente, o mandibular.4-6

O tratamento atual do melasma pode ser dividido em duas categorias: tópico e oral.5,7,8 De forma geral, o tratamento do melasma, tanto tópico quanto oral, permanece um desafio por ser essa uma condição refratária e recorrente. O objetivo do tratamento é reduzir a síntese de melanina, inibir a formação de melanossomas e promover sua degradação. Independentemente do despigmentante utilizado, a fotoproteção de amplo espectro é essencial para prevenir a formação de nova melanina e para diminuir a oxidação da melanina pré-formada.3,8-10

O pycnogenol é extrato da casca do pinheiro francês (Pinus pinaster), já conhecido antioxidante potente. Estudos in vitro demostraram que esse antioxidante é mais potente do que as vitaminas E e C. Além disso, ele recicla a vitamina C, regenera a vitamina E e aumenta o sistema enzimático antioxidante endógeno. Por possuir ação protetora contra radiação ultravioleta, sua eficácia no melasma tem sido estudada.5-7

 

OBJETIVO

Avaliação da efetividade do pycnogenol 100mg/dia no tratamento do melasma.

 

MÉTODOS

Trata-se de estudo prospectivo, randomizado e intervencional realizado após a aprovação ética, CAEE 21845213.4.0000.0103 e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes.

Os participantes foram selecionados no Ambulatório de Dermatologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, no período de outubro a dezembro de 2013. Foram selecionados adultos com diagnóstico de melasma, com idade de 18 a 75 anos, do sexo feminino, de todos os fototipos pela classificação de Fitzpatrick, voluntários e esclarecidos, que não estivessem amamentando ou fossem gestantes.

Foram excluídos participantes em uso de outro tratamento para melasma (tópico ou oral) nos últimos três meses.

As restrições impostas às participantes foram: não utilizar nenhum cosmético clareador na face durante o estudo, não utilizar medicamento sem informar o pesquisador, não se expor ao sol ou a lâmpadas ultravioleta sem a utilização de protetor solar e não utilizar medicamentos fotossensibilizantes durante o estudo.

Após preenchimento do consentimento esclarecido, as participantes foram avaliadas quanto ao fototipo segundo a classificação de Fitzpatrick e ao melasma, utilizando para isso o questionário Melasqol (Melasma Quality of Life Scale) e o Índice de Área e Gravidade de Melasma (Masi). Foram também obtidas fotografias padronizadas das participantes.

As participantes selecionadas fizeram uso do pycnogenol 50mg (Flebon®, Farmoquímica, Rio de Janeiro, Brasil), sendo administrados, concomitantemente, dois comprimidos por dia durante 90 dias, bem como de filtro solar diariamente (Actsun® FPS 45, Farmoquímica, Rio de Janeiro, Brasil), que foi reaplicado sempre que necessário. Ambos os produtos foram fornecidos às participantes gratuitamente.

Após esse período nova avaliação foi realizada utilizando-se o Melasqol e o Masi, e fotografias padronizadas, além da avaliação da eficácia percebida pelas participantes. Esta última foi realizada considerando-se os resultados: piorou, não alterou, melhorou 35-50%, melhorou muito 50-75%. Foi avaliada, também, a existência de efeitos colaterais indesejáveis.

As principais variáveis representantes do desfecho do estudo foram as diferenças nos critérios de avaliação do tempo 1 e tempo 2. Variáveis quantitativas foram representadas pelas médias e desvio-padrão, ou medianas e quartis (primeiro e terceiro) quando a normalidade não for evidenciada pelo teste de Shapiro-Wilk. A comparação entre os dois tempos foi realizada pelo teste t de Student ou Mann-Whitney, se indicado. Variáveis qualitativas foram representadas por seus percentuais e comparadas pelos testes do qui-quadrado ou coeficiente Tau C de Kendall, quando há característica ordinal. Foram considerados significativos valores bicaudais de p < 0,05. Os dados foram tabulados em MS Excel 2003® e analisados usando os softwares SPSS 19.

Tamanho da amostra

Foram selecionadas 31 participantes que frequentaram o ambulatório de dermatologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba no período escolhido em 2013.

 

RESULTADOS

Foram incluídas 31 participantes das quais 18 completaram o estudo. Observou-se que 50% das participantes avaliadas exibiam fototipo III. A média de idade foi de 42 anos, conforme tabela 1.

Sete participantes apresentavam comorbidades antes do início do tratamento, destacando-se: hipotireoidismo, bronquite, dislipidemia, artrite reumatoide, depressão e fibromialgia.

Os resultados de eficácia mostraram redução significativa (p < 0,05) nos escores para ambas as escalas, Masi e Melasqol, conforme apresentado na tabela 2. Percebe-se que a diferença média nos escores Masi de antes e após o tratamento foi de aproximadamente cinco pontos, com máximo de 7,1 e mínimo de 1 após o tratamento. Já para a escala Melasqol a diferença média foi de aproximadamente 12 pontos, sendo o valor máximo de 61 e o mínimo de 10 após o tratamento.

Segundo a avaliação percebida pelas participantes 94,4% apresentaram melhora clínica, conforme dados apresentados na tabela 3. Esse resultado foi registrado e corroborado pelas avaliações fotográficas antes e após 90 dias de tratamento, conforme ilustrado nas figuras 1 e 2.

Com intuito de verificar se há alguma associação entre o grau de melhora e o fototipo dos participantes, avaliou-se a correlação entre essas duas variáveis, observando-se que não há associação estatística entre elas, conforme demonstrado no gráfico 1.

Poucos eventos adversos foram observados, como poliúria (aumento de diurese) e edema de membros inferiores; este último ocorreu em uma participante que havia associado uso de reposição hormonal na semana anterior, não podendo, assim, associar esse evento ao uso do pycnogenol.

 

DISCUSSÃO

O melasma representa condição extremamente frequente na prática dermatológica, sendo, no entanto, ainda bastante refratário às terapêuticas disponíveis. Sabe-se que grande parte das pacientes apresenta resposta satisfatória ao uso de tratamentos tópicos, mas, para aquelas que mantêm ausência de resposta a múltiplas terapias, bem como pacientes visando à manutenção de resposta, o pycnogenol surge como opção terapêutica.

O pycnogenol possui a capacidade de inibir a tirosina quinase e vem demonstrando ação na regulação da biossíntese de melanina. Estudos in vitro11 demonstram sua habilidade em suprimir superóxidos, óxido nítrico e o radical hidroxila, expressando dessa forma significativo poder antioxidante e antimelanogênico.

O mecanismo de ação do pycnogenol foi estudado por Cho et al.,12 que demonstraram a ação de inibição da expressão gênica das citocinas proinflamatórias, a partir de culturas de células RAW264.7, para interleucina-1 (IL-1) e células Jurkat E6.1 para interleucina-2 (IL-2). O pycnogenol demonstrou importante atividade contra as espécies de peróxidos que geravam espécies reativas de oxigênio nas células RAW264.7. Além disso, estudos de Elisa, immunoblotting e reação de polimerase (PCR-RT) indicaram que os níveis de IL-1 foram reduzidos naquelas células pré-tratadas com o pycnogenol.

Outros estudos13,14 ainda demonstraram que a expressão de IL-1, do fator nuclear B (NF-KB) e do ativador da proteína 1 (AP-1) também foi bloqueada pelo pycnogenol, demonstrando assim o largo espectro de ação anti-inflamatória da substância. Canali et al.15 observaram também ação do pycnogenol na via do ácido aracdônico ao fornecer 150mg/dia durante cinco dias para voluntárias entre 35-50 anos com coleta do sangue das pacientes a seguir. Esse estudo pôde concluir que a ação anti-inflamatória do pycnogenol foi devida à redução da expressão gênica da COX-2, diminuindo a biossíntese de leucotrienos.

Diversos autores16,17 vêm demonstrando interesse em agentes antioxidantes como Vitamina C, E e o próprio extrato de pinus francês (EPF), que recorrentemente exibem resultados positivos no manejo de rítides e hiperpigmentação.

Em dois diferentes artigos, Berson18 e Bordan Allemann19 sumarizaram os antioxidantes de origem natural, que, quando aplicados de forma tópica, podem restaurar a capacidade antioxidante da pele. Devido à comprovada eficácia antioxidante do EPF, podemos incluí-lo no manejo de certas patologias cutâneas.

Em outro estudo realizado por Ni5 e colaboradores com 30 mulheres foi avaliada a eficácia e segurança do uso de pycnogenol. Foram administradas 75mg por dia do produto durante 30 dias. De acordo com os resultados, as participantes apresentaram diminuição na área do melasma, bem como na intensidade pigmentária após o tratamento. Nenhum evento adverso foi relatado. Pycnogenol foi seguro e eficaz para o tratamento do melasma.

Um estudo realizado por Campos20 avaliou a eficácia e segurança do uso diário de 100mg de pycnogenol durante dois meses em 29 mulheres com melasma. O produto foi eficaz em 88,8% das participantes, não ocorrendo nenhum caso de evento adverso.

 

CONCLUSÃO

O pycnogenol 50mg demonstrou ser efetivo no tratamento do melasma após a utilização de dois comprimidos/dia durante 90 dias. Os resultados para os escores Masi e Melasqol foram estatisticamente significantes. Além disso, o produto demonstrou ser seguro, devido à baixa incidência de efeitos colaterais.

 

Referências

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Trabalho realizado no Hospital Evangélico de Curitiba - Curitiba (PR), Brasil.


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