Lara Caroline Grander1; Solange Cardoso Maciel Costa Silva2; Alice Paixão Lisboa3; Virginia Pinheiro de Souza4; Fernanda Cabral3
O lábio superior é comumente acometido por carcinomas cutâneos. A excisão da neoplasia com margens oncológicas seguras torna a incisão ampla, e, às vezes, retalhos fazem-se imprescindíveis. A reconstrução labial bem-sucedida inclui, além do objetivo estético, a manutenção da funcionalidade oral perfeita. Relata-se a descrição de retalho cutâneo de rotação nasolabial associado a retalho de avançamento da mucosa bucal em único tempo cirúrgico, realizado em paciente com carcinoma basocelular acometendo a porção lateral esquerda do lábio superior.
Keywords: RETALHOS CIRÚRGICOS; CARCINOMA BASOCELULAR; MUCOSA BUCAL
Os carcinomas labiais representam aproximadamente 25% dos tumores orais.1 O diagnóstico tardio e a necessidade das margens de segurança tornam o defeito primário frequentemente superior a um quarto ou um terço do lábio superior, impedindo a sutura direta.2 A reconstrução de defeitos em lábio superior tem-se demonstrado um desafio cirúrgico. Não há método específico descrito para ser utilizado em lesões da área lateral do lábio superior.
Relata-se o caso de paciente de 48 anos, do sexo feminino, apresentando há um ano no terço lateral do lábio superior placa eritematosa, com cerca de 2cm de diâmetro, borda perlácea e contornos bem definidos. À dermatoscopia, evidenciaramse ninhos ovoides e vasos arboriformes. Foi diagnosticado carcinoma basocelular micronodular invasivo, confirmado por biópsia incisional. Devido à ausência de linfonodomegalias e quaisquer sinais e sintomas, a lesão foi classificada como estágio I (T1N0M0).3
Sendo imprescindível a retirada completa do tumor associada à confecção de retalho local, foi realizada exérese e reconstrução cirúrgica em único tempo. O objetivo deste relato é descrever a técnica de reconstrução e demonstrar sua aplicabilidade cirúrgica, assim como o resultado estético e funcional.
O tumor foi identificado e submetido à exérese com margem cirúrgica de 5mm (Figura 1). Um retalho de rotação no sulco nasolabial foi utilizado para preencher a área cruenta de pele do lábio superior (Figura 2). A reconstrução da submucosa foi realizada com retalho de avançamento da mucosa bucal (Figura 3). Por fim, procedeu-se à sutura dos defeitos primários e secundários.
Análise anatomopatológica da peça retirada confirmou margens livres de acometimento neoplásico. A paciente evoluiu com herpes labial pós-estresse cirúrgico, sendo tratada com aciclovir via oral com boa resposta. Foi acompanhada semanalmente no primeiro mês. Na figura 4 observamos o resultado duas semanas após a cirurgia.
A técnica de reconstrução do lábio superior após exérese de carcinoma basocelular, em tempo único, foi realizada em paciente, através de retalho cutâneo de rotação nasolabial associado a retalho de avançamento da mucosa bucal, com margens livres de acometimento neoplásico e excelente aspecto cosmético.
A reconstrução do lábio superior, tem sido um desafio para os cirurgiões, posto que o contorno labial, a simetria e o posicionamento do arco do cupido devem ser mantidos,4,5 assim como a capacidade de abertura oral.1,4
Para pequenas lesões, excisões em formato "V", "W" seguidas de sutura são suficientes.5,6 Porém, quando atingem de um a dois terços do lábio, retalhos locais são a melhor escolha, como, por exemplo,2 (1) o de Abbé,6 (2) o de Estlander,2,6,7 (3) o de Gillies unilateral,5 (4) o de Karapandzic unilateral,5 e (5) o em "V-Y".8
Defeitos primários que acometem 80% ou mais do lábio podem ser reconstruídos com (1) retalhos bilaterais de Gillies e Karapandzic;5,6 (2) retalho de Fujimori;9 (3) técnica de Bernard von Burrow Webster;2,6,10 e (4) retalho microcirúrgico antebraqueal.2
No caso reportado, a sutura primária foi contraindicada pelo deslocamento do filtro e assimetria que viria a ocasionar. O retalho de Abbé seria opção plausível para o caso, no entanto, teria como desvantagens a formação de cicatriz em lábio inferior, a inconveniência de ser realizado em dois tempos e o desconforto de o paciente não conseguir realizar abertura oral nos primeiros 14 a 21 dias de pós-operatório.5
Comparando a técnica utilizada com os retalhos descritos na literatura até o momento, conclui-se que o resultado estético e funcional proporcionado à paciente foi excelente. A demonstração de retalho nasolabial e de submucosa prático, realizado em único tempo cirúrgico, permitiu ausência de tensão, reconstrução de pele e submucosa sem distorção do lábio superior, mínima cicatriz cirúrgica camuflada no sulco nasogeniano e manutenção da funcionalidade oral em paciente adulta jovem.
1. Vaienti L, Zilio D, Di Matteo A, Riccio M, Marchesi A. Central upper lip reconstruction by two vermillion flaps and a rotational skin flap. Dermatology. 2012;224(2):130-3.
2. Anvar BA, Evans BCD, Evans GRD. Lip reconstruction. Plast Reconstr Surg. 2007;120(4):57e-64e.
3. Dourmishev L, Rusinova D, Botev I. Clinical variants, stages, and management of basal cell carcinoma. (Review Article). Indian Dermatol Online J. 2013;4(1):12.
4. Lopes Filho LL, Soares Lopes LR, De Barros Villa Neto A, De Sousa Costa T. Carcinoma basocelular no lábio superior: tratamento cirúrgico e reconstrução com retalho de transposição. Surg Cosmet Dermatol. 2011;3(3):243-5.
5. Neligan PC. Strategies in Lip Reconstruction. Clin Plast Surg. 2009;36(3):477-85.
6. Contin LA, de Carvalho MM, Filho CDSM, Hayashida ME, Ferraz TS, Gonçalves Jr. BF. Reconstrução do lábio inferior com retalhos de Karapandzic e Gilles após excisão de carcinoma espinocelular. Surg Cosmet Dermatol. 2012;4(1):195-9.
7. Genc S, Ugur SS, Arslan IB, Tuhanioglu B, Demir A, Selcuk A. Lower lip reconstruction with Abbe-Estlander flap modification: preserving the same side vascular pedicle. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2012;269(12):2593-4.
8. Narsete TA. V-Y advancement flap in upper-lip reconstruction. Plast Reconstr Surg. 2000;105(7):2464-6.
9. 9. Aytekin A, Aytekin O. Total upper lip reconstruction with bilateral Fujimori gate flaps. Plast Reconstr Surg. 2003;111(2):797-800.
10. 10. Seo HJ, Bae SH, Nam SB, Choi SJ, Kim JH, Lee JW, et al. Lower lip reconstruction after wide excision of a malignancy with barrel-shaped excision or the Webster modification of the Bernard operation. Arch Plast Surg. 2013;40(1):36-43.
Trabalho realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.